25/09/2019

O Barulho

Eu não sei quando começou exatamente, mas eu percebi há algumas noites atrás, ainda era cedo, entre 18:30 e 19:00 da noite eu estava assistindo televisão na sala e eu ouvi esse barulho, era baixo, fazia “toc....toc” tinha um intervalo de uns 3 segundos entre um “toc” e outro. Inicialmente pensei que era meu sobrinho de 3 anos quebrando alguma coisa escondido, mas o barulho vinha da entrada da casa que estava com a luz apagada, não poderia ser meu sobrinho porque ele tem medo do escuro, eu percebi que o barulho vinha de baixo do carro então o mais provável era que fosse algum animal saltante como um gafanhoto ou um sapo que estivesse em baixo do carro tentando sair se batendo contra o fundo do carro quando saltava, minha suspeita se “confirmou” quando eu liguei a luz da garagem e olhei embaixo do carro, não vi nada, mas o barulho parou do mesmo modo como grilos param de cricrilar quando a gente se aproxima deles, e voltou quando eu desliguei a luz e sai de lá. ‘Que bicho chato!’, eu pensei.

O que me restava fazer era aumentar o volume da televisão e tentar ignorar o barulho, mas, mesmo o volume da TV estando alto ao ponto de as outras pessoas da casa reclamarem da altura, eu ainda ouvia o barulho. Como uma espécie de birra eu decidi ver o filme até o final mesmo com o barulho me perturbando, depois decidi ir para o meu quarto para me distanciar mais. Funcionou por um tempo, eu li um pouco, depois fiquei no celular até sentir sono, quando o sono veio eu apaguei a luz do quarto e dormi.

Não sei que hora da madrugada era quando acordei no meio da noite, eu não olhei porque não importava, eu só queria voltar a dormir pois tinha que acorda cedo de manhã para ir para o trabalho, mas antes que eu conseguisse, eu ouvi, era um barulho igual ao primeiro só que um pouco mais alto como se a fonte do som estivesse mais próxima, mas não podia ser o mesmo, não faria sentido se fosse, meu quarto ficava do lado do quintal que é o oposto da entrada. A janela do meu quarto fica próxima à torneira do quintal, então pensei que esse novo barulho era o resultado da agua batendo no fundo do balde quando a torneira pingava, tentei ignorar e voltar a dormir, mas o barulho apesar de não ser alto me desconcentrava, era irritante ao ponto de eu chegar a pular a janela para fechar direito a torneira e, para minha surpresa, ela não estava pingando. Voltei para dentro e conferi a pia da cozinha, a do banheiro, o chuveiro e até a caixa de descarga do vaso sanitário, nada estava pingando. Sem sucesso aparente, eu voltei para meu quarto, quando cheguei percebi que o barulho havia parado, pelo menos por enquanto. Eu deitei, peguei o cobertor, liguei o ventilador e no exato momento em que eu desliguei a luz o barulho voltou e dessa vez estava dentro do quarto.

Me veio à mente uma última explicação possível: O ventilador devia estar com uma engrenagem quebrada e esse barulho era o estalo da engrenagem. Quem já segurou um ventilador para ele não girar alguma vez só por curiosidade ou outro motivo, sabe que as engrenagens estalam quando se faz isso. O teste dessa hipótese foi o que me de assustou pela primeira vez. No momento que eu liguei a luz para examinar o ventilador, o barulho parou, o ventilador ainda estava ligado e não emitia nenhum som de estalo semelhante aos “Tocs” do barulho, e, alguns segundos depois que eu desliguei a luz ele voltou. O barulho só era ouvido no escuro. Eu lembrei que o barulho de baixo do carro parou quando eu acendi a luz da garagem, não tinha barulho quando eu estava lendo com a luz do quarto ligada, o barulho do quintal parou quando eu abri a janela para ver a torneira, quando eu fui conferir as torneiras da cozinha e do banheiro não tinha barulho porque a luz do quarto ficou ligada e o barulho voltou quando eu desliguei a luz.

Eu comecei a ficar paranoico, meu quarto tem um interruptor ao lado da cama então eu podia ligar e desligar a luz sem ter que levantar, eu comecei a fazer isso várias vezes e o resultado foi sempre o mesmo: o barulho parava quando a luz acendia e voltava quando a luz apagava. ‘Esse barulho é só um inseto que entrou no quarto quando eu abri a janela.’ Eu queria acreditar nisso. Era a única explicação lógica possível. Num instinto infantil de autopreservação eu cobri meu roto totalmente com cobertor dizendo a mim mesmo que estava fazendo aquilo para não ser picado pelo “inseto” e dormi com a luz ligada.

