tag:blogger.com,1999:blog-80705437092477370102024-03-19T04:31:53.862-03:00Creepypasta BrasilGabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.comBlogger1314125tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-45001202707616798822020-08-09T18:00:00.000-03:002020-08-09T18:00:01.841-03:00Despedida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7J8g2eOpoYc8T-NTxC7CNK5U26HQ7S_5Ul7Mvcu_wplrXbmNxkCP-AOxj0eycDgWbMPwf2LJSNmr-AsTgE1_mZHBewdISGgQtyx1b-CVClxJPRjjF-L5Zw1WaBGt32yWJM1JSYanbScTZ/s1600/Screenshot_2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="315" data-original-width="998" height="202" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7J8g2eOpoYc8T-NTxC7CNK5U26HQ7S_5Ul7Mvcu_wplrXbmNxkCP-AOxj0eycDgWbMPwf2LJSNmr-AsTgE1_mZHBewdISGgQtyx1b-CVClxJPRjjF-L5Zw1WaBGt32yWJM1JSYanbScTZ/s640/Screenshot_2.png" width="640" /></a></div>
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Essa foi minha primeira postagem no Creepypasta Brasil há 9 anos atrás.</div>
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É inacreditável pensar que ainda estamos por aqui. 9 anos de história, mais de 1900 histórias publicadas, mais de 20 milhões de acessos, inúmeros parceiros e amigos que conhecemos ao longo desse anos, incontáveis horas dedicadas a tradução de creepypastas do mundo inteiro e infinitos pesadelos causados em todo nosso público. Foi uma história linda, maravilhosa. Porém, todo ciclo eventualmente chega ao seu ponto final, mesmo que a gente não saiba exatamente quando.</div>
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Com a saída da Divina há alguns meses atrás, prometi para mim mesmo e para vocês que faria meu melhor para continuar com o blog, mantendo-o ativo e postando as histórias escritas por vocês. Entretanto, considerando as incontáveis mudanças na nossa vida, nossos prioridades também acabam mudando. Começamos a precisar focar no nosso trabalho, construir nosso futuro, cuidar de nossa família e de nossos entes queridos, seguir em frente, entre outras coisas. E consequentemente, acabamos não conseguindo priorizar outras coisas que gostaríamos, e eu posso afirmar que é exatamente o que tem acontecido com o blog.<br />
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Sendo bem honesto com vocês, considerando a enorme queda de acessos nos últimos meses e também pelo fato das creepypastas infelizmente não estarem mais em alta no momento, não tenho me sentido bem contribuindo dessa forma para o blog. E isso tem refletido, pois muitos de vocês também não estão satisfeitos com a fase que o blog se encontra nesse momento.<br />
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Sinceramente, meu maior desejo era voltar a traduzir como fazia antigamente. Porém, tanto por uma questão de falta de tempo quanto por problemas relacionados a direitos autorais que tivemos aqui no blog no passado, isso não é possível. E se eu não estou me dedicando como gostaria a algum projeto, sinto que estou forçando a barra e não só não agradando meu público, como não estou me agradando também. E eu acredito que por esse motivo, devo encerrar as atividades no blog permanentemente e deixa-lo descansar dessa forma e conservar toda a história que tivemos aqui.</div>
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Fiquem tranquilos, pois eu não tirarei o site do ar. O Creepypasta Brasil faz parte da minha história, então vou mante-lo ativo para sempre, sempre mantendo o domínio em dia e disponibilizando todas as creepypastas aqui no site para que todos possam reler desde o inicio até as história mais atuais escritas por fãs.</div>
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Muito obrigado de coração por todos esses anos que vocês nos acompanharam, por todo o apoio, por todas as criticas construtivas, e acima de tudo, por todos os momentos memoráveis que eu nunca vou me esquecer pelo resto da minha vida. Obrigado de todo coração para a Divina, minha parceira, minha irmã, a pessoa que mais me acompanhou durante toda essa jornada e que se manteve firme e forte até o final. Infinitos agradecimentos aos meus dois melhores amigos Alex e ao Kevin, meus brothers de coração que entraram junto comigo nesse mundo de pesadelos e me inspiraram a começar esse projeto. Agradeço imensamente também a todos os colaboradores que participaram e marcaram presença no blog com suas colaborações, traduções e histórias, e que fizeram isso com todo o amor do mundo. Vocês todos são FODAS!</div>
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Por fim, nos despedimos por aqui, meus queridos.</div>
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Por fim...</div>
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<b><span style="font-size: large;">KEEP CREEPYING ❤️</span></b></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3FwWVc0ctCmkpdrcDSE9r1N7z-xEgaUHXpUYuhf1oUYH97EJ03Cz6DQB1NWl74ONeamnB_g_2StvTZwmG8epBp97MiP4vWbVzw-5Wc_TR8z9LtNrWRYvpndzOuIXRYIYVKKdmnj1krZd6/s1600/Background+do+Blog+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="626" data-original-width="1317" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3FwWVc0ctCmkpdrcDSE9r1N7z-xEgaUHXpUYuhf1oUYH97EJ03Cz6DQB1NWl74ONeamnB_g_2StvTZwmG8epBp97MiP4vWbVzw-5Wc_TR8z9LtNrWRYvpndzOuIXRYIYVKKdmnj1krZd6/s640/Background+do+Blog+2.jpg" width="640" /></a></div>
Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com306tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-30229299342940920672020-08-08T18:00:00.000-03:002020-08-08T18:00:01.839-03:00Um Lugar FelizLembro como se fosse ontem: quando meu pai ensinou-me a brincar daquilo, ele disse apenas que nós precisávamos entrar no closet, fechar a porta e ter certeza que está escuro, fechar os olhos e pensar em um mundo completamente diferente, o contrário no qual nós estamos vivendo, um lugar que não vai ter tristeza, brigas, doenças. Basicamente, é o inverso do nosso. Papai sempre fazia isso quando dava a hora do jantar e não tinha comida na mesa, ou ele pedia para eu fazer com meu irmão mais novo, quando começava a discutir com a minha mãe.<br /><br />Faz muito tempo isso, o nome do jogo era "Um Lugar Feliz". Agora, sou um adulto, casado com uma mulher um pouco mais nova. O nosso relacionamento sempre foi estável, tinha os seus altos e os seus baixos. O problema foi que, depois de muitos anos vivendo com ela, os baixos prevalecerão, deixando a nossa união uma completa desgraça. Nós não dormimos juntos mais, a única coisa que ligava o nosso casamento era o nosso filho, Daniel, que agora tem oito anos. Fomos convidados para uma festa, na casa dos vizinhos, e bebemos um pouco. No meio do efeito do álcool, dormimos juntos depois de muito tempo. Depois de uns dias, ela disse que estava grávida.<br /><br />Foi uma surpresa para mim, ainda mais, sei que ela não desejava outra criança. Logo, nos primeiros exames, os médicos disseram que o nosso filho poderia ter alguns problemas de saúde. Quando ele nasceu, já tinha a certeza de que o nosso filho não duraria muito. Os médicos disseram que era um milagre ele ter nascido. Bem, foi aqui que as coisas ficaram um pouco estranhas, encontrava-me na fase de aceitação a condição do meu bebê, e as várias palavras dos médicos dizendo que ele não duraria por muito tempo. Contudo a minha esposa carregava um sorriso em seu rosto, algo naquela criança deixava a minha companheira feliz, como se ela tivesse um motivo para viver, dedicando-se cem por cento ao nosso filho.<br /><br />Além dos problemas de saúde, o bebê tem que comer certos tipos de alimentos, mesmo que se alimentando bem pouco. Daniel, o meu filho mais velho, gostava muito dele. Falando dessa forma, não significa que eu despreze a minha criança, apenas é uma observação em relação a esse momento em nossas vidas. Uma das coisas que me incomodava, talvez a única, era o fato que ele não dormia... Passava a noite toda acordado, chorando, querendo atenção, e a minha mulher ficava à noite toda com ele. Carregando o nosso fruto em seus braços, passeando com aquela coisa pequena por toda a casa, a madrugada toda.<br /><br />Era evidente que o nosso Daniel já não suportava mais ver aquele sofrimento. Eu tive que fazer algo para tentar confortar o meu menino mais velho: ensinei a brincadeira do Lugar Feliz. Coloquei ele dentro do closet, sentei ao seu lado, fechei a porta, disse que fechasse os olhos e pense num lugar ao contrário da nossa casa, um lugar feliz. Expliquei que deveria imaginar onde o seu irmão tem saúde, a sua mãe é feliz e não brigasse comigo. Ficamos por alguns minutos no escuro, apenas escutando a nossa respiração, quando abrir a porta, vi que o meu garoto estava sorrindo.<br /><br />Parecia que tudo tinha melhorado, apenas parecia... Fui surpreendido pelos gritos da minha esposa chamando-me. Fui ao seu encontro e vi nosso filho imóvel, pálido e não respirava. Nós levamos ele ao médico, e chegando lá, disseram que, depois de muito sofrimento, finalmente morreu. A minha esposa caiu em lágrimas, e eu tentei mostrar tristeza, porém esperava por isso. Até o momento, não disse nada para o meu filho mais velho. Na hora do enterro do seu irmãozinho, foi que falei que o bebê havia morrido. Daniel ficou triste, todavia não demorou muito tempo para aceitar. <br /><br />As coisas ficaram conturbadas dentro da nossa casa, pois a minha esposa ficava o tempo todo se lamentando e sempre arrumando uma desculpa para brigar comigo como se eu tivesse culpa de algo. Ela mal dava carinho ao nosso filho, parecia que nunca tivesse existido. Ela, apenas, ficava pensando naquele fruto, mesmo sabendo que ele sofreu bastante esses meses em que estava vivo, mas negou essas coisas e passou a me odiar em todos os sentidos.<br /><br />Não consegui dormir essa noite, a nossa última briga foi muito feia, e precisava relaxar. Lembrei do Lugar Feliz... Entrei no closet, do quarto do meu filho, quando ele estava dormindo. Fechei os meus olhos e imaginei um lugar ao avesso. Uma vida em que nós éramos felizes. Fiquei por um bom tempo e acabei cochilando. Acordei e saí do closet. Logo, notei algo diferente: a casa estava completamente estranha... As roupas do meu corpo estavam trocadas, visto que a camiseta branca e o meu short rosa ficaram com as cores inversas. A maçaneta da porta estava no lugar errado. Comecei a caminhar em nossa casa e encontrei o meu filho, este estava de costas para mim no corredor. Quando coloquei a mão em seu ombro, mandando ele se deitar...<br /><br />Olhou para mim, aquilo não era o meu filho, era uma coisa horrível, o seu rosto estava desfigurado igual aquelas pessoas no filme "O Chamado". Caí, berrando e com medo. No corredor, apareceu a minha esposa e ela estava diferente, sorria para mim. Não sabia o que estava acontecendo. Voltei para o quarto do meu filho e tranquei a porta. Sabia que tinha algo estranho, algo que tem relação com a brincadeira do Lugar Feliz. Então, entrei no closet novamente e desejei que tudo fosse um sonho, e depois, voltei para o quarto, minha criança estava dormindo e tudo parecia normal, antes era como se eu tivesse entrado em um pesadelo. Após esse dia, nunca mais pensei em brincar do Lugar Feliz e disse para o meu filho que não brincasse mais.<br /><br />Lembro que cheguei em casa, entrei no meu quarto e chamei o meu filho. Daniel não respondia. Fui ao seu quarto e vi quando ele saía de dentro do guarda-roupa com a minha esposa... Ela estava sorrindo. Fiquei baralhado, e Daniel também sorria, parecendo felizes. Sabia o que estava acontecendo, e parece que aquele joguinho estranho, do meu pai, funcionou com ela... As coisas pareciam boas, até que... Bem, a minha mulher ficou completamente paranóica, dizendo que eu estava no lugar errado e que precisávamos ir para o Lugar Feliz.<br /><br />Ela ficava quase todo dia dentro do closet, no quarto do meu filho, e ele, muita das vezes, estava com ela, alimentando a sua loucura que criaram. Tudo por minha culpa! Algumas vezes, dava para escutar, bem baixinho, gargalhada de um bebê, e a essa altura, dava para imaginar o quanto ela havia perdido o juizo por completo ao imitar uma criança.<br /><br />Estávamos jantando, quando ela começou a repetir as coisas de sempre que "nós estávamos no lugar errado"... O sangue subiu a minha cabeça, já estava entalado com tudo isso. Larguei a colher que estava comendo a sopa, o nosso filho ficou olhando para nós, foi a primeira vez que gritei com a minha mulher, falando as coisas que ela precisava saber, dizendo que deveria aceitar a porra da morte do nosso filho. Não sei o que deu em mim. Aproximei do meu filho para pedir desculpas e algo forte bateu contra minha cabeça...<br /><br />A minha esposa havia amarrado os meus braços e as minhas pernas e dizendo que tudo iria ficar bem. Ela arrastou meu corpo e o do meu filho que se encontrava desacordado, com sangue saindo da sua cabeça. Aquela mulher parecia louca, bem pior do que já estava. Um cheiro de álcool ficava pareando no ar. Ela disse que iria acabar com essa realidade errada, segundo ela, a qual nós estávamos vivendo. Como uma alucinada, arrastou o corpo do meu filho para dentro do closet e me arrastou também. Tentei lutar, no entanto nada adiantava. O cheiro forte de gasolina foi ficando pior, até que ela entrou no quarto trazendo uma pilha de gasolina, então banhou o meu filho e a mim. Não pude grita por socorro porque estava com a boca amordaçada, tentei lutar, porém nada adiantava. Ela colocou gasolina em seu próprio corpo e disse que ficaria tudo bem.<br /><br />Fechou a porta do closet, o cheiro de álcool estava muito forte, deixando-me embriagado. Sentada, ao lado do meu filho e eu, minha esposa acendeu o isqueiro, e uma explosão forte... Acordei um pouco atordoado e dei um grito alto, pois ainda sentia o cheiro de gasolina. Escutei a minha mulher falando na cozinha, o sorriso do meu filho, e uma coisa estranha... Dava para ouvir também a gargalhada de uma criança nova. Aproximei da cozinha e vi a minha mulher com a pele escura, os olhos cinzas parecendo um monstro com rosto deformado. O meu filho também da mesma forma, e ela segurava uma criança... O nosso filho que havia falecido! Tentei correr, mas quando coloquei a mão na maçaneta da porta, esta encontrava-se no lugar errado...<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro</span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com51tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-34566740430059001032020-08-07T18:00:00.000-03:002020-08-07T18:00:00.781-03:00Alguém está dentro do corpo do meu maridoAlimento o meu gato, Nicholson, com um pouco de ração e coloco água para que ele não me incomode mais tarde. Parece que vai chover, pois a moça do jornal falou sobre uma possível tempestade que irá cair essa noite. É melhor usar dois cobertores para que eu possa dormir sossegada.<br /><br />Acordei com Nicholson fazendo barulhos ao pé de minha cama. Ele parece agoniado e querendo sair pela janela, mas ela é bastante alta. Tenho que levá-lo para o lado de fora. Seus olhos estão arregalados e ele está agoniado, com o corpo tenso. Está muito assustado. Fico preocupada com o meu felino, mas quero acreditar que seja apenas vontade de fazer cocô ao lado de fora de minha casa. Quando abro a porta, ele me arranha e sai em disparada, desaparecendo em meio ao quintal. Está chovendo e a chuva é fraca; talvez continue assim a noite toda.<br /><br />Vou à cozinha para preparar um pouco de chocolate quente. Costumo fazer isso quando acordo, pois isso me ajuda a relaxar e dormir novamente. Estou saboreando aquele líquido quente e delicioso, a caminho de meu quarto. Quando passei perto da escadaria, que dá para o porão, vi que tinha uma luz vindo da porta de lá. Fiquei curiosa — aproximei-me e observei que a porta estava aberta. Não costumo deixá-la destrancada por segurança própria. Quando cheguei até a porta, notei pegadas de lama: as marcas de passos estavam indo para dentro de minha casa. Fiquei um pouco assustada, mas ignorei ao mesmo tempo, fechando a porta e indo rapidamente para onde fica o meu quarto.<br /><br />Quando estava perto de subir as escadas, senti um calafrio. Ao mesmo tempo, a temperatura do ambiente havia caído bruscamente. O frio foi tão grande que larguei a xícara com o chocolate no chão, deixando cair a coisa que iria me deixar com sono. Droga! Precisaria voltar à cozinha para pegar algum pano. Enquanto me dirigia novamente para perto da escada, abaixei-me para limpar o chão e, neste momento, notei algo... tinha alguém dentro de casa: era uma sombra quem me observava, escondida no escuro da sala.<br /><br />Estava escuro e eu não tinha coragem de acender a luz para ver quem era. Em uma fração de segundos, um relâmpago iluminou toda a sala e, neste milésimo de segundo, observei que se tratava de meu marido. Fiquei chocada, e ao mesmo tempo amedrontada porque não poderia ser ele. Era impossível, não havia como! O seu comportamento estava diferente. Antes mesmo de que fizesse qualquer movimento em meu corpo, ele correu em minha direção como um animal atrás da presa. Para tentar defender-me, subi as escadas rapidamente. Enquanto me dirigia à cozinha, subindo as escadas com a intenção de pegar uma faca, ele agarrou meu pé e eu caí ao chão. A coisa ficou em cima de mim, tentando enforcar-me, e seus olhos estavam diferentes. Aquilo não era o meu marido, mas algo semelhante a ele!<br /><br />Acertei um chute em seu estômago e ele caiu; com isso, consegui correr para a cozinha. Peguei uma faca, a mais afiada de todas, e ele rapidamente vinha em minha direção. Eu o acertei no estômago, enfiando a faca em sua barriga. A coisa olhou para a faca enquanto derramava sangue e calmamente puxou o objeto de seu estômago, jogando-o ao canto da cozinha como se nada tivesse acontecido. Agarrou o meu pescoço, pressionando-me contra a parede: vou ficando sem forças. Peguei um garfo que estava na pia e enfiei-o em seu olho. Nesse momento, a coisa me largou, deu alguns passos para trás e corri, entrando no banheiro e fechando a porta.<br /><br />Está escuro e não tenho mais para onde correr. Sinto-me como um animal encurralado; estou preocupada e morrendo de medo. Aquilo que está dentro do corpo de meu marido quer me matar por algum motivo! Escutei batidas na porta do banheiro — ele está arremessando seu corpo para tentar derrubar a porta. Ficou batendo várias vezes, até que parou. Abaixei a cabeça para ver por debaixo da porta e notei que estava parado como uma estátua. Saiu, demorou alguns segundos e voltou novamente.<br /><br />Eu estava com as costas encostadas à porta, pressionando meu corpo a fim de tentar dar mais forças para que a porta aguentasse as pancadas. É quando, de repente, uma batida forte faz com que a ponta de um machado atravesse a madeira. Aquela coisa, agora, estava com um machado, derrubando a porta. Afastei-me, ficando assustada ao canto da parede e vendo, a cada momento, ela quebrando mais a porta. Fez um buraco suficiente para que sua cabeça entrasse e ficou me encarando. Neste momento, senti o ódio em seus olhos: aquilo não eram olhos de uma pessoa comum. Talvez fosse um demônio! Voltou a quebrar o resto da porta para que pudesse me matar.<br /><br />Aquilo não poderia ser o meu marido, pois fazia três dias que eu o matei e enterrei em meu quintal...<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro </span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com50tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-34330879542610499182020-08-06T18:00:00.000-03:002020-08-06T18:00:01.527-03:00Espetáculo escarlateOs dois caíram ao mesmo tempo, foi realmente uma coisa fantástica quando os dois rolaram no chão banhando-se com a água da chuva. Foi intenso, de fato excitante, quando a violência tomou conta do momento e os gritos, chutes, arranhões, tudo se resumindo nas investidas de um psicopata querendo dominar o seu brinquedinho.<br /><br />A festa de sangue começou quase no mesmo momento em que a chuva se iniciou, parecendo um espetáculo de cinema quando as gotas de água tocavam no chão e fazendo aquele barulho constante que se transformou em uma aglomeração de expressões. A mulher queria fugir e o psicopata não lhe deixava escapar. Uma faca ele carregava, e as suas mãos são uma defesa que ela usava, desesperadamente em vão. Ele agarrou o seu vestido e a jogou no chão, essa conseguiu segurar suas pernas, fazendo os dois caírem mais uma vez, repetindo o mesmo passo de uma dança nociva.<br /><br />O líquido do céu ficou intenso, cada vez pior, cantando como um rádio, ao aumentar o seu volume, no mesmo momento no qual o apresentador está com saliva na boca para matar, o único presente diante do público incessante de porções de água! Desesperada, a garota boba acertou a sua cabeça, querendo parar o agressor e ele continuou e desafiador, o lobo debochado. A faca entrou no jogo, mesmo já fazendo parte bem antes, e os protagonistas sabendo da sua presença, mas ela chegou de surpresa ganhando toda atenção.<br /><br />Ele sabia muito bem o quanto aquele objeto deixaria a pobre menina assustada, mas brincou levantando para o alto, e os raios, quando as nuvens encontravam-se, fizeram com que a faca brilhasse como se fosse uma explosão de faíscas. O horror contaminou todo o espetáculo, no qual estava acontecendo. Os olhos dela ficaram enormes, caiu de joelhos dizendo que não iria acontecer e não deixaria com que ele matasse, precisava proteger mais do que tudo uma vida!<br /><br />Os seus lábios foram preenchidos pela sua língua carnívora e ele humilhou mais de uma vez a garota, que continuava lutando querendo chegar à estrada, controlando os seus passos, como se fosse uma corrida de pânico e medo, e ele sabia que, até lá, poderia brincar com o seu brinquedinho. Ele deu três socos no estômago da pobre coitada, que não deixou e nem expulsou um berro de agonia. Dado que queria apenas controlar a situação. Sentiu-se desafiado para cortar a perna dela, enfiando a faca bem no meio da coxa e, depois, cravando no ombro da pobre e desesperada menina. Nesse momento de selvageria, ele sentiu o líquido no seu próprio corpo quente e escorrendo de forma excitante! Abrindo a sua boca com um sorriso, após ver que conseguiu penetrar o corpo dela... Tão profundo, que fez com que a chuva gargalhasse.<br /><br />O temporal estava divertindo-se com tudo o que estava acontecendo, e a menina sabia disso, a pobre infeliz, que a todo momento tenta lutar contra o assassino que quer matar. Mas ele sabe humilhar e controlar, brincar, fazer tudo o que deseja com ela, dando esperanças de escapar, fugir do seu controle, mas fica excitado com o desespero dela. Com certeza esse momento de brincar com um rato, colocando em um labirinto, o deixa poderoso e enlouquecido pelo seu próprio domínio.<br /><br />Escorregou na terra molhada com a chuva, todavia, não seria mais uma brincadeira horrível do destino, há algo ali que apareceu como se fosse mais um integrante do espetáculo de sangue: entre alguns gramados, encontra-se uma barra de ferro pequena, afiada, enferrujada e ele não viu, este não percebeu, ignorou de fato o momento de controle da menina, e não esperava quando ela atinge o seu corpo, penetrando o seu estômago três vezes, o fazendo cair no chão e o espetáculo escarlate, o banho de vermelho! Ganhou uma cena inesperada. A menina ficou observando que o seu ataque foi eficaz e ele não conseguiu controlar a situação. Nesse momento excitante de euforia, com os braços esticados e um sorriso louco em sua boca por não esperar por isso, fez com que gargalhadas, entrando no espetáculo doentio, deixasse a cena junto com as gotas de sangue mais intensas!<br /><br />Ele ficou reproduzindo o som da sua boca, destruindo a orquestra de fragmentos de líquidos, na verdade, amordaçando o som da chuva enquanto a menina tropeçava em suas pernas, caindo no chão molhado por conta do fluido do céu, arrastava o seu corpo, o seu vestido banhado com sangue, aproximando-se da estrada, sabendo que logo ele voltaria... mas ainda estava eufórico! Enlouquecido, excitado pela doença feroz do destino. Ela sabe que o assassino voltaria mais intenso e violento, selvagem, com certeza dessa vez não deixaria e não daria mais oportunidades para garota de escapar e fugir do seu controle. Ela só precisava encontrar ajuda antes que fosse tarde demais, precisa avisar para o primeiro motorista desavisado o que está acontecendo.<br /><br />Finalmente chegou à estrada, ainda encontrava-se segurando aquele metal nas mãos, o seu vestido estava vermelho, molhado, com o pano grudado nas suas pernas e por todo seu corpo magro e a chuva, personagem da plateia sádica, por alguns segundos por conta do último ato, a última cena do espetáculo, que prometia ser tão boa quanto o início quando o carro estava aproximando-se ficou em silêncio. Uma pessoa chegaria e mudaria tudo, um homem parou diante da situação, na qual estava observando uma garota machucada.<br /><br />O sujeito parou, atrás do carro estava uma criança que começou a cantar aquele som enjoativo e constante de um verme que faz poucos meses que saiu de uma barriga após atos vulgares. O homem estava assustado, preocupado, aflito, observando ela aproximando-se, o seu corpo estava machucado, de fato, não tem como negar os cortes profundos, marcas detalhadas, em locais precisos... Ele deixou sua marca, este deixou um aviso, o lobo queria que ninguém chegasse próximo... ele sabia que eles iriam observar e desejava isso, ficava excitado, com a cena, na qual as outras pessoas observavam o quanto a garota sofreu nas suas mãos!<br /><br />Aflito e preocupado, aproximou-se do carro e a chuva estava iniciando devagar e silenciosa. Dando passos leves, não querendo incomodar o último ato, aquela cena final do espetáculo, no qual deixaria o público ansioso para saber o que iria acontecer. O homem pegou o seu celular, então um golpe feroz na sua barriga, mais outros nas suas costas, foram tantos que ele não esperava por isso! Afastou-se do carro, caindo longe, observou a faca e viu ele... o assassino! Apareceu tão de surpresa que o homem não sabia o que fazer diante da situação, pensou na sua criança, mas ele foi mais rápido, cortando a garganta dela e quebrando o seu pescoço após atravessar o metal decepando aquele corpo frágil.<br /><br />A mulher gritou nos últimos momentos, enquanto ele estava segurando o seu corpo dizendo suas últimas palavras, nas quais não poderia fazer nada, pois estava com a faca imobilizando-a:<br /><br />- Eu sinto muito, não posso mais controlar ele... - a chuva começou quase no mesmo instante que ela deu seus últimos suspiros... suas últimas palavras, entregando o seu corpo e mente para o assassino, no qual começou a gargalhar. Estava tão enlouquecido que deixou a faca cair no chão e ficou contemplando o homem sangrando, com seus olhos gritantes, observando sua criança morta. Iria brincar, não há dúvidas, com aquele homem, se diverteria e aproveitaria o ódio por ver o seu filho... Ele sabe o quanto isso é bom, gosta disso, aprecia, sente o desespero das suas vítimas e sabe que logo aparecerá mais uma pessoa para iniciar um novo espetáculo!