31/07/2015

O Filho da Lua Vermelha

Creio eu que ninguém irá acreditar no que estou prestes a escrever, mas quanto a isso eu não posso fazer absolutamente nada a respeito. O fato é que já perdi a noção do tempo, e estou cada vez mais afundando em minha própria insanidade, então antes que eu seja torturado e depois queimado até a morte, eu vou deixar aqui o que aconteceu.
Eu era o filho mais velho de um senhor feudal muito repudiado pelos servos, e acredito que esse asco seja de minha pessoa também, e de toda minha família. Eu era um jovem muito inconseqüente, não tinha comprometimento com minhas responsabilidades e deveres. Eu e meus irmãos freqüentemente íamos a bordeis e nos deleitávamos dos serviços das mais finas cortesãs do reino, e esse habito perdurou mesmo depois de que foi me dado a mão de minha prima em casamento. Apesar de todas as terras serem minhas por direito, eu tinha muito afeto por meus irmãos e éramos bastante ligados, a ponto de que eu concordei em ceder parte das terras a todos quando o estúpido de nosso pai morresse.
E foi em uma dessas noites de luxuria que tudo começou.
Eu já estava casado e minha esposa estava esperando um filho meu. O fato é que eu não tinha nenhum apresso pela minha cônjuge, embora a mesma me amasse com fervor. Meu filho estava para nascer na próxima lua cheia, e seguindo minha natureza inconseqüente a risca, eu estava em um bordel com três prostitutas. No êxtase da orgia, um de meus irmãos adentrou o quarto que eu estava sendo atendido. Ele me informou que minha esposa havia entrado em trabalho de parto.
Me vesti apressadamente e deixei algum dinheiro sobre a cama, depois parti. O problema é que o bordel ficava longe da mansão de minha família, e se meu irmão saiu de lá no momento em que minha esposa entrou em trabalho de parto, a essa altura ela já deveria ter dado a luz. Praguejei comigo mesmo, mas não por perder o nascimento de meu primeiro filho, e sim, que eu não sabia como iria explicar a minha ausência.
Acreditava eu estar bêbado quando olhei para o céu daquela noite, mas estava seguro de que não. Eu e meu irmão cavalgávamos as pressas, iluminado pelas estrelas e pela... Lua.
Mas a lua estava diferente. Um calafrio percorreu minha espinha quando me dei conta que a lua estava vermelha alaranjada. Como se não bastasse eu não saber como explicar onde estava, meu filho iria nascer sob uma lua vermelha. Deus do céu, isso só poderia ser um mal pressagio, um castigo do todo poderoso sobre meu ser. Um nó se formava em minha garganta, juntamente com o remorso em meu coração.
E durante esse pesar, algo de estranho aconteceu.
A estrada estava bastante escura, e eu ouvi meu irmão gritar. Meu cavalo deu uma guinada furiosa e eu fui arremessado para frente. Depois disso, meu mundo ficou escuro e confuso. Eu tenho algumas vagas lembranças que eu me acordava por alguns segundo, sentindo uma terrível náusea, mas logo depois voltava a adormecer. Sabe lá Deus quanto tempo eu fiquei nesse devaneio, mas o que aconteceu depois me fez ter dores de cabeça por meses.
Me acordei em alguma coisa bastante confortável. Era melhor que minha cama, mesmo que ela fosse uma das melhores do feudo, esse lugar conseguia ser muito mais confortável. O lugar que eu estava me deixou tonto. Era uma sala pequena, de tamanho retangular e de paredes, teto e chão de cor cinza claro. A principio eu pensei estar em uma caverna, mas daí me dei conta que o lugar não tinha portas ou janela.
Meu desespero começou ai. Eu comecei a bater nas paredes, gritando para me tirarem dali, mas era inútil. Estava preso em algum lugar, completamente sem saída. Comecei a suar frio e a me desesperar. Perdi a conta de quantas vezes fiz o sinal da cruz e rezei naquele primeiro dia. A cor daquelas paredes me dava vertigem, e pelo fato de ser tudo tão uniforme, parecia que eu estava perdido em uma imensidão de cinza.
Sem contar naquela pequena cama e naquilo.
Havia uma coisa estranha sobre uma espécie de estante. Eu nunca havia visto nada igual antes, parecia ser até mesmo algo sobrenatural. Havia uma placa estreita com uma espécie de vidro ou algo assim. Também havia outras duas caixas logo abaixo, uma grande e a outra pequena. E perto daquela placa ou caixa, havia outras duas coisas intrigantes. Uma delas era outra placa, mas essa havia o alfabeto, números e outros comandos que eu desconhecia. E a outra coisa era um tipo de bola, ou algo assim, que era dividida no meio a partir da metade.
Aquilo parecia ser alguma coisa de sonho. Não podia ser real. Comecei a rir da fertilidade que minha mente possuía. Decidi me deitar e, assim que acordasse, eu estaria em minha mansão, com minha esposa ao lado e com meus irmãos.
Mas isso não aconteceu. Quando acordei, ainda estava naquele lugar dos infernos. Minha primeira reação ao me dar conta daquilo foi gritar. Antes eu estava com medo, agora eu estava desesperado. O que diabos estava acontecendo? Tinha objetos ali que eu nunca havia visto na vida, e por que eu fui parar naquele lugar? E como, em nome de Deus, eu fui parar ali?
Eu notei que sobre aquela estante havia algo novo: um livro. Era de tamanho médio, e razoavelmente volumoso. Nessas horas que eu agradeço por ter nascido com condições de ter o mínimo de educação para saber ler. Talvez ali tivesse escrito o que estava acontecendo comigo.
Havia algo peculiar com aquele livro. Apenas as duas primeiras paginas estavam escritas, o resto eram apenas paginas em branco, com exceção da numeração, que ia de um à setecentos e trinta.
Na primeira pagina havia uma gravura extremamente realista e perfeita daquele aparato que estava sobre aquela estante. O pintor que havia feito aquilo devia ter um talento quase que sobrenatural. Logo abaixo da gravura, havia um nome: “Computador”. Então o nome daquela coisa era computador? Ainda assim não tinha a mínima noção de como se utilizava aquilo, e muito menos para que fim servia.
Tinha ali breve instruções de como acionar aquela coisa, e eu o fiz por puro instinto. Aquele painel emitiu uma luz que quase cegou meus olhos. Eu não estava acreditando que aquela coisa estava emitindo luz, como se fosse fogo ou o próprio sol. Era assustador demais para mim. O que diabos era aquilo?
Aquele livro estranho informou que eu poderia controlar uma pequena seta com aquela bola, que se chamava “mouse”. Levei minha mão, um pouco hesitante à aquela coisa, e a movi. Eu não notei nada que eu havia movido. Depois de alguns segundos, eu entendi e me apavorei. Aquela pequena seta branca dentro daquele painel, que se chamava “monitor”, estava se mexendo a medida que eu movia o mouse.
Aquela coisa estava me dando dor de cabeça. Por mais que eu fosse um homem inconseqüente e fanfarrão, eu era inteligente e tinha curiosidade pelas coisas, e sempre tentava achar lógica para tudo. Mas aquilo tudo não havia lógica. Como que uma coisa daquelas iria emitir luz sem fogo ou sem nada assim? E como que eu conseguia controlar aquela pequena seta, sendo que não havia nada ligado à aquele mouse?
Me deitei aquela cama e tentei dormir mais um pouco. Por mais que tudo isso que eu fiz parecesse ser coisa de instantes, eu levei quase duas horas tentando iniciar aquele computador e as coisas que ele me revelou me deixaram com dor de cabeça. Alem, é claro, de estar mais apavorado ainda. Como se não bastasse estar preso em um lugar sem nenhuma saída, e com aquela coisa estranha, eu estava com muita fome. Era tamanha, que achei que poderia desmaiar a qualquer momento. Então resolvi dormir, para talvez conseguir esquecer a fome.
Então eu acordei e me surpreendi com uma coisa que vi. Havia um prato com uma espécie de sanduíche redondo, com carne e queijo, e uma bebida escura em um copo de vidro. A primeira mordida naquela coisa me deixou em êxtase. Era muito gostoso, e parecia que meus sentidos estavam sendo explodidos.Talvez fosse por que eu estava com muita fome, mas aquela refeição me deu um vigor muito grande. O problema é que era demasiado pequeno, e acabou rapidamente.
Aquela bebida escura também era como um presente de Deus. Ela era cítrica, como cerveja, mas era ao mesmo tempo, doce e gelada. Valha-me o divino, como era bom aquela mistura de acidez com o gelo.
Deixei-me cair na cama e comecei a rir comigo mesmo. Por mais que eu comesse muito bem, eu nunca havia feito uma refeição tão deliciosa. Mas era assustador, porque eu estava em um lugar que eu desconhecia.