No dia seguinte não havia mais barulho, eu acordei tarde e não tive tempo de procurar pelo inseto, mas prometi mim mesmo que quando eu voltasse do trabalho aquele maldito bicho ganharia uma boa sapatada. Quando eu cheguei, para a satisfação da minha mãe, eu limpei todo o quarto com a intenção de encontrar o bicho que não me deixou dormir à noite, eu encontrei 4 baratas, 2 grilos e muitas traças, mas nada do inseto que fazia aquele barulho imaginei que ele fugiu enquanto eu estava no trabalho, pelo menos minha noite seria tranquila, eu imaginei.

O início da noite foi bem tranquilo, só por precaução eu deixei a luz da garagem ligada, não ouvi nada, até as 21:00, ainda era um pouco cedo para dormir, eu geralmente durmo às 22:30, mas senti sono cedo talvez por não ter dormido o suficiente na última noite, eu fui deitar fiquei mexendo no celular até estar totalmente sonolento minha intenção me forçar a dormir à noite toda sem acordar de madrugada de novo. Quando o sono veio, eu até considerei deixar a luz ligada, mas pensei que isso era besteira eu havia conferido o quarto todo de tarde e não havia nenhum bicho. Desliguei a luz e dormi.

O plano não deu muito certo, eu não consegui dormir por toda a anoite, eu acordei e ele estava lá, o mesmo barulho parecia estar dentro do quarto em algum lugar em cima do roupeiro. Eu liguei a luz e subi em uma cadeira para olhar em cima do roupeiro, mas não encontrei nada, quando a luz apagou o barulho estava em baixo da cama, depois embaixo da mesa e depois em atrás do ventilador, cada vez que eu ligava a luz o barulho mudava de lugar. Eu estava começando a ficar com medo, eu estava criando teorias sobre isso ser um fenômeno paranormal, eu tentava me convencer que não é um tipo de fantasma pois em relatos sobre fantasmas as pessoas sempre afirmam sentir presenças como se houvessem pessoas perto ou observando, eu não sentia isso, eu não sentia nenhuma presença, eu só ouvia o barulho.

Sem poder fazer nada decidi dormir ou pelo menos tentar, eu me cobri totalmente com o cobertor inclusive meu rosto e fechei os olhos e fiquei parado esperando o sono, como uma forma de tentar provar para mim mesmo de que não era nada demais aquele barulho eu decidi apagar a luz para dormir, o barulho voltou, e dessa vez estava bem em cima de mim, do outro lado do cobertor, isso me deixou nervoso, aquilo com certeza não era um inseto, eu tentei ficar imóvel mas o medo era mais forte eu comecei a tremer e surpreendente o barulho parou, por um instante eu achei que ia ser atacado pelo monstro imaginário que eu crie na minha mente, mas nada demais aconteceu, ele só recomeçou num ponto mais distante como se meu movimento tivesse feito ele se afastar.

Nesse momento eu percebi que não era exatamente a luz, era minha presença que fazia ele parar, ele se escondia quando eu procurava, era uma espécie de jogo de provocação. Seja o que for que estivesse fazendo o barulho só fazia quando estava a uma distância segura ou quando achava que eu estava dormindo. Eu me sentia como o guarda dorminhoco de uma comédia dos anos 90, quando eu mexia o barulho parava quando eu parava o barulho voltava, era como se fosse uma criança com medo de eu acordar e pegar ele no ato de uma travessura. Isso me deu uma certa coragem pois parecia que ele tinha medo de mim, mas também me preocupou pois finalmente eu me convenci de que o que fazia o barulho sabia o que estava fazendo.

Cheguei a consultar um médico psiquiatra com medo de estar tendo alucinações, mas os exames indicaram que minha saúde mental está perfeita. Cheguei a pesquisar rituais para expulsar fantasmas e criaturas sobrenaturais, mas nada funcionou, a situação só piorou, pois depois deles o barulho percebeu que eu sabia sobre ele, sabia que ele era um ser pensante, ele parou de se “esconder”, ele não espera mais a noite, nem que eu durma ou que a luz apague. O barulho agora me perturba o dia inteiro. Eu não tenho mais medo, mas mesmo assim o barulho me irrita, eu não consigo trabalhar ou dormir direito, onde quer que eu vá o barulho me acompanha. Não sei o que está fazendo ele se é um anjo, um demônio, um fantasma, um duende ou um ET. Eu só quero que esse maldito barulho pare!

Autor: Nemo

21/09/2019

03/09/2019

Infernum

“Um gosto do inferno” ou apenas “Infernum”, era o título de um livro que teria sido escrito por uma pessoa chamada Carrie Shay. Um trecho que seria parte do livro, foi publicado no Reddit em 2008. A autora em questão, comentou que planejava publicar um livro de contos, pedindo a opinião das pessoas sobre o que achavam dos seus textos e poemas. O que se sabe de Carrie, é que a mesma era uma garota esquisita, as vezes falando sobre depressão, suicídio e assuntos mais complicados como incesto, pedofilia e outras coisas que não queremos ouvir na mesa de jantar e nem em um círculo animado de amigos.