<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro </span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-37016096477388293852020-08-05T18:00:00.000-03:002020-08-05T18:00:02.079-03:00Noite perigosaEu estou com mau pressentimento e, além do mais, sozinha no metrô. Não é normal encontrar tão poucas pessoas, contudo deve ser o horário, está um pouco tarde. Sei que não é seguro uma garota ficar essa hora da noite aventurando-se sozinha, mas esperava encontrar alguns trabalhadores, pessoas que costumam passear à noite, etc. Sinto frio, está muito fria essa madrugada. O foda foi porque não trouxe o meu casaco. Não sei por que deu vontade de comer à essa hora da madrugada. Eu tinha que conseguir encontrar algo que não tivesse dentro da minha casa... Às vezes, tenho esse costume de sair para saciar a minha fome com algo diferente. Pode-se dizer que eu sou uma garota louca.<br /><br />Daqui à uns minutos, chegarei em minha estação, estarei segura e salva em minha casa. O próximo ponto entraram apenas três pessoas: um casal, que foi para a parte da frente do saguão, e um homem estranho. Nesse momento, eu lembrei dos jornais falando sobre um possível assassino responsável por algumas mortes, a polícia alertou para que as pessoas não andassem sozinhas, trancassem as portas e que as crianças não falassem com estranhos. Aquele homem de fato é uma figura tenebrosa, no entanto o seu rosto é familiar. Estou com uma sensação estranha em relação àquele indivíduo, eu sinto uma atmosfera pesada saindo daquele sujeito... Espero que o próximo ponto logo chegue, onde irei sair para finalmente chegar à minha casa.<br /><br />Finalmente, a minha parada chegou. Comecei a sair e notei que aquele homem estranho também estava saindo, andando no mesmo caminho que eu estou caminhando. Dobrei uma esquina, e ele dobrou também. Tenho certeza que estou sendo seguida por um estranho. Tive uma ideia, decidi pegar um táxi e, quando eu entrei no veículo, pedi para o cara dirigir por aproximadamente dez minutos, enquanto aquele homem segue o seu caminho na noite pretume. Após aproximadamente uns dez minutos dando voltas no quarteirão, eu pedi para o táxi parar em frente ao prédio onde moro, e então saí segurando minha sacola.<br /><br />O porteiro estava dormindo, mas quando escutou o barulho da velha porta, despertou-se com os olhos fechando e deu uma bocejada de sono. No momento em que fechei a porta, o porteiro, com a voz cansada, deu boa noite, e eu ignorei subindo as escadas em razão de que eu tenho medo de lugares fechados, portanto não usei o elevador. É um trauma de criança, uma coisa que me aconteceu e deixou-me traumatizada. Estava na metade das escadas quando comecei a escutar passos pesados, tudo indicava que eram pisadas de um homem, por conta do som forte. Eu comecei a caminhar imaginando que poderia ser algum morador. No momento em que subia as escadas para finalmente chegar onde fica o meu quarto, notei que era aquele mesmo homem do metrô... Nesse momento, eu não sabia se corria ou gritava. Várias coisas ficaram passando em minha cabeça devido à tensão, uma delas é que fui seguida, ou aquele sujeito sabe onde eu moro.<br /><br />Decidi que iria continuar caminhando, em razão de que não tem como mais voltar. O sujeito estava com as suas mãos tremendo, notei que tinha algo escondido embaixo do seu casaco e tenho uma leve impressão de que é uma faca. Enquanto estou subindo as escadas, observei uma marca vermelha em sua camisa, poderia ser sangue de alguém... Quando ele passou por perto de mim, o seu corpo esbarrou no meu e uma marca vermelha manchou a minha camisa, era sangue! Agora, um está de costa para o outro, ele continua descendo, e eu fui logo correndo para o meu quarto, trancando a porta.<br /><br />Na manhã seguinte, alguns policiais bateram em minha porta, e eu abri. Os homens da lei queriam fazer algumas perguntas sobre um assassinato que havia acontecido na madrugada de hoje, eu não sabia o que estava acontecendo, até que os policiais falaram que um homem havia matado a sua ex-esposa após descobrir que ela estava se relacionando com seu irmão. A ficha logo caiu, eu sabia que aquele homem fora o responsável, contudo eu não falei nada sobre ter encontrado ele, disse apenas que não escutei barulho algum para os policiais.<br /><br />Após alguns minutos tediosos dando informações aos dois bófias que estavam anotando tudo em uma caderneta pequena, foram embora deixando-me em paz. Logo em seguida, tratei de preparar o meu café... Eu demorei a noite toda para encontrar uma oportunidade de arrancar o coração de um morador de rua, ninguém se importa com eles mesmo, e estava com muita vontade de comer carne humana. Talvez nessa semana eu mate mais alguém para preparar um fígado, em razão de que não tem coisa melhor do que comer um fígado antes de dormir.<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro </span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com34tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-48368681722250610972020-08-04T18:00:00.000-03:002020-08-04T18:00:00.228-03:00Pietro - Predador PsicopataPietro passeava pela praça, portando pente, projétil... puxou pistola — pá, pá, pá... pistoleiro, parâmetro preciso. Padeceu Pedro, Paulo, Patrícia pedindo por piedade, predador parou, pensou — prosseguiu. Porque pensamentos perversos primitivos prazerosos prosperavam.<br />
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Pietro possuía problemas pessoais, psicológicos, pânico, pólvora. Perito possessivo. Perdeu passado, presente, pais, parceiros, parentes. Para população parecia piada. Por períodos prolongados preferiu pó, psicodélicos. Presidia palavras, psicopatias, provérbios, poemas, profecias.<br />
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Presas — pescoço, peito, pulmões perfurados, parece pouco, porém paraplégicos, pirados, pulverizados. Pancadas, pauladas, pontapés potentes. Profano, perseguia padres, pastores, pagãos. Pelo príncipe pé-preto prezava, puro pacto, poder purificava.<br />
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Pessoas — prioridade pisotearem, parasitas. Por poucos prezado, pobre Pietro, plena palhaçada. Pressentimentos podres, putrefatos. Periculoso perambulava por parques. Preço pago, partiu paradigmas. promoveu pavor público, pautas pairavam principalmente pelas periferias.<br />
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Pêndulo parado, praga proliferada, perturbado, perigoso. Parábolas, profetas prometiam paz, pétalas, paraíso — patéticos persuasivos. Prantos, pêsames progredindo, paradoxo promissor, portanto predominou predador.<br />
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<b><span style="font-size: x-small;">Autor: Vhulto</span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-68382744213757869432020-08-03T18:00:00.000-03:002020-08-03T18:00:01.567-03:00Faz 5 horas que estou assistindo meu irmãozinho na TVEu sempre dividi um quarto com meu irmão mais novo. Mas desde que minha vó morreu há duas semanas atrás, o antigo quarto dela passou a ser meu. E depois de muito tempo, pude ter um pouco de privacidade. É realmente muito chato ter que dividir o quarto com alguém. Não me entenda mal, eu amava minha vó e fiquei muito triste com a sua morte, mas estava feliz por agora ter um quarto só para mim.<br /><br />Todos os pertences que eram da vovó, retirei do cômodo e guardei tudo no porão, exceto uma antiga televisão. Eu não queria que nenhum pertence da vovó ficasse no meu novo quarto, isso me faria ter recordações dela e eu iria acabar ficando triste novamente. Questões à parte, acabei decidindo ficar com a tv, embora seja uma eletrônico antigo, sem muitos aparatos tecnológicos, seria legal poder assistir um pouco de tv no meu próprio quarto.<br /><br />Faz dois dias desde que comecei a arrumar tudo no que agora seria minha fortaleza. Pintei as paredes, montei minha cama, meu guarda-roupa e deixe tudo do jeito que eu queria. Depois de um longo dia de empenho e trabalho duro, estava exausto. Fui jantar, tomei um banho e logo depois cai na cama. Alguns minutos se passaram eu não consegui dormir, logo fiquei entediado. E como não havia nada para se fazer aquela noite, resolvi assistir um pouco.<br /><br />A velha televisão não possuía controle remoto, então eu teria que levantar e fazer tudo manualmente. Passei alguns minutos procurando algum canal sintonizado, mas tudo o que consegui encontrar foi estática. Era estranho, a vovó passava a maior parte do dia vendo novelas, documentários de animais e programas de culinária, mas agora nem esses canais estavam funcionando. Então, Desliguei a tv e voltei para a cama, e enquanto olhava para o teto esperando o sono chegar, eu senti a estranha sensação de está sendo observado por alguém ou alguma coisa de dentro da tv, mas não me importei, achei que era apenas coisa da minha cabeça. Mas alguns minutos se passaram e eu logo adormeci.<br /><br />No dia seguinte, resolvi verificar o aparelho, tudo parecia em ordem; a antena, os cabos, nada parecia fora de lugar. Liguei a tv para fazer alguns testes, procurei por canais novamente, mas não obtive nenhum resultado. Então, desliguei a televisão e fui cuidar do meu irmãozinho. Hoje mais cedo nossos pais saíram em viagem para tentar esquecer um pouco a morte da vovó, e desde então, sou o responsável por ele. A perda de um famíliar é sempre muito difícil, e a mamãe foi a mais que ficou abalada com o acontecimento, já que a vovó era a mãe dela.<br /><br />O dia se passou lentamente como de costume. Hoje eu estava indo pra cama um pouco mais tarde por causa das tarefas domésticas que agora eu tinha que fazer. Tomei um bom banho, jantei, coloquei meu irmãzinho para dormir e logo após fui para o meu quarto e desabei na cama. Deitado, encarei a tv por alguns segundos. Não pensei em me levantar para liga-lá, era provável que ela não funcionasse de novo. Ao invés disso, gastei o tempo olhando algumas mensagens no meu celular e logo depois adormeci.<br /><br />Em algum momento da noite a tv se ligou sozinha, em seu volume máximo. Era primeira vez que isso teria acontecido. Acordei assustado e atordoado, sem saber o que estava acontecendo. Peguei meu celular para ver às horas e vi que eram 3:33 da manhã. Olhei para televisão e a tela estava totalmente escura, me levantei e cheguei mais perto, pude ver que o canal sintonizado era o 666. não sou do tipo de pessoa superticiosa, apenas pensei que fosse algum tipo defeito, já que o aparelho era antigo e velho. Pressionei o botão Power-Off e a televisão desligou. Então, voltei para a cama e como estava com muito sono, retornei a dormi rapidamente. O dia amanheceu e eu não sabia se o que aconteceu durante a madrugada foi real ou apenas um sonho. Não pensei muito no assunto, já que agora tenho muita coisa para resolver e não poderia perder tempo.<br /><br />Parece ser um comportamento padrão dos irmãos mais novos gostar de bisbilhotar as coisas dos irmãos mais velhos. E por causa disso, sempre que eu saía do meu quarto, trancava a porta. Pode parecer exagero, mas pra mim meu quarto era como um troféu e eu gostava de tudo bem arrumado.<br /><br />Mais um dia se passou e a noite chegou, e com tantos deveres domésticos que eu havia feito, estava exausto. Fui colocar meu irmão para dormi em sua cama. Hoje mais cedo na hora do jantar ele me perguntou sobre a vovó, respondi que ela estava em um lugar melhor, e que ela não poderia mais ficar com a gente. A vovó e o Júnior eram bastante próximos e eu sabia que uma hora ou outra ele iria fazer esse tipo de pergunta. Esperei algum tempo até o Júnior dormir e logo em seguida desci as escadas em direção ao meu quarto. Tudo o que eu queria era dormir um pouco, e logo que coloquei minha cabeça sobre o travesseiro dormi incrívelmente rápido.<br /><br />Mais uma vez na madrugada a tv havia se ligado sozinha, e dessa vez confesso que senti um pouco de medo. O canal sintonizado ainda era o 666 e a tela era a mesma escura de antes, só que dessa vez foi diferente, ao invés de barulhos de estática, eu ouvi sussurros e gritos, como se muitas pessoas estivessem sofrendo juntas. Eu me laventei e embora estivesse tremendo em medo, tentei me acalmar dizendo a mim mesmo que isso só era algum tipo de filme que estava sendo transmitido naquele momento, mas como a tv estava com defeito, não consegueria ver as imagens, apenas ouvir o som. Rapidamente puxei o fio da tomada e a televisão se apagou.<br /><br />Ainda trêmulo, voltei para minha cama e sentei-me na beirada. Foi quando a tv mesmo estando fora da tomada se ligou novamente... e eu juro que vi uma mão com grandes garras negras sair da tela como se fosse algum tipo de efeito 3D. A mão em questão parecia gesticular em minha direção, realizando um gesto que me chamava. Coloquei meu cobertor sobre a minha cabeça e fechei meus olhos com muita força, esperando acordar de um pesadelo. Passaram-se alguns segundos e o barulho dos sussurros e gritos pareciam ter sido cessados. Então, tirei o cobertor da minha cabeça e vi que a tv estava desligada. fui até o guarda-roupa para pegar um velho lençou de cama desgastado por traças, joguei o lençou sobre o velho televisor e voltei para minha cama em pânico, não consegui dormir o resto da noite.<br /><br />No dia seguinte eu havia decidido que iria me me livra da velha televisão. Mas nem tudo sai como planejado. Tentei levantar, puxar e empurrar, por mais que eu tentasse a tv não se movia nem por um centímetro, era como se estivesse colada no chão ou pesasse uma tonelada. Depois de muitas tentativas a única coisa que eu poderia fazer era deixá-la no lugar de sempre e joguei o velho lençou por cima novamente. Pensei que talvez pelo fato do aparelho ser antigo, aquele poderia ser o peso normal. Mas não sei, talvez meu cérebro só estivesse tentando criar algo para acreditar. Mesmo assim sai do meu quarto aquele momento intrigado.<br /><br />Fui cuidar do Júnior como já era de costume. Hoje ele acabou sofrendo um acidente. Por um descuido ele tropeçou e rolou escada abaixo. Ele chorou bastante e ficou com vários ematomas por todo o corpo. Então, tive que dar maior atenção para ele. O dia escureceu e Júnior ainda estava com cara de choro perguntando por nossos pais, que foram viajar e sobre a vovó que havia falecido. Fiquei com tamanha dó de seu estado. Então, antes que fôssemos nos preparar para dormir, resolvi mostrar ao Júnior como havia ficado meu novo quarto e também permiti que ele visse alguns dos meus quadrinhos de super-heróis.<br /><br />Deixei ele sobre a minha cama, ele esfoliava às revistas em quadrinhos freneticamente. Ele estava se divertindo tanto que pareceu ter esquecido a dor e os machucados. Sai do quarto e fui para cozinha para preparar um grande prato de panquecas para o jantar, meu irmão e eu adorávamos.<br /><br />Enquanto eu cozinhava, Júnior parecia estar empolgando-se bastante com os quadrinhos. Ele gritava para mim na cozinha coisas como: <br /><br />“Nossa, o capitão América é incrível!”<br /><br />Ele estava realmente se divertindo e logo fiquei feliz por ele. Toda criança passa por uma fase de descobertas, e parece ficar curiosa com qualquer coisa.<br /><br />Tudo estava indo bem aquela noite. Eu estava quase terminando de preparar as panquecas e logo chamaria o Júnior para o jantar. Até que um momento ele gritou algo que não tinha nenhuma ligação com as revistas em quadrinhos, algo sinistro que soou como:<br /><br />“Eu consigo ouvir a vovó na televisão!”<br /><br />Rapidamente eu lembrei do que eu havia passado durante a madrugada. Larguei tudo o que estava fazendo na cozinha e corri em direção ao meu quarto onde eu havia o deixado. E quando estava na metade do caminho ouvi um grito do meu irmãozinho.<br /><br />“AAAAA——”<br /><br />O seu grito havia sido cortado no meio por alguma razão.<br /><br />Cheguei no quarto ofegante, e o Júnior parecia não estava lá, notei o lençou que cobria a tv jogado pelo chão, junto com uma das minhas revistas em quadrinhos. Olhei debaixo da cama e dentro do guarda-roupa esperando encontrá-lo, mas não obtive nenhum resultado. Então eu falei:<br /><br />“Pode aparecer Júnior, você ganhou!”<br /><br />Nessa hora a televisão se ligou sozinha novamente e eu não acreditei no que estava vendo. Enfreguei meus olhos acreditando que aquilo não era real. Me aproximei e tive a certeza... Era ele, meu irmãozinho Júnior de alguma forma estava dentro da televisão, preso como um pequeno hamster em uma gaiola.<br /><br />Já se passaram cinco horas desde que o encontrei dessa forma. Ele não para de chorar e falar que alguém o puxou para dentro da televisão. Não sei o que faço para retirá-lo de lá.<br /><br />A única coisa que fiz nas últimas horas, foi assistir o meu irmãozinho preso na tv.<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Vhulto</span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com28tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-46142029541166746612020-08-02T18:00:00.000-03:002020-08-02T18:00:03.289-03:00Minha Infância PerturbadoraA minha vida não foi uma das melhores desde criança, pois assistia quase todo dia os meus pais brigando. Muita dessas brigas, acabavam com a mamãe chamando a polícia, e o meu pai indo passar o final de semana preso. Fora os outros poblemas, tinha que ver a minha progenitora fazendo uso de substâncias erradas para tentar fugir um pouco da realidade na qual vivia: Um casamento arranjado por causa de uma gravidez indesejada, eles faziam questão de falar isso em todas às vezes que brigavam. Apesar de algumas vezes ele falar que não queria ter tido filhos, o meu velho sempre chamou a minha atenção, não por ser um bosta ou um mau exemplo de pai de família. Era o seu comportamento estranho... Muitas vezes, quando a casa já está bem escura, e ele acreditava que todos estavam dormindo, então chegava em casa com alguns volumes nos quais trazia em cima de suas costas e levavam para o sótão.<br /><br />Essa é a parte interessante... Eu passei a minha infância, até a adolescência, logo antes de completar dezoito anos e morar com os meus tios, acreditando que meu pai fosse um psicopata. Você pode se perguntar: "Como é que uma criança pode ter essas coisas na cabeça, achando que o próprio criador é algo tão horrível?". Bem, desde criança, sempre tive acesso à internet e gostava muito de assistir e ler conteúdo sobre assassinos em série. Aquilo me fascinava e deixava-me excitado para alguém tão jovem. De acordo com alguns perfis, o meu pai se enquadrava em alguns, estes: um sujeito com indícios de problemas mentais graves, sofreu abusos dos próprios pais, o cheiro de podridão que vinha do sótão, e isso sempre foi ignorado por minha mãe, e além do mais, escondendo o rosto com aquilo e levando quase todas as semanas, coisas para o sótão as quais deixavam um odor terrível em nossa casa.<br /><br />Outros fatos merecem mais atenção sobre o meu papai, estes que eram bem exóticos... Eu imagino que qualquer outra criança ficaria com medo se estivessem na minha pele naquela época, por exemplo: O meu pai costumava colocar uma máscara de palhaço todas as noites nas quais aparecia com aquelas coisas dentro de casa. É isso que fechava a minha ideia de que ele era um assassino em série, criando um personagem, ou usando aquela face assustadora para não ser identificado. Algumas vezes, o meu pai quando queria agredir a minha mãe, usava aquela máscara, deixando a minha progenitora ainda mais à beira da loucura. Citando mais uma vez, ele nunca me agrediu, nunca me tocou e nem fez nada comigo, contudo olhava para mim... Em seus olhos, talvez sentindo o mesmo que eu sentia: Um vazio. O velho sempre notou que eu não tinha medo, apenas aceitava a situação na qual estava vivendo. É, isso foi o que passei quando morava em minha velha casa.<br /><br />Estou quase terminando à Faculdade de Educação Física, e os meus tios falaram-me que o meu pai morreu de causas desconhecidas. Acho que faz mais ou menos dois anos que a mamãe faleceu. Com a morte do meu velho, eu fiquei um pouco triste, em razão de que, apesar de tudo, o meu pai nunca foi agressivo comigo, além de maltratar a minha mãe como se ela fosse uma mulher qualquer. O mistério estava em minha cabeça: O que o meu pai guardava todo esse tempo no sótão? Lembro que alguns conhecidos e até os meus amigos de infância desapareceram quando ainda morava com os meus pais. Não pretendia falar sobre esse detalhe peculiar, no entanto faz parte da minha história.<br /><br />Nessa época, eu pedi para ficar no porão, já que não dava para escutar minha mãe chorando, e nem o meu pai fazendo barulhos estranhos no sótão todas as semanas. Sei que você está querendo saber sobre os desaparecimentos, não é mesmo? Bom, primeira pessoa que lembro foi o meu melhor amigo, este tinha um comportamento estranho... Um pouco afeminado. Meu pai não aprovava nossa amizade achando que eu iria virar uma garotinha, em poucos dias ele sumiu. A minha professora também desapareceu, esta que pegava no meu pé por conta de meio ponto e reprovando-me em algumas matérias. A vizinha, barulhenta, a senhora Yasmin costumava escutar à televisão alta e não me deixava dormir. Isso também foi o motivo para desaparecer? A última pessoa, se eu não estiver enganado, que desapareceu: Foi a ex-namorada do meu pai. Esta que traiu ele, e sempre quando o velho estava agredindo a minha mãe, tratava ela como se fosse a sua velha namorada, chamando a minha progenitora pelo nome da sua ex.<br /><br />Quando perguntava o que o meu pai achava dos desaparecimentos misteriosos, ele sorria e constantemente dizia que eram coisas bobas, que ninguém iria sentir falta deles. Eu apenas concordava, com sorriso no rosto e olhando para o meu velho pai, com a mesma aparência abatida olhando para mim. Como eu disse, faz pouco tempo que o meu pai havia morrido, e todo esse tempo, eu nunca entrei no sótão para saber o que ele fazia lá. Cheguei até a minha velha casa e fui em direção ao sótão, o qual estava trancado. Peguei as chaves e entrei, deparei com um lugar bizarro: estava cheio de corpos de animais, cachorros, viados e até filhotes de vacas... Eu reconheci todos os esqueletos. Tinha um velho computador daqueles antigos no local. Achava que o cheiro de podridão seriam de corpos de vítimas do meu possível pai serial killer, mas não.<br /><br />O computador não tinha segredo para abrir, encontrei vários arquivos os quais envolviam necrofilia e zoofilia. O meu pai gravava vídeos nos quais compartilhavam na internet, violando aqueles corpos, que levava para o sótão. Esse era o segredo do velhote, é um pouco frustrante... Eu acharia que conseguiria me identificar com meu pai de alguma forma, porém, aquela figura cheia de ministérios não passava de um tarado com gostos bizarros.<br /><br />Não pretendia ficar na minha casa por muito tempo quando cheguei aqui, a minha intenção era matar a curiosidade e a nostalgia do lugar, apesar da minha infância perturbadora. Decidi voltar onde dormia: No porão... Bateu uma melancolia forte quando cheguei lá, a minha cama estava no mesmo local, o travesseiro e o urso de pelúcia, o guarda-roupa e as revistas de mulheres nuas, entre outras coisas de um adolescente com minha idade na época. Quando pisei no chão, senti aquela terra fofa e observei em cada lugar no qual eu enterrei as pessoas que matei: O meu melhor amigo, no canto à direita. A minha professora, próxima da minha cama. Minha vizinha, a garotinha da casa um pouco mais distante, enterrada embaixo do tapete o qual eu fazia os deveres da escola. Eu dormia todos os dias olhando para aquelas covas rasas, sentindo-me especial e poderoso.<br /><br />Pensando melhor, acho que ficarei em minha velha casa, e também, acredito que vários outros corpos deixaram o meu quarto mais aconchegante como já foi em minha infância...<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro</span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com57tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-72213855423282538442020-08-01T18:00:00.000-03:002020-08-01T18:00:07.942-03:00Papai sempre começa a rezar quando está irritado" Está na hora de dormir, pois já faz muito tempo que eu não apareço, e você disse que se recebesse atenção dele, iria cochilar mais cedo." - a voz ficou acolhedora, tentando falar com Arthur enquanto ele brincava com o urso de pelúcia em suas mãos. O objeto caindo aos pedaços, apenas restos de panos e um botão de camisa substituindo a órbita ocular esquerda. Todavia, aquela figura infantil causava o conforto e o sentimento especial por ter sido presenteado pelo seu pai.<br /><br />" Sabe, eu não consigo... Principalmente quando a mamãe fica gritando o dia todo. Eu já havia me acostumado com os barulhos da mulher estranha do outro lado da parede, mas, no outro mês, fiquei sabendo que ela é a minha verdadeira mãe e que é uma pessoa muito especial. Isso lembrou as poucas vezes que o papai deixou a televisão aqui, e eu vi alguém falando sobre pessoas especiais." - conseguiu ouvir uma respiração impaciente, que foi logo se acalmando novamente e aparecia, nos olhos de Arthur, a mesma coisa que o seu pai fazia quando ficava irritado com alguma coisa.<br /><br />" Acho que nós já falamos sobre a sua mãe e sua situação atual.... Por que ele nunca tirou você de dentro desse quarto, não recorda, além da televisão, o Sol e as pessoas livres e alegres? A luz é a única coisa que você enxerga, é tudo aquilo que as lâmpadas iluminam. O seu pai não é uma boa pessoa, e sua mãe não quer ficar e nunca desejou, desde criança, permanecer trancafiada e vítima de abusos em seu quarto. Está na hora de dormir. Sei que gosta muito quando ele aparece, não apenas para lhe dar comida e desaparecer, mas ficar contigo. Mesmo muito irritado, você fica contente quando ele começa a rezar, certo?" - Arthur começou a abraçar o urso de pelúcia e as suas pernas estavam doendo, pois as cordas não foram tiradas delas.<br /><br />- Não sei não... ele parece triste. Nas outras vezes que chegava aqui e durava mais tempo chorando na cadeira e pedindo desculpas, era apenas de angústia, agora é infelicidade, com rancor. Não entendo por que ele fica com raiva quando eu o chamo de "pai". Mais de uma vez, já falou que eu era o seu filho. Foi um erro a mamãe e tudo que fez nos últimos anos... Fico triste quando ele está com cheiro forte e falando de forma estranha, sempre repetindo as mesmas declarações, quando fica cambaleando e se senta na cadeira e diz: "Eu irei pagar no abismo por tudo que fiz". Eu gosto do papai. Só fico tristonho quando ele se aborrece na ocasião em que eu o chamo de "papai". Nós temos os mesmos cabelos vermelhos." - o garoto ficou pensativo, olhando para a parede limpa e lembrando-se de coisas do passado, tudo aquilo que se resume à sua vida preso em um local com quatro paredes e uma porta.