Veio-me uma coisa a mente. Se apareceu comida ali, alguém estava me vigiando, e sabia que eu estava ali. E esse alguém entrou de alguma forma, mas como? Estou começando a ficar mais furioso do que amedrontado, mas daí então eu olhei para aquela coisa. “Computador...” Aquilo tirou a fúria de minha alma e me trouxe de volta ao medo.
Algo me repudiava daquele objeto, mas eu sentia que precisava utilizá-lo de alguma forma. Mas eu não tinha menor idéia de como, e aquela porcaria de livro só havia duas paginas. Mas, quem sabe, eu não deixei escapar alguma pagina?
O que eu vi me deixou assustado e confuso. Alem das duas paginas que já tinha, havia outras duas paginas seguintes. Mas eu estava certo de que não havia nada naquelas folhas. Havia novas informações sobre aquela maquina, e ele me dizia sobre uma coisa chamada internet. Eu não fazia menor idéia do que era aquilo, mas segui as instruções novamente.
Demorei algum tempo para ligar aquela maquina novamente e mais ainda para me acostumar aquele mouse. Era difícil de controlar aquela seta com aquela coisa, ainda mais para alguém completamente descoordenado como eu. Eu não entendi quase nenhuma informação que me fora fornecida nas próximas paginas, mas ela me disse para olhar no canto inferior direito da tela do computador.
Havia uma serie de números e barras: 12/03/2035. Eu não entendi o que aquilo significava muito bem, mas não me deixou tranqüilo. Olhei para o monitor e tentei analisar o que eu via. No livro dizia que aquelas pequenas imagens eram “atalhos”. Havia palavras abaixo deles, mas muitos eram palavras que eu não sabia ler. “FireFox”, “Lixeira”, “Meu Computador”, dentre outros. Me perguntei como haveria uma lixeira naquela coisa, mas não pude pensar muito pois estava ficando com dor de cabeça.
Deus do céu, o que estava acontecendo? Será que era o castigo do todo poderoso por meus pecados? Parte de mim sabia que eu estava bastante lúcido, mas aquelas coisas eram demais para a minha cabeça. Ela doía tanto que eu acabei caindo desmaiado na cama. Os meus sonhos foram completamente sem nexo e muito abstratos. Mas eu consegui reconhecer uma coisa: a Lua. Aquela Lua vermelha alaranjada. Talvez fosse a ultima coisa que eu havia visto antes de mergulhar naquele lugar dos infernos.
Quando despertei, senti como se minha cabeça tivesse sido expandida. A minha primeira reação foi ir a aquele computador. Eu acreditava que aquela coisa talvez pudesse me dizer para que eu estava ali e como eu poderia sair. Embora fosse uma coisa muito complexa para mim, eu estava determinado a tentar.
Dessa vez eu o liguei rapidamente e já estava me acostumando aos movimentos daquela seta que se chamava “cursor”. Outro fato que me deixou intrigado e que reforçou mais minha teoria de que alguém entrava ali era aquele livro, pois quando eu o abri, havia mais duas paginas com mais informações.
Experimentei clicar naquela coisa chamada “FireFox” e a imagem da tela mudou. Eu me assustava pela maneira que aquela tela emitia luz e pior, trocava de cor e imagem quase que instantaneamente. Por Deus, aquela coisa parecia ter saído dos infernos.
“Google”, escrita em letras coloridas com um campo abaixo. No livro dizia que aquela coisa servia para fazer pesquisa e buscar informações. Escrevi então “Onde eu estou?”, e a imagem mudou novamente. Ousei clicar em alguns resultados e a imagem na tela mudou novamente. Aos poucos eu ia me acostumando com aquilo, mas ainda assim eu estava com medo. Nenhum lugar dizia onde eu estava e praguejei comigo mesmo. Considerei que talvez aquele tal de “Google” não dava respostas tão diretas e pessoais assim e seria inútil escrever qualquer coisa do gênero.
Pesquisei então sobre “computadores” e “internet” para talvez entender melhor o que eram aquelas coisas. Os primeiros resultados me mostraram conceitos como ser uma maquina com capacidade de tratamento de variados tipos de informações e que “internet” era como se fosse vários computadores ligados uns aos outros, saiba lá Deus como isso seja possível, servindo como uma “uma grande rede de compartilhamento de informações”. A analogia que eu fiz em minha mente para conseguir entender melhor foi que computadores seriam como as prateleiras, corredores e salas de uma grande biblioteca e que os livros seriam a internet.
A próxima informação a respeito de computadores me fez desmaiar.
Aquela coisa estava me dizendo que computadores surgiram em meados dos anos 1930, mas eu estava muito ciente de que estava no ano de 1345! Deus do céu, o que estava acontecendo? Olhei novamente para o canto inferior direito da tela e fiquei com medo daquela mesma serie de números e barras: 12/03/2035. Me dei conta que aquele “2035” era o ano que aquela maquina estava datando.
Me ergui da cadeira e comecei a andar de um lado para o outro. Meu Deus do céu, eu comecei a entrar em pânico. Bati em todas as paredes a socos e pontapés. Eu gritei e implorava para acordar, ou para morrer. Como diabos eu estava em 2035? Isso não podia ser verdade, era apenas alguma brincadeira de mau gosto que alguém estava fazendo comigo. Não podia ser outra coisa senão isso.
Em uma atitude desesperada, arregacei as mangas de minha roupa e olhei para a dobra de meus braços. Com um movimento decidido e preciso, mordi com uma força proporcional a dor causada. Sangue escorria de minha boca e pingava no chão cinzento. Com outro movimento preciso, mordi novamente, mas no outro braço. Eu sentia minha cabeça latejar e o sangue se esvair aos poucos de minhas veias. Achei que assim talvez eu conseguisse morrer e acabar com esse pesadelo dos infernos que eu estava vivendo, mas a realidade veio logo depois que eu acordei.
Meus braços doíam, mas de uma forma menos intensa. As feridas foram isoladas com ataduras macias e eu me sentia um pouco mais calmo, como se tivesse tomado um chá de camomila muito mais forte e concentrado. Ainda estava apavorado, mas um pouco mais... Contido? Talvez fosse essa a palavra.
Havia outra refeição que eu comi sem muita vontade, embora fosse tão deliciosa quanto à anterior. Eu estava começando a entrar em um estado de apatia, e simplesmente não sabia o que fazer. Eu tinha medo de ligar aquele computador e receio de tentar ler aquele livro. Passei por algum tempo, que talvez fosse dias, apenas deitado naquela cama e andando de um lado para o outro. O meu tédio era grande mas eu não sabia mais o que era de mim.
Depois daquele interminável período que fiquei sem fazer absolutamente nada naquele inferno, resolvi apanhar aquele livro. Ele havia varias novas paginas com mais informações a respeito do computador. Um fato curioso é que ali dizia para me acalmar, que todas as respostas viriam no momento ideal. Praguejei e segui lendo. Ali também sugeria que eu me encorajasse a continuar explorando aquela maquina, pois por mais que ela parecesse confusa, ilógica e completamente assustadora, o computador era a ferramenta mais poderosa que a humanidade possuía.
Eu olhei para o monitor e senti vontade de virar o rosto. Depois eu encarei aquela coisa novamente. Eu sempre fugi dos meus problemas e das minhas responsabilidades, e agora... Agora eu era obrigado pela primeira vez a encarar um problema muito serio. Estava preso ao meu problema, e eu não podia fugir por mais que tentasse.
Liguei aquela maquina em segundos e comecei a explorar. Estralei os dedos e rasguei as ataduras em meus braços, dando a vista grandes cicatrizes secas. Uma estranha determinação começou a brotar no meu peito, mas ainda assim decidi ter cuidado com esse entusiasmo repentino.
Depois de alguns dias, eu comecei a entender um pouco melhor do que um computador era capaz. Ele podia editar textos e imagens antes mesmo de serem “impressas”, e outras inúmeras finalidades. Com a internet, o acesso a qualquer tipo de informação era incrivelmente pratico e instantâneo, dando uma boa parte das respostas que se tinha a suas perguntas ou duvidas. Através de algumas pesquisas, eu descobri que no atual tempo que eu me encontrava, as coisas eram incrivelmente diferentes. Construções colossais onde viviam pessoas, que se chamava de “edifícios”, lotavam grandes cidades. Outro fato que me apavorou foi o fato de existir maquinas gigantes que eram capazes de voar levando duzentas pessoas ou mais, e viajavam a uma velocidade que era quase difícil de que eu imaginasse.
Outro fato que não me assustou, mas deixou bastante curioso, foi a criação de carruagens sem a necessidade de um cavalo para se locomover, que se chamava “carros” ou “automóveis”. Eram maquinas impressionantes e muito bonitas de um modo um pouco exótico. Mas o que realmente me deixou fascinado foi saber que o mundo na verdade era redondo, que as estações do ano se devem a inclinação da Terra e não da proximidade com o sol, que o mesmo era o centro do nosso sistema planetário e não a Terra, e de que havia um continente imenso do outro lado do oceano chamado “Américas”.