Ao ser perguntada por alguém sobre que tipo de contos ela escrevia, a mesma disse que adorava escrever coisas para chocar o leitor, se baseando em algumas histórias japonesa obscuras que você encontra nas entranhas da internet.

"Assisti vários filmes que as pessoas consideram pesados e chocantes, porém, nunca me fizeram sentir nada. A maioria era focada no Gore, forçavam tanto para chocar o telespectador que começava a ficar ridículo. Eu queria escrever algo que os deixassem desconfortáveis, acho que a leitura tem um poder bem maior para fazer isso. Quero que eles leiam e fiquem “Meu Deus!”.

Essa foi uma de suas respostas para um dos seus poucos fãs na época. Ainda assim, nem sempre os textos e poemas de Carrie tinha temas pesados, alguns eram interessantes e abertos a interpretações. Um deles, sem um título, foi postado por ela em 2007, um ano antes dela chutar o balde de vez com “Infernum”.

“Acorde e vá para de baixo da cama
Lá fora o inferno reina
O demônios tentaram quebrar as janelas
Espere o som diminuir e depois volte a dormir
Assista a Tv pela manhã
Veja as pessoas felizes em um local distante
Sorrindo para as folhas levadas pelo vento de uma tarde de outono
Nós estamos presos
Neste canto do mundo
Os demônios estão vindo
E demônios mais poderosos estão logo atrás
Aqueles que lhe dão poder
Aqueles que lhe dão liberdade
Aqueles que falam de amor
Apenas volte a dormir
O amanhecer continua belo.”


Alguém uma vez a perguntou o motivo de usar bastante a palavra “Inferno” em suas histórias, Carrie simplesmente respondeu

"Acho que vivemos um gosto do inferno neste mundo, entende? Este lugar é terrível. Vivemos em uma espécie de demonstração e devemos tirar uma lição disso, devemos ser boas pessoas. Não tem nada de bom aqui, tudo é uma merda. Mas, ainda pode piorar. Como eu disse, esse mundo é apenas uma pequena amostra, você não quer ver o que vem a seguir. Sejam boas, crianças".

Podemos perceber que ela não tem uma visão muito otimista do mundo, algo não muito sério, quer dizer, muitas pessoas tem pensamentos extremos de como o mundo é um lugar cruel e problemático, entretanto, muitas dessas pessoas tendem a ter fiéis seguidores que concordam com tudo que elas dizem.

Ela continuou postando seus contos normalmente até agosto de 2008, quando começou a agir estranhamente, não respondendo mais seus “fãs” como antes. Notando essa mudança de humor, todos começaram a perguntar o que estava se passando, se ela estava bem, se algo tinha ocorrido. Então, ela resolveu responder.

"Em algum lugar, neste momento, uma pessoa tá sendo mantida em cativeiro. Ela está sendo torturada e estuprada. Os demônios estão arrancado suas entranhas. Como conseguimos viver sabendo que isso tá acontecendo em algum canto desta merda de mundo? Não consigo ficar bem com isso, cara. Eu odeio gente como vocês, que falam em viver a vida ao máximo, viver no limite da porra toda, que coisa mais inútil. Isso tudo é um pesadelo no qual estamos presos até finalmente acordamos. Vocês sabem muito bem quando acordaremos"

Alguns dias depois ela respondeu as pessoas uma última vez, agora falando sobre o livro. Ela não falou muito do conteúdo, apenas seu título foi dito e o seguinte trecho

“Tudo parecia um sonho distante, nada mais restava, nem lembranças, nada. A única certeza em sua mente era a morte, acompanhada de seis seres grotescos ao som de um filme dos anos 90. Não sentiria mais o calor das manhãs de verão, o único calor que sentirá é aquele que a fará brilhar por toda a floresta. Não podemos esquecer também do homem das mil faces. Ele entrará em sua residência pela madrugada e devorará sua carne”

Depois disso, Carrie não postou mais nada. Muitas discussões ocorreram até alguns usuários chegarem à conclusão que uma parte do trecho batia bastante com a descrição do assassinato real de Suzanne Capper, que ocorreu em dezembro de 1992. Já a parte do homem das mil faces, poderia ser apenas outra coisa envolvendo outro assassinato brutal? Teorias foram discutidas, mas ninguém chegou a um acordo sobre o que se tratava. Pessoas apareceram dizendo conhecer Carrie, afirmando que ela cometeu suicídio depois de delirar uma noite inteira. Outras diziam que ela apenas resolveu se concentrar em seu livro. Nada foi comprovado. Anos se passaram e não se tem nenhuma notícia de um livro com tal título escrito por essa autora, o que aumentou ainda mais as crenças em um possível suicídio. Seus poucos continuam esperando uma resposta, mas a verdade é que Carrie tornou-se apenas alguém esquecida no tempo que, ainda não explicou exatamente no que estava pensando quando resolveu tocar no assunto do "Homem de mil faces". Eu apenas passei a trancar melhor as portas de casa toda noite, por precaução.

Autor: Tai