<br /><br />Arthur fez amizade de forma rápida com um homem que apareceu no seu quarto, este não era como as pessoas na televisão, muito menos como seu pai ou a sua mãe, a linda e bela mulher presa em correntes e que se comporta de maneiras esquisitas para sua própria realidade. O homem sempre tentou ser legal com o garoto, disse que veio depois de anos de sofrimento e que o papai precisava padecer, em vida, antes de ir para o "Inferno", segundo suas próprias palavras, pelo crime asqueroso que fez, contrariando os versos que gosta de ler em certas noites sobre ser uma boa pessoa, e se tornando um monstro.<br /><br />"Eu estou ficando com sono. Você promete que vai fazer o papai ficar mais tempo aqui comigo, rezando e cuidando de mim, enquanto eu durmo? Fico triste quando ele queima o seu corpo com água quente, machuca os seus olhos com coisas estranhas e continua falando aquelas coisas, torturando você. No entanto, pelo menos papai vai ficar aqui cuidando de mim enquanto eu estou repousando." - o garoto começou a deitar a cabeça em uma almofada velha. O colchão estava tão duro, que o seu corpo atrofiado conseguia encontrar conforto depois de anos deitado no mesmo lugar, e o homem diferente ficou feliz, muito empolgado quando ele chegou no local.<br /><br />Bastou apenas o garoto dormir para os tremores começarem. Todos os móveis do local estavam caindo e as luzes explodindo uma atrás da outra, a cama ficou se movimentando como se fosse um cavalo galopando. Os gritos desafiadores do homem, o estranho que agora estava presente, começaram a se espalhar por toda a residência, cada vez mais altos e distantes. Então, nessas circunstâncias, ele apareceu.... As hesitações, tão covardes quanto aquilo que segurava nas mãos, a sua longa roupa preta e os seus cabelos brancos se resumiam na experiência de desonra. Os seus olhos observando o corpo do garoto dormindo, representavam a perversidade do que fez com a outra criança, que agora é uma mulher e gerou fruto de atos doentios contra quem nunca quis ter desejos carnais, ainda mais com problemas cognitivos.<br /><br />"Eu vim aqui para tirar você desse lugar e deixar a criança em paz, sua criatura maléfica. Irei lutar pelo nome de Deus, para que você nos deixe livres do seu tormento maligno!" - o homem apontou sua arma de prata, escolheu cada versículo de escritas rabiscadas, tentou segurar aquele líquido inflamável para o corpo do homem, que olhava com seus deboches desafiadores e cortando uma gargalhada na sua boca.<br /><br />"Olá, Padre Gibson! Quando você tenta falar sobre "criaturas malignas", parece uma piada para o monstro que você é de verdade, se escondendo atrás de batinas. O que vai dizer? "Que eu sou contra Deus", "um pecador", "uma coisa asquerosa para as pregações do Salvador!?". Veja você mesmo.... e diga-me, como vai conseguir me arrebatar, se o senhor é tão repugnante quanto a minha figura é para tudo que é divino!?" - o homem levantou, tirando o conforto do corpo do garoto, que está dormindo e jogando o urso de pelúcia. E, no mesmo momento, o seu corpo, se contorcendo, quebrando todos os ossos e gargalhando ao pronunciar blasfêmias.<br /><br />"O Espírito de Deus flutuava sobre as águas e soprou sobre a cabeça dos homens, seja Michael meu guia e, sob meu servo, na luz e pela luz." - as mãos trêmulas do padre tentavam abrir o potinho com água benta, e a cruz cada vez ficava mais pesada nos seus membros, o medo estava dançando em seu rosto em cada movimento dos músculos faciais. Nessa ocasião, ele clamou todo ódio para o demônio. Mas, a sensação era a mesma: sabia todo julgamento e o que ele iria passar, como se todo fogo e eternidade do pecado humano estivesse lhe aguardando no segundo passo que desce.<br /><br />"Na Terra, é apenas o começo que você vai encontrar após a morte. É melhor se esforçar, bem mais do que isso, se possuir fé... pelo menos uma vez na vida, sem ser esse político imundo, que apenas tenta enganar os outros! O seu pecado está atrás das paredes desse lugar, e o fruto dele permanece inocentemente, dormindo aqui. Entre nós dois, eu sou mais digno de vencer essa batalha. Então, se esforce o máximo que puder, porque o que vai acontecer lá em baixo, será tão impiedoso, mas exatamente o que você merece, Padre Gibson!"<br /><br />"Seja o verbo meu alento e comentarei a estes espíritos do ar a barrar as forças somente com a vontade do meu coração e os pensamentos de minha mente, portanto te conjuro, criatura do ar, pelo Pentagrammaton e em nome do tetragrammaton, nos quais está a vontade firme e a fé reta. Amém...". -ele continuava rezando e rasgando a Bíblia em cada palavra e as suas mãos pulavam para a segunda página<br /><br />- Deboche em todo momento. "Gibson, é tudo isso que você faz? Apenas fala, profere e expressa. Você precisa acreditar!" - sacrilégio se espalhando por uma eternidade em um lugar, tão apodrecidas quanto o tempo.<br /><br />A criança está tão feliz por conta do período que o seu pai está presente no buraco em que adormece, apenas ouvindo os seus julgamentos, mesmo que esteja irritado, mas, pelo menos, está rezando. A sua mãe batendo a cabeça na parede em todo momento e gritando, berrando e rugindo sem parar...<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro </span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-70688917679783789922020-07-31T18:00:00.000-03:002020-07-31T18:00:10.413-03:00Há uma razão para todo mundo ter medo daquele homem que dirige um carro vivoPapai não percebeu quando o homem surgiu de onde não tinha nada, no meio do estacionamento, com um capuz cobrindo o seu rosto e as mãos guardadas no casaco. Os seus passos eram tão delicados, que não dava para ouvir nada, mas, bem antes de ele nos observar, eu tinha o enxergado nos encontrando. Papai estava guardando as coisas - sacolas do supermercado - dentro do nosso carro e não sentiu o perigo. O malfeitor anunciou o assalto, latindo como um cachorro violento, e o rosto do meu pai se deformou em proporções confusas. Desorientado demais para uma situação dessa, não soube o que fazer, nunca o vi tão assustado.<br /><br />Os dois adultos estavam tremendo. Certamente, era a primeira vez do assaltante ou ele estava muito nervoso dessa vez, porque quase não conseguia pronunciar as mesmas palavras. Na terceira vez, um pouco mais irritado e finalmente mostrando a arma.<br /><br />E, finalmente, o meu pai dirigiu as mãos à calça, procurando nos bolsos onde estava a carteira, enquanto a sua mente parecia gritar e o seu corpo não respondia da forma que almejava, com a intenção de pegar o objeto quadrado, os cartões de créditos e algumas notas. Eu o abracei nos segundos em que o homem se aproximou, e o meu pai tropeçou um pouco para trás. Na sua cintura estava o volume do cinto para fora, e foi suficiente para o assaltante disparar o primeiro tiro, que quebrou os vidros do carro. O segundo penetrou no peito do papai e o terceiro, desajeitado, escapando enquanto ele estava em cima do seu corpo, arrancando o que almejava, acertou a minha cabeça.<br /><br />Eu fiquei quase dez dias em coma, os médicos disseram que eu estive morto, mas voltei à vida graças ao sacrifício do meu pai, esse sacrifício que só entendi um pouco depois quando soube que minha mãe ficou viúva. Aquelas marcas negras nos seus olhos, além das noites mal dormidas, foi extravasando as madrugadas em lágrimas noturnas. Foi aí que ela conseguiu auxílio de alguns conhecidos e precisou se mudar para uma outra cidade, um lugar mais pequeno, afastado e calmo, longe das aglomerações. Nós chegamos em uma noite, e foi aí que tudo realmente começou... Em suspiros felizes como se nós fôssemos começar do zero.<br /><br />_____________________________<br /><br />O carro de mudança foi suficiente para trazer nossas poucas coisas. A nova casa era bem menor do que a outra, e a vizinhança parecia morta, nenhum sinal de vida. Aproveitei o momento em que os funcionários estavam removendo as coisas e colocando na nova residência, para esticar um pouco as minhas pernas. Estava um pouco distante e observei onde nós estávamos, local bem caricato, de interior. Entediado e com sono por causa da hora tarde da noite, tentei voltar novamente, respirando esse ar bem menos poluído do que estava habituado, e dois garotos apareceram... saindo de trás de algumas tábuas que estavam separando os quintais: o primeiro era um pouco rechonchudo, com olhos azuis brilhando na noite, as maçãs do rosto rosas, e ele me encarou. O outro era baixo, cabelos espalhados, como se estivesse acabado de levar um choque; o seu sorriso foi sumindo para algo curioso. Então ele se dirigiu a mim.<br /><br />"Ei, garoto, você é o novo vizinho do nosso bairro? Certamente que sim! Pois nunca te vi por aqui. A nossa cidade é pequena, e todos sabemos que uma nova família irá chegar nessa região. Você está bem?" - ele tentou parecer educado, escondendo uma peteca atrás do seu short esfarrapado, ajeitou os seus cabelos deixando ainda mais engraçado e saiu do beco escuro onde as tábuas estavam impedindo a iluminação dos poucos postes de luz na rua sem asfalto.<br /><br />Fiquei tão confuso, não soube se era o sono ou aquela surpresa de encontrar outros até tão tarde da noite. Provavelmente aprontando, porque eles estavam tão surpresos quanto eu por encontrar outros também nessa madrugada, com o vento uivando sem parar. Acabamos nos cruzando de uma forma estranha, quase que chegando em uma situação importuna para as duas partes. A falta de comunicação por gestos ou assunto diante disso, foi ficando constrangedor ao ponto de ser esmagador.<br /><br />"Não percebeu? É um garoto da cidade. Ele deve se achar bom demais para falar conosco! Não notou o bom tecido em suas vestes, a maneira que nos observa dos pés à cabeça? Não vamos perder o tempo com esse tipo de sujeitinho almofadinha que não sabe nem dar uma boa noite para uma cortesia!" - o garoto mais forte saiu da escuridão também. Os seus olhos pareceram abominações, como demônios, pois o azul estava faiscando com tanta intensidade que me fez ficar com medo, ao ponto de bilhar de uma forma indescritível. As minhas palavras se dobraram ainda mais na minha garganta e eu senti uma dor nesse momento. Isso nunca aconteceu em toda minha vida, talvez tenha sido ainda pior do que aquela lembrança, porque tudo se misturou em um vazio cortando por dentro.<br /><br />-Nesse momento, se afastaram, dobrando suas costas e tentando parecer ainda mais despercebidos, se escondendo em todos os aglomerados de vegetações e divisões de casas. Certamente não queriam ser vistos e ignoraram a minha presença. Finalmente eu consegui, o ar ficou preso e dilacerando lentamente, porém consegui cortar como um escudo a minha situação naquele momento. "Boa noite! Seja lá o que vocês estavam fazendo, não precisam se preocupar, porque eu não vou contar. Acabei saindo de uma situação um pouco ruim e ainda estou tentando lidar com isso. Me sinto péssimo e constrangido. Amanhã eu vou precisar ir para o colégio e só queria saber como as coisas aqui funcionam."<br /><br />"Ele disse que iria para o colégio". - o cara com cabelo bizarro mencionou. "Isso não é problema nosso!" - o birrento resmungou. "Ele me parece um cara legal e não podemos deixar sozinho nesse lugar, ainda mais quando se trata do dia de amanhã, é sua primeira vez..." - o grandalhão me bisbilhotou por cima dos ombros. Aqueles olhos assustadores índigos mastigaram mais uma vez a minha mente. Ajeitou a sua roupa, como o outro, e pediu desculpas.<br /><br />"Não precisa levar nada para o pessoal, novato, nós estávamos jogando pedras nas vidraças de algumas casas, e isso não é uma coisa que você precisa saber. Bem, é novo e disse que iria para o colégio na manhã. Nós estudamos no mesmo lugar, até porque não existe mais nenhum outro. Temos ótimos professores, poucos alunos, mas todos bons. Creio que você conheceu os piores meninos daquele, e nós não somos o tipo que são habituados a fazer bullying ou agredir os outros. Enfim, olhando para esquerda, vai encontrar a rodovia, e lá, logo entregará o ponto de ônibus. Se atrasar vai perder a locomoção! Esse caminho até o colégio talvez chegue na metade do horário, se ficar perdido nessa região por ser alguém de fora, mas não precisa se preocupar se acordar cedo, porque..." - eles ficaram amedrontados, realmente não foi difícil de enxergar o pavor nos seus semblantes. Voltaram para a parte mais umbrosa do lugar, onde as tábuas estavam protegendo da luz, e um deles me puxou, quase me jogando no chão, e disse que o "velho lunático" está chegando.<br /><br />Um Chevrolet bem antigo começou a fazer barulho, vindo de longe, com uma fumaça serpenteando e atirando como se fosse um revólver pelo cano de escape. O cheiro da morte, de dezenas de corpos em decomposição, cobriu todo lugar. Os garotos se esconderam. Então nós observamos um homem passando... sua aparência não era tão velha quanto o meu falecido pai, mas, os seus traços faciai eram realmente assustadores: o seu rosto era fino e ele parecia conversar consigo mesmo, olhos vidrados em todas as direções, cabelos pintados, para trás, como se fossem duros como concreto, e a sua pele, de alguma forma surreal, era cadavérica demais, como se ele estivesse se assustado com uma assombração.<br /><br />"Disseram que a sua filha morreu em um acidente, e ele acabou ficando desequilibrado. Por qual razão vocês acham que fica conversando sozinho!? As crianças que morreram nos últimos anos, os seus ossos serviram de acessórios para o seu veículo do inferno, e todos dizem que estão vivos, pois ele traz sons de outro mundo, assombrações em desespero". - os garotos assobiaram em silêncio as mesmas palavras, enquanto aquele sujeito pavoroso passava mirando em todas as direções, algo parecido com uma alma tentando encontrar algo.<br /><br />"É sempre a mesma emanação de decomposição quando passa com o seu transporte. Talvez tenha feito mais uma vítima ou são os corpos das outras em estado de decomposição nas ferragens. Existe uma boa razão para todo mundo ter medo daquele homem assustador que dirige um carro vivo nas noites obscuras.". - não paravam de cochichar escondidos e com o pescoço levantado para enxergar ao máximo possível. Eu praticamente estava sendo amordaçado por eles enquanto ficavam cochichando coisas semelhantes à lendas urbanas locais.<br /><br />"Eu fui criado para saber respeitar os doentes mentais e velhos solitários! Tudo isso que vocês estão dizendo não existe! É apenas um pobre coitado sobrevivendo nesse lugar. Realmente podem julgar alguém vindo de fora? Para que tanto preconceito!? Na minha ex-vizinhança, existe um sujeito que come lixos e restos de animais, às vezes carrega os seus corpos, espalhando o aroma de defuntos!" - eu me afastei dos outros garotos, indo direto para pista, e "dei boa noite" para o carro que, imediatamente, freou. Quem estava dirigindo fixou o olhar pelo vidro e me notou parado à alguns metros de distância. Demorou alguns segundos para abrir a porta e saltou como se estivesse fugindo de um saco, caminhando como um animal de quatro patas e me agarrando de surpresa. Foi tão rápido que parecia que ele havia controlado o tempo.<br /><br />"Você consegue enxergar? Eu vejo isso! Você é mau, traz coisas ruins para a vida de quem ama. É um fantasma ou não!? O que está fazendo aqui? Preciso fazer parte da próxima morte!" - o pedaço de madeira se tornou em migalhas por uma força tão bruta que o seu corpo rodopiou algumas vezes pelo impacto de súbito. O garoto gordo me levantou, puxando e arrastando, como se fosse o predador querendo se alimentar de sua vítima, e ele foi me empurrando para longe, enquanto aquele cara se levantava, apontou na nossa direção, voltou para o carro e dirigiu como se nada tivesse acontecido.<br /><br />"O que deu em você, seu bunda mole!? Ele iria lhe matar e colocar o seu corpo para servir de transporte naquele carro vivo e respirando. Não vai ter tanta sorte como dessa vez... Sabe por que todos têm medo daquele açougueiro de crianças!? Sabe o que eles dizem? Em um certo acidente envolvendo uma van escolar, que acabou sendo vítima de uma ponte de madeira, afogando todos os garotos, a sua filha foi uma delas, e todos os dias, quando faz dez anos da morte, o lunático mata mais um. Todos dizem que existe uma razão bem lógica para todos ficarem longe até hoje. Você queria fazer parte disso!? Na próxima vez, não vai ser tão sortudo, porque nós dois não iremos te ajudar!" - ele estava cuspindo no meu rosto quando minha mãe apareceu e encontrou nós três assustados. Eu disse que estava tudo bem e nós estávamos brincando, porque havia feito novos amigos. Estava tão acabada quanto um zumbi, para simplesmente pegar no meu braço e me guiar, enquanto eu estava observando por cima do meu ombro aqueles garotos desaparecendo como fumaça, naquelas ruas sombrias e cobertas por vegetações.<br /><br />____________________________<br /><br />Fiquei por muito tempo ouvindo o sermão da minha mãe desgastada e aborrecida demais para dizer coisas concretas. Nós nem jantamos. Não me preocupei com isso. Talvez não tenha reparado que eu estava com fome e me deitei em um amontoado de panos para tentar dormir. Os meus olhos não fecharam nessas horas da madrugada, que nunca fiquei acordado até tão tarde para ouvir pancadas na janela. Vi sombra medonha do outro lado das cortinas. Esse foi o momento que qualquer garoto da minha idade gritaria por sua mãe, mas, nesse caso, não. Não queria ver aquele fantasma respirando mais uma vez esse dia, nesse caso me aproximei, liguei a lâmpada para observar aquele garoto magro... Embaixo dos seus olhos, era escuro, tão quanto o daquela mulher choramingando do outro lado da parede, e ele me disse algo que eu precisava saber.<br /><br />"Estou até tão tarde aqui em razão de não conseguir dormir, eu tenho que ficar ouvindo os meus pais brigando nos outros momentos em que estão dentro de casa... Com isso, passo as noites acordado, ainda assim quero te alertar sobre aqueles boatos. Eu também não tenho medo dele, mas me assusto com as lendas. Sei que não vai fazer mal para ninguém; mesmo assim, é bom ter cuidado, pois certo tipo de superstições podem ser verdades de formas diferentes, que são interpretadas. Disseram que ele esteve morto quando se afogou para tentar salvar as crianças. Apesar dos seus esforços, a correnteza, força da natureza, foi ainda mais esmagadora quando a van foi tragada pela ponte de madeira, tornando-se mais forte. Conseguiu vida ao vomitar a água e, após esse dia, observando os corpos boiando dos estudantes e do motorista, ficou louco e agressivo. Espero que não fique tão assustado e fique um pouco mais calmo. Agora, eu preciso sair, porque está quase amanhecendo, e amanhã é dia de aula. Os meus pais já estão muito frustados com as minhas notas baixas para faltar, e vamos nos encontrar no colégio." - ele deslizou a escada das plantas, os seus dedos foram cortados pelos espinhos, mas não era suficiente para se preocupar com pequenas fissuras, e saiu correndo no meio daquele frio, com o vento absorvendo qualquer som, em todas as partes, em uma melodia avassaladora.<br /><br />_____________________________<br /><br />Por um alguma razão, não acordei cedo o suficiente. Sacudi as minhas pernas e braços e fui direto para cozinha. Nessa manhã nublada, apenas precisei prestar atenção para um bilhete dizendo que o café estava pronto e que minha mãe não tem hora para chegar em casa, rabiscos bem diferentes da sua forma de escrever. Havia algo de errado ou esse dia começou tão bosta quanto os outros. Coloquei apenas a roupa do colégio desse lugar e fui caminhando para onde os garotos disseram que estavam a localidade, onde o micro-ônibus passa. Não fazia a mínima ideia se eu havia atrasado demais ou suficiente para aparecer pelo menos na terceira aula. A chuva começou de repente, quando eu pisei naquele lugar, e havia outros garotos tão perdidos quanto eu no horário. A presença deles foi o suficiente para eu ficar um pouco mais calmo.<br /><br />Nunca senti o meu corpo tão pesado, enquanto eu aguardava nesse lugar. Os outros estavam tão silenciosos quanto eu, mas não demorou muito para observarmos aquele transporte se aproximando. Fiquei animado, e todos também. A chuva ficou tão forte quanto pedras caindo do céu, talvez eu já estivesse preocupado com outras coisas para ignorar esse clima violento. A escapatória estava chegando naquele coletivo... E as coisas boas sumiram logo quando mais um outro veículo se aproximou. No momento em que parou, nenhum de nós percebemos, tratava-se daquele cara que os garotos disseram que era um lunático. No breu da noite, imaginei criar fantasias na minha mente, que ele era uma figura fantasmagórica, com fisionomia bizarra e falando sozinho, sendo enganado pelas superstições locais. Para o meu devaneio pavoroso, durante o dia, foi como se todo pesadelo em uma noite mal dormida se tornasse real para tudo aquilo diante dos meus olhos.<br /><br />Se dirigiu a mim somente, na minha direção, me mandando entrar, ao mesmo tempo que ajeitava o retrovisor para o ônibus se aproximando. Tentei ignorar ao máximo os seus berros, mas logo substituiu o tom autoritário para vocabulários maléficos, mencionando que estava com minha mãe sequestrada e, se eu não o obedecesse, iria matá-la. Nesse momento, sentindo um fantasma negro controlando o meu corpo, como uma marionete, direto para as ferragens do veículo, não pude fazer mais nada. Não existia mais ninguém para pedir ajuda, os outros garotos estavam tão arrepiados quanto eu. Finalmente, examinei os seus rostos frios, assustados, vazios, em tons mortos, para situação que nós estávamos, e não existia mais nenhuma opção além de entrar no seu carro e a porta se fechar logo em seguida.<br /><br />Ele estava observando o retrovisor, enquanto os outros garotos entraram no coletivo, como se nada estivesse acontecido. O repugnante sabia muito bem que estava no controle e mais ninguém o desafiaria. Abaixou o vidro para um sorriso sujo, e os seus olhos me contemplaram. Nunca experimentei o gosto da morte como nesses segundos, dessa forma tão agonizante. Talvez tenha sido pior do que tudo que eu passei até o momento. Dezenas de possibilidades ficaram voando na minha mente, mas logo ele percebeu de uma forma como se tivesse sabendo que eu estava tramando uma forma de escapar.<br /><br />"Sei que você está querendo escapar, contudo, não vai acontecer, não mesmo! Esse dia me trancaram, espancaram e esconderam naquele porão para que, embaixo dessa chuva do passado, exatamente na mesma manhã que minha filha morreu, não exista mais nenhuma morte e possam quebrar o círculo dos dez anos, mas não vai funcionar! Porque eu estou aqui, e você é tudo que eu preciso. Acharam mesmo que conseguiriam impedir mais uma criança de ser morta? Estão enganados! Você, garoto de fora, vai mudar isso! - os seus lábios inundaram qualquer tipo de esperança ou possibilidade de lutar, não existia nada além de nós dois, e o seu carro respirando, movimentando, peças oxidaladas comunicando uma com as outras. Eu desejei, pelo menos, que minha mãe estivesse bem, antes da morte imediata nas mãos daquele asqueroso.<br /><br />As minhas têmporas se encolheram tanto, que minhas pestanas doeram e o freio, cortando do ferro desgastado pelo tempo, anunciou a imagem da minha casa. Eu estava na parte mais fria do dia, e a chuva finalmente escapou do outro lado. O cara estava olhando para frente e me aguardando sair, e não existia mais forças no meu corpo. Aconteceu um curto-circuito, e eu estava tão frágil quanto uma criança recém-nascida. Ele me olhou diferente e pareceu outra pessoa do outro lado. Seja lá o que fez com aquele outro sujeito, pavoroso, uma figura amedrontadora dos contos de terror da região, desapareceu para um cara com mais de trinta anos, frio e animado.<br /><br />Garoto, você está seguro. Precisa sair agora e entrar na sua casa, porque me obedeceu. A sua mãe está a salva. Sei que você vê-los também. Eu os vejo desde aquele dia que sobrevivi e escapei da morte, mas não fugi dela. Consegue observar os mortos...? Todo mundo, que esteve por alguns segundos no outro lado, volta trazendo um pouco deles. Nós dois somos iguais! Aquele ônibus é o fantasma do passado, e os garotos são as vítimas! Sempre, depois de dez anos, tudo se repete. Você seria a terceira vítima, e todos me julgariam como culpado, porém quebrei o ciclo. Finalmente acabou! Não para mim, porque os fantasmas não são lendas, diferente da minha descrição apavorante em boatos." - minha mãe me recebeu logo em seguida que eu saí da lata-velha, e o tempo parou para observar que ele estava distante. A mamãe, muito desesperada, disse que havia quebrado a ponte mais uma vez por causa da inundação da tempestade, e orou pra eu estar bem.<br /><br />_____________________________<br /><br /><br />Em menos de dez dias, aquele cara havia sido vítima do destino e morrido dois anos depois, solitário. E nunca mais eu o vi. Mesmo assim, a tempestade voltou, a inudação feroz por sangue, mas eu não vou deixar mais nenhuma criança seguir o ciclo das mortes. Não quero ver mais desgraça na minha vida e de mais ninguém. Irei continuar ajudando os garotos, mesmo que todos me vejam como um louco por ter recebido carona do sujeito pavoroso que morreu há um tempo. Sabemos que as pessoas precisam de um monstro para odiar...<br /><br /><b>Autor: Sinistro </b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-25964656871973948052020-07-30T18:00:00.000-03:002020-07-30T18:00:04.235-03:00Na sacada do prédioEscolhi o prédio mais alto da cidade, onde teria certeza que, depois que eu subisse na parte cortando os céus, ninguém me impediria. Um homem bem vestido em locais de negócio, seria apenas mais um funcionário passando despercebido. Ninguém se preocupou quando eu entrei pela porta da frente, procurei o elevador e subi com os outros. Nem sequer olharam dentro dos meus olhos e perceberam o quanto eu estava desconsertado. Saí logo em seguida, entrei no escritório acima dos outros, coloquei, na porta, em minhas costas, uma cadeira, impossibilitando que alguém entrasse facilmente, e abri a janela.<br /><br />Foi quando me aproximei da sacada e o vento tentou me empurrar para dentro, tão forte quanto uma tempestade, mas eu estava vazio por muito tempo. Examinei as movimentações embaixo, e todos pareciam formigas, estava sendo tudo mais fácil do que imaginei. Coloquei o primero pé, o outro foi arrastado logo em seguida. O Sol não estava quente o quanto me preocupei, coisas ficaram borbulhando na minha mente. Então, ouvi uma voz dentro da sala.<br /><br />"Não se movimente mais. Eu sei que você é uma boa pessoa e não precisa fazer isso. Por favor, me ouça!" - tentei olhar e não tinha ninguém próximo, mas a voz estava ali e me deixou um pouco aflito. Não queria que tudo acabasse como um louco, pois sei muito bem o que estava fazendo.<br /><br />"Eu não preciso? Por que não!? Quem é você, e pare de se esconder." - coloquei o segundo pé para dentro do escritório quando o vento ficou um pouco mais forte e uma aglomeração de formigas estava apontando para cima, e pude prestar atenção em um turbilhão de vozes se espalhando lá embaixo.