29/04/2014

Sempre são os mais quietos

Ninguém nunca notou minha presença em lugar algum. Na verdade, sem você, minha morte não seria nem mesmo um pequeno pensamento na mente de ninguém. Eu sempre fui o garoto quieto, sempre seguindo os outros, talvez isso fosse loucura, mas eu sei que você sempre esteve comigo. Sempre são os mais quietos, não é?

Você. Você foi meu amigo, uma ótima pessoa. Se você não tivesse sido levado por eles... Ah sim, eles. Eles levaram você naquele dia horrível, eles te empurraram e esmurraram, eles te jogaram em um buraco e te deixaram lá para que morresse, e então eles te levaram. Agora eles devem pagar pelos crimes que cometeram. Eles eram monstros, e ainda são, monstros que se escondem sob uma casca humana. Eles são mais repulsivos e perversos que as ações que eu irei tomar.

Quando você ainda estava aqui, você me dizia para não machucá-los, porque eu era melhor do que isso, melhor do que eles. Eu nunca havia pensado em fazer isso antes que eles te levassem, e agora eles me forçam a fazer isso. Sem você, eu estou sozinho, eu nem mesmo sou eu próprio sem você. Pará-los é a única maneira de me parar, é a única maneira de salvar você, mas no fim, eu temo que possa acabar te matando.

Eu sinto muitíssimo por ter que fazer isso. Vai contra tudo que você crê, contra tudo que eu creio. Eu tenho que destruí-los, sem deixar nada... Logo eles sentirão minha dor, sua dor.

Dor. É a única coisa que eles temem. Eles fogem, gemem quando sentem dor, mas eles não conhecem a dor verdadeira, que é a que eles mais temem. Sabendo disso, mesmo que você esteja entre as pessoas, você está completamente sozinho. Eles temem o que nós todos sentimos, e mesmo assim, eles fizeram que nós sentíssemos isso.

No fim, eu estou salvando tudo, salvando todos nós, salvando você, me salvando, destruindo todos, destruíndo-me, destruindo eles, destruindo você. Eu irei destruir todos que se disseram meus "amigos", e logo, o sol irá se erguer e brilhar sua luz em seus corpos ensanguentados, podres e maus - todos verão quem eles são de verdade, cadáveres podres. É por isso que eu escrevo essa carta, para que você saiba que a culpa não foi sua, e sim minha, e eu asumo toda a responsabilidade - apeas entenda... Eu fiz isso por você.

Adeus, meu eu anterior.

28/04/2014

Cobaia Q1100317 - O Tocha Humana

Ninguém poderia imaginar que a hora mais obscura da raça humana estava próxima. Ninguém imaginaria que uma pequena cidade dos Estados Unidos pudesse acabar com todo o mundo. Ninguém imaginaria que o planeta inteiro se uniria contra a América. Porém, as pessoas também não imaginavam o que os americanos estavam planejando há anos.

 Na época eu trabalhava para uma pequena companhia privada. A companhia era financiada pelo governo dos Estados Unidos, mas era tecnicamente separada dele. Negação plausível e toda essa coisa. É claro que eu não sabia nada sobre isso. Tudo que eu sabia era que eu tinha acabado de me graduar e esse era a única oportunidade de emprego que me afastaria do constrangimento.

Eu era basicamente um recepcionista. Atendia ligações, fazia café, e marcava horários de atendimento e geralmente fazia o que me mandavam. Não era um emprego fascinante, mas, ou eu o aceitava ou nunca passaria de um simples mecânico em uma cidade pequena, assim como o meu pai. Então, quando os meus primos me indicaram ao emprego que seria a minha grande chance de me liberta mundo afora, eu o agarrei.

As pessoas sempre dizem coisas como “Se eu soubesse que seria assim não aceitaria esse emprego”, mas sinceramente, se eu não tivesse aceitado esse emprego eu estaria morto agora. E ainda tenho força e coragem suficientes para dizer que não me arrependo.

Sempre me ensinaram a não ser muito curioso, e é claro, ‘nunca escolher os dentes de um cavalo dado’. Então segui fazendo o meu trabalho. Dei o meu melhor. Não fiz muitas perguntas e acabei sendo promovido.

Eu seria o asssistente do Coronel Olsen. Não era tão ruim afinal. Eu faria as mesmas coisas de antes, mas dessa vez eu faria “para o coronel”.

Nós desenvolvemos um bom relacionamento. Éramos Cristãos vindos de uma cidade pequena e com famílias grandes. Para mim, ele se tornou algo mais próximo de um amigo naquele lugar. E eu também sentia que significava algo para ele também. Um dia, após uma reunião, ele me pediu que fosse até o escritório dele. Eu não sabia que dessa vez a conversa rotineira tomaria outros rumos.