De fato, computador era uma ferramenta extremamente poderosa, principalmente para compartilhar informações. Mas o que me surpreendia era como a humanidade havia evoluído de uma maneira do qual eu nunca imaginaria. Era pavoroso em alguns aspectos, mas em outros, era até mesmo emocionante de se ver.
Mas aí então vieram duas novas paginas.
Acordei certo dia e fui até o livro, que havia uma informação nova para mim, mas era bastante direta e simples: “Procure saber mais sobre as punições da Idade Média”. Dei de ombros e procurei sobre o que aquele livro estava dizendo. Idade Média era a época do qual os estudiosos chamavam o tempo em que eu, em teoria, vivia. Após alguns minutos, eu soltei um grito com o que eu havia lido.
“Berço de Judas”, “Manivela Intestinal”, “Pêra”, “Roda de Desmembramento”... Essas eram algumas das punições que eu havia descoberto que a igreja usava de maneira cruel e inconseqüente nas pessoas, alegando heresia e outras coisas até mesmo muito banais. O pânico de verdade veio ao entender como aquelas coisas funcionavam e como matavam de uma maneira lenta e dolorosa. Deus do céu, eu não conseguia acreditar. A igreja que sempre me prometeu salvação e conforto era uma assassina cruel e tão terrível quanto o demônio que caçava. Questionei até mesmo se o Deus que eu rezava era bondoso e misericordioso como eu havia acreditado até então, ou se tudo isso era obra de homens sádicos e perversos.
No dia seguinte, depois de um sono mal dormido e com pesadelos, novas paginas foram adicionadas e eu percebi que o livro se aproximava do final. Também percebi o quanto minha barba e cabelo estavam grandes, e só naquele momento eu havia me dado conta desse fato, pois estavam tocando as paginas.
Dessa vez havia novamente informações bastante diretas e objetivas: “Saiba um pouco mais sobre A Peste Negra que ocorreu”. Eu fiquei com bastante receio de ir atrás daquelas informações, pois da ultima vez que eu fui atrás dessas informações bastante simples, eu acabei por ter bastante dor de cabeça, mas eu fui mesmo assim. O próprio nome daquilo soava muito sombrio, e eu estava com um mau pressentimento sobre. Quando terminei de ler, eu desliguei o computador e segui para a cama, completamente em choque.
Eu havia notado nos últimos dias antes de vir parar nesse lugar que um rato preto havia cruzado o meu caminho na estrada. Na hora eu não me importei, mas agora o que havia em meu âmago era desespero. Eu não conseguia imaginar setenta e cinco milhões de pessoas, ainda mais esse mesmo numero de mortos. Era a quantidade de pessoas que iriam morrer na Europa, todas com pústulas horrendas e agonizando até a morte os levar. O feudo era um lugar fétido por natureza, e depois de um tempo você se acostuma, mas imaginar o natural fedor da ausência de higiene com o odor de putrefação de pessoas vivas... Deus do céu, isso era horrível demais! Será que era um castigo do Todo Poderoso por usarem seu nome para fazer maldade?
A ânsia de vomito veio ao meu encontro, mas eu não consegui expelir nada. As minhas noites seguintes foram com pesadelos de imagens horrendas e de pessoas agonizando aos poucos antes de morrer. Eu estava naquele lugar fazia sabe lá Deus quanto tempo, pois eu já havia perdido essa noção. Havia visto as coisas boas e ruins que o futuro nos reserva, havia aprendido a usar a ferramenta mais poderosa que a humanidade criou e também degustei as comidas mais deliciosas que eu já havia comido. Mas após tudo isso, porque eu estava naquele lugar? E porque a mim? E qual a circunstancia de me revelar as coisas mais horrendas que a minha época passou, ou passará, já não sei mais dizer em que tempo estou e porque estou aqui. Eu só quero sair ou morrer, pois por mais que fosse excitante, era assustador e cansativo.
Certo dia, eu notei que faltava apenas quatro paginas para o livro se concluir, e me indagava o que ocorreria quando isso acontecesse. Nas duas penúltimas paginas estava escrito que as minhas respostas estavam próximas, e para eu ter só um pouco mais de paciência. Respirei fundo e aceitei. Se de fato faltasse pouco para eu ter alguma resposta, então eu poderia agüentar mais um pouco, afinal, eu já tinha agüentado até aqui.
Quando eu acordei na outra manhã, eu estava confuso.
Meu cabelo e minha barba estavam mais curtos, eu estava na minha antiga cama no meu quarto da mansão de minha família. Ergui as mangas e as cicatrizes da mordida que eu fiz em mim mesmo haviam sumido. Eu havia voltado? Eu acho que sim. Ri com uma intensidade louca e assustadora. Meu irmão estava do meu lado e deu um salto quando despertei.
Ele indagou se eu estava bem, e eu disse que sim, mas não sabia o que estava acontecendo. Meu irmão se silenciou por um instante. Eu comecei a questioná-lo o porquê de estar tão quieto, sendo que eu havia desaparecido por dias. Seu cenho se franziu quando argumentei isso, e logo depois veio sua negação.
Meu sangue ferveu e eu continuei dizendo que eu havia caído do cavalo na noite de Lua vermelha, quando o meu filho iria nascer. Ele negou isso novamente, e eu me levantei da cama. Comecei a vomitar tudo o que havia acontecido, falei do quarto cinzento, do livro, do computador, de tudo. Meu irmão se afastou de mim com os olhos arregalados. O padre do qual tomava conta da igreja do feudo abriu a porta de meu quarto, com uma expressão tão espantosa quanto a de meu irmão.
“Eu acho que ver o filho daquele jeito foi demais para ele...”, disse o padre com um tom de desdém na voz e meu irmão assentiu. “Sim, eu acho que meu irmão ficou louco.”
Enfureci e sai do quarto a passos pesados. Estava exclamando e exigindo para ver o meu filho no mesmo momento. Os dois homens me acompanharam pelos corredores, bastante preocupados, e isso aumentava minha raiva. Quando abri a porta do quarto que a minha esposa deu a luz, procurei pela criança. Ela repousava sob um berço de carvalho e meu irmão tentou me conter, mas o empurrei para o lado com o ombro.
Eu não estava entendendo o pequeno monstro que havia naquele berço. Uma criança tão defeituosa que eu não acreditei que fosse um ser humano, ainda mais que fosse meu filho. Eu não consigo nem por em palavras a cena horrenda que eu via naqueles lençóis brancos.
O padre veio com a mão em meu ombro. Ele argumentou que era compreensível que eu tivesse ficado louco depois de ver que o primogênito nasceu completamente “estragado”, mas que Deus sabia o que fazia. Eu ri com esse ultimo comentário, enquanto tirava a mão daquele homem de mim.
“O mesmo Deus que tortura por motivos banais é o que me deu um monstro como filho? É esse Deus miserável que sabe o que faz? Imagina se não soubesse, afinal milhares vão morrer porque ‘Ele sabe o que faz’. Eu vi o que a humanidade vai conseguir, vi como será o continente do outro lado do oceano e vi também como nós iremos evoluir. E tudo foi graças a nós, e não a um desgraçado de um Deus, pois ele quer que a gente se foda!”
Os homens ali estavam chocados. Meu irmão desabou de joelhos no chão, e o padre ficou sem fala. Meu pai adentrava o quarto quando eu terminava minha blasfêmia. Eu ri novamente de uma maneira assustadoramente satisfatória e histérica. O pobre padre começou a rezar de joelhos no chão do quarto e meu pai estava ordenando alguma coisa para os guardas da mansão.
Eu segui rindo durante todo o trajeto que haviam me arrastado, e eu nem mesmo notei para onde eu iria ser levado. Talvez para um calabouço da igreja, ou para algum lugar qualquer. Da janela de minha cela, eu podia ver dois grandes ratos pretos passando correndo. Pequenas pulgas saiam de seus movimentos, e eu sabia que a peste estava chegando. Veio varias vezes o padre pedir para eu me confessar, mas eu neguei com todas as minhas forças. Eu sabia que seria torturado em breve, e que depois disso seria queimado vivo, mas eu de certa forma não me importava.
Depois de poucos dias, notei pústulas nas mãos de meu carcereiro e soube que a peste havia começado e que muitos iriam morrer. Eu não iria viver para vê-la dizimar as pessoas, e de certa forma me sinto um pouco grato por isso. O padre veio com uma pequena chibata e me “puniu” na ultima vez que esteve aqui. Eu não irei durar muito, então deixei tudo escrito aqui o que aconteceu comigo e o que está por vir. Eu não sei, mas talvez isso seja culpa da Lua... Aquela maldita Lua Vermelha que eu avistei quando tudo começou.