<br /><br />Tinha certeza de que não havia ninguém no momento em que tranquei a porta, porém apareceu um homem bem vestido. Certamente, responsável por esse prédio, um sujeito com os olhos frios, expressando calma e paciência. Não era a primeira vez que estava lidando com situações ao extremo, sua preocupação diante da situação era bem clara. Levantou suas mãos e parecia controlar os meus nervos da forma que tentava amenizar o que eu estava passando. Em contrapartida, aquele timbre ficava estremecendo e comunicando-se como se fosse um megafone baixo.<br /><br />"Não consigo ver pessoas tristes fazendo besteira" - disse ele, com tanta aflição e desgosto no seu rosto, que me deixou um pouco comovido. Coloquei o outro pé para dentro, mas, quando ele percebeu que eu estava distante, novamente voltei para sacada, e ele parou de caminhar em minha direção. A forma lenta e calculista interrompeu a maneira que estava rastejando o seu corpo em minha direção.<br /><br />Quando voltei para janela, já não estava mais soprando, e carros de polícia estavam na calçada. A porta começou a sacudir distante de nós dois, e ele recorreu a apelar falando sobre os meus filhos, a minha esposa, fixando na aliança no meu dedo e dizendo que as pessoas precisavam de mim, apesar dos momentos ruins. Eu tinha tudo que qualquer um sonha na vida: um bom emprego, crianças saudáveis e exemplares, esposa dedicada e que me amava. Observando suas palavras, me senti péssimo, como se eu nunca estivesse valorizado tudo que eu tive na vida, que foi suficiente, apenas reclamando. Sei que nem sempre conselhos conseguem preencher o vazio que alguém tem dentro da alma. Há algo absorvendo tudo de bom e, dessa vez, o homem estava no meio, bem mais próximo do que antes, da sua forma invasiva de rastejar, com as órbitas oculares quase lacrimejando em desespero, dizendo que já viu todo tipo de coisa ruim e não poderia deixar uma pessoa boa fazendo uma desgraça dessa. A maneira que dizia, parecia me conhecer talvez melhor do que eu mesmo.<br /><br />Apesar dos esforços desse cara, eu estava pronto. Foi muito bom criar esperanças, ouvi palavras de alguém que se importou com os meus sentimentos e tentou saber o que eu estava passando e o que me atormenta no momento. Quando percebeu que quase o meu corpo todo estava para fora do escritório, expôs que provaria, vozes gritando em sua garganta aparentemente no último esforço restante: me pediu para fechar os olhos por um segundo, disse que era a única coisa que desejava de mim. Sentindo compaixão por seu desespero frustrante, eu o fiz.<br /><br />Seja lá o que esse homem já passou, suas palavras eram como se fosse o melhor psiquiatra do mundo e tentou dizer o quanto a minha família se perderia depois que eu fizesse isso. A minha mulher não iria superar, os meus parentes não suportariam, e eu perderia tudo que construí. As pessoas lá embaixo, aumentando; crianças abaladas e sem entender, adultos chegando das suas ocupações... Seria um trauma ver um corpo destruído na calçada. Pode criar, no escuro da mente, coisas pavorosas que minha escolha errada causaria na vida dos outros, um terror chocante e verdadeiro.<br /><br />A cadeira, eu já não estava mais suportando as investidas do outro lado e, antes que a porta fosse arrebentada por outras pessoas preocupadas comigo, aquele homem me salvou. Eu pude enxergar com mais atenção na minha mente todos os dias que minha companheira me recebeu com um sorriso e dizendo que me ama, os meus filhos, Naomi e Akemi, me chamando de paizão e falando o quanto sou importante. Até os meus parentes sempre me recebendo bem, apesar dos meus problemas emocionais.<br /><br />Não faz sentido destruir a vida deles, e ele, batendo palma e dizendo o quanto eu fui bem, continuava atrás de mim, percebendo o quanto eu estava me afastando da janela. Por que isso se nem tenho inimigos? Não tinha nada para reclamar, sabia que poderia conseguir um tratamento. Finalmente estava fora da janela e a única coisa que eu poderia fazer, era agradecer porque o terror, onde não existe, foi criado apenas por minha mente burra. Nunca me senti tão bem comigo mesmo.<br /><br />Virei minhas costas, respirando fundo e confiante. A primeira vez na vida que realmente estava feliz e aliviado para agradecer o esforço que alguém fez e tentou me ver bem, lutando ferozmente cada segundo. Um homem que em menos de segundos estava próximo do meu rosto, quase que beijando na minha boca. Agora animado, enxergando em minha direção e empurrando-me com sua mão... Segundos antes que eu ficasse distante suficiente, assobiou essas palavras, o meu rosto vendo a sacada ficando mais distante e os barulhos embaixo gritando em sincronia mais próximos.<br /><br />"Não tem graça quando vocês estão tristes!"<br /><br /><b>Autor: Sinistro </b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-60725681822293365362020-07-29T18:00:00.000-03:002020-07-29T21:48:47.621-03:00Sou um filho iniciante.. e eu fiquei ali parado, me encarando, a angústia me predominando, o sangue pingando e escorrendo pelo meus dedos, sujando o chão e a minha mente.<br /><br />Dez minutos, eu tinha exatos dez minutos a partir de agora.<br /><br />Lavei minhas mãos, que antes estavam sujas com aquele vermelho chamativo, lavei meu rosto e me peguei parado, me encarando no espelho. Era a minha primeira vez fazendo aquilo, e o que mais me assustava era esse sorriso, esse sorriso que eu não conseguia segurar. Estava ansioso por isso há anos, eu disse a mim mesmo, deve ser comum estar sorrindo, não? <br /><br />Olho para o relógio que agora dizia que eu possuía apenas dois munutos. Me apresso e caminho até o meu computador e quando meu relógio apita sei que a hora chegou. 3:09AM, o único horário que nas terças-feiras o link aparecia. Cliquei nesse link, ainda receoso, e ele me levou para uma página, cujo em seu canto inferior direito havia, em letras pretas e pequenas, a seguinte frase:<br /><br />" - Anuncie aqui o que você possuí, é isso o que eles procuram."<br /><br />Cliquei na frase, que abriu uma janela pedindo informações sobre dimensões e pesos dos "produtos". Três segundos agora, passou três segundos e cinco diferentes pessoas me enviaram mensagens, querendo comprar meus produtos, que agora já estão vendidos e que inviarei amanhã.<br /><br /> Suspirei em alívio, minha missão havia sido concluída. Em comemoração abri um vinho antigo, que estava escondido na cozinha há quantos anos mesmo?bom, estava apenas esperando ser aberto no momento certo e esse momento finalmente chegou.<br /><br />Eu espero que meus filhos acreditem na mentira. Espero que eles não me façam perguntas do tipo "papai, ela se foi mesmo?", ainda dói em mim saber que tenho uma péssima sorte com as mulheres, mas não tenho culpa. Não sinto culpa. Agora sei que meus filhos estarão mais felizes, pois a dor da fome e de braços roxos, não será mais um problema. <br /><br />A fita para de tocar. Quando eu gravei isso mesmo? eu me pergunto. Se gravei, por que não joguei isso fora? De qualquer forma eu não posso mais me arrepender ou voltar no tempo para apagar essa fita. <br /><br />Ela sorri, e guarda a fita. <br /><br />- Bom, isso já é o suficiente? Eu sei, eu sei que você apenas estava querendo proteger os seus filhos, mas essa não era a única opção, você sabe disso.<br /><br />A mulher agora em minha frente está fazendo um sinal para a pessoa atrás de mim. <br /><br />- Não acho que você deva voltar, se fosse apenas aquela mulher, tudo bem, mas depois a quantia foi crescendo e crescendo.. e você, novamente não se arrepende nem um pouco, não é?<br /><br />Eu apenas dei um sorriso, ela era uma mulher muito esperta. <br /><br />- Certo, então mandarei você de volta para baixo. Próximo! <br /><br />Agora eu estou suando.. Por que começou a ficar quente? Eu não tive tempo de falar qualquer coisa e o que parece ser um elevador começou a decer. Derepente lembro que já estive aqui. Aaah - eu suspiro - é bom estar de volta, papai. <br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autora: Francielly Silveira </span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com320tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-81332218876816194852020-07-04T18:00:00.000-03:002020-07-04T18:00:00.484-03:00Acontecimentos estranhos em uma escola localizada no fim do mundoQuero primeiramente deixar claro que os fatos a seguir realmente ocorreram. Não, não estou falando isso para assustar ou para parecer clichê. Tudo ocorreu em uma escola que estudei e que meus irmãos também estudaram. Minha mãe era professora da escola, ela achou mais fácil colocar meus irmãos e eu para estudar no mesmo lugar onde trabalhava. O problema mesmo era quando ela tinha que ficar até tarde, corrigindo provas. Tínhamos que ficar rodando a escola até ela terminar. A dona e diretora do lugar não se importava. Não direi o nome do colégio, o máximo que precisam saber é que o mesmo está localizado em uma região bem afastada.<br /><br />Não sei ao certo quando os eventos paranormais tiveram inicio, colocarei apenas os mais famosos e aqueles que me lembro. Deixando claro também que os casos não estão em ordem, o segundo pode ter acontecido antes do primeiro e assim vai. Estou apenas relatando os que vem em minha memoria.<br /><br />O primeiro caso que vou contar, ocorreu na época de provas, quando os alunos iam apenas fazer as provas e quando terminavam, poderiam ir para casa. Alguns alunos voltavam rapidamente para o lar, outros moravam longe e esperavam os pais virem buscar. Então, quando terminavam, ficavam conversando entre si ou andando pelo colégio. Uma das alunas foi até o segundo andar para pegar algo que esqueceu. Em questão de poucos minutos, um grito estridente ecoou. Uma das professoras que estava no segundo andar, corrigindo provas na salas, foi rapidamente ver o que estava acontecendo na sala de onde veio o grito. Segundo ela diz, a aluna estava encolhida, chorava desesperadamente, falando sobre uma mulher no canto da sala, que a encarava sem parar. Mesmo conversando e tentando dizer a jovem aluna que tudo estava bem, a professora contou que não duvidava da garota, pelo fato de outros casos envolvendo aquela mulher já terem sido relatados. Dias depois, ficamos sabendo que a garota teve febre e que não queria mais voltar para a escola, os pais não sabem o que ela viu, mas afirmam que aquilo realmente a traumatizou.<br /><br />O segundo caso é mais conhecido e, dessa vez meu irmão também presenciou. Ocorreu no meio do ano. Os alunos de uma das salas do segundo andar estavam bagunçando enquanto a professora tentava acalmá-los, até que em um momento a porta da sala bateu. Aquilo era estranho, não tinha janelas abertas e nenhuma corrente de ar poderia ter feito a porta bater. Um dos alunos foi tentar abri-la, mas ela simplesmente não abria. Outros alunos o seguiram e resolveram se abaixar para ver por debaixo da porta. O que eles viram foi algo bem estranho, meu irmão jura até hoje que é verdade. Eram dois pés, magros e pálidos, parados bem em frente. Os alunos se assustaram e a professora não acreditou no que os garotos falavam, até ela mesma se abaixar pra ver. Meu irmão diz que naquele momento, pela primeira vez, viu a professora da sala perder a cabeça:<br /><br />“Ela gritava mais que os alunos, estava apavorada”. Disse ele<br /><br />Por causa da confusão e da gritaria, os outros professores e alunos saíram da sala para ver o que estava acontecendo. Assim que começou a chegar pessoas, meu irmão diz que a porta finalmente abriu misteriosamente e que até hoje ninguém sabe o que diabos foi aquilo:<br /><br />“Parecia que a coisa do outro lado estava segurando a porta... Nos prendendo ali, foi bizarro”. Concluiu<br /><br />O terceiro caso é algo que minha mãe me falou, segundo ela, coisas assim sempre ocorrem naquela andar e a tendencia foi só piorar com o passar do tempo. Ela conta que isso ocorreu quando ela teve que ficar sozinha no colégio corrigindo provas, aquilo já era normal para ela e contos de fantasmas não a assustavam mais:<br /><br />“Eu já vi essa mulher várias vezes, nas outras salas, as vezes no corredor, eu apenas tentava ignorá-la... Quando se é mãe solteira e tem três filhos, um fantasma não parece grande coisa”. Me disse, dando uma pequena risada para logo voltar a ficar séria.<br /><br />Foi isso que ocorreu novamente naquele dia, ela disse que precisava ir ao banheiro e, no caminho, viu o vulto daquela mulher passando do seu lado. Apenas ignorou como sempre fazia. Foi ao banheiro e voltou para sua sala, onde continuaria a corrigir suas provas. Ela conta que estava de olho na prova quando levantou a cabeça e...Lá estava. A mulher, estava lá, onde ficavam as últimas fileiras de carteiras escolares. A entidade parecia encará-la, mas mamãe não sabia dizer ao certo, pois os cabelos cobriam uma boa parte rosto daquela coisa:<br /><br />“Pela primeira vez, senti um pouco de medo” Contou-me.<br /><br />A mulher sumiu depois do que pareceu ser uma eternidade, ela concluiu sua história dizendo que isso só aconteceu daquela vez, mas as vezes, quando fica até tarde corrigindo provas, bate aquela sensação de que está sendo observada.<br /><br />O quarto o caso é o que eu chamo de “gota d'água” pois foi o que fez a dona do colégio tomar uma atitude sobre os eventos. Ocorreu quando a irmã da dona da escola veio lhe fazer uma visita.. Em um certo momento ela decidiu ir ao banheiro. Tudo parecia bem, mas então, a vimos sair do banheiro tremendo e chorando. Perguntada sobre o que aconteceu, falou que quando estava de frente para o espelho, viu uma criatura pálida, bastante magra e com longos cabelos atrás dela. Vendo a gravidade da situação, a dona percebeu que teria que dar um jeito nisso. Em poucos dias, ela trouxe um padre para rezar em todas salas, banheiros e outros lugares do colégio. Não sei exatamente se as ocorrências diminuíram, pois meus irmãos e eu já não estávamos estudando lá, fiquei sabendo desse caso porque minha mãe contou. Ela ainda trabalha lá, mas não fala muito.<br /><br />O quinto caso aconteceu quando eu ainda estudava lá. Esse foi um dos que assustou todos, na época eu devia ter uns dez anos. O zelador da escola era um cara conhecido por todos, sempre brincando e soltando piadas, os alunos adoravam ele. Um dia, uma das professoras chegou mais cedo e resolveu subir até o segundo andar para arrumar logo a sua sala. Chegando lá, encontrou-se com o zelador deitado no chão. Ela achou que era mais uma das brincadeiras dele e no começo até soltou algumas piadas também, isso até tocar nele e perceber que não era uma brincadeira. O zelador estava morto. O engraçado é que ele morreu na mesma sala onde tempos depois, a garota do primeiro caso, disse ter visto a tal mulher.<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Tai </span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com34tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-41138837230541022982020-07-02T18:00:00.000-03:002020-07-02T18:00:13.491-03:00Banheiro dos fundosAcordar no meio da noite com a bexiga prestes a estourar é uma coisa que realmente odeio. Primeiro que levantar sonolento de madrugada é uma merda, segundo, que sou uma pessoa extremamente azarada. O que isso tem a ver? Você se pergunta. Pode parecer uma conversação sem sentido, mas irei lhe explicar de uma maneira que lhe fará entender.<br /><br />Moro com meus irmãos em uma antiga casa que nossos avós nos deixaram de herança, algo extremamente bom, pois não tenho dinheiro nem mesmo para um cômodo minúsculo, onde o único espaço um colchão no chão preenche por completo. Estava desempregado e tinha acabado de sair de uma relação conturbada. Não vi problemas em dividir o espaço com meus três irmãos, nos dávamos muito bem (Coisa rara entre irmãos) e éramos todos adultos. Fiquei com a parte de fazer o almoço e o jantar, como estava sem emprego, era a forma que encontrei para ajudar.<br /><br /> A casa é espaçosa, com cinco quartos, uma cozinha, sala de estar e uma garagem que pode acomodar dois carros. O problema mesmo sempre foi a questão do banheiro. Veja bem, temos dois banheiros, um fica no corredor, próximo ao meu quarto, enquanto o outro, apenas nos fundos da casa. Isso significa que, se você estivesse muito apertado e o primeiro banheiro estivesse ocupado, você teria que dar toda a volta até os fundos, destrancar uma porta e atravessar o jardim para acessar o outro. Já era chato fazer isso pela manhã, imagina no meio da madrugada, quando o que você mais quer é voltar a cair nos braços de Morfeu. Outra coisa que preciso lhe falar sobre a segunda instalação sanitária da casa, é que não é nem um pouco acomodadora. Enquanto o primeiro tem azulejos na parede, um teto com forro pintado de cor branca e um chuveiro com uma boa pressão, o segundo parecia mais uma obra não acabada. Paredes para rebocar, um telhado quebrado e uma pia e chuveiro que não funcionavam. A única coisa ali que funcionava era o vaso sanitário antigo, com seu barulho desgraçado quando você dava a descarga. Sério, era um barulho alto o suficiente pra te tirar do modo sonolento e lhe trazer de volta a realidade.<br /><br />Penso que meus avós estavam planejando esse segundo banheiro, mas morreram antes da obra ficar completa. Em minha infância, meus pais sempre traziam meus irmãos e eu para passar as férias nessa casa e visitá-los, eu não me recordo de um segundo sanitário, talvez fosse mesmo algo meio recente. Vovó tinha morrido primeiro e vovô não conseguiu aceitar a partida da esposa, entrando em um estado profundo de depressão. Em uma manhã, um dos empregados o acharam sem vida, quando foram o acordar para tomar seu remédio para pressão.<br /><br />Deveriam ser umas duas da manhã quando levantei-me apertado para usar o banheiro e vi que meu irmão tinha chegado primeiro.<br /><br /> - Droga! - Resmunguei- <br /><br />Até esperei um pouco, mas o idiota estava com problemas de estômago e aquilo iria demorar mais do que deveria. Não tinha jeito, fiz o caminho todo até o maldito cômodo dos fundos a fim de me aliviar. Procurei o interruptor para acender a luz, depois fechei a porta, caminhei até o vaso e fiz o que tinha vindo fazer. Me lembro de ter olhado para o teto, observando as telhas com teias de aranha e buracos feitos pelas brigas de gatos dos vizinhos. Se um dia, eu conseguisse um bom dinheiro, poderia mandar ajeitar tudo, deixar o lugar mais aconchegante pelo menos. Puxei a corda da descarga, ouvindo aquele som alto dos infernos e fui em direção a saída, pretendendo lavar as mãos na torneira do jardim, pois como eu disse antes, a pia dali não funcionava.<br /><br />Imagina minha surpresa quando puxei a porta e ela não abriu. Eu não a tinha trancado, nem era possível, esqueci de dizer, mas a única maneira de trancá-la era pelo lado de fora. Cogitei na hipótese de um dos meus irmãos está tentando me pregar uma peça, aqueles idiotas gostavam de fazer esse tipo de coisa.<br /><br /> - Muito engraçado, agora abram a porta! - Digo, tentando entrar na brincadeira. Sem resposta. - VAMOS! ABRAM! - Elevo meu tom de voz, novamente sem respostas.<br /><br />Começo a coçar a cabeça rapidamente, uma mania que tenho quando começo a ficar nervoso. E se não tivesse sido eles? Esse pensamento passava em minha mente, mas não poderia ser isso, quem poderia ter feito tal coisa se não um deles? Um invasor, talvez? Um ladrão que entrou na casa às escondidas e me trancou aqui dentro para não ter que se preocupar com um dos irmãos. Que droga, pensei em muitas coisas, mas nada parecia encaixar. O pior de tudo era que não adiantaria o quanto eu berrasse, os quartos dos meus irmãos eram bem distantes, eles não poderiam me ouvir. A Solução que encontrei foi a de tentar arrombar aquela porta<br /><br />Tomei impulso, estavas prestes a colocar aquela ideia em ação, mas antes que pudesse fazê-lo, a luz piscou, deixando tudo escuro por aproximadamente cinco segundos. Meu sangue gelou, uma pontada em minha cabeça me fez dar um gemido baixo de dor. Foi tudo muito estranho, me sentei no chão, perto de alguns escombros, pedaços da parede, restos de entulhos, possivelmente deixados por meus avôs.<br /><br />-Tenho que lembrar os outros a me ajudar a limpar isso aqui. - Sussurro para mim mesmo, me referindo aos meus irmãos.<br /><br />De repente, minha mão tocava em um pedaço de papel em meio a bagunça. Eu ainda estava me recuperando daquela estranha dor de cabeça de antes que piorara um pouco com a volta da luz. Logo, a ideia de arrombar a porta tinha ficado para depois. Sentado, naquele canto nem um pouco amigável, trago o papel para minha visão, vendo as letras escritas com uma caneta de cor vermelha.<br /><br /><b>Traga o prato com um pequeno animal morto<br /><br />Um lagarto ou um camundongo são as melhores opções<br /><br />Entretanto, com o camundongo, são altas chances de sucesso<br /><br />Sem janelas, isso é muito importante<br /><br />Leia o que lhe enviei em voz alta quando tudo estiver pronto<br /><br />Você saberá quando funcionou<br /><br />Lembre-se, cinco vezes é o suficiente<br /><br />Não entre mais no cômodo depois disso<br /><br />NÃO ENTRE<br /><br />Agora aproveite, mate sua saudade.</b><br /><br />Fiquei completamente confuso, pensando que tudo não deveria ser mesmo um tipo de brincadeira. Meu coração quase parou quando virei o papel, tinha uma coisa a mais, escrita do outro lado.<br /><br /><b>Se você desobedeceu e entrou no cômodo mais de cinco vezes, pode ter ficado confiante que nada aconteceu, mas quando você menos esperar, a porta trancará. Isso acontecerá em algum momento após passar o número de vezes. Pode ser logo que quebrar a regra ou pode demorar um pouco. Caso aconteça, espere aquele que você prendeu no cômodo se manifestar. Ele está sozinho, trancado, culpa sua. Implore, talvez tenha sorte na primeira e, caso tenha, NUNCA MAIS VOLTE.</b><br /><br />Antes que eu pudesse demonstrar alguma reação, escuto passos em minha direção. Eu não queria levantar a cabeça para olhar quem era, mas uma estranha força parecia forçar-me a fixar quem estava em minha frente. Eu Levanto a cabeça….É a vovó, ou pelo menos é o que eu acho que era. A senhora alegre de minha infância tinha agora um olhar cansado, seus olhos, grandes e arregalados, pareciam afundar em seu rosto, sendo devorados pelo excesso de pele na face envelhecida. <br /><br /> Oh, Deus! Abri a boca para falar, nada saia, nem um mísero som. Não conseguiria parar de tremer, meu corpo agia por vontade própria, não obedecia mais meus comandos. Todas as informações demoravam para chegar até meu cérebro. Não sei quanto tempo a encarei, até finalmente lembrar daquela palavra: Implorar. <br /><br />Consegui falar, na verdade, implorei. Falei de tudo para o que quer que fosse, me deixasse partir, eu não tinha nada a ver com aquilo, nem sabia que esse tipo de coisa acontecia aqui. A entidade sorriu largamente, como se estivesse se alimentando do meu sofrimento. Não, aquilo não era a vovó, não poderia ser. Era algo que usava sua pele, com o objetivo de enganar. O rosto distorcido e seu sorriso macabro foi a última coisa que vi quando a luz apagou de vez. <br /><br />Era de manhã, acordei com meus irmãos me balançando e gritando meu nome. A porta tinha finalmente sido aberta. Eles me ajudaram a se levantar, me levaram até a cozinha, sentei-me em uma das cadeiras e contei tudo que tinha acontecido. No começo, acharam que eu estava brincando, entretanto, minha palidez e o pavor que eu tive quando um deles afirmou que iria até o banheiro, procurar o pedaço de papel, o fizeram acreditar em mim.<br /><br /> Decidi sair da casa três dias depois deste ocorrido, ficaria na casa de um amigo até arranjar um emprego, queria distância daquele lugar. Aconselhei meus irmãos a fazer o mesmo. Nunca mais voltei.<br /><br />Hoje, pensando sobre isso, entendi que Vovô amava a Vovó, amava o bastante para se iludir que a veria outra vez, fazendo um ritual qualquer, trancando sua alma em um cômodo. <br /><br />É uma pena, pois aquilo nunca foi ela. <br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Tai</span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com42tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-64690006100730845622020-06-30T18:00:00.000-03:002020-06-30T18:00:00.253-03:00Eu só queria ter estado presenteTantas coisas que eu deveria ter dado atenção suficiente, momentos únicos em comparação a todos os sete dias da semana e o decorrer de um mês no ano, os instantes passando como poeira estelar na minha mente.<br />
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Algumas coisas merecem chegar de surpresa e tão intenso quanto a dor da morte, simplesmente porque você não esteve naquele lugar da forma certa, nem prestou atenção e se aproveitou de cada segundo que não deveria ter passado despercebido.<br />
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Toda minha família são de negros, descendentes diretos dos escravos em uma cidade pequena, na qual todos conheciam uns aos outros, pessoas boas de fato, lugar amistoso e não existia nenhum tipo de preconceito. A situação repugnante, no ponto de vista das famílias, são as pessoas que não participavam todos os finais de semana da Igreja Católica em não mais de uma hora com pregações religiosas.<br />
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Como qualquer homem, eu queria causar uma boa impressão, todos sabem, não adianta disfarçar, que a maioria apenas aparecem na casa do Senhor e mal prestavam atenção nas palavras do padre. Os únicos momentos fundamentais são quando oram as três rezas, situações importantes: o Pai Nosso, Ave Maria e o Creio em Deus Pai. Isso, toda criança que conhece a palavra do Senhor, não consegue esquecer.<br />
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Eu nunca estava presente, apenas ouvindo na multidão cansada e desgastado. Eram todos os finais de semana, as noites mais cotidianas, uma hora parecia durar doze, e eu estava ali com a minha família todos reunidos: rapazes vestidos de forma respeitosa, mulheres cobrindo seus corpos com vestidos, e todos utilizando símbolos sagrados, joelhos no chão, mãos uma encostando na outra e com os olhos fechados. A mente de todos realmente estavam presentes e acreditando...?<br />
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Tomé, Zelote, Mateus, entre outros, os 12 apóstolos, deixaram suas escrituras, palavras do Salvador e o que as pessoas precisavam seguirem para que não fossem para o "Inferno". Nunca acreditei que o homem seria perdoado pelo que fiz durante todos os dias, apenas por estar lá e parecer santo. Fiz o que, com certeza, a maioria fizeram: estava apenas participando e não ouvindo mais nada além do meu consciente vazio e automático.<br />
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Essa noite foi o momento que eu saberia que deveria ter ouvido as palavras do padre, estar presente diante da pandemia e próximo da minha família, não somente como o corpo desesperado pelo medo... Todas as pessoas acreditaram que 2020 já foi horrível o suficiente. Acharam melhor e julgaram que deveríamos ter esquecido aquele ano presos e as reportagens falando da quantidade aumentando de óbitos. Foram o que todos fizeram e logo, após cinco anos de calmaria e ainda com sequelas das mortes por causa do vírus, fomos surpreendidos por algo ainda pior... Nos sentimos confortados dentro do que a mídia tentou passar, as palavras dos governantes e o prazer de ter escapado, que ficamos ainda mais vulneráveis.<br />