Espero que essas escritas sobrevivam tempo o bastante para alguém ler e quem sabe tentar fazer alguma coisa a respeito, mas eu morrerei em breve e deixo essa historia como uma forma de deixar minha consciência mais leve antes de partir. Só tome cuidado com as feridas abertas, com os ratos pretos, com a ira de “Deus”, e principalmente, com aquela maldita Lua Vermelha.

Conto ótimo, vi lá na Oficina dos Horrores

30/07/2015

Betsy, a boneca

Assim como muitas pessoas, eu tive uma infância triste. Quem não tem, hoje em dia? Meu pai saiu de casa antes de eu nascer e minha mãe estava drogada quando me trouxe para casa. Ela rapidamente voltou ao seu estilo de vida festeiro e transformou nosso apartamento numa toca do ópio. Eu andei por uma neblina cheia de drogas durante os 5 primeiros anos de vida. Aquele ar cheio de fumaça enchia os corredores, passando por baixo da minha porta parecendo que ficava impregnado lá por dias.

Minha mãe não era uma má pessoa, era só uma vítima de seus vícios. Quando ela tinha dinheiro extra, trazia comida pra casa e, às vezes, me trazia roupas da Goodwill. Os únicos móveis que eu tinha no meu quarto eram a base da cama com um colchão e um pequeno baú de brinquedos azul e branco. Não que eu tivesse muitos brinquedos pra colocar dentro dele, só os 3 que eu tinha ganho em meus aniversários: um era um kit de arte, um vagão de trem vermelho e, meu brinquedo mais importante, uma boneca chamada Betsy.

Betsy era minha melhor amiga. Fazíamos lanches da tarde imaginários juntas, dormíamos juntas, tomávamos banho juntas e, algumas vezes, eu lembro que ela falava comigo.

Pensar em Betsy na durante minha vida adulta me fez pensar que eu era uma criança seriamente traumatizada, que estava constantemente drogada e, por isso, minhas memórias eram extremamente duvidosas. Ainda consigo lembrar do som da voz dela, uma vozinha que tilintava com uma certa melodia. E também me lembro das coisas que ela me pedia pra fazer. Roubar comida pra ela. Pegar garfos e facas pra ela. Bater no homem mau que dormia em nossa cama. Sempre coisas ruins que me traziam problemas. Eu culpava a Betsy mas ela nunca acreditava em mim. Adultos nunca acreditam.

Por volta do meu sexto aniversário eu pedi pra minha mãe fazer uma festa pra mim. Eu queria convidar as meninas chatas da minha escola, servir-lhes bolo e fazê-las gostarem de mim. Eu ainda lembro de quando fiquei em pé na cozinha bastante esperançosa, com uma garrafa de vidro de refrigerante na minha mão, enquanto aguardava a resposta de minha mãe. Ela virou pra mim e riu.

-Uma festa de aniversário? Laura, isso é ridículo. Não tenho dinheiro pra alimentar 15 outras crianças que não são nem minhas - mal consigo alimentar você! Você come que nem um elefante, ou melhor, a Betsy come. Eu quase não tenho o que comer aqui!

Ela balançou a cabeça, murmurou alguma coisa e saiu da cozinha. Eu ouvia o volume da música na sala aumentando ao passo que várias pessoas entravam na casa. Algumas saíam, outras ficavam. Eu não conhecia nenhuma delas. Minha mãe dava festas o tempo todo, por quê eu não podia? Eu era uma criança, todas as outras faziam festas e agora as meninas chatas da minha escola agora saberiam que eu era tão pobre que não conseguia nem fazer festas de aniversário, o que faria elas me irritarem ainda mais.

Eu senti lágrimas crescendo em meus olhos, corri pro meu quarto e bati a porta. Betsy estava deitada na cama, sorrindo. Ela estava sempre sorrindo, como eu poderia esquecer? Apenas me encarando, sorrindo. Ela ia me pedir pra fazer algo de ruim, como roubar ainda mais comida ou pior. Isso tudo era culpa dela. Betsy não precisava ir à escola e nem se encrencava que nem eu e, na minha mente de criança de 5 anos, eu realmente acreditava que era a boneca quem me trazia todas as minhas aflições, não minha mãe.

Eu gritei de raiva e joguei a garrafa com todas as minhas forças na cama. A garrafa acertou Betsy, que caiu no chão. Comecei a rir. Peguei ela, a levei até o banheiro e joguei-a na banheira, que sempre tinha água, devido ao fato de os canos de casa estarem todos entupidos. É claro, ela não se movimentou enquanto estava debaixo d'água, mas jogá-la lá fez com que eu me sentisse melhor. Alguns minutos depois, quando eu tinha acabado de descontar minha raiva no meu brinquedo favorito, eu o joguei no baú de brinquedos do meu quarto e fechei a tampa com força. Chutei o baú em direção à parede; nunca queria ver Betsy novamente.

Nunca tive outra boneca depois disso. Mais ou menos uma semana depois de tudo isso, a polícia apareceu e duas boas mulheres me levaram para uma nova casa em outro estado, com comida, brinquedos e sem drogas. O baú com os brinquedos foi levado embora e eu nunca vi minha mãe de novo. Conforme fui ficando mais velha, minhas mães adotivas me contaram que minha mãe biológica estava na cadeia, cumprindo 25 anos de pena. Eu não senti nada por ela pois, de qualquer forma, eu ainda tinha pesadelos por causa daquela vida que eu tinha. Comecei a focar nos estudos e a ignorar as cartas que minha mãe me mandava da prisão. Ela me ligou várias vezes durante minha adolescência, mas eu sempre recusava as chamadas.

Isto é, até esta manhã. Estou com 30 anos de idade agora, tenho meus próprios filhos e um marido que me ama profundamente. Tenho uma linda casa, com 2 cachorros e uma carreira de assistente social, tentando fazer a diferença na vida das crianças que vivem do mesmo jeito que eu vivi na minha infância. Então quando recebi uma mensagem de voz da minha mãe falando que ela estava sob condicional e queria falar comigo, me senti estável o suficiente para deixá-la dizer o que tinha pra dizer.

Assim que as crianças chegaram da escola, eu fui pra barraca que temos no quintal para retornar a chamada de minha mãe. A barraca era domínio das crianças, elas a usavam para brincar no verão. Sentei em cima do meu velho baú de brinquedos, que, agora, estava sendo usado como mesinha pra lanches e disquei o número que ela havia me dado.

Três sons.

-Oi? Laura?

-Oi, mãe. Como você está?

-Ah, Laura, obrigado por me ligar. Eu sei que agora você tem sua própria vida e uma família agora. Eu adoraria conhecê-los algum dia! Eu só queria dizer o quanto eu sinto. Por tudo.

-Você NUNCA vai conhecer meus filhos. Eu vou dizer o que tenho pra dizer, também. As drogas te destruíram e me levaram com você. Sinceramente, eu estou surpresa com o tempo que levou para a polícia te pegar.

-Não entendo o que você quer dizer com "me pegar", Laura, de verdade, eu não sei de nada! Olha, isso mal importa. Eu entendo o porquê de você se sentir dessa maneira. O porquê de você me odiar e não querer que eu veja seus filhos. Enquanto eu estava longe, aprendi muito sobre Jesus e sobre perdão... e, Laura, sinto muito pela Betsy.

-Betsy? - eu perguntei, confusa - Por quê você se importaria com ela?

-Eu sei, eu sei, Laura, acredite em mim. As drogas foram tudo culpa minha. E a Betsy, meu Deus, se eu tivesse conseguido ver através da neblina, se eu soubesse. Agora ela se foi pra sempre e é tudo culpa minha.

Enquanto minha mãe começava a chorar, eu batia meu dedos na caixa, impacientemente. Aquelas drogas tinham mesmo fritado o cérebro dela.

-Mãe, por quê você está falando da Betsy? Por quê você se importa com ela? E, a propósito, eu sei onde ela está.

-Você sabe?! Do que você está falando, Laura? Onde ela está?!

Eu pulei da caixa em desconforto, mas logo voltei a sentar em cima dela.
-Betsy está no baú.

Eu sinceramente achei que ela tinha desligado o telefone, eu não ouvi nada do outro lado, nem mesmo o respirar de minha mãe.

-.....O que você tá querendo dizer falando que sua irmã está no baú?

-Irmã?! Que merda você está falando? Voltou com as drogas de novo, mãe? Betsy é uma boneca, porra! Eu tranquei ela na caixa de brinquedos pouco antes de você ir presa por porte de drogas.

-Laura... oh, Deus, não... não... Laura, eu não fui presa por causa das drogas, eu fui presa pelo desaparecimento de Betsy! Você sempre chamou ela de "bonequinha", mas todos achávamos que você sabia... Oh, Deus, o que você fez, Laura? O que você fez com meu bebê?!

Sem emoção, eu coloquei o telefone do meu lado e levantei. Eu podia ouvir os gritos distantes de angústia da minha mãe e sentir o aperto da agonia no meu próprio peito. Memórias se agitavam nos confins da minha mente ameaçando voltar, inundando minha consciência, empurrando uma porta dentro da minha cabeça, uma porta que estava trancada há tanto tempo que esqueci que ela existia.

Será que o trauma e as drogas realmente me fizeram acreditar que uma criança pequena era, de verdade, uma boneca? Pedindo comida, utensílios para comer, me pedindo para lhe proteger do homem mau...

Não....

Eu virei de costas lentamente e olhei para o baú. Certamente era pequena demais, uma pessoa não caberia lá dentro. Não caberia. Mas será que uma criança pequena quase morta de fome, esquelética, caberia? Se eu fosse um detetive eu nunca pensaria em olhar dentro desse baú. Era simplesmente pequena demais.

Eu me ajoelhei e abri os fechos do baú. Seria melhor não olhar. Tudo o que eu tinha superado, toda essa vida nova que construí pra mim. Tudo poderia ser desfeito ao abrir esse baú. Eu não devia abrir. Eu devia jogá-lo num lixão e esquecer que ele existiu. Eu não devo olhar dentro dele...

Abri o baú.

Eu nunca tive uma boneca. Minha mãe não tinha dinheiro pra comprar uma pra mim. Mas eu tinha um baú de brinquedos. Um baú azul e branco lindo. E, quando eu tinha 5 anos, eu afoguei minha irmã e a joguei no baú. E agora minha vida está acabada.

O Monstro


29/07/2015

O Vazio...

Viagens

Ah, o verão. O melhor período do ano, um período para relaxar e viajar. Afinal, o que é mais divertido do que viajar? Descobrir novas culturas, conhecer pessoas novas, acumular experiências. A única coisa melhor que viajar, é viajar com sua família. Quem discordaria?

Paul Travis discordaria...

Ele não foi sempre assim, ressentido com a perspectiva de sair de sua casa, desconfiado de todo tipo de autoridade. Alguns anos atrás, ele era um homem feliz, uma homem de família alegre. Ele aproveitava sua vida e nele havia uma grande paixão por viagens. Quanto mais longe, melhor. Foi no verão de 2003 que ele e sua família foram para Istambul, Turquia. Curtiram o sol e a cultura daquele país. Ao chegar no último dia de sua viagem, Paul convenceu sua esposa a irem visitar uma pequena vila perto de Istambul, onde estavam, uma vila nas montanhas. Ele, sua esposa e suas filhas pegaram o carro e passaram por estradas nas montanhas enquanto viam os outros carros passarem. Ocasionalmente observavam algumas pessoas vagando por aí em seus burros. Então, quando entraram na fascinante vila, começaram a perceber algo estranho.

As pessoas os encaravam enquanto passavam lentamente com seu carro. Era como se eles não fossem bem vindos ali, como se as pessoas não gostassem da presença deles. Como as mulheres vestiam niqabs, talvez a vestimenta de sua mulher e das gêmeas estivesse provocando os habitantes. Mas tudo começou a dar errado quando um garoto de não mais que 7 anos atravessou a rua. Quando Paul percebeu que o garoto estava lá, já era tarde demais. Mesmo com sua baixa velocidade, ele não pôde parar a tempo de evitar que o carro acertasse o menino. Paul sentiu uma batida no carro e parou imediatamente, com metade da criança embaixo do carro. Ele correu pra fora do carro e, com cuidado, retirou-o debaixo do carro, e só então percebeu que estava cercado de moradores locais. O homem se ajoelhou do lado do garoto, que respirava com dificuldade enquanto chamava sua mãe. Sua cabeça sangrava. Paul levantou e foi falar com um dos aldeões mais velhos.

-Senhor, foi um acidente, de verdade. Eu não vi o garoto. Temos de chamar uma ambulância.

O homem respondeu, calmamente:
-Tomaremos conta disso. Mas temos que ir até a delegacia, você sabe, não é?

-Sim, com certeza. Mas antes, vamos arranjar apoio médico pra essa criança.

-Tomaremos conta disso! Agora vamos até a polícia.

-Não podemos simplesmente ligar pra eles?

-Vai ser mais rápido irmos até lá do que ligar. Não é longe.

Ele continuou quando percebeu as intenções de Paul de voltar a seu carro:
-Senhor, não. Você não precisa de carro pra isso, a delegacia é apenas daqui a algumas quadras. Vamos rápido!

Estava claro que aquilo não estava aberto para negociações. Sem outra opção além de seguir o homem até o lugar, ele falou para sua esposa e filhas para ficarem no carro:
-Estarei de volta em um minuto, amor. Tenho de ir até a delegacia.

A mulher olhou em volta com uma expressão de medo em seu rosto e perguntou a seu marido:
-Paul, temos que ir com você?

Paul respondeu assim que viu o ancião irritado balançando a cabeça em negação:
-Não, Mary, só fique aqui com as meninas. Eu volto num instante.

Enquanto deixava sua família, Paul viu alguém fazendo uma ligação. Pelo menos alguém chamava a ambulância.

Ao chegar na delegacia após uma curta caminhada, Paul e o ancião entraram no lugar. Ao mesmo tempo que sua companhia conversava com o policial, ele olhou pela janela, mas foi chamado logo pela autoridade:
-Então, senhor, me contaram que você esteve envolvido num acidente. Posso, por favor, ver seu passaporte?

Paul lhe deu seu passaporte, que recebeu de volta após uma pequena olhada do policial.

-Vamos até a cena do crime, OK?

-Sim, claro. Mas, policial, foi mesmo um acidente, você tem que acreditar em mim. Eu não o vi chegando, e não conseguiria mais desviar dele.

-Tudo bem, senhor, não é que não acreditemos em você, é que tenho mesmo que ver a cena do crime antes que possamos concordar com isso.

-Certo. Vamos, então.

Conforme chegavam mais perto da cena do crime, os homens sentiram um cheiro estranho. Paul correu até seu carro e caiu de joelhos com o policial logo atrás dele.

O guarda olhou para ele e disse:
-Desculpe, senhor Travis, mas estávamos um pouco cansados de turistas que vem pra cá achando que podem correr em nossas ruas. Tínhamos que fazer alguma coisa.

Após uma breve pausa, o policial continuou a falar à medida que virava a cabeça para o carro de Paul:
-E, como você pode ter adivinhado, o garoto morreu!

Ainda chorando, Paul levantou sua cabeça e viu seu carro queimado com os cadáveres carbonizados de sua família dentro dele.

ATUALIZAÇÕES, NOVIDADES, CRONOGRAMA E VAGAS ABERTAS P/ CPBR!!!

Boa tarde, Creepers! Aqui quem fala é o Gabriel (sim, finalmente voltei, uhul)! Estava com saudades de voltar pra esse ambiente aterrorizante lol

Só avisando desde já que a Divina também está morrendo de saudades e voltará a traduzir em breve, assim que for possível pra ela. A Flávia também está com muito pouco tempo, mas ela traduzirá assim que possível também.

Bem, enfim, estou aqui pra trazer pra vocês alguns anúncios e novidades (finalmente, né) no que se diz a respeito do blog. Já faz um bom tempo, e peço mil desculpas pela enorme demora e ausência em todos os sentidos. Mas finalmente, vamos tirar a poeira das coisas (entre aspas, pois todos os novos integrantes fizeram um trabalho maravilhoso em não deixar o blog morrer trazendo diversos conteúdo e frequentemente, sem contar o Alex, que ainda está dando uns retoques finais no layout do blog junto comigo). Enfim, deem uma olhada!