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Hackers, com o título "Anonymous", populares no final de 2020 e vazando escândalos do alto escalaram, alertaram sobre a última tentativa de diminuir a população, que estava crescendo demais e recursos acabando de maneira absurda e despercebida pela população manipulada. Foi tarde demais, nas suas últimas tentativas de alertar o novo plano do governo que se tornou incontrolável. O título "Doença Do Homem Louco" já estava em suas posses, mas os resultados vieram acontecer após alguns meses e prontos para aniquilar a população.<br />
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Os sintomas se espalharam mais rápido do que a própria internet, em todos os lugares do Globo, causando ataques violentos em massa, homens mentalmente saudáveis se comportando como primatas mordendo uns aos outros, agredindo e espancando até à morte, espalhava-se como formigas em um formigueiro pelo contato físico e qualquer tipo de resíduo humano. As casas não estavam mais seguras, os doentes estavam invadindo com suas forças brutais como homens de ferro que não sentiam mais dor, apenas experimentando a selvageria para infectar uns aos outros. Não morriam tão fácil, não importava o tempo e as circunstâncias.<br />
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Demônios caminhando usando o corpo de homens, zumbis, mortos-vivos, ressuscitados, dezenas de apelidos refletiram o que estávamos passando e é exatamente como os filmes mostraram há muito tempo. Fizeram isso no pesadelo de 2020, esteve presente, e nós sabemos muito bem o que estávamos passando, mas a negligência humana e a maldade nunca vai evoluir. Deixamos se espalhar, e esse não era apenas algo irracional, a transmissão não ocorre simplesmente por meio da absorção de gotículas liberadas pela tosse ou espirro de uma pessoa infectada ou pelo contato com superfícies contaminadas pelo vírus, ele sabia muito bem o que estava fazendo! Vítimas da doença do "homem louco", prepararam ataques em aglomerados, sabiam se desviar, lutar, espalhar os seus maus para todos, saltavam mais de 10 m, lunáticos incontornáveis que resistiam ao máximo contra as investidas porque evoluíram a consciência para saber o que deveriam fazer.<br />
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Disseram que os outros não precisavam se alimentar e os corpos eram tão resistentes quanto qualquer tipo de metal. Mesmo após a decomposição da carne, permaneciam fortes nos últimos segundos em que os músculos estragavam e não poderiam lutar como antes. A doença do homem louco se expandiu em proporções surreais. As famílias mais privilegiadas, pelo apoio do exército, conseguiram encontrar segurança com homens armados, mas não duraria por muito tempo para alguns fracos à mercê do destino em um local escolhido.<br />
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As portas da igreja estavam trancadas com tábuas e a comida estava acabando. Rezas, todas as noites, não foram suficientes para acalmar as almas. Então, todos decidiram o mesmo: ganhar o perdão de Deus em seus últimos segundos de desespero. Como um dos pais de famílias mais importantes, presentes na casa de Deus, o meu voto faria diferença, e todos estavam aguardando.<br />
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Nosso lugar particular isolado era preenchido por timbres e lágrimas lamuriando de forma quieta. As pessoas abraçando umas às outras, e um som, do lado de fora, quebrando as tábuas com suas mãos resistentes e penetrando a madeira, socando sem parar com os seus berros espalhando-se pelo vento e absorvendo ele como se tivesse sido mais uma vítima... Cada vez mais o número aumentando, e todos ouvindo as pancadas nas paredes de todas as partes, vindo pelas criaturas do outro lado, aumentando e se tornando mais forte e consumindo qualquer tipo de resistência do lado que nós estávamos.<br />
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De maneira alguma participei e não estive aqui nos finais de semana, ninguém esteve presente de verdade para ouvir as palavras do Senhor e os evangélicos dos 12 apóstolos. Foi tão automático quando me perguntaram, todos olhando para mim, se eu iria concordar e receber o perdão de Deus. A minha boca respondeu automaticamente que "Sim", mas minha mente estava apenas navegando no medo e tentando confortar os meus filhos e mulher.<br />
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O padre fez sua última oração, enquanto eles estavam prestes a invadir, aumentando em uma aglomerações infinitas. Os soldados começaram a disparar, eu só queria estar naquele momento antes que a chacina começasse, pelo menos uma vez ter participado nas orações e ouvido a palavra do padre quando perguntou se deveríamos cometer o maior crime de todos em um suicídio em massa.<br />
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Além do desespero trancados aqui e os "Homens Loucos" prontos para entrarem, nada mais nos abalaria. Os disparos de arma passaram despercebidos por mim... Nos últimos momentos em que finalmente estávamos agonizando até a morte, os soldados se atacaram uns atirando nos outros. Só restavam apenas os últimos suspiros, o medo, sangue escorrendo e o silêncio na casa do Salvador, enquanto tudo acabou lentamente em um grupo de corpos... Se Deus existisse mesmo, teríamos ganhado perdão ou seríamos mais uma peça pela podridão humana, ouvindo as madeiras batendo em um lugar preenchido por multidões famintas.<br />
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O sangue estava jorrando pelo meu corpo em suas perfurações de bala. A maioria morta ou agonizando em seus últimos segundos até finalmente se entregarem. Pude perceber, os meus olhos não foram traiçoeiros, quando as portas foram arrombadas, e aquelas multidões de pés penetraram. Os seus olhos observando a carne destruída, o espanto e os que estavam contemplando, não transmitiram nenhum tipo de vocábulo. Suas armas estavam direcionadas para exterminar, mas já fizeram isso do lado de fora, e os homens do exército, para nos salvar, enxergarão o que restou da carnificina interna, o suicídio em massa.<br />
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Eu sabia que deveria ter controlado as emoções, não entregado diante da multidão, apenas por está. Poderia muito bem ter participado e pedido para que aguardasse mais um pouco, mas não! Segui as palavras do padre, apenas estando ali, e não participando. O meu último suspiro, vi a angústia dos semblantes dos soldados salvadores para o que restou do pessoal não contaminado pelos zumbis.<br />
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<b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro </span></b></div>
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Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-23252543143880904752020-06-25T18:00:00.000-03:002020-06-25T18:00:02.859-03:00Estranha Criatura (Parte 1)Nesses dias aconteceram coisas muito estranhas comigo, eu não acredito muito em fantasmas ou espíritos mais ontem aconteceu uma coisa que me fez pensar um pouco sobre isso.<br /><br />Meu nome é Ivan eu tenho 21 anos, à um tempo eu decidi sair da casa dos meus pais e com meu dinheiro comprei uma casa aqui por perto do bairro e então comecei a morar la. Na parte da noite aqui costuma ser bem barulhento porque minha casa é praticamente grudada com a dos vizinhos e então eu nunca liguei tanto pra barulhos estranhos no meio da noite.<br /><br />Era mais um dia de trabalho eu tinha chegado tarde em casa ontem, por isso eu entrei tomei um banho e fui direto pra cama porque eu precisava descansar para ir trabalhar no outro dia, então eu fechei a porta do meu quarto me deitei e fechei os olhos...<br /><br />Depois de alguns minutos eu acordei com alguns barulhos, eu nao liguei no começo, até que eu notei que os barulhos estavam dentro da minha casa. Eu pensei que era um bandido ou coisa assim porque não temos muita segurança aqui no bairro, então eu fui agachado para não fazer nenhum barulho e chegar o que era, eu sei que eu deveria fingir que nada aconteceu pra não ter risco de levar um tiro ou ser esfaqueado mais eu não estava pensando direito porque eu estava muito cansado e não tinha dormido quase nada.<br /><br />As casas ao lado estavam muito quietas nem parecia que eu morava perto de vizinhos, sem pensar muito eu levantei e fui até a porta e abri ela devagar pra não levantar a atenção de quem estivesse dentro da minha casa, foi a pior escolha que eu fiz na minha vida, o barulho de coisa arrastando ecoava no corredor me fazendo ficar com um pouco de medo.<br /><br />Eu olhei bem na cozinha que era de onde estava vindo o barulho, na hora o barulho parou e eu não vi nada, fiquei um tempo olhando a cozinha com dúvidas de o que era que estava fazendo o barulho,eu me virei rindo de mim mesmo por estar com medo de coisas da minha cabeça.<br /><br />Eu ia em direção para a cama e então eu ouvi o estralo da cadeira, quando eu virei... não consigo explicar o que era, eu apenas vi olhos me observando no escuro, olhos brilhantes me olhando fixamente, eu não conseguia nem piscar eu havia ficado paralisado de tanto medo que eu senti na hora, eu pensei em gritar mais tinha medo de que acontecer algo comigo.<br /><br />Eu pude ouvir a figura estranha cochichando pra mim: "Isso é apenas um sonho ruim", ela começou a se aproximar de mim e antes que eu pudesse correr, tudo ficou escuro eu acho que eu desmaiei de medo não sei ao certo o que tinha acontecido aquela hora.<br /><br />Hoje de manhã eu acordei na minha cama como se nada tivesse acontecido, porém, eu senti que havia algo na minha mão, ao abrir a minha mão eu me deparo com um papel, eu abri para ver o que tinha nele e estava escrito: "Aguarde" eu fiquei preocupado porque como eu teria um papel na mão se eu estava dormindo.<br /><br />Olhei para o despertador ja era 9:35 eu já estava atrasado pro trabalho, então eu corri e fui escovar os dentes e peguei uma maçã para comer no caminho, eu voltei para o meu quarto para pegar minha blusa já que estava muito frio aquele dia, e então eu lembrei do "sonho" que eu tive e foi ai que tudo se clareou na minha mente e então eu lembrei da frase: "Isso é apenas um sonho ruim" eu não consegui ver a face da criatura, essa noite eu estou com medo de dormir aqui novamente.<br /><div dir="auto" style="-webkit-font-smoothing: antialiased; border: 0px; color: inherit; font: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<br style="-webkit-font-smoothing: antialiased; background-color: white; color: #201f1e; font-family: "Segoe UI", "Segoe UI Web (West European)", "Segoe UI", -apple-system, BlinkMacSystemFont, Roboto, "Helvetica Neue", sans-serif; font-size: 15px;" /></div>
<b><span style="font-size: x-small;">Autor: Ivan</span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-78081026557767835722020-06-24T18:00:00.000-03:002020-06-24T18:00:06.042-03:00Não podemos saber o presente porque ele pode vir impiedosoAlgumas pessoas nascem para brilhar na vida, fazer sucesso e desfrutar de dezenas de companheiros, que não são falsos. Em outras ocasiões, existem outros que não têm nada na vida, além do pouco para sobreviver. Eu me encontro nesse pequeno grupo vivendo como parasita, apenas existindo e respirando. O meu próprio pai não conheci, algumas fotográficas presevavam o seu rosto dentro do pequeno baú. Lembro nos dias dos pais e ocasiões especiais que todos os companheiros do colégio levavam os seus progenitores, e eu era a única criança que não podia desfrutar desse conforto. A mamãe nunca falou sobre ele, esperou eu fazer idade suficiente para dizer que era apenas um drogado que morreu sobre o uso excessivo de cocaína. <br /><br />Na fase adulta, minha vida seguiu normalmente, como qualquer outro jovem da minha idade. Havia cursado a faculdade da região, fiz alguns parceiros e até consegui uma namorada, tão bela que eu não merecia tudo isso que ganhei em momentos bons da minha vida. A realidade é tão traiçoeira quanto o hamster nos olhos de um gato predador, nós sabemos que as coisas não são tão boas para quem tem a tendência a atrair energias ruins em seus caminhos.<br /><br />Começou parecendo mais uma madrugada despertando após um sonho desagradável, mas isso se repetiu dezenas de vezes. Consegui apoio dos meus poucos amigos enquanto não estava mais cochilando normalmente e parecendo cada vez como um cadáver caminhando exausto e cansado. O terapeuta perguntou como estava sendo meu relacionamento, e repliquei que bem. A minha namorada era perdidamente apaixonada por mim e fazia de tudo para me agradar. As perguntas do cara atrás da mesa foram para outras situações, mas em nenhuma delas eu estava vivendo uma vida desgastante, além dos sonhos que me acordavam gritando na madrugada, e minha mãe aparecendo na minha cama para perguntar o que estava havendo, enquanto eu controlava os verbos na minha boca sendo abraçados por soluços.<br /><br />Dentro de uma casa organizada, com gato deslizando em um pequeno amontoado de travesseiros, observava a minha namorada com o corpo nu, suas curvas atraentes mergulhando na banheira e pegando um pouco de shampoo com cheiro de hortelã. De forma majestosa, ouvindo um pequeno rádio, próximo das escovas de dente, sons de Nicolo Paganini. Seus braços brancos começam a espalhar outros aromas dentro da água. Relaxada, afunda um pouco o seu corpo, deixando apenas a região acima do pescoço... Submersa, durou alguns segundos até que a água ganha forma parecendo uma boca monstruosa e começa a mastigar o seu corpo, devorando a carne, enquanto eu posso sentir como se tivesse apreciando tudo ao seu lado e sem poder fazer nada! Cada pedaço fragmentado da sua estrutura física é esmagado e se misturando ao líquido na banheira que começa a transbordar. O seu felino aparece lambendo aquilo que sobrou com o tom rubro.<br /><br />Me encontrei em várias vezes, nos últimos dias, com os batimentos cardíacos machucando o meu peito, os joelhos na altura dos ombros e segurando apertado para tentar encontrar conforto, após mais uma vez sonhar com a mesma coisa e sempre parecendo tão real quanto a noite anterior. Os conselhos, tratamentos e medicamentos não foram suficientes quando finalmente o pesadelo se tornou real...<br /><br />A minha namorada não estava se sentindo bem com a minha situação, nunca disse para ela sobre os pesadelos que estava sofrendo. Porém, naquela situação, deveria ter mencionado algo. Em uma diversão como qualquer outra, Lacie, minha companheira, decidiu se aventurar com alguns companheiros em uma praia deserta e proibida por causa da falta de segurança. A notícia chegou quando eu finalmente estava descansando melhor, sabendo lidar com o infortúnio, a mensagem foi direta ao ponto, na região mais dolorosa do meu coração, quando disseram que ela foi atacada por tubarões e morreu enquanto surfava com os seus amigos.<br /><br />Não é fácil você perder alguém que realmente ama, nas redes sociais é muito simples colocar "luto" e fingir que realmente se importa, mas, quando os sentimentos são reais, não é bem assim. Sofri por muito tempo e, no meio do tormento particular, algo estava tendo espaço e inundando qualquer tipo de aflição que eu deveria estar passando, quando começaram a acontecer eventos estranhos em minha vida: começando com pesadelos, da mesma forma que ocorreu há uns meses, repetindo-se dezenas de vezes e torturando-me lentamente até que se tornassem reais.<br /><br />Demorei muito para perceber a situação horripilante que estava passando, era tudo tão evidente e acertando o meu nariz em socos que fui estúpido demais até acontecer com mais alguém próximo de mim. O meu irmão mais velho, o orgulho da família, servindo o exército dos Estados Unidos em combate contra os terroristas. No sonho, nós estávamos jantando na mesa: a mamãe, o meu futuro padrasto, eu e o meu irmão, tudo parece normal, até que encaro em sua direção e vejo Matt, o meu irmão, sem cabeça! O líquido vermelho saltando do seu pescoço e ele conversando como se nada tivesse acontecido, e eu afundando lentamente na cadeira vivendo um pânico particular.<br /><br />Esse pesadelo se repetiu nos últimos dias... era a mesma coisa, aquele jantar reunido a felicidade, os outros prazerosos e saboreando a mesa repleta de alimentos deliciosos. O meu irmão, ganhando atenção de todos por estar conosco, pintando todos os alimentos com seu sangue escapando do buraco em seu pescoço, e todos se alimentando do líquido da sua morte. Isso demorou por muito tempo, cada vez mais doendo e me machucando como se fosse a primeira vez e perfurando em todas as migalhas dos meus sentimentos. Mais uma vez, não disse para ninguém, jamais desejei ser o louco do local, mas a notícia chegou, e nós ficamos sabendo que Matt havia sido morto em uma missão, na qual algo atingiu a sua base e sua cabeça explodiu igual uma bexiga. Nós recebemos apenas um tronco, e o caixão ficou lacrado, a cerimônia foi rápida e o manto da morte pairou em cima de nosso lar.<br /><br />Quanto mais eu estava suportando a ansiedade dos ocorridos, mais aumentava os incidentes. O mais recente foi com meu companheiro de bebedeira, o cara que considerava melhor amigo, aquele tipo de gente que você sabe que nas horas exatas vai estar contigo. Nos pesadelos, Kenny estava em um parque, alimentando pombos, sentado em uma cadeira com os pés cruzados, e os pássaros cada vez mais aumentando para engolir as sementes de milho. Kenny estava sereno e bem-vestido, o lugar brilhava como um paraíso, e suas mãos jogavam cada vez mais alimento para os pombos. Logo, a beleza ganhou vislumbres sombrios e a atmosfera ficou tensa: as nuvens escureceram, o meu amigo se levantou do banco da praça, puxou sua camisa mostrando a região da sua barriga, e o seu corpo, em poucos minutos, foi ganhando tons vermelhos e começaram a sangrar até que o meu companheiro caiu morto no chão, e os pombos começaram a afligir o seu corpo com seus bicos incansavelmente... Acordando-me logo em seguida.<br /><br />Coisas de quando o homem não raciocinava... Depois disso e os cálculos mentais, que nenhum ser humano pode controlar, algo dominando sua mente, atormentando de todas as formas possíveis e de maneiras inexplicáveis. Em algumas delas parecendo fantasias em comédia, eu observei o meu cachorro dachshund aparecendo em meus sonhos esmagado e triturado com sangue escorrendo em seu corpo. Na naturalidade doentia de ser, pedaços de ossos saltavam por sua pele, e as marcas do pneu negras em seu corpo brincavam pelas causas da sua morte. Isso durou bem menos do que eu esperava, sua língua amorosa, alisando os meus pés, pareciam suficientes até a realidade ser concretizada. O meu dog fora atropelado, e observei o que sobrou de sua estrutura física, triturada pelo asfalto.<br /><br />A primeira vez durou meses, na segunda semanas e, nos outros ocorridos, envolvendo pessoas aleatórias no caminho do meu dia a dia, ficou por dias e agora foram horas. Eu estava pronto suficiente quando a notícia chegou que o meu companheiro Kenny havia sido brutalmente atacado, após resistir a um assalto em uma praça, contra alguns viciados e vagabundos. Antes da notícia que me deixaria despedaçado, ainda mais fragmentado e psicologicamente instável, antes da porra toda, nos últimos dois dias, eu já estava enxergando-o como um morto-vivo pronto para ser entregue ao destino, e a maldição se confirmou em meus presságios noturnos.<br /><br />Depois disso, as coisas não foram mais como antes, o tormento e a inquietação se tornaram em um verdadeiro inferno. Na televisão poderia ver pessoas mortas, na vida real e no meu caminho, sacos de carnes vivas prontos para morrerem. Suas identidades foram substituídas por um semblante apagado, apenas uma parede branca com desenhos surgindo em traços esqueléticos.<br /><br />Eu cada vez mais estava vendo a morte de todos, me sentia em um cemitério vivo, caminhando entre os mortos e falando com eles como se fizesse parte. Os remédios para dormir não duraram por muito tempo porque o meu corpo se tornou resistente e, no pico da degradação, acabei adormecendo... desmaiando por algumas horas: uma overdose, semelhante a do meu pai, penetrou o que restou de mim. Acordei e não queria que isso estivesse acontecido...<br /><br />As pessoas acham que quem está em coma ou adormecendo por algum inconveniente, não têm noção do que acontece com o seu cérebro ou esquece de tudo, no meu caso, não! Fiquei muitas vezes, em quantidades que eu não podia contar, sonhando com o mesmo ocorrido, envolvendo minha própria ruína em uma morte. No pesadelo, encontrava-me no lúgubre, dentro da minha casa, alguém abria a porta do meu quarto, e estava pronto para fazer qualquer tipo de coisa. A minha mãe aparecia, a visão se escurece por alguns segundos. Em mais um relance do tormento, eu estava tentando escapar, pressionando a maçaneta da porta e logo sendo golpeado, mas o meu corpo já estava ferido bem antes disso. Nas poucas lembranças da carnificina particular, caio, olho para trás e vejo minha genitora com suas mãos sangrando e segurando uma faca.<br /><br />Estive trancado na minha casa após receber alta, não falei com a minha mãe, a única pessoa que morava comigo, por muito tempo. Ignorei ao máximo que pude, e todas as suas tentativas de saber o porquê foram frustradas com a porta sendo fechada diante do seu rosto. A sensação de ataque foi aumentando com coisas pequenas pelo canto dos olhos, observando vultos se escondendo onde não havia ninguém, minha própria visão no espelho se movimentando contra minha vontade, enquanto os meus olhos estavam ocupados em outra direção. Desfrutava de uma certeza que a morte estava planejando algo contra mim.<br /><br />Usei todo tipo de coisa ilegal para não fechar os olhos, enquanto estava em cima da cama, cuspia palavras de baixo calão para qualquer um que ligasse ou batesse na minha porta. Foi nesse entardecer que senti a sensação de que algo iria acontecer com mais intensidade. Não como as outras vezes, agora toda a vitalidade do meu corpo estava escapando entre as paredes e um vazio tomou conta do meu mundo. Senti uma brisa fria aparecendo de lugares onde não existia nenhum tipo de contato com o mundo exterior e enxerguei a porta do meu quarto sendo aberta, a figura da minha mãe com sua roupa de dormir encarando-me.<br /><br />Ela se movimentou rapidamente, bem mais do que eu esperava. Recuei instintivamente, e ela se jogou em cima da cama como um animal de quatro pernas. A faca estava embaixo do meu travesseiro e acertei o seu corpo em quantidades que eu não podia controlar, mas suficiente para escapar. Fechei a porta do quarto atrás de mim, escorreguei logo depois para ouvi os seus passos sendo carregados em minha direção por uma segunda vez.<br /><br />Creio que não senti na primeira vez ou não percebi enquanto fui acertado dentro do meu quarto, mas algo estava ardendo nas minhas costas e coloquei a minha mão esquerda para trás para ver o sangue fresco. Em pedaços, me dirigi à porta de saída, um pouco tonto. Pressionei a maçaneta, e o ferrolho estava trancado, a chave não se encontrava no mesmo local de antes. No meio do tormento, algo me jogou contra a madeira em obstáculo, eu pude sentir como um soco, no entanto, bem mais doloroso, suficiente para roubar minhas forças. A reação do meu corpo foi para cuspir um líquido quente entre meus dentes.<br /><br />Contorci o meu pescoço dolorosamente na direção contrária. Igual o pesadelo, pude vê minha mãe com seus braços sangrando utilizando uma faca nos seus dedos, mas ela logo caiu em seguida, e o agressor estremeceu seus lábios em minha direção com os seus olhos penetrantes, o sorriso maléfico. Enquanto finalmente tudo estava roubando o que existia da minha vida, eu pude enxergar, por uma última vez, o meu pai segurando o machado...<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro </span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-50702956902937347902020-06-20T18:00:00.000-03:002020-06-20T18:00:07.730-03:00Visões de um crimeComecei a perder a visão logo no início da adolescência por conta de uma doença, que passou de gerações a gerações a algumas pessoas da nossa família. Demorou muito tempo, até que finalmente, após alguns anos, recebi a notícia de que iria fazer a tão esperada cirurgia de córnea. Fiquei muito feliz porque iria enxergar as coisas perfeitamente, pois já não conseguia distinguir o rosto da minha mãe, do meu pai, do meu irmão mais novo... Nem o rosto da minha namorada sei como está. Mesmo com problemas de visão, ela sempre estava comigo, ajudando-me e apoiando de todas as formas possíveis.<br /><br />No hospital, alguns minutos antes de começar a cirurgia, o médico falou que o homem que vai doar seus olhos tem quase a mesma idade. O doutor não falou nada além disso, então foi realizado o ato cirúrgico. Acordei depois de um pesadelo — um sonho estranho no qual vi um homem sendo espancado brutalmente. Chamei a minha namorada e esta me abraçou. Depois algumas horas, o médico tirou as ataduras do meu rosto: pude ver, mesmo que de forma embaçada, algumas coisas ao meu redor. Logo depois de algumas semanas, minha visão estava perfeita.<br /><br />Comecei a estudar e trabalhar para me sentir independente. A união com a minha namorada foi ficando mais sério ao ponto de eu querer me juntar a ela. Mas tinha algo estranho acontecendo... era um tipo de visão. Não eram sonhos; eram visões de um homem e uma mulher. Às vezes, tenho a mesma visão dele, sendo agredido e morto... acordo nessas horas e meus olhos começam a queimar. <div>