- Como puderam ver, nosso novo logo finalmente ficou pronto! Queríamos deixar algo não muito pesado, mas também nada muito simples, além de mudar o "mascote". Esperamos que tenham gostado Emoticon smile

- Preparamos um cronograma de postagens no blog, pra que tanto a gente quanto vocês possam ficar atualizados:

Segunda-Feira: Hellen
Terça-Feira: Gustavo
Quarta-Feira: Mohamed
Quinta-Feira: Gabriel
Sexta-Feira: Victória
Sábado: Ítalo
Domingo: Thiago
Traduções Ocasionais: Divina e Flavia

- A partir de agora, checarei todas as sexta-feiras (sem falta) tanto os emails enviados pro "creepypastabrasil@hotmail.com" quanto as mensagens enviadas pra fanpage, e responderemos toda semana, nessa data (ou até mesmo antes, se for possível)

- As Creepypastas dos Fãs e os Creepers da Semana deram uma parada por enquanto, devido aos motivos de que estamos vendo alguma maneira melhor e mais interessante de administrar e trazer todo esse conteúdo pra vocês..

- Finalmente, estão abertas vagas pra CDC's aqui da fanpage! Precisamos voltar a ativa com ela, então estamos procurando no máximo três pessoas (duas, pois uma já foi "contratada") que possam contribuir em alavanca-la novamente com um conteúdo foda. Então se você estiver disponível e interessado, é só mandar um email (creepypastabrasil@hotmail.com) ou uma mensagem na fanpage que eu entrarei em contato de volta ;)


Bem, acho que é isso... Esperamos que gostem das novidades, e muitas outras ainda estão por vir! Então digam o que acharam e sugiram mais coisas pra melhorarmos cada vez mais :D

Abração & Keep Creepying!

28/07/2015

NES Godzilla (Replay) - Terra

A conexão entre a TV e o computador está pronta e agora já posso tirar screenshots. Acho que estou pronto para começar também. Agora é tudo ou nada...


Ok, a tela de abertura parece normal. Se for igual ao jogo de Zach, não acontecerá nada demais até a luta contra o primeiro chefe, mas vou ficar decepcionado se esse jogo acabar funcionando normalmente, sem nenhuma mudança.


Apenas alguns segundos jogando e já notei algo diferente. Quase não reparei, mas a opção "Last Game" sumiu. Não sei por que, já que ela normalmente faria a mesma coisa do que a opção "New Game".

Oh Deus, eu realmente espero que isso não signifique que não posso salvar. Não quero ser obrigado a jogar ele todo de uma só vez.

Talvez os nomes dos mundos funcionem como alguma espécie de “passworld” ou algo do tipo. Não há como saber até que eu comece a jogar.


O jogo pulou toda aquela intro do Sistema Solar. É uma pena, eu gostava de ouvir aquela música.


...Mas o que? O que é isto? O layout do mapa da Terra está totalmente diferente do que deveria ser. E eu não tenho Godzilla ou Mothra?


Puta merda!

Parece que eu não preciso me preocupar em não ver nada de diferente, afinal. Nada na imagem acima estava no jogo original, exceto pelo medidor de vida. Acredito que nada disso estava no vez em que Zachary jogou, também. A única outra coisa que parece ter permanecido intacta é a música.

Meu personagem jogável era um dinossauro. Já que o medidor de vida se referia a ele como GODZILLA, imaginei que era ele, só que antes da mutação. Portanto, sem raio de calor (ainda). Ela só podia atacar com socos e mordidas.


Não havia muita coisa nesta selva, além de outros dinossauros. Os pterodátilos voavam pra cima de mim quando eu chegava perto, e a maioria das outras criaturas ou atacavam ou fugiam. Às vezes, quando eu matava um deles, recebia um item de vida (que parecia com o mesmo item do original). Era uma fase curta, cheguei ao final dela em menos de 2 minutos. Vou tentar o ícone azul e amarelo ao lado.


Essa fase é uma praia, como você pode ver. Esses pequenos caranguejos são um saco pra matar; eles pulam e se agarram, enquanto drenam sua vida. Mas não precisavam de muitos ataques para que eles morressem, por isso, as coisas ficavam equilibradas. O único problema é que eles estavam em toda parte da fase. Tentava pular por cima deles sempre que podia.


Na segunda parte da fase, havia menos caranguejos e mais desses inimigos dinossauros/ peixes aquáticos que saiam dos buracos. Já joguei uma boa quantidade de jogos plataformas na minha vida, então isso não foi muito difícil. Não era nada assustador também, mas estava me passando uma sensação estranha. É difícil de explicar. É como se caso eu nunca tivesse jogado o jogo original antes, eu nunca imaginaria o que estivesse diferente nesse cartucho.

Para um "jogo sobrenatural", até agora, está rodando como um jogo comum. Mas não o jogo que deveria ser. Nenhuns destes dinossauros ou dessas fases deveriam estar aqui, e eu não faço ideia de onde eles vieram.


Essa terceira fase estava muito bugada. Além de nenhum inimigo presente, Godzilla estava piscando sem parar. Partes de seu corpo estavam se “reorganizando” a cada passo que eu dava. A música estava igualmente distorcida, só que parecia estar mais lenta e com um tom mais baixo do que o normal.


Eu estava andando pela fase, tentando descobrir o que diabos havia dado errado, quando de repente fui atacado por um Ghidorah! Quase me apavorei, porque não havia como eu ganhar uma luta contra Ghidorah com a fase naquelas condições. Mas então, o jogo congelou e fez um zumbido alto, em seguida, ele me retornou ao tabuleiro como se nada tivesse acontecido. Estranho.


A ultima fase era outro tipo de selva. Tinha os mesmos gráficos, mas desta vez, se passava durante a noite. Os dinossauros aqui eram diferentes e muito mais agressivos. Eles vinham tanto do lado direito quanto do lado esquerdo, por isso, tinha que prestar atenção em ambos os lados.

Estou atacando todos os pequenos dinossauros que encontro pra pegar os itens de vida e evitando o resto dos monstros, porque tenho quase certeza absoluta de que o Triceratops no final do mapa será uma luta de chefe. Eu não sei o que esperar dela, mas não quero estar com pouca vida.


A fase é bem maior do que as outras, e eu notei uma espécie de trabalho em equipe ocorrendo com os inimigos. Os dinossauros azuis seguiam meu dinossauro e ficavam pulando pra cima dele, o empurrando em direção aos dinossauros maiores.

Há outro grande dinossauro da mesma cor que faz uma coisa semelhante; fica pulando em cima de mim e infligindo dano, até que eu decida fugir ou mata-lo. É como se esses dinossauros me odiassem por alguma razão.


Finalmente, aqui estou eu na luta contra o chefe. Há uma bomba nuclear caindo ao fundo da fase, e a batalha é cronometrada... 1 minuto. Essa deve ser a hora decisiva, quando o dinossauro finalmente se torna Godzilla. Eu acho que esta Triceratops deve ser o animal mais forte na ilha, um rival. Melhor acabar logo com ele, ou então um rei dos monstros muito diferente irá surgir.

Ele não tem muita variedade de ataques, parece estar limitado somente a correr pra cima de mim. Eu salto por cima toda vez que ele faz isso, e depois o ataco com tudo que eu tenho (o que não é muito).

Ele morreu com apenas 4 segundos faltando pra acabar o tempo. Não tem como correr mais rápido do que a bomba, mas parece que realmente não era pra que eu corresse. A "cena" começa a tocar:



Quando terminou, o jogo voltou ao menu principal. Só que agora, “New Game” foi substituído por "Continue".


E esse foi o 1º Mundo. Minha primeira impressão... Eu não tenho certeza do que dizer. Me sinto um pouco sobrecarregado. De onde veio tudo isso? E por que?

NES Godzilla (Replay) - Prologo

Olá a todos. Meu nome é Carl, e acabei de comprar um jogo com uma grande história por trás dele. 

Talvez você já tenha ouvido falar sobre Zach e seu cartucho do Godzilla (NES)? Eu não estava ciente da história até ver o leilão no eBay, e aquilo realmente ganhou meu interesse.

Dei uma lida no relato do que o jogo supostamente fez. Não tinha certeza do que dizer sobre aquilo, mas algo sobre toda aquela situação me cativou, e eu decidi comprar o jogo. Imaginei que, se não fosse nada mais, teria pelo menos conseguido um jogo novo e bem conservado por um preço bacana. 

Usei o “Buy-It-Now (Compre Agora)” e consegui  compra-lo por US$10,00, incluindo frete.
Zach me mandou um e-mail e conversamos um pouco. Ele parecia ser um cara bacana, apesar de um pouco maluco e dramático. Ele deixou bem claro que estava falando sério sobre o jogo sendo antinatural e perigoso. Apesar de ainda não estar totalmente convencido, acabei entrando no “jogo” dele.

Vou falar um pouco sobre mim e o jogo agora: Pra ser sincero, eu nunca joguei Godzilla (NES), pelo menos não no cartucho. Depois que ganhei o leilão do jogo no Ebay, decidi jogar um pouco no emulador, só pra que eu pudesse ver como era, e também pra que pudesse apontar as diferenças visíveis no jogo (isso se tiver alguma). Os dois primeiros mundos eram até divertidos, mas o jogo acabou ficando chato muito rápido.

Eu não sou um especialista em Godzilla. Gostava de assistir os filmes quando era um garotinho, mas isso foi há muito tempo atrás. Agora, mal me lembro dos monstros, exceto pelos mais famosos, como Rodan e Mothra. Portanto, se o jogo começar a jogar um monte de coisas obscuras relacionadas a Godzilla na minha cara, pode ser que eu não pegue de cara.

E aqui está o cartucho do jogo em questão:


 Não há nada visivelmente errado com ele, não há marcas estranhas ou qualquer coisa que possa destacar. Se ele fosse misturado junto com os outros jogos comuns, você nunca saberia a diferença.

Ainda não comecei a joga-lo. Estou no processo de conectar a TV no computador pra que eu possa tirar screenshots no caso das coisas ficarem realmente interessante.

Por enquanto, fica aqui uma foto em baixa qualidade que eu tirei de tela de título:


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Preparados para um replay?

21/07/2015

Nem Todos Nós SURTAMOS.



    "É estranho", eu disse para o investigador, "como essas coisas sempre parecem acontecer quando algum grande escândalo nacional está acontecendo. Todo mundo se distrai. "

   "Você conhecia bem o Sr. Walker?"

   "Não muito. Ele trabalhava naquele cubículo, mas quase nunca falava. Cara quieto. Aposto que você ouve muito isso, oficial ...? "

   "Notou algum comportamento incomum?"

   "Antes que ele atirar no shopping? Nada de mais. "

   "Obrigado. Se tivermos mais perguntas "

   "Oh, espere. Ele tinha dois telefones. Todas as manhãs ele colocava um no seu teclado, como um ritual. Não sei por quê. Em dois anos eu nunca ouvi tocar, até o outro dia. Walker quase caiu da cadeira. Eu o vi responder, e um minuto depois ele saiu do escritório. Para sempre, ao que parece. Talvez ele tenha recebido uma má notícia?"

   Eu juro, o investigador me encarou por um minuto inteiro. Então, ele acenou com a cabeça, anotou que cooperei, e foi falar com os meus colegas de trabalho.

   Isso foi há um tempo atrás. Pouco tempo depois eu estava trabalhando até tarde, quando ouvi um telefone tocando. Eu segui o som até a gaveta da mesa de Walker, debaixo das fotos de sua filha. Era seu telefone extra.

   Estupidamente, eu atendi, como eles sabiam que eu iria. Eles disseram que eles podem me ligar de novo algum dia, e então me explicaram por que eu iria responder. Em detalhes gráficos.

   Ando muito quieto nos dias de hoje. Eu venho para o trabalho, tiro o telefone do bolso e o coloco onde eu tenho certeza que vou ouvir se ele tocar, ao lado de imagem da minha família. Então eu checo a internet, rezando para que não tenha nenhum grande escândalo acontecendo.

   Quando existe, rezo para que o meu nome não tenha alcançado o topo da lista de chamadas deles ainda.

NES Godzilla - Final

“Oh meu Deus. ”

Foi o primeiro pensamento que me ocorreu, quando percebi que teria que lutar com o “Red”, a criatura que me atormentou por todo o jogo. Como eu poderia lutar com algo que poderia me matar com um toque? Parecia algo totalmente impossível.

Felizmente, ele não estava mais hábil a desferir hits que matavam instantaneamente. Mas fora isso, essa foi a luta mais difícil que já enfrentei, contando com esse jogo e com outros. Se eu tivesse real compreensão do que eu estaria enfrentando antes de começar a luta, eu nunca iria ter feito isso.

Pouco depois eu percebi que erro terrível eu fiz. Red chegou e arranhou o Godzilla. E quando aquelas garras o cortou, eu senti.



Eu sabia que era comum as pessoas se assustarem quando seu personagem do jogo leva dano. Mas não era isso. Era uma dor física e genuína.

Quando a dor veio à tona, eu pausei o jogo. Eu não havia sofrido nenhuma injúria, mas eu senti como se meu ombro tivesse sido unhado. Eu já tinha experienciado muitas coisas ruins até esse ponto, mas o jogo me causar dor real foi onde eu perdi a linha. Sim, eu ficaria desapontado que eu não iria ver o final, mas o risco não fazia isso tudo valer a pena. Eu estava prestes a me levantar para tirar uma última screenshot e desligar o NES, quando percebi que...

-Eu não conseguia me levantar.

Eu estava paralisado no meu lugar. Os únicos músculos que eu conseguia mover eram os dos meus dedos e dedões. Enquanto o terror se acomodava, uma nova mensagem apareceu na tela.

“Você não irá sair. ”

Comecei a gritar, mas apenas um som fraco saia. Eu desesperadamente tentei mover meu corpo, mas eu não conseguia. Eu olhava para todas as direções, e então eu olhei para o computador.

De algum modo, o computador estava tirando screenshots do jogo, sozinho, quando eu comecei a lutar. Ainda não sei como ou por quê. Algo no jogo devia estar causando isso.

Desde que o Red ouviu o que eu estava dizendo, eu tentei implorar para ele me deixar ir embora. Daqui as coisas começaram a ficar confusas enquanto eu estava ficando em extremo estresse naquela hora, mas tudo que eu lembro que eu disse foi:

“Me desculpe. Eu sinto muito por ter te insultado. Eu não queria. Eu não sabia que as coisas ficariam sérias assim. Por favor, me deixe sair. Se você o fizer, eu prometo que eu nunca direi a ninguém ou irei ligar o jogo novamente. POR FAVOR! ”

E Red respondeu:

“Seu verme patético, agora é tarde. ”

"Só um sobreviverá."

Essa frase não podia ser mais clara. Se eu não conseguisse matar o Red, ele iria me matar. Como um idiota, eu olhei em volta, como se fosse algo que eu não entendia, e agora isso custaria minha vida.

Eu parei de me mover e aceitei a realidade da situação. Só tinha um jeito de sobreviver. Eu tinha que matar o Red.



Foi tudo muito rápido. Se não fosse pelas screenshots, eu não me lembraria de nada. Como nos levels de batalha, Red se moveu numa velocidade bem rápida. Tinha pouco tempo para processar um pensamento.



E então, não havia tempo para formular uma estratégia. Eu tinha que confiar nos meus reflexos e impulsos. Para piorar tudo, não tinha jeito de predizer que tipos de ataques que o Red iria usar, então eu tinha que ser constantemente ofensivo e defensivo.



Eu sentia cada hit que o Godzilla tomava. Todos doíam. Tentei desviar o dano, mas cada ataque que eu tomava me deixava vulnerável ao outro. E a dor só ficava pior.



Após ele pular em mim, seus olhos começaram a brilhar. Movi para trás rapidamente, e biquei, mas não tinha jeito de desviar disso aqui:


Quando AQUILO me bateu, eu gritei. Eu grite tão alto que todo mundo no apartamento deve ter ouvido, mas eles não ouviram. Só de olhar essa imagem, me causa dor, lembrando fogo incinerário.

Eu pausei o jogo por quê doía muito, mas o Red deu play no jogo para me atacar novamente, o que me deixou furioso.

Eu imediatamente contra-ataquei com o raio de calor, de novo e de novo, até o medidor de energia ficar esvaziado. Eu queria que o Red se machucasse como eu me machuquei.




Pouco antes do tempo esgotar, Red foi para sua forma nadadora. Eu não achei que o timer ainda estivesse afetando a batalha assim. Fico grato por isso, pois me dava alguns minutos para organizar meus pensamentos e decidir o que fazer depois.

Eu escolhi lutar com as duas próximas formas do Red com os monstros que eu havia encontrado, então Anguirus era o próximo. Provavelmente não era uma idéia muto inteligente, mas foi o que eu fiz.