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Quando isso acontece, dói como se houvesse duas facas enfiadas em meu rosto.<br /><br />Depois de alguns meses, com a minha nova vida, não parava de pesquisar para tentar saber quem era a pessoa que me trouxe a visão de volta. Pelo tempo que estava enxergando, logo aprendi a mexer na Internet e consegui identificar o homem do qual eu tinha recebido o transplante. De acordo com as informações da Internet, nos dados de doadores da cidade, o doador mora a alguns quilômetros de minha casa. Queria muito visitar sua casa... saí com o carro, o veículo da minha namorada. Fazia algum tempo que ela não dirigia, desde aquela noite em que chegou tarde à casa da mamãe. Sei que tinha uma tempestade muito forte nesse dia; a minha namorada não disse o que aconteceu, mas sei que foi algo grave, tão grave que esta passou a rejeitar o próprio automóvel.<br /><br />Cheguei até a casa. Pensei em bater à porta para falar com alguém, mas fiquei apenas observando, pois faltou coragem. Quando estava saindo, uma velha olhou para mim e olhei de volta para ela. A vovó disse que reconheceu meu olhar... ela perguntou se eu queria alguma coisa, mas respondi que não, que apenas estava de passagem. Esta continua falando sobre os meus olhos. Eu disse que tinha feito uma cirurgia de transplante e queria dar um "oi" para um dos familiares do rapaz, de quem tinha recebido meus olhos. A velha mulher deu um sorriso e disse que se tratava de seu neto, o qual ela criava como um filho e que fora assassinado.<br /><br />Eu não queria incomodar nem reviver feridas passadas da velha, mas ela parecia querer conversar, então fiquei escutando. A vovó disse que antes de morrer, seu neto era apaixonado por uma garota e planejavam casar-se, mas numa noite, esta foi vítima de um acidente, deixando seu namorado louco, sem conseguir trabalhar nem continuar vivendo em paz sem a amada. Segundo suas palavras, o pior foi que a pessoa que atropelou a namorada de seu neto não prestou socorro e ela morreu afogada numa poça de água, que se formara naquela noite horrível de tempestade. A velha ainda disse que seu neto passou a viver em bares, arrumando brigas — e numa dessas brigas, acabou sendo espancado até a morte.<br /><br />Fiquei chocado com as palavras, pois tinha muitas visões de uma pessoa sendo agredida. Acho que se tratava do jovem do qual recebi o transplante de córnea. Perguntei se os responsáveis foram presos; a velha disse que não, pois eram afiliados de gangsters da região, um grupo de cinco jovens com pais perigosos. Ninguém se metia a enfrentá-los, nem mesmo a polícia. Saí do lugar, pálido e angustiado. Um olhar de choque se fez em meu rosto, pois eram informações demais em um só dia... e uma tragédia enorme, envolvendo alguém que fora responsável pela minha visão.<br /><br />Estou voltando do trabalho; é sábado, dia 29 de dezembro. Logo o ano vai acabar e vou poder assistir aos fogos de artifício, explodindo para um ano feliz a mim e à minha família. Parei o carro em um posto de gasolina para abastecer. Estava distraído, esperando o tanque ficar completo, quando vejo alguns rapazes passando com garrafas, vestidos como arruaceiros — grupos de gangues. Nesse momento, meus braços começaram a tremer e eu já não conseguia mais mexer o meu corpo. Comecei a ficar com frio e meus olhos foram ardendo, doendo o suficiente para que os fechasse... tive uma visão: vi aqueles garotos espancando um outro alguém até a morte. Era o alguém com quem ficara sonhando algumas noites atrás. Nesse momento, tive consciência de que os meus pesadelos se tornaram reais.<br /><br />Os meus olhos não param de doer. Depois que o tanque do carro finalmente encheu, encostei-me em uma garagem pública, com a cabeça no banco do carro, e apaguei...<br /><br />Desperto com o meu corpo doendo em várias partes e a mente girando como uma labirintite. Uma vontade de vomitar fica rodando na minha barriga e estou sentado ao chão, banhado de sangue. Aos poucos, minha visão vai deixando de ficar embaçada e noto corpos brutalmente assassinados: são aqueles rapazes. Pelo visto, eles foram espancados e esfaqueados. Há uma faca próxima aos meus pés. Saio do local e consigo entrar em meu carro; mesmo banhado de sangue, ninguém me notou. Volto para minha casa e algumas horas depois recebo notícias de que um grupo de jovens da região foi aniquilado em uma carnificina. Até o momento, a polícia trata tudo como uma briga de grupos rivais.<br /><br />Após essas mortes, passaram alguns meses e casei com a minha namorada, que disse que estava pronta para nós temos filhos. Nós estávamos muito felizes. Em um momento no qual estávamos conversando e falando sobre nossas vidas, ela disse que queria contar-me um segredo. Um segredo que guardou de mim... então, começou a falar que em uma certa noite estava chovendo muito. Ela queria muito chegar em casa. Num momento de distração, porém, atropelou uma mulher que atravessou a pista e o namorado desta foi morto meses depois, vítima de espancamento.<br /><br />Quando eu escuto essas palavras, os meus braços começam a tremer. Comecei a suar, minha visão foi escurecendo e os meus olhos não paravam de arder. Até que tudo ficou escuro...<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro </span></b></div>
Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-48795802399063224982020-06-18T18:00:00.000-03:002020-06-18T18:00:14.342-03:00A mudança é completaOlhos muito separados. Nariz grande demais. Cicatrizes de acne. Dentes tortos. Corpo magro e flácido. Todas essas características me renderam vários apelidos na adolescência, e consequentemente, uma baixa autoestima. Eu poderia dizer que precisar me olhar no espelho seria o ponto baixo do meu dia, mas isso nem se compara a ver o feed do Instagram, ou assistir minhas colegas de trabalho se maquiando no banheiro. Até outdoors me deixavam com um peso na alma, com seus rostos perfeitos e sorrisos alinhados.<div>
<br />Tais pensamentos deveriam desaparecer quando Jonas, um homem bonito e um dos jovens mais bem sucedidos do meu trabalho, me convidou para sair, mas, por Deus. Tudo só piorou. Mesmo depois dos inúmeros encontros, do pedido de namoro e do brilhante fio de ouro que envolvia meu dedo anelar, eu ainda me sentia indigna de estar com ele. Sentia minhas costas queimarem com os olhares maldosos dos nossos colegas, escutava cochichos e risadinhas quando estava com meu noivo. Todos pensavam a mesma coisa: ele é demais para ela. Olha que mulher feia, que magia negra ela fez para prender esse homem?</div>
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<br />Bem, eu não era a única da relação que me sentia insegura quanto a minha beleza, ou melhor, a minha falta dela. Jonas poderia me amar pelo o que sou por dentro, mas não era cego e nem bobo, sabia muito bem o que as pessoas falavam por trás. E o pior, ele se importava. Eu consegui ver o constrangimento estampado em seu rosto quando me apresentou para seus pais. Jonas nunca postou fotos nossas, e quando alguém que não me conhecia se aproximava, eu era apenas apresentada pelo nome, nunca era “essa é Elisa, minha noiva”.</div>
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<br />Dito tudo isso, tentei não ficar ofendida quando ele me disse que conheceu alguém. Não uma mulher, mas sim um homem, mais especificamente um cirurgião plástico. “Sem pós-operatório, em apenas um mês você será uma nova mulher. A mudança é completa”, prometia o anúncio mostrado por Jonas, que estava totalmente entusiasmado.</div>
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<br />No dia seguinte estávamos na sala de espera do Dr.Dario, somente nós dois e uma recepcionista deslumbrante que não deixei de invejar. Minutos depois sua voz monótona chamou meu nome e fui encaminhada para uma sala inteiramente branca. Dentro dela havia apenas uma espécie de balança digital e uma poltrona cheia de aparatos tecnológicos com um capacete estranho. Me lembrava um pouco uma cadeira elétrica.</div>
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<br />“Você precisa ficar totalmente nua, vamos tomar todas as medidas do seu corpo. A mudança é completa” uma voz masculina veio de um canto da sala, porém, não havia ninguém exceto eu. Me despi, tremendo com o frio do lugar climatizado e também com um medo repentino e quase instintivo que se abateu sobre mim. Sinais de alerta pipocaram em meu cérebro, mas permaneci onde estava.<br />A próxima instrução veio logo após minha última peça cair sobre meus pés, me dizendo para subir a balança. Me senti desconfortável ao imaginar que alguém estava me vendo de algum lugar e não pude deixar de cobrir minhas intimidades, mas não questionei a natureza das ordens. Eu passaria por qualquer coisa para melhorar minha aparência patética.</div>
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<br />Ao colocar os pés na balança os senti esquentar. Uma onda de calor subiu por todo meu corpo e as luzes na sala piscaram algumas vezes. No pequeno monitor do aparelho passaram vários números e logo percebi que não se tratava apenas do meu peso, mas sim de todos os valores correspondentes às minha medidas. Minutos depois a temperatura caiu e o monitor tornou a ficar vazio.</div>
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<br />“Pode colocar suas roupas e aguarde uma de nossas funcionárias para a coleta” proferiu a voz. Eu apenas obedeci cegamente, imaginando que a “coleta” seria feita naquela poltrona estranha. Depois de me vestir, me aproximei dela, a examinando e imaginando sua função.</div>
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<br />- Não toque em nada. – eu pulei de susto quando uma garota loira apareceu atrás de mim. Trajava vestes de enfermeira pornô, vestido curto, lábios vermelhos e decote avantajado. Arrastava um carrinho de bandeja coberto com pano branco. – Vim fazer a coleta.</div>
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<br />- E a poltrona? – perguntei, e a expressão dela ficou mais sombria.</div>
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<br />- É para a próxima etapa, daqui a um mês. – ela afastou o pano do carrinho e pude ver uma seringa, ampolas, garrote, algodão, álcool, um saco plástico e uma tesoura.</div>
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<br />Ela fez o processo básico de coleta de sangue: apalpou minhas veias, apertou o garrote em meu braço, desinfetou o local da punção e montou a seringa. Meu sangue encheu três ampolas e quando achei que estava acabado, a enfermeira habilmente cortou uma mecha do meu cabelo e depositou no saco plástico. Logo depois de vedá-lo, a mulher se retirou e disse que eu podia fazer o mesmo.</div>
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<br />Comentei com Jonas, com amigas, com meus familiares, e todos acharam muito estranho todo o procedimento, mas diziam que eu não podia reclamar, o que relutantemente concordei. Além de ficar linda ao final do processo, não era eu que ia pagar. “Você tem sorte de ter o Jonas”, disse minha mãe, e eu apenas assenti. Eu era mesmo muito sortuda.</div>
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<br />Um mês se passou com a lentidão de um conta-gotas, e lá estávamos, eu, Jonas e a recepcionista. Fui informada que o procedimento duraria um dia inteiro, e que depois que eu entrasse na sala meu noivo seria dispensado. Nada de acompanhantes. Fui chamada e recebi um beijo de Jonas.</div>
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<br />- Mal vejo a hora de ver você de novo. Não se preocupe, você ficará linda. – ele sussurrou enquanto nos despedíamos. Eu forcei um sorriso porque, no fundo do meu peito, eu sabia que só queria que Jonas pensasse que sou linda agora.</div>
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<br />Entrei na mesma sala de um mês atrás, mas agora tinha companhia. Duas enfermeiras, com aquele mesmo uniforme que qualquer um encontraria em um sexshop, e um senhor careca, alto e de jaleco, segurando um carrinho metálico coberto com um pano. Uma das mulheres segurava um bastão metálico e a outra uma bola de ferro.</div>
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<br />- Eu sou Dr.Dario. – ele se apresentou e reconheci a voz que ditava o que eu fazia na primeira vez que eu estive ali. Eu abri a boca para fazer o mesmo, mas Dario levantou um dedo e tocou meus lábios – Silêncio. Apenas tire a roupa.</div>
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<br />E mais uma vez obedeci sem questionar, porém bem mais constrangida do que da última vez. Uma terceira mulher (acho que não preciso mais dizer que todas ali eram perfeitas) apareceu apenas para recolher minhas vestes.</div>
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<br />Dario apontou para a poltrona e eu me sentei. Não pude deixar de me sentir como um cão adestrado, com um mestre sem afeto e que não parecia se importar com minha opinião. Ninguém me perguntou como eu gostaria de ficar, apenas disseram que seria mudança completa, e que ficaria linda, como se fosse um maldito veredito. Tão certo quanto o nascer e o se pôr do sol.</div>
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<br />Logo que me sentei, a poltrona se reclinou como um assento de carro. Senti um metal envolver meus meu braços, pescoço e barriga. Tentei mexê-los, mas todo esforço era em vão, até respirar era difícil. Somente minhas pernas estavam livres, mas essa liberdade durou pouco. Meus joelhos foram separados e minhas pernas foram abertas quase em um espacato. Logo todas as minhas juntas estavam imobilizadas.</div>
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<br />O fato de estar totalmente nua e em uma posição tão vulnerável e constrangedora me apavorou. Comecei a gritar para me soltarem, mas minha voz foi calada quando empurraram a bola de metal em minha boca. Engasguei com o objeto e com minha própria saliva, o que só fazia meu pânico aumentar. O bastão que uma das enfermeiras usava encostou em meu peito nu e senti uma onda de choque percorrer meu corpo.</div>
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<br />- Calma, Elisa. Você ficará perfeita. A mudança será completa, só precisamos de uma parte significante sua. Na verdade, é quase tudo o que torna essa sua casca imperfeita a Elisa, a noiva do Jonas. Não se preocupe, essa parte continuará viva, mas não aqui.</div>
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<br />Eu ouvi, porém não compreendi o que Dario disse. Tudo o que eu compreendia era minha dor, até ela simplesmente sumir quando o capacete foi colocado em mim. Era como se minha mente se separasse do corpo e eu levitasse. Logo minhas memórias do dia passaram diante dos meus olhos. E as memória de ontem. E da semana passada. Do mês passado. Do ano passado.</div>
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<br />Eu vi quando conheci Jonas. Eu vi quando minha vó morreu. Eu vi quando fui aceita no primeiro emprego. Eu vi as festas de faculdade as quais eu sempre estava no canto. Eu vi meus colegas de escola me chamando de “Garibalda”, igual a garota no seriado. Eu vi meu primeiro cachorro. Eu vi meu pai antes de nos deixar por uma nova família. Eu vi minha primeira queda de bicicleta. Eu vi as Barbies que eu tanto desejava ser. Eu vi tudo. E então as memórias pararam de girar na minha cabeça e eu retornei para a dor.</div>
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<br />- Está completo, senhor. – disse uma voz feminina. O capacete foi retirado.</div>
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E começou. Dario se colocou entre minhas pernas e abriu o jaleco, revelando sua nudez. Eu tentei chamar por socorro, implorar por clemência, mas a bola de metal me impedia. Só me restava a dor e choro. Senti grampos, agulhas, facas. Alicates puxaram meus dentes e dedos. O médico revezava seu membro e o bastão de choque para me ferir por dentro. A pele de todos os cantos do meu corpo foi esfolada, e eu já não poderia contemplar o resultado porque estava sem olhos. A serrote arrancou meio seio esquerdo e minha perna direita, e a furadeira traçava seu caminho tortuoso em minha costelas. Apenas o choque me acordava quando perdi sangue demais para estar consciente. Já não precisavam me silenciar, e então tiraram a esfera metálica um pouco antes de cortarem minha língua. </div>
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<br /></div>
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Rezei para cortarem também minha garganta, mas só o fizeram quando meu estômago estava aberto.<br /></div>
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E finalmente, o silêncio. </div>
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<br />...</div>
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<br />Eu acordei esperando sentir dor depois dos procedimentos estéticos – que não faço ideia de quais sejam – e sorri ao lembrar que não havia pós-operatório, então eu estava novinha em folha. Era como acordar de uma soneca a tarde, totalmente revigorada, e não de uma transformação que durou 24 horas. A minha cama era grande e confortável, e uma das paredes era revestida por um enorme espelho.</div>
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<br />Quase gritei ao ver a mulher perfeita que eu tinha me tornado. Removi a roupa da clínica para inspecionar inteiramente o trabalho feito. Não havia cicatrizes, nem cirúrgicas, nem de acne. Era tudo tão natural que, apesar do meus seios e glúteos estarem bem maiores e redondos, não parecia haver silicone abaixo da pele. Pelo reflexo do espelho notei um armário atrás de mim que continha um vestido novo ainda etiquetado, sapatos dentro de uma caixa perfumada e um pequeno ramalhete de rosas brancas com um bilhete.</div>
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<br />- Elisa Andrade? – uma voz feminina me assustou, e eu tentei cobrir meu corpo com as flores. Era a mesma enfermeira que coletou meu sangue e cabelo há um mês. Ela estava sorrindo. – A senhorita está bem? Podemos lhe dar seu almoço, ou você pode ir com o senhor Goulart.</div>
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<br />- Ah, o Jonas já está aqui? – perguntei, e ri com a ideia de que pela primeira vez alguém parecia estar sendo gentil comigo por aqui. A mulher disse “sim” para minha pergunta. – Então eu quero ir com ele. Essa roupa foi ele quem trouxe?</div>
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<br />- Cortesia do Dr.Dario. Vou dar licença para você se arrumar, estarei aqui na porta lhe aguardando. A propósito, meu nome é Clara.</div>
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<br />Quando terminei, a mulher me guiou por um corredor longo e escuro. Consegui ouvir vários choros femininos, vozes de mulheres adultas que soavam como as de bebês aprendendo a falar. Achei melhor não perguntar nada, até porque Clara parecia nervosa. Andava cada vez mais apressada e me puxava por uma das mãos. Minha mão livre envolvia as rosas e o bilhete.</div>
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<br />Atravessamos uma porta larga e paramos naquela mesma sala que estive dias atrás, quando era uma mulher muito distante da perfeição que me encontrava atualmente. Várias enfermeiras estavam ao redor de algo naquela poltrona que eu estava sentada ontem. Senti minhas pernas amolecerem ao ver que era um cadáver ser pernas, braço ou cabeça. As mãos enluvadas das mulheres separavam os órgãos do abdômen aberto.</div>
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<br />- Calma, querida. Em todo hospital há cadáveres, e este está sendo estudado. Dr.Dario é bem rigoroso com nosso treinamento. – pude ver lágrimas se formando no canto dos lindos olhos de Clara – Todas nós passamos... Por isso. Tudo pela perfeição.</div>
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<br />Antes que eu pudesse refletir sobre o que vi e ouvi, saímos da sala e fomos recebidas por Jonas. Seus braços me envolveram e nossos lábios se juntaram. Pela primeira vez vi que não havia vergonha pairando sobre ele enquanto os outros nos observavam juntos, e isso me deu uma mistura de tristeza pelo passado e satisfação pelo presente, enquanto ouvia elogios sendo sussurrados ao meu ouvido. Seus olhos foram direto às rosas que eu segurava e pode notar um pouco de ciúmes em sua expressão. Ficou tão óbvio que até Clara percebeu.</div>
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<br />- É apenas um mimo do meu chefe. Todas as pacientes recebem o mesmo. – depois de ouvir isso, a carranca de Jonas suavizou.</div>
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<br /></div>
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- Amor, vou acertar o pagamento com a recepcionista. Vá para o carro e me espere. – meu noivo me entregou as chaves e se voltou para o balcão, não sem antes me dar mais um beijo luxurioso. </div>
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<br />Estava tonta de amor e desejo quando cheguei ao carro. Sentei no banco do passageiro e lembrei de quando estive na poltrona antes de tudo apagar quando o capacete pousou sobre minha cabeça. Senti um arrepio no meu corpo, mas meu reflexo no retrovisor me pôs de volta a realidade. </div>
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<br />Um pouco antes de Jonas tomar seu lugar, um pouco antes de irmos para o apartamento novo o qual meu noivo pretendia transformar em nosso lar, um pouco antes do casamento maravilhoso e do nosso filho que, por sorte, é a cara de seu pai, lembrei do bilhete que acompanhava as flores. Pude examinar os presentes do Dr.Dario melhor, e quando abri o envelope eu pude sentir o cheiro.</div>
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<br />O cheiro de sangue.</div>
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<br />Digitais vermelhas tingiam o papel de carta retangular. O odor rançoso empesteou o veículo e minha cabeça girou. As manchas só não me assombraram mais do que as palavras escritas por Dario, e não deixei de escutar sua voz em minha cabeça... Para sempre.</div>
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<br />“Querida Srta.Andrade. </div>
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<br />Aprecie meu trabalho. Nosso trabalho. Eu cumpri minha promessa. Eu fiz a mudança. E a mudança é completa.”<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autora: Gabrielle Lima</span></b></div>
Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-87180078409766997512020-06-16T22:26:00.002-03:002020-06-16T22:26:11.442-03:00Já ouviu falar no Show de Manequins?Antes de falar sobre o que aconteceu naquela madrugada e as consequências do que ocorreu comigo até hoje, irei começar o meu relato do princípio, quando era ainda uma criança com o nariz escorrendo meleca e se divertindo com os colegas do passado. Foi uma dessas ocasiões, quando nós estávamos subindo em uma mangueira para roubar algumas frutas, que eu acabei escorregando, deslizando sem conseguir me apoiar em um dos troncos e caí de forma desajeitada.<br /><br />Não havia quebrado nenhum osso, muito menos me machucado de forma grave, mas, após aquele acidente, eu não conseguia mais dormir como antes. Os médicos falaram sobre um trauma na cabeça em uma região específica, que causou a minha insônia até hoje. Com certeza foi aí que tudo começou. Após alguns anos daquele incidente, eu já havia servido ao exército e estava podendo pagar meu próprio aluguel, ocupando alguns serviços meio bico, mas suficientes para uma grana. Mudando-me de uma casa para outra, fez com que eu pudesse ter o meu próprio lugar para descansar e comer.<br /><br />_____________________________<br /><br /><br />Esse dia seria como qualquer outro, ao conhecer um novo lar, novos vizinhos e um cheiro diferente no papel de parede mal desenhado. A propriedade, naqueles anos, guardava alguns móveis do ex-proprietário. As únicas coisas que eu precisava saber, quando paguei adiantado, era que não me preocuparia em conseguir uma mobília nova porque a falecida senhora, com muitos anos que viveu na residência, deixou alguns eletrodomésticos. Os seus filhos, sujeitos mal-encarados, alugaram por um preço bem atrativo. Era tudo que eu necessitava.<br /><br />Como eu não conseguia dormir, ficava a maior parte da madrugada perambulando dentro dos quartos e móveis, que eu habilitei. Isso se tornou uma rotina desgastante e monótona, no entanto, aprendi a lidar com isso enquanto bebia algo vagabundo e fumava cigarros paraguaios. Tudo era apenas mais um acessório, já que eu desenvolvi uma mania própria, utilizando os televisores e fazendo um joguinho particular com os canais em estática.<br /><br />Em outras ocasiões, eu estava sob o uso de álcool, mas não era suficiente para criar alucinações, já que aprendi a me adaptar e o meu corpo estava tão resistente quanto pedra sendo atingida por água no oceano. Naquela noite, com ventos sacudindo os telhados e janelas sem ferrolhos, batendo na parede sem cansar, que eu coloquei um cigarro entre os meus lábios, e ele ficou balançando para um lado e outro. A fumaça sendo consumida aos poucos sem, ao menos, eu dar um trago.<br /><br />Antes de mais nada, no meio do devaneio psicológico, decidi fuçar os cômodos da residência para encontrar, pelo menos, algum rádio ou televisor. Cambaleando como um morto vivo na madrugada, explorei vários troços e porcarias, para achar uma TV escondida embaixo de alguns cobertores sujos com poeiras e outras coisas marrons que eu não consegui identificar. Tratava-se de um aparelho de 14 polegadas, a cabo, bem antigo. Não pensei muito para ter em posse e dirigir para onde estava posicionado o sofá. Coloquei em cima de um móvel, que ficou devidamente assentado, como se pertencesse aquilo, mas foi retirado por alguém. A tomada no lugar certo e as ligações com a antena devidamente preparada, só precisava conectar e ligar.<br /><br />Pressionei o meu dedo no botão, exageradamente grande do aparelho, na parte direita. Um cheiro degradante de borracha queimada subiu, e imaginei que havia destruído o que restou daquele objeto, mas não. Naqueles segundos, imagens em estáticas começaram a ficar movimentando freneticamente, uma linha preta cortada de baixo para cima e um traço, ainda maior, no meio se movimentavam como uma dança. Animado e solitário naquela alvorada, pude perceber que o aparelho estava funcionando.<br /><br />Tentei me adaptar ao menu, todos os canais estavam fora do ar, e eu fiquei impressionado: havia 64 emissoras e nenhuma funcionando direito. Isso tudo parecia feito para mim, naqueles momentos, porque contribuiu em seu estado estático e borrado para o meu jogo particular. Costumava ficar pressionando no botão de sincronização para que os canais fossem correndo e encontrando os que estavam com área. Geralmente eram os mesmos, mas, antes disso, eu sintonizava no meu relógio de braço para o segundo em que pararia em seus intervalos aleatórios. Muitas vezes fora do ar, e isso contribuía para me deixar cansado e fazendo o tempo passar naquelas horas de vigília.<br /><br />Mas naquele dia não. Eu pude perceber, mesmo não funcionando devidamente, que algo foi colocado como favorito. O canal escolhido como preferido, sempre era selecionado no número zero. O local apresentava barulhos e imagens distorcidas, mas menos pior do que os outros. Nas ocasiões em que chegava no número 0, parecia que a TV iria sacudir.<br /><br />Antes que chegasse no destinatário, fui mudando, me aconchegando no sofá e saboreando o Whisky com pedras de gelo. O cigarro ainda continua dançando nos meus lábios. Pressionei meu polegar várias vezes no controle remoto de forma frustrada porque parou de funcionar: bruscamente o aparelho continuou no canal 0, nada mais estava funcionando, nem mesmo o botão bizarramente grande desligava. Então parei ali para terminar a madrugada com o chiado.<br /><br />Eu estava olhando para aquela tela ficando preta e, aos poucos, depois de alguns segundos, sem corresponder os meus comandos, a emissora foi ganhando imagens e ruídos familiares aparecendo ao fundo. Parece que demorei algum tempo refletindo e sendo entediado pela minha mente cansada, que as coisas foram ganhando proporções inusitadas. Como eu disse, estava aguardando o dia começar e tinha certeza que já havia ultrapassado às três horas da manhã. O canal foi ganhando formas, a estática desaparecendo rapidamente e mexericos de espectadores anunciaram um Top Show com uma cadeira no centro, uma plateia embaixo de uma câmera dando destaque para anunciar um possível apresentador, cortinas laranjas com alguns detalhes ondulados riscados.<br /><br />Logo em seguida alguém surgiu com algo no rosto, de forma exagerada e bem típico daqueles shows de auditório, uma apresentação bastante animada e agitando, deliberadamente acenava para o público. A câmera distante agora vai ser aproximado para mais perto de onde ele havia sentado. O esquisitão, aparentemente ao vivo, ficou observando a plateia frenética em aplausos e gritos de garotas e homens. Quando finalmente a câmera estava próxima do sujeito, eu pude vislumbrar que se tratava de alguém usando uma máscara bizarra semelhante a uma ave. Sua voz falha, levando os espectadores a loucura com algumas piadas em alemão que eu não entendia a maioria, mas a plateia explodia em gargalhadas. O pouco que compreendi, era de humor negro bem pesado com abusos, violência, mortes atuais para época e mais antigas.<br /><br />O apresentador, usando uma máscara assustadora, elegantemente bem-vestido, anunciava na sua linguagem que ia ficando cada vez mais difícil de compreender, mostrando uma tela grande com a projeção semelhante a um cinema. Em um local da parede, tinha destaque para figuras desenhadas e algumas imagens que, em todas as ocasiões, fazia a tela fica borrada do meu televisor. Mesmo dando uns tapas, não funcionava, e a interferência sempre incomodava nessas ocasiões. Não imagino o que se passava, creio eu que coisas típicas dessas opções de comédias ou algo que eu não poderia saber. O entretenimento, tão tarde da noite, parecia uma droga ao estourar o público da plateia em euforia e espanto. Depois das apresentações em algum tipo de projeção, aplausos duradores se divertiram.<br /><br />O que fez o meu sangue congelar e o corpo parar de responder os meus comandos naquele momento, como uma paralisia do sono, foi no instante que a câmera finalmente apontou para a plateia repleta de manequins sentados, com rostos virados para a direção devidamente colocados. O sujeito continuava com suas piadas no sotaque alemão, e as risadas eram expulsas das caricaturas de gente, com faces contorcidas, gargalhadas plastificadas, olhos abertos, atentos e brancos. Tudo causava um pavor em cada momento que eu enxergava uma nova caricatura humana mais horripilante do que a outra.<br /><br />As coisas foram ficando mais bizarras quando o apresentador ficava apontando o seu dedo para câmera e em direção da sua plateia. Os objetos sem vida, roubando aparência humana, claro que eles não respondiam, porém, atrás da visão da câmera, pareciam se divertirem, cochichar e murmurar um para o outro. Nos cortes dos seus diálogos e imagens do público sem vida, se comunicavam e, cada momento, eles pareciam mudar a posição e expressões faciais.<br /><br />Eu não controlava mais nada e o desespero ficou entalado na minha garganta, junto com o grito na minha boca. Seja lá o que ocorreu, demorou minutos, no entanto pareceu que o tempo escapou para outra realidade porque a madrugada estava demorando bem mais do que o habitual. Em um certo momento, uma mulher com roupa de enfermeira e usando uma máscara também semelhante a do apresentador, como uma ave negra com o bico longo e apenas dois buracos para mostrar os seus olhos, carregava uma mesa com rodinhas, repleta de objetos pontiagudos, facas cuidadosamente guardadas.<br /><br />Enquanto a mulher posicionava os objetos no centro do palco, se movimentando e fazendo o seu momento particular diante dos manequins, o apresentador foi se aproximando da câmera. Os seus braços agarraram nas duas direções e o televisor tremeu como terremoto, infelizmente a visão não ficou borrada como as outras vezes. Nesse momento, eu pude enxergar os seus olhos com veias no meio e encontrando a pupila. Sua maneira de movimentar muito rápido as íris atrás dos buracos da máscara, mostrando que, de maneira alguma, aquilo era um homem normal como os outros. Ele parecia penetrar através do vidro do televisor, vislumbrar meus olhos e senti o meu pânico.<br /><br />Demorou alguns momentos, balançando o seu corpo e encarando como se conseguisse me enxergar. O meu corpo doeu ainda mais e pareceu que concretos de cimento foram deslizados em cada membro porque tudo parecia insuportável e frio ao mesmo tempo. Ficou ainda pior quando ele disse o meu nome, antes de voltar para a sua posição.<br /><br />O gemido traiçoeiro mencionou as seguintes palavras: "chegou o melhor momento tão aguardado no show, Richard." — a malignidade surgiu em seus verbos e o sotaque não existia mais naqueles segundos.<br /><br />Quando finalmente eu pude enxergar o horror, os meus braços tremeram demais e o controle remoto, deslizou pelo suor aflito... O homem com a máscara de pássaro havia saído da visão da única câmera e voltou arrastando um manequim com os braços caídos de lado, as pernas moles e bem diferente dos demais porque ele não assustava, não carregava uma expressão de ódio no meio dos sorrisos plastificados, suas roupas eram como de uma princesa, cabelos cacheados, olhos azuis, maquiagem e sendo ainda mais real na sua fisionomia humana, quase que blasfemando para a realidade genuína.<br /><br />O lunático arremessou a caricatura no chão, apontou o seu dedo na direção da câmera mais uma vez e cochichou algo com malícia. Não sabia se era para eles ou para mim. O seu sotaque falho, saindo da máscara de pássaro, gaguejou para uma piada final... Socando suas coxas e sendo sufocado pelo seu próprio humor para finalizar o temor de sua apresentação.<br /><br />Enquanto ele tossia igual um doente de tuberculose, foi se arrastando, saindo por uma segunda vez do alcance da minha visão. A estranheza não acabava por aí já que trouxe o pesadelo naquele dilúculo com algo tenebroso e surreal: os manequins ganharam vida, levantaram da plateia e foram direto para mesa com as facas. Tomaram de posse os objetos, se movimentando lentamente e esfaquearam o manequim deitado no chão.<br /><br />Seus movimentos arrastados e excitados, acoitavam a caricatura humana de uma garota debruço. Isso é o de menos, a coisa que realmente causou loucura na minha mente foi porque ela expulsava gritos e sangrava como se fosse uma pessoa de verdade. Não pude acreditar na cena que estava enxergando, os outros manequins continuavam golpeando e penetrando sem parar, fazendo sua pele branca ficar com o tom acarminado de sangue.<br /><br />Essa cena durou mais do que minutos, pareceram uma eternidade até que, após o massacre, a multidão feroz retornaram para os seus assentos na plateia, arremessando as facas em volta do que sobrou da manequim destroçada. Voltei para minha realidade, como se eu estivesse presente naquela carnificina. Encontrava-me coberto com suor, aterrorizado, com medo e o meu coração bateu como tambor no meu peito, acelerado. Parecia que eu havia despertado de um pesadelo e ainda continuando nele.<br /><br />Tudo pareceu um vago sofrendo sem gritar. Nem podia mais ouvir os sussurros que ignorei desde o início, mas, no momento de brutalidade, pude perceber com mais clareza... parecia que em todo momento, desde o início da transmissão, vozes acompanhavam o chiado e representavam almas agonizantes na transmissão. Nesse vazio, não existia mais nenhum tipo de espetáculo... a plateia de manequins assassinos ficou silenciosa, o apresentador tinha sumido e apenas mostrando a sua mesa vazia com aquela gravura esquartejada adormecendo no chão de madeira.<br /><br />Nos segundos em que encontrava-me saboreando todo o mal do mundo, qualquer coisa ruim que já poderia enxergar e que ainda viria acontecer, o repugnante... utilizando a máscara de sempre, apareceu para visão das câmeras. Causando nós em seus verbos, que ficaram ainda mais piores em uma linguagem própria, ainda mais lunático e perverso, observando o sangue derramado e os pedaços desmembrados da manequim que foi bela, agora está horrível. O fim da tortura veio junto com o som da TV em estática. Os tons brancos anunciavam o fim do Top Show.<br /><br />Minha realidade voltou nos segundos em que o cigarro, na última brasa, queimou a minha perna esquerda. Despertei de um desvaneio, um sono alucinótico. Lembro-me das suas palavras tão frias, cruéis, vazias e impiedosa, seduzindo os telespectadores em geral com: "esse é o espetáculo dessa madrugada, estamos aguardando você mais uma vez". A televisão voltou a ficar sem sinal e logo desligando de forma automática. Desde esse dia, eu não consegui ficar mais acordado, pareceu uma cura para a insônia, mas, na verdade, era uma escapatória da minha alma porque eu não poderia mais permanecer nas madrugadas e muito menos com o televisor ligado em tal ocasião.<br /><br />O apresentador, usando a máscara de pássaro, ficaria satisfeito em me ver mais uma vez apreciando o seu espetáculo! Estou aqui nesse texto para saber se você já ouviu falar do Show com Manequins...?<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro </span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-28969928960240819022020-06-13T18:00:00.000-03:002020-06-13T18:00:01.421-03:00Super HeróisVocê conhece as histórias de origem dos super heróis? Superman, Batman, Homem-Aranha, entre tantos outros, todos tiveram seus pontos em partida. Os melhores e mais fortes super heróis tem uma coisa em comum em todas as suas histórias de origem: a perda. Sim! Todos passaram por um evento traumático onde perderam algo importante ou alguém próximo. <br /><br />Meu nome é Josh e é isso que eu quero. Quero ser um herói poderoso!<br />Para isso, preciso perder algo. Não importa o que seja, eu estou disposto a abrir mão! <br />Espero ansiosamente pelo dia que será escolhido para acontecer minha história de origem, eu sinto que está próximo. Perderei minha mãe? O país inteiro? O planeta inteiro? Não importa, só quero que aconteça. Independentemente da perda, o resultado será o mesmo: eu vou me tornar um super herói e ninguém vai mais zombar de mim.<div>
<br />Acabará a humilhação na escola. Acabará a sessão semanal com o psiquiatra chato. Acabará a reclamação do meu pai de que não aguenta mais um filho com tantos problemas. Acabará a dose de comprimidos todos os dias, quatro vezes por dia. Acabará o pesadelo com o bicho preto de todas as noites. Acabará o costume irritante de Tyler, meu irmão mais velho, de sempre roubar toda a atenção para si, com toda sua inteligência e normalidade. Eu te odeio Tyler, mas espero te odiar menos quando eu for um herói amado que você lamberá os pés.<br /><br />Hoje acordei com a sensação forte de que acontecerá. Será que é o início de um dos poderes que vou despertar? Clarividência? Ver o futuro? Que seja. </div>
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<br />Estamos aqui, toda a família reunida em um chatissimo show de teatro, o tipo de bobagem que meus pais adoram gastar rios de dinheiro. Adivinha quem viemos assistir? A pequena estrela da família Tyler, o menino de ouro. Lá está ele, interpretando o herói da história. Não me sentiria mal se aquele lustre arrebentasse e caísse na cabeça dele. Não pela história de origem, só por satisfação. A morte desse inseto em nada agregaria para minha história de herói, não me importo com ele, eu o odeio. <br /><br />Enfim acabou. Estamos saindo do teatro, mas está acontecendo algo lá fora... Um tumulto. <br />Começamos a ouvir disparos e gritaria. Fico animado. </div>
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<br />Meus pais tem a brilhante ideia de fugir por um beco. Sim! Sim papai! Vamos pelo beco escuro, eu já vi essa parte na história do Batman! </div>
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<br />Ao virarmos a esquina do beco, para a surpresa de absolutamente ninguém, havia um homem armado a espera.</div>
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<br />Rapidamente ele apontou a arma para nós e começou a falar um monte de baboseiras sobre desigualdade, julgamento e várias outras coisas que honestamente não fui capaz de ouvir pois estou feliz demais, em êxtase. Aqui ocorrerá minha história de origem. Esse vagabundo atirará em alguém e depois disso algo vai acontecer. </div>
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<br />Será que vou despertar um poder instantaneamente? Será que ele vai fugir e será uma história de vingança? Não sei, mas estou ansioso demais. </div>
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<br />Vamos, atire! Não aguento mais esperar!<br /><br />Ele aponta a arma para meu irmão e fico furioso. Se ele atirar no Tyler, nada vai acontecer. Por favor não.<br /><br />Ufa! Agora virou a arma para meu pai. Mas... Bom... Não tenho certeza se vai dar certo assim também. <br /><br />Estou tremendo... Ele agora está apontando a arma para minha mãe... Isso... Isso. Isso! Isso! Isso! Isso! Isso! Atire! Atire! Atire! Atire! Agora! <br />Eu a amo mais que tudo no mundo e só agora percebi, então é o alvo ideal. Atire, por favor! <br /><br />Mas espere, o que é isso? </div>
<div>
<br />Por um instante, consigo ver tudo em câmera lenta. Consigo ver que ele vai puxar o gatilho. É isso, vai acontecer. Mas calma... Tyler?! O que está fazendo?! Está se jogando na frente da mamãe?! Você vai estragar tudo seu desgraçado! Eu preciso impedi-lo. <br /><br />Não sei exatamente como, mas com extrema rapidez consigo empurrar Tyler de volta para seu lugar e em seguida ouço o disparo. Tudo volta a velocidade normal. Sinto um calor dentro de mim. É isso, meus poderes finalmente chegaram. <br /><br />Minhas pernas começam a falhar. <br />Sinto o calor escorrer pelas costas. <br />Caio no chão. <br />É claro que a bala me acertou. <br /><br />Que droga, eu sinto que estou perdendo a consciência. <br />Por que vocês estão parados aí olhando e chorando? Me ajudem, inferno! <br /><br />É o fim da linha pra mim.<br /> <br />A última coisa que consigo ver é Tyler correndo com raiva em direção ao criminoso. O homem dispara todas suas balas mas elas batem na pele de meu irmão e em seguida vão ao chão. <br /><br />Que merda Tyler... De novo não...</div>
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<br /></div>
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<b><span style="font-size: x-small;">Autor: Lucas Queiroz </span></b></div>
Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com30tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-47604074645858745412020-06-11T18:00:00.000-03:002020-06-11T18:00:09.080-03:00A garota mais bela do mundoEu abri a janela, era quando o sol estava se pondo. Desejava enxergar nos últimos minutos que a bola de fogo iria desaparecer. Mas algo me chamou atenção, uma coisa que esmagou e consumiu qualquer tipo de beleza da natureza... Foi uma garota caminhando, sozinha, no meio da pista, com seus longos cabelos ruivos deslizando de um lado para o outro na altura do bumbum. À sua pele era tão branca que parecia que estava brilhando, encontrando os últimos raios do sol. Então ela passou direto, não olhou na minha direção, mesmo assim conseguiu hipnotizar-me por alguns segundos.<br /><br />No dia seguinte, eu esperei no mesmo horário. Queria vislumbrar mais uma vez à sua fisionomia, os seus traços e a definição de paraíso respirando com carne e osso na terra. Não demorou muito para a moça passar mais uma vez, agora de carro. Então, ajeitou os seus cabelos para o lado, mostrando seu rosto e o seu pescoço tão atraente quanto qualquer tipo de desejo carnal que o homem sentiria por uma bela donzela. Eu não soube descrever o que eu estava sentindo, foram apenas alguns segundos até ela desaparecer. No entardecer posterior, mais uma vez mantive o mesmo hábito e ela não apareceu. Foi como se estivesse trocado a sua rota. Triste, caminhei para sair em busca e encontrá-la mais uma vez. Deu certo porque a vi novamente em um outro bairro. Com um vestido amarelo e uma fita enrolada na cintura, como se fosse um cinturão... caminhava distraída.<br /><br />Parecia uma obsessão, eu queria cada instante observar aquela mulher passeando nas ruas com o seu veículo e, às vezes, caminhando a pé. Foi uma dependência, um tipo de paixão, eu ansiava meramente olhar e apreciar... sendo mergulhado por aquele sentimento de prazer e fascínio, um tipo de desejo inexplicável para alguém que eu nunca, nem sequer, dei um "oi". Não passou uma semana, mas eu já estava sendo alertado por conta do louco maníaco perseguindo e matando jovens indefesos. Isso não foi um problema para mim, aliás, sempre fui um fantasma e ninguém nunca me notou mesmo. Eu conseguia esconder-me entre os carros, no meio dos arbustos... sendo parte das sombras dos postes de luz, apenas observando e apreciando.<br /><br />Da última vez foi quase difícil de encontrá-la, parecia que estava sentindo à minha presença, percebendo aquela velha figura de longe a perseguindo, um stalker doente era tudo isso que passava na minha cabeça. Naquele tempo, em uma das ruas que eu não conhecia, ela parou o carro e eu não captei que estava tão perto o suficiente para ver os seus olhos azuis no retrovisor do veículo me enxergando. Eu parei, fiquei sem saber o que fazer e tive certeza que estava olhando diretamente para mim. E fiquei abombado, em silêncio e sem conseguir me mexer. Foi mais ou menos dez segundos até disfarçar que estava entrando em uma casa, como se eu conhecesse os moradores. A maneira que eu mexi na maçaneta, parecia que estava com as chaves. Naquela circunstância, seu carro ligou mais uma vez, e ela foi embora. Talvez para o seu destino rotineiro, pois poderia ser apenas uma moça entediada e querendo caminhar nas ruas como algumas pessoas fazem quando estão de saco cheio do trampo ou da sua própria família.<br /><br />O meu comportamento estranho foi suficiente para garota desaparecer completamente. Eu não consegui encontrar em mais nenhum dos bairros próximos da minha residência, parecia que sumiu do mapa e ninguém nunca ouviu falar da tal ruiva que eu estava tentando descrever. Imaginei que fosse uma loucura na minha cabeça, mas, no período da noite, eu a vi mais uma vez. Parecia que, dessa vez, foi ela quem veio ao meu encontro, quando passou com o seu carro tão distraída... Aparentemente não me notou, e eu a contemplei. Senti aquele mesmo desejo de perseguir por algumas horas. Então, ela continua caminhando com seu veículo em velocidade baixa, o suficiente para me esconder em alguns lugares e à acompanhar.<br /><br />Eu já havia passado dos limites no meu desejo diabólico, não estava mais medindo as minhas atitudes e fiquei perto o suficiente. Esse início da noite estava tão grudado no seu veículo, que parecia que estava dentro. Devorando o seu corpo com os meus olhos e sentindo o meu coração batendo cada vez mais forte, quase que expressando o som de batida abafada. O seu automóvel parou, quase não dava para perceber o momento em que os pneus ficavam em descanso, pois, a velocidade que ela sempre dirigiu era quase que lento demais, bem abaixo da velocidade padrão. Então, pegou um perfume, ajeitou o vidro do carro e borrifou algumas vezes no pano. Eu aproximei-me mais, agachando o meu corpo e escondendo-me em algumas latas. A nossa distância era quase que no mesmo espaço. Naqueles segundos, foi onde tudo aconteceu...<br /><br />Os passos foram controlados como marionetes, atraídos pela beleza da moça distraída no espelho retrovisor. Não demorou muito para perceber o homem estranho a encarando. Eu não soube o que dizer, muito menos o que fazer, apenas fiquei contemplando. Abaixou o vidro do carro quase que automaticamente, e foi o suficiente para que o homem estranho, na porta do automóvel, entrasse como uma besta irracional das suas atitudes. Nos mesmos segundos, uma luta dentro do automóvel balanço algumas vezes até que o corpo caiu desmaiado.<br /><br />A localidade era pouca movimentada porque as únicas almas vivas que apareciam nesse lugar era, claramente, vagabundos e viciados. Fiquei fascinado como a sua pele pálida transformando-se em um tom vermelha e algumas marcas da luta deixaram aquele corpo frágil possuindo agora hematomas rosas. Estava sentindo que logo alguém apareceria, então o corpo foi guardado no porta-malas, ela saiu dirigindo mais uma noite, como se nada tivesse acontecido.<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro </span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-64047955578798536862020-06-10T18:50:00.000-03:002020-06-10T18:50:06.770-03:00Coisas da vidaOlha, não curto muito esse tipo de coisa, mas quando me falaram que eu teria uma experiência completamente inédita, diferente de tudo que poderia imaginar, eu tive que aceitar. <div>
<br />Minha vida sempre foi bem miserável sabe? Eu PRECISAVA de alguma emoção, qualquer coisa que fizesse sentir VIVA realmente. Saí de casa com uns 16 anos, na primeira oportunidade que tive, meus pais eram insuportáveis e eu não podia aguentar aquele tipo de coisa. Basicamente eles (meu pai e minha mãe JUNTOS) abusavam de mim constantemente e eu não tinha a quem recorrer, na verdade eu não tinha muita noção de como pedir por ajuda. Enfim, consegui fugir, anos depois voltei e cravei um cano de ferro do ânus de cada um, foi lindo, mas faltava alguma coisa.<div>
<br />Voltando... Um amigo chegou pra mim e disse que uma empresa estava realizando testes clandestinamente e precisava de umas 60 cobaias, ele me garantiu que era uma droga nova que a indústria farmacêutica desenvolveu na surdina, mas ele sempre foi louco por conspirações então não coloquei muita fé, mas aceitei participar de qualquer forma.</div>
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<br />Tínhamos combinado que ele viria me buscar, me surpreendi bastante quando vi ele chegando com uma van lotada com aproximadamente 8 pessoas sobrando apenas um único lugar, para mim é claro.<br />Isso me lembra uma vez que me enfiaram no porta-malas cheio de bonecas de pano quando eu tinha 7 anos, era meu aniversário, meus pais disseram que iriam me fazer uma surpresa e por isso eu não pude viajar no banco de trás. Quando chegamos lá, meus olhos arderam com a claridade, mas quando senti a areia sob meus pés percebi que estava na praia e era absurdamente linda, mas estava vazia porque fomos no inverno, mesmo assim eu me animei muito. Minha mãe me levou para nadar e a água estava fria como gelo, tanto que meus ossos doíam, quando eu quis voltar pra areia ela segurou meu pescoço debaixo d'água, meus pulmões queimavam, olhos e narinas também, não sei quanto tempo fiquei lá, mas tudo ficou turvo e não consegui enxergar mais nada. Horas depois acordei em casa, apesar da minha mãe ser enfermeira, ela era uma mulher horrível que não se importava com as pessoas e, sempre me machucou muito.</div>
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<br />Desculpe, meus devaneios sempre foram muito frequentes. </div>
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<br />Depois do que pareceu horas chegamos em um prédio enorme e muito bem conservado, quando Gregório (o amigo conspiracionista) estacionou, fomos logo recebidos por uma mulher de jaleco segurando uma prancheta que se apresentou como Rosana, parecia muito simpática e exalava uma aura de confiança, novamente para minha surpresa, ela já sabia nossos nomes e idades, confesso que me assustou um pouco. Rosana nos guiou para o subsolo do prédio, onde seriam realizados os testes e eu tenho que dizer, o prédio é simplesmente magnífico tanto dentro, quanto fora, mas tem um pequeno detalhe: depois de adentrarmos o subsolo, logo percebi que as salas eram como "caixas" de vidro blindado e em TODAS pelas quais passamos tinham cerca de cinco pessoas, completamente imóveis e sentadas, algumas salas estavam sujas de sangue no chão e nas paredes, mas em nenhuma delas haviam pessoas fazendo qualquer outra coisa além do estado catatônico em que se encontravam e, foi nesse ponto que eu comecei a me assustar de verdade. Sabe aqueles momentos de pura angústia quando seu pai ou sua mãe te ameaçam dizendo que vão queimar seus olhos com uma faca quente ou quando te fazem comer a areia do gato só porque você não foi uma boa menina? Então, fora mais ou menos assim que eu me senti naquele momento e ninguém poderia tirar aquilo de mim. Por que estavam todos parados? O que estava acontecendo ali? Era o que eu me perguntava. A única coisa que mexia comigo de verdade era aquele catatonismo.</div>