Eu pulei e atirei o raio de calor na cara do Red, e ele se moveu para fora da tela, onde eu não conseguia o alcançar. Então, uma enorme onda de minas começou a cair de cima.




Eu achei injusto, então eu gritei:

“Se você vai trapacear, então por quê você me deixa usar o controle?!”
“Não posso quebrar as regras. ”

E então ele veio até mim, caindo do canto esquerdo para baixo:



“PORRA! ” Agora eu não estaria hábil para ver de onde seu próximo ataque viria. Red continuou a atacar de ângulos aleatórios, e eu constantemente me movia para o evitar.



Quase quarenta segundos passados e Anguirus já estava quase morto, mas juntos forçamos Red a ir para sua forma voadora, então era a vez do Mothra.


Decidir lutar com Red usando Mothra era uma ideia terrível. Mothra era instantaneamente sobrecarregada por Red, e o medidor de vida era devastado em meros quinze segundos.

E uma vez que a vida de Mothra estava abaixo de duas barras, Red fez algo que eu não vi chegando:

Ele chegou, agarrou Mothra e a comeu.

Após Mothra ser devorada, eu senti uma dor agonizante, como ser esmagado até a morte. Mothra havia sido morta por minha estupidez e eu iria compartilhar a dor. Foi uma pequena transição da batalha ao mapa, mas soou como uma eternidade.

A dor, combinada com a inabilidade de me mover, estava me deixando louco.

Eu queria tanto acabar aquilo. Eu nunca quis nada tanto assim.

Mas eu ainda tinha esperança. Só havia um monstro que podia ser trazido com a vida cheia para enfrentar Red naquela batalha. Solomon. Se algum deles tinha chance de salvar a minha vida agora, era ele.


Solomon aparentemente tinha alguma história com Red, enquanto a primeira luta começava, esse diálogo apareceu:

“Traidor, eu sempre te odiei. Você pode morrer como o resto. ”

“Prefiro morrer à servir você. ”

Red me pegou de surpresa por vir imediatamente soprando com seu fogo demoníaco uma segunda vez:


Embora isso machucasse, funcionou perfeitamente para minha vantagem: Solomon começou com a vida cheia, pois ele ainda havia alguma sobrando, mas agora que o Red havia usado toda sua energia, ele não poderia usar sua arma mais poderosa novamente. Agora ele iria morrer.

Enquanto sua barrinha de vida chegava perto do fim, Red virou seu corpo e encarou a tela. Depois, voou para cima e caiu com toda força, tentando esmagar Solomon:


Quando aquilo falhou, ele tentou devorar Solomon como ele havia feito com Mothra. Mas ele não iria comer meu monstro dessa vez:


Eu achei que eu havia ganhado. Mas algo estava errado... Red não estava afundando no chão, e eu ainda não podia me mover. Red estava vivo...



“Não acabei com você”

Após ele parecer ter sido derrotado por Solomon, Red reconstruiu seu corpo para uma forma final gigantesca, nos teleportando para um inferno flamejante no processo. Foi reminiscente para nosso encontro. Exceto que o cenário, como o poder verdadeiro de Red, tinha ficado bem real. A música foi interrompida por um som alto e explosivo, uma batida furiosa e mortal.

Enfrentando a quantidade insana de vida de Red, minha própria derrota era iminente.



Solomon era meu monstro mais forte. Mas nem mesmo ele teve chance, era como tentar lutar com uma montanha.



Em segundos Solomon ficou sobrecarregado e foi ao chão, quando Red o esmagou até a morte com seu pé enorme. O demônio sádico pegou sua vez e bateu na vértebra de Solomon como galhos secos e quebradiços. Eu podia dizer que ele estava curtindo nossa dor.


“Você é fraco, seus monstros são fracos. Todos vocês vão morrer. “

Era inútil. Eu era um homem morto.

Eu não tinha escolha a não ser enviar outro monstro para forca. Estávamos condenados. Eu esperava que eles me esquecessem.




Após diminuir uma quantidade inútil de sua vida, Anguirus também foi aniquilado. Rede desferiu um monte de agulhas quentes em sua cara, enquanto ele colapsava.

Outro momento de agonia imensurável, então o nada preencheu a tela.


“Você não pode ganhar, Zachary. ”

Perguntei para o Red como ele sabia meu nome.
E então, ele disse isso:

“Te conheço a muito tempo. Vou te contar um segredo. ”

“Eu matei Melissa. ”

Por anos ela estava sendo torturada por algo que ninguém entendia. Agora eu sabia o que era.

Agora eu entendia por quê eu estava cismado com a morte da Melissa, e como o jogo sabia disso. Por quê ELE sabia disso, por quê ELE era o único responsável. 

E dessa vez, ele iria me matar.


“Envie seu último monstro. Eu irei acabar com essa briga fútil. ”

Eu fui levado de volta para o mapa, para enviar o Godzilla para sua luta final. 

Algo estava sobrando no mapa. Apenas o ícone do Godzilla, o do Red, e...

...o quinto monstro.

No meio daquilo tudo que estava acontecendo, eu tinha esquecido sobre ele. 

Tentei o selecionar. Amaldiçoei, implorei, esbravejei para ele fazer alguma coisa, QUALQUER COISA para me ajudar. Mas sem resposta.

Só havia uma coisa à se fazer.





Eu sabia que o Godzilla não suportaria mais do que os outros. Mas agora, agora que todos os monstros haviam se esgotado, o quinto monstro talvez finalmente acordaria.

Tratei de selecionar o ícone da criatura, e eu apertei o botão A o mais rápido que podia. O ícone começou a balançar, como se estivesse desesperadamente tentando se mover!

E foi então que Red decidiu que ele estava sendo justo, e antes que eu pudesse ativar o monstro, ele partiu para o sopro da morte: paralisando meu coração.

Minhas mão começaram a ficar bambas e dormentes, mas enquanto minhas vistas se escureciam, eu ainda tentava apertar o botão A.


Red certamente estava quebrando uma de suas regras, mas ele deve ter pensado que se ele me matasse rapidamente, depois seria tarde demais para se importar com as consequências, ele teria ganhado.

Ele estava errado.






O poder de Red estava sendo confrontado por outra força. Isso o preveniu de me matar, e quando eu recuperei minha visão eu vi algo familiar:


“Zach, não temos muito tempo. ”

“.... Quem é você? ”


“Você já me conhece. Eu sou Melissa. ”

"O quê? Como isso é possível? Red me disse que te matou! ”


“É verdade. Mesmo depois de morta, ele me tortura. ”



“Se você não conseguir pará-lo, Ele fará o mesmo a você. “

"Mas como eu irei pará-lo agora? ”



“Eu não posso lutar com Red. Mas há alguém que pode. Eu irei o soltar das garras do Red. “

“Não desista, eu te amo. “

Suas palavras despertaram algo dentro de mim. Eu não iria morrer assim. E eu tinha mais que lutar por ela, e não pela minha própria vida. Eu tinha que salvar Melissa e o mundo que ela habitava.

Com sua ajuda, o quinto monstro foi despertado:

“Acacius, a luz dourada. ”

Era hora de acabar isso, de uma vez por todas. Juntos, nós dominaríamos esse inferno fora de existência.


“Eles não podem te salvar. “

Acacius pelo jeito era o monstro jogável mais forte de todo o jogo. Ele tinha que ser, se tínhamos alguma chance de sobreviver. Seu “soco” envolvia fazer suas mãos virarem lâminas, o que causava dano extremo. Mas Red não tinha mais vida restante suficiente. No final, isso dependeria de pura habilidade:









Com um strike final, Red foi destruído. Seu corpo se desintegrou e afundou, acompanhado de uma música com soar triunfante. Lentamente, a paralisia foi se passando, e eu estava hábil à me mover novamente!







Nós fizemos isso. A morte de Melissa foi vingada, e eu senti uma felicidade exacerbante... até eu me lembrar de toda dor e morte que se dava naquele momento. Todos os outros monstros que lutei morreram. Eu estava para chorar por eles, mas o jogo ainda tinha que se concluir.







Lágrimas de alegria rolaram pelo meu rosto, e eu caí em lágrimas. Chorei mais que eu já chorei em todos os anos, talvez do que na vida toda. Tudo que eu tinha passado, e descoberto, e agora o jogo chegaria ao fim. Mas antes dela e os outros saírem, Melissa ainda tinha algo para me dizer:

“Você nos salvou. Somos eternamente gratos. “

“Estaremos juntos novamente. Algum dia.”

“Estaremos juntos novamente. Algum dia.”

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Que tal um replay? ;)