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<br />O que se seguiu quando chegamos a nossa sala não foi nada muito assustador, quer dizer, Rosana pediu para nos sentarmos e nos deu uma pílula metade roxa metade vermelha.<br /><br />OBS.: Neste ponto, eu já não via mais Gregório, meu pequeno grupo e eu entramos na primeira sala vazia que apareceu, então para onde ele foi? Achei que também fosse participar.<br /><br />Bem, depois disso não recebi outras instruções senão "tome a pílula e se acomode", nada mais.<br />Eu tomei e me acomodei, os primeiros minutos (ou talvez horas) foram absolutamente nada, mas os efeitos chegaram pouco sutis, com uma leve tontura... <br />Olhe só a sala está vermelha... Será o sangue de alguém? Ou será que pintaram? Mas se pintaram, por que vermelho? Me lembra sangue e sangue lembra meus pais. <br />Xiu! A sala parou de girar. <br /><br />- "Quem parou de girar?" <br /><br />- "É mesmo... Quem?" <br /><br />- "EEI! não gire o cano no rabo do seu pai!"<br /><br />- " Ah que pena, já acabei hehehehe"<br /><br />- "A sala parou de girar, Sofia."<br /><br />- "Do que adianta a sala parar de girar se os malditos cachorros na calam a boca!"<br /><br />Acho que não estou me sentindo bem... Isso me lembra da vez que meu pai e os amigos dele me fizeram usar drogas, não lembro quais, mas foi uma tragédia, daquelas que te abusam com um porno de palhaço reproduzindo na televisão por horas, daquelas que sua mãe te espanca porque acha que você está seduzindo o próprio pai... Sinceramente, o mar é realmente lindo! Eu sinto a areia, a brisa e os corpos sob meus pés. Sento-me num banco para observar a bela vista, mas sou interrompida por uma cabeça...<br /><br />- "Você não se envergonha, Sofia?"<br /><br />- "De quê?" Suspiro.<br /><br />- "De tudo! De sua vida miserável, das pessoas que matou, dos seus irmãos de te abandonaram... Você pensou em fazer algo realmente bom? Quer dizer, eu entendo que sua infância foi difícil, mas e se você fizer algo bom pelo menos uma vez na sua vida, hm?"<br /><br />- "Primeiro, não, não me envorgonho nem me arrependo. Segundo, você não entende porra nenhuma, eu não sirvo pra fazer coisas boas, eu sirvo apenas para causar sofrimento."<br /><br />- "Isso é o que seus pais querem que você pense." Disse a sem-corpo, piscando pra mim... Repugnante.<br /><br />- "Que se foda meus pais, eles estão mortos e adivinha só! Eu os matei. Não quero saber se é justo ou não, muito menos se é bom. Se tivesse outra chance eu faria pior."<br /><br />- "A sala está girando, Sofia."<br /><br />- "Cala a boca!"<br /><br />- "A SALA VAI CAIR, SOFIA! ELA ESTÁ GIRANDO! GIRANDO COMO UMA ESPIRAL DO INFERNO, SOFIA!!! UMA MALDITA ESPIRAL DO INFERNO!"<br /><br />- "CALA A BOCA, SUA CABEÇA MALDITA OU EU CORTO SUA LÍNGUA IMUNDA!"<br /><br />Eu volto pra sala. Acho que vou vomitar... Eu preciso sair daqui. Eu preciso sair... <br /><br />- " Você. Não. Pode. Sair. HAHAHAHAHA que pena"<br /><br />Diz a figura humanoide totalmente preta sorrindo pra mim e ela me enche de pavor, eu estremeço até os ossos com cada sílaba que sai de sua boca asquerosa.<br /><br />- "Sabe, Sofia..." Começa meu cachorro "a sala está girando loucamente e você morrerá como numa centrífuga hauhauaha coitadinha, vai morrer igual uma putinha"<br /><br />- " AHHHHHH CALE A BOCA" eu pego um martelo e esmago a cabeça dele, quero ver esse cachorro me perturbar agora.<br /><br />Eu sinto que estou girando lentamente, sinto meu corpo derretendo e então ele volta a sua forma original, vira estática e volta a sua forma original, derreto novamente e transformo-me numa jujuba e volto a forma original e então subitamente eu apago. Tenho que dizer, essa foi a pior experiência da minha vida. Nunca deveria ter dado ouvidos ao Gregório.<br />Quando acordo, vejo que não estou mais na sala, agora eu me encontro numa cama macia, me levanto e vejo Gregório sentado a minha frente de jaleco, escrevendo na prancheta.<br /><br />- "Ah bom dia, Sofia. Como você se sente?" <br /><br />- "Bom dia? O que você tá achando que é? Um doutorzinho? Achei que você fosse um drogado de sarjeta, mas não... Me arrastou pra essa porra!"<br /><br />- "Bem, tecnicamente eu sou doutor, mas não o que você imagina hehe. E você veio livre e espontânea vontade, eu disse que seria inédito, não bom."<br /><br />- "Aquilo foi real?"<br /><br />- "Sim e não. Seu cérebro recebeu todos os impulsos necessários pra fazer da experiência palpável, porém seu corpo não mexeu um músculo. O que minha equipe está desenvolvendo é uma substância que proporciona —————— chamada N,N-dimetiltriptamina que ——————— e ————————— ixa de letalidade é ——————— um —————————————————————————<br /><br />Sinto o quarto girar. Vejo o Gregório derretendo. Encaro-o.<br /><br />- "Ei, ———— você está ———— "<br /><br />- "Que?"<br /><br />- " ————— "<br /><br />- " Eu não-" apago novamente.<br /><br />Dessa vez eu acordo na sala de vidro, ela está vazia. Minha cabeça começa a girar, literalmente. Socorro! Minha cabeça está girando, como isso é possível?! SOCORRO! A sala gira pra esquerda, minha cabeça gira pra direita. Meu Deus.<br /><br />Eu apago...<br /><br />Acordo na praia cheia de corpos, areia vermelha, mar vermelho. Os corpos levantam a uns 2 metros do chão, todos eles... Ahhh não... Eles pendem como se pendurados pelo tronco e começam a girar, muito, mas MUITO rápido. Meu corpo gira, minha cabeça não. A porra da minha cabeça está imóvel enquanto meu corpo gira.<br /><br />Eu apago.<br /><br /><b><span style="font-size: x-small;">Autor: Koolt</span></b></div>
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Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-58389015811896161072020-06-06T18:00:00.000-03:002020-06-06T18:00:05.283-03:00Vozes do AlémTudo começou a dar certo na minha vida quando finalmente comprei um lugar que eu poderia descansar feliz com a minha amada, que logo depois me surpreendeu com a notícia de que estava grávida do nosso primeiro filho. Os dias foram uma maravilha enquanto nós estávamos com dezenas de planos para o futuro e, no momento em que o meu filho estava prestes a nascer, eu consegui transferência para trabalhar em um lugar próximo do imóvel o qual comprei há alguns meses. Tinha tudo para dar certo, a animação nos controlou e o amor deixava a estrada chuvosa e cheia de neblina como um arco-íris, mas a rodovia era perigosa e a chuva ilusória. Acabei abusando da velocidade mínima e a curva chegou traiçoeira. O outro carro ultrapassou a sua faixa e nos encontrou...<br />
<br />
Senti uma sensação de perigo iminente, aquele desejo de abrir os olhos custe o que custar, e observei algumas pessoas do SAMU me conduzindo para dentro do que aparentemente era um hospital. Tentei me mexer, e um dos homens colocou sua mão no meu peito, pedindo para que eu ficasse quieto, pois não sabia se eu havia fraturado algum osso. As memórias estão fumaçando no meu passado, tentando desenhar o que aconteceu e onde estava. Não adiantava de nada, o meu corpo todo doía e as luzes foram ficando mais claras, ao decorrer que a maca atravessa os corredores e, finalmente, me entreguei.<br />
<br />
Ainda pude saborear o gosto de ferro na minha língua ressecada, nos segundos em que despertei. A sensação nauseante e a deformidade da minha visão foi moldando aos poucos uma enfermeira cuidando de alguns objetos em cima da estante. A moça se assustou quando eu perguntei onde estava e olhou na minha direção, aproximou e mexeu no meu corpo e, mais uma vez, indaguei para saber o que estava acontecendo. Então, imediatamente, seus lábios tremeram de forma hesitante e disse que iria chamar o médico.<br />
<br />
O sujeito perguntou se eu estava bem, e eu assenti com a cabeça. A enfermeira estava me observando também, e eu não precisei ouvir mais nada... enquanto a fumaça finalmente ganhou a forma daquela noite: a tempestade, a estrada, o carro traiçoeiro e o apagão na minha mente. Mesmo antes da pior notícia chegar, depois dos seus papos clínicos, eu comecei a chorar. O cara, com sua roupa toda branca, foi explicando que eu havia ficado quase um dia e meio desacordado, o meu corpo não sofreu nenhum ferimento grave, mas a minha esposa, por sua vez, não teve tanta sorte. Ela não sobreviveu, e a criança estava morta, todos acharam melhor que o nosso bebê fosse enterrado junto com a mãe para, assim, o espírito descansar em paz.<br />
<br />
Chego em casa, vou abrindo a porta e observando todos os móveis cobertos como fantasmas por lençóis brancos. O vazio e o silêncio são impiedosos do lugar. Ponho a chave em cima da cadeira e, logo em seguida, desabo em soluços por tudo que aconteceu, sentindo-me culpado e ainda sendo mais deteriorado por nem ter participado do velório da minha própria esposa, a qual eu matei! Fui direto para o chuveiro, arrancando as minhas roupas com unhas e dentes, jogando-me embaixo do chuveiro com os braços na parede e a cabeça escondida entre os meus ombros.<br />
<br />
O vapor quente da água começa a me sufocar e o som das gotas dominam o water-closet, até que, enquanto os meus olhos estão fechados, batidas, em todos os lados, nas paredes, no teto e no chão, me despertam e eu vejo o meu corpo vermelho como sangue. Aterrorizado, vislumbro o chuveiro se tornar uma cachoeira congestionada pela repugnância, começo a escapar, derrubando algumas coisas e agarrando a toalha de banho. Em frenesia, passo o pano no meu rosto para perceber que está tudo normal.<br />
<br />
Ainda agitado pelo ocorrido, seja lá o que foi que houve, talvez seja alguma consequência do trauma que passei. Não demora muito para ir direto ao meu leito, depois de enxugar o meu corpo e remover cada líquido. Nem precisei comer nada, porque a minha consciência não deixaria que tentasse ocupar o vazio no meu estômago. Em poucos minutos, acreditando que finalmente descansaria, aquele estrépito ressurgiu. Agora com arranhões e a cama tremendo. Fiquei assustado e, ao me virar para ligar o abajur, apreciei Kate Austen, a minha esposa, próxima dos meus pés. Estava claramente desesperada, e sua alma atormentada repete várias vezes as seguintes palavras:<br />
<br />
"O salve antes que seja tarde demais! Por favor, faça alguma coisa!"<br />
<br />
Fico apavorado, minha respiração se torna pesada e difícil. Nos instantes em que finalmente consigo ligar o abajur, próximo à minha cama, meu quarto não tinha nada. Qualquer tipo de intenção de descanso ou sono desapareceram naqueles minutos. Levanto da cama para tentar acalmar a minha mente e minha respiração estava cada vez mais pesada. Sabia que precisava tomar um pouco de ar fresco e fui direto para a varanda, sentando-me na cadeira de balanço. Depois de muito ofegar, comecei a recuperar o domínio dos meus pulmões, mas algo me surpreende mais uma vez, o som do rádio, vindo da sala, e eu nem havia ligado o aparelho, tomou o manejo da situação.<br />
<br />
Enquanto os meus andares delicados se aproximam... os ruídos, nesse momento em estática, vão se transformando em sons semelhantes aos tormentos de um bebê chorando, uma criança rouca e, aparentemente, desesperada. Claramente estou ficando louco, ainda mais quando tento desligar o aparelho e percebo que não está respondendo e muito menos conectado à tomada da energia.<br />
<br />
Começo a questionar minha sanidade e parece que tudo está derretendo minha mente por um pavor traiçoeiro. Tento fugir, mais uma vez pela porta, sinto um calafrio e a temperatura bruscamente baixando no meu cômodo. Saindo do nada, alguém me agarra, pressionando-me contra a parede, enrugando a gola da minha camisa e dizendo que eu preciso ajudar alguém. É a minha esposa falecida, com aparência semelhante à morte, seus olhos esmarridos, a pele azulada e um cheiro degradante de algo que não deveria estar aqui. Peço desculpa por tudo que eu fiz, dizendo que não foi minha culpa e o quanto eu sinto muito, sem querer olhar mais uma vez em seus olhos. Ela, finalmente, desaparece e eu me vejo pressionando meu próprio pescoço com as minhas mãos lunáticas.<br />
<br />
Eu mal saí do hospital e não estou bem! A comida não tem o mesmo gosto e, todas às vezes que eu fecho os meus olhos, vejo a minha falecida esposa sendo desenhada por fumaças brancas no negrume, desesperada, agoniada, em um lugar apertado e escuro. A criança chora preenchendo todo o vazio com os seus suspiros, até que os meus olhos se abrem nos segundos em que eu imagino consegui apagar na exaustão. Percebo que não consigo mais fazer nada além de ser atormentado por isso.<br />
<br />
Quando finalmente reparei os raios do sol aparecendo pelas janelas, as minhas têmporas doeram pelo contato. Fui à farmácia mais próxima e comprei remédios para tentar descansar minha mente em um sono infinito. Ao empurrar a quantidade demasiada na minha garganta e preencher com um copo com água, o meu organismo tratava de expulsar. Não importava quantas vezes eu fazia, parecia que algo estava possuindo o meu corpo. Depois de pujar várias vezes, na intenção de acabar com isso, jogo-me na cama e não existe nada além do silêncio, o meu tormento e a minha cabeça.<br />
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Os momentos em que tudo fica calado o suficiente, minha cabeça neutralizando a angústia, é quando ela surge! O seu corpo em estado de decomposição, Kate repetindo, enquanto se aproxima, rastejando e machucando cada centímetro em que encosta na minha pele, as seguintes palavras:<br />
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"Ele precisa da sua ajuda, a chuva vai voltar mais uma vez! Você precisa ajudá-lo!" - mais uma vez, peço desculpas por tudo que eu fiz, por ter lhe matado e ceifado a vida da nossa criança,como o pior monstro de todos. Seu comportamento espectral fica ainda mais desesperado com as minhas súplicas. Irritada, deu tapas no meu rosto e continuou repetindo as sentenças torturantes. No entanto, dessa vez, no momento de sofrimento, suplicou para que eu cavasse onde estava escondida.<br />
<br />
O tempo parou, e enquanto eu estava ouvindo o desespero da falecida, os gritos de uma criança me atormentavam, minha cabeça latejando, sangue escorrendo pelas paredes, batidas em todas as direções e, finalmente, eu cuspi em um berro desesperado para que parassem, para que eu, de alguma forma, pudesse lhe encarar e enxergar o crime que eu fiz. Fui à garagem e peguei uma pá, já estava escuro e tarde da noite, ninguém viu quando entrei no cemitério e encontrei o coveiro dormindo, agarrado com uma garrafa de vinho, e comecei a cavar na sepultura da minha tão amada Kate.<br />
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Tão poucas horas que ela me deixou, e a chuva aparecendo de repente fez tudo voltar para o passado. Eu não tive coragem de vir aqui e preciso finalmente encarar o meu crime. Dominado pela brutalidade e a psicose, não conseguia controlar os meus braços enquanto enfiava a pá, golpeava com o meu pé descalço e jogava nas minhas costas um monte de terra. Quanto mais me aproximava da madeira do seu leito, ouvia um choro de criança, atormentando-me e pressionando a minha mente, ao esmagar da sua forma cruel de ser na lamentação da morte.<br />
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Finalmente chego na madeira, já que senti a pá socando algo sólido. Gargalhei muitas vezes, de fato, por ouvir o meu castigo no coro infantil. Sem controlar os meus extintos, coloco os dedos, quebrando as unhas na adrenalina primata e monstruosa. Abro o caixão, enxergando o corpo da minha falecida em uma expressão de angústia: cabelos cuidadosamente jogados nos dois lados, veias com tom verde, deslizando nas suas curvas, os seus braços em formato de x, acima do estômago e, no meio, há uma criança ainda respirando, os seus lábios próximos dos seus seios e severamente desnutrida. Sou surpreendido por meu filho vivo, olhos fechados, fraco demais, o tenho em meus braços e saio do cemitério. Antes de colocar o meu último pé para fora, posso apreciar o espírito da minha falecida esposa agora feliz.<br />
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<b><span style="font-size: x-small;">Autor: Sinistro</span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-8070543709247737010.post-49513584929114323792020-06-04T18:00:00.000-03:002020-06-04T18:00:00.509-03:00Sussurros na Escuridão (Parte 2)Na noite que aconteceu eu tinha ido dormir um pouco tarde demais e já estava grogue, tinha tomado uns copos da bebida mais barata que achei no mercado, copos não, talvez uma garrafa toda, ou seja, meu estado não estava lá dos melhores, mas eu nem ligava, era feriado no dia seguinte por isso só curti o momento. Quem me visse iria achar que eu estava sofrendo por alguma desilusão, logo eu. Quando finalmente deitei o “sonho” não demorou muito para aparecer.<br />
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Eu estava em pé em frente a porta ao apartamento do lado, a porta estampava o mesmo número 10 prateado, mas parecia corroído, como se muitos anos tivessem passado por ela, mesmo que o prédio fosse consideravelmente novo. Senti vontade de bater, mas nem precisei fazer, ela simplesmente se abriu, revelando uma dona Silvia triste e cabisbaixa que sustentava a voz em um tom tão baixo que parecia até sussurrar, muito diferente das risadas que se ouviam porta a fora quando a mulher estava a assistir um seriado qualquer.<br />
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Para a minha surpresa o apartamento também estava mudado, me peguei observando-o, os tempos que passaram pela porta pareciam ter tomado todo o interior, janelas, móveis e decorações. Como posso ser mais claro? Parecia abandonado. Teias de aranha se emaranhavam no encontro da mobília com as paredes e chão, e nas lâmpadas também, uma camada generosa de poeira estava em todas as superfícies, como um tapete de mal gosto, mas de alguma forma dona Silvia parecia não ligar, me convidando gentilmente para sentar e bater um papo, ela carregava o mesmo apoio que usava para andar, um daqueles quadrados.<br />
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Quando sentei no sofá a poeira acumulada subiu e simplesmente congelou no ar, a atmosfera lá dentro era parada, como se houvesse um bolsão de ar tão antigo e sujo que em alguns momentos me causava dificuldade para respirar. O assunto? Meio mórbido, me contando o que achava que acontecia depois da morte, e sobre a morte de seu marido a alguns anos atrás, e também em como se sentia sozinha e achava que ninguém iria perceber quando ela de fato morresse.<br />
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Geralmente eu não me incomodaria com assuntos assim, mas o jeito soturno que pronunciava as palavras, e as lágrimas que derramava de vez em quando, me deixavam desconfortável, sufocado, triste. E então acordei.<br />
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Minha primeira reação foi pôr as mãos na cabeça e pensar: Meu Deus, o que foi isso? Nunca tinha tido uma visão tão.... Real, quer dizer nas outras vezes eu parecia estar presenciando algum filme de terror e nunca tinha tido uma conversa sequer com as minhas visões. Eu precisava saber se minha vizinha estava bem, coloquei na minha cabeça que quando entardecesse passaria lá para lhe perguntar como ia a vida.<br />
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Mas você sabe né? Me entende, às vezes a gente simplesmente esquece de certos compromissos quando se está sufocado de pensamentos borbulhantes, e cheio da metódica rotina, e foi o que eu fiz. Me enchi de tarefas mais simples, como organizar os papéis, passar uma vassoura de qualquer jeito pelo chão e me sentir orgulhoso disso antes de sair para dar uma volta. Esse passeio durou todo o resto do dia, sondar a praça, sentar no banco do parque e observar as outras pessoas com aquele sorriso vitorioso, o sorriso que eu não tinha. Por fim, me enfiei em algum bar que estava aberto decidido a repetir a noite anterior, beber até sentir a visão me escapar e dormir. Mas no momento que coloquei o primeiro copo na boca ouvi, assim, claramente a voz da dona Silvia: “Ninguém vai saber quando eu realmente morrer”. Foi tão repentino e claro que me fez soltar o copo que caiu e se espatifou no chão, se dividindo em vários cacos, todos olhavam meu pequeno vexame, inclusive o cara troncudo que me serviu a bebida, eu nem me dei o trabalho de explicar, estava atordoado.<br />
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- Isso deve pagar, desculpa – Foi a única coisa que disse, coloquei o dinheiro no balcão e saí.<br />
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Isso foi o que me impulsionou a bater na porta número 10 assim que coloquei os pés no meu andar, e bati, três ou cinco vezes, não me lembro, e não fui respondido, não tinha ruído de nada, nem das séries antiquadas que gostava de ver, nada. Mas daí me lembrei de uma coisa, era feriado, ela devia ter viajado para praia, sempre fazia isso. Foi o que me confortou pelo resto da noite, e além do mais minhas visões não passavam de visões, nada demais, eu havia ignorado isso a minha vida toda e não seria agora que ficaria colocando minhocas na minha cabeça, eu iria dormir e iria sonhar com outra coisa. Não foi bem o que aconteceu.<br />
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Assim que fechei os olhos o sonho começou, do mesmo jeito, a mesma porta, a mesma sensação de sufocamento e o mesmo papo mórbido, a única coisa diferente era que dona Silvia parecia mais triste que a última vez, não conseguia pronunciar uma frase sem que derramasse uma enxurrada de lágrimas, elas ensopavam sua camisola cor de rosa e algumas pingavam no chão, mas não pareciam fazer efeito na poeira que se mantinha intacta, nem parecia que tinha sido molhada. E de novo eu acordei.<br />
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Eu me lembro muito bem que tornei a procura-la depois de ter acordado, mas de novo não fui atendido, ainda não escutava nada, nenhum ruído vindo de dentro daquele apartamento, o dia estava quente demais, na verdade o noticiário tinha avisado que iria ser quente a semana toda, ela deve ter aproveitado para prolongar o feriado, assim que chegasse eu iria conversar com ela e talvez lhe contar sobre o que vi. Mas naquele dia ela também não apareceu.<br />
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Seis dias, isso mesmo, seis dias foi o tempo que tive a mesma maldita visão, seis dias terríveis, eu já não conseguia trabalhar direito, comer, fazer as coisas mais comuns, eu sempre a ouvia sussurrar a mesma frase, estivesse eu no banho, ou andando pelas ruas, era angustiante! E eu sempre tentava entrar em contato, cheguei a esmurrar a porta algumas vezes e chorar baixinho em frente ao número 10, eu não aguentava mais! Precisava saber o que estava acontecendo, o sentido de toda aquela perturbação. Não sei se foi uma resposta divina, sei lá o que você vai achar, já não me importo mais, só sei que a resposta veio na forma de mais uma visão.<br />
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Eu estava novamente em frente a décima porta, mas pela primeira vez em uma semana ela estava mudada, em vez de ter o número 10 completo, faltava o zero, sustentando apenas o primeiro algoritmo de uma maneira desequilibrada, prestes a cair. A madeira estava repleta de bolhas de mofo que pareciam encrostadas por dentro do material, e fedia a bolor, podridão, confesso que senti certo nojo de encostar em sua maçaneta, pensei até em voltar, mas em uma simples olhada ao redor percebi que não conseguia ver mais nada, parecia que só existia aquela porta, todo o resto era apenas escuridão.<br />
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Dessa vez eu precisei abrir a porta, que rangeu sob o peso da minha investida contra ela, e o interior, quase desmaiei ao entrar, sustentava um cheiro de morte tão grande que fui obrigado a colocar a mão em frente ao nariz, as paredes não tinham mais nenhum pedaço do antigo papel de parede, o chão além da camada, ainda mais grossa, de poeira tinha gotas escuras e viscosas, parecia sangue, sangue velho e fedido, e a última coisa que reparei foi que Silvia não estava lá, não na sala, não no banheiro, não na cozinha e quanto mais eu adentrava o lugar, mais o cheiro putrefato ia ficando forte, parecia se engatar no fundo da minha alma.<br />
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Em todos esses anos achei que tinha visto as coisas mais terríveis, atropelamentos, decapitações, mas nada, absolutamente nada foi capaz de me causar tanta ânsia. Dona Silvia estava lá, deitada na sua cama, a mesma camisola cor de rosa, seu rosto parecia moldado em uma tristeza eterna, pelo menos a metade que ainda estava inteira, a outra? Oh céus! A outra metade era apenas um punhado de vermes, gordos e brancos, que se remexiam para lá e para cá, felizes com a refeição cadavérica, o olho estava perfurado bem no meio da órbita e pulsava, devido aos vermes que também estavam ali dentro. Eu tive que me segurar para não despejar tudo o que havia comido no chão, o bolo tinha se formado bem na garganta e tive que engoli-lo duas vezes para ter certeza de que não voltaria a subir.<br />
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Que visão pavorosa meu amigo! O resto do corpo era uma bola de carne inchada e roxa, eu a olhava com lágrimas nos olhos, não conseguia acreditar no que estava vendo e então houve um suspiro, não lhe dei atenção no primeiro instante, mas logo ele ganhou força: “Eu avisei. Sozinha”. Vinha da boca carcomida da mulher. Não tive tempo de ver o resto da cena, parti em uma carreira até a porta e a fechei atrás de mim, mas ainda assim conseguia ouvir! A voz, a voz dela: “Sozinha”. Mais alto e alto, parecia gritar no meu ouvido, eu precisava parar com aquilo e comecei a socar minha própria cabeça contra a parede, mas a voz parecia ignorar: “SOZINHA! ”. Acordei.<br />
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Meu primeiro impulso foi bater na porta ao lado, não ligava se estava de pijama, eu precisava vê-la, garantir que estava tudo bem. Esmurrei a porta tantas vezes que senti meu pulso arder, os vizinhos que haviam acordado àquela hora da manhã com meu barulho já se aglomeravam em suas portas, alguns me xingavam outros perguntavam o que estava acontecendo. Eu não ligava! Precisava de respostas. Desci às pressas para a portaria, e contei da maneira que consegui ao porteiro o porquê que precisava que ele abrisse aquela maldita porta.<br />
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- Eu preciso, preciso! Preciso... – Estava desesperado, mas logo tentei me recompor quando percebi que não conseguiria nada daquela maneira - Onde ela está? A dona Silvia do 10, chegou de viagem?<br />
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- Viajem? Senhor, a dona Silvia não saiu em viajem.<br />
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Não podia ser.... lhe contei resumidamente sobre meus sonhos e então ele tomou a atitude que eu esperava, subiu para conferir.<br />
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Quando o apartamento foi aberto um cheiro de podridão invadiu os olfatos de todos que estavam presentes vendo a cena, o porteiro não me deixou entrar, na verdade ninguém, disse que o que estava fazendo era invasão, mas logo depois que saiu ligou para a polícia, eu observava tudo com olhos aflitos, encostado num canto até que a polícia chegou. A notícia veio depois de alguns minutos que ficaram lá dentro: dona Silvia estava morta, morrera do coração há uma semana e ninguém havia percebido.<br />
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Depois disso tudo foi um borrão, me levaram para interrogatório, eu não conseguia pronunciar uma palavra descente e então decidiram que seria melhor que viesse para cá, simplesmente me colocaram nas suas mãos doutor Morgan, não precisa nem me dizer o que vai acontecer, eu já sei, e só assim espero que a voz cesse. Sei que já sabe disso, mas de qualquer maneira preciso contar para ficar registrado na minha ficha, a voz continuou e continua a gritar na minha mente: Você sabia!<br />
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- Bom Gustavo, você já sabe a sua sentença, gostaria que as coisas não fossem assim, mas não sou eu quem decido, infelizmente<br />
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- Tudo bem, meu amigo, sei que agora acredita em mim e sei também que deveria ter dado atenção as coisas que vi. Pode acreditar, você está me dando meu alento.<br />
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Depois disso dois homens vestidos de branco entraram na sala, igualmente branca, e levaram Gustavo, que seguia sem oposição talvez por desejar aquele momento, ou por causa da camisa de força, ninguém sabia.<br />
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Doutor Morgan, médico do hospital psiquiátrico, se pegara por um momento pensando na história daquele jovem, para logo depois assinar o papel que autorizava sua execução.<br />
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No dia 5 de agosto de 2019 Gustavo foi morto por uma injeção letal, depois de um julgamento que o condenava culpado pela morte de Silvia, já que ele, de alguma maneira, era o único que podia ajudar e não o fez, por não acreditar em suas visões.<br />
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<b><span style="font-size: x-small;">Autora: DarkQueen</span></b>Gabriel Azevedohttp://www.blogger.com/profile/07894639766666980331noreply@blogger.com19