Ele começou me entregando um pen drive, uma chave, e um celular. Ele me explicou que quando eu recebesse uma mensagem de texto naquele celular eu deveria pegar a chave e usa-la para abrir o cofre em seu escritório.

Então eu deveria passar os dados do pen drive para o notebook que estaria dentro do cofre. Depois eu deveria ler as notas que ele havia me deixado no cofre e seguir as instruções.

Naquele momento eu logo soube que todas as instruções eram para algo muito importante. Tentei ficar tranquilo e esquecer aquela conversa até que chegasse o momento certo de agir. Sempre fui obediente e tentei não ser curioso. Mas dessa vez era demais. Tentei acessar o pen drive no meu computador, e ele travou o sistema completamente. O computador não voltou a funcionar.

Era realmente algo que eu não deveria ver antes da hora. Guardei o celular, o pen drive e a chave e voltei para a minha casa.

Quando fui ao trabalho no dia seguinte tudo parecia normal. Fui informado que todos os funcionários passariam por uma checagem médica naquele dia. E na lista o meu nome era o primeiro.

Enquanto eu era examinado por um uma enfermeira muito atraente e cheia de curvas, o celular começou a tocar. E não era o meu celular pessoal. Era o outro celular…

Desculpei-me rapidamente e chequei o celular. Era uma mensagem de texto. Estava em branco. No entanto, a mensagem havia sido enviada por um número que eu reconhecia. Coronel Olsen! Fiz o meu caminho rapidamente para o escritório dele que estava bloqueado por dois soldados enormes. Tentei parecer discreto enquanto me aproximava da porta, mas eles não me deixaram passar e explicaram que o escritório do coronel estava sendo investigado por sinais de traição contra os Estados Unidos.

Isso já era demais. Traição! Não tinha como. O coronel era o cara mais honesto que já conheci. Escondi a minha desaprovação e expliquei aos soldados que eu já estava ciente dessa questão e fui encarregado de ‘espionar’ o coronel por alguns meses. Falei que tinha a chave para o cofre do escritório e pedi permissão para entrar e ajuda-los com a investigação.

Os soldados se entreolharam um pouco duvidosos. Eles realmente não estavam esperando por aquilo. Eu não era o tipo de fantoche do governo que eles esperavam. Falei para eles que se não me deixassem passar eu entraria em contato com o superior deles e explicaria que eles estavam impedindo a minha investigação.

O truque funcionou.

Os soldados destrancaram a porta e o mais alto dos dois me acompanhou para dentro do escritório. Segui rapidamente para o cofre, esperando sair logo daquela confusão. Minhas mãos tremiam ao pegar a chave para usa-la no cofre. O cofre abriu com um estalo alto até demais. Abri o cofre lentamente enquanto me ajoelhava na frente para impedir que o soldado pudesse ver o que eu estava fazendo. Lá dentro encontrei o notebook, alguns documentos... e uma arma! Em quê eu havia me metido? Havia um tubo acoplado ao cano da arma que eu sabia que deveria ser um silenciador.

Eu poderia fazer aquilo? Poderia confiar no homem que estava sendo preso por traição? Ele era o meu amigo! Era quase como o pai que eu realmente merecia.

Permiti que a raiva e adrenalina me dominassem, e  meu corpo passou a mover-se por instinto.

Levantei-me rapidamente e apontei a arma para a cabeça do soldado que estava olhando alguns papéis sobre a mesa. Fechei meus olhos o mais forte que pude enquanto apertava o gatilho. A ação deveria ser silenciosa, mas o corpo do soldado caiu sobre a mesa derrubando várias coisas.

O outro soldado abriu a porta para perguntar sobre o barulho que tinha acabado de ouvir e eu mandei uma bala diretamente no meio de seus olhos. Eu poderia não ser o fantoche do governo que eles esperavam, mas eu era definitivamente parte da classse média Americana e meu pai era membro da Associação Nacional de Rifles da América. Eu sabia muito bem como manejar uma arma.

Arrastei os corpos para um canto do escritório, e observei por um momento o que eu tinha feito. Essa realmente não era a manhã de quinta-feira que eu esperava.

Depois de me recompor voltei para o cofre. Para analisar os documentos. Naquele momento tudo o que me interessou foi o bilhete na primeira página de um dos documentos.


Matthews, 

Se estiver lendo isso eu já devo provavelmente estar morto. Eu sei que você é um homem forte, mas espero que não tenha tido a necessidade de utilizar a ferramenta que lhe providenciei. Porém, no momento não tenho tempo para tais esperanças. Por favor, pegue todos os meus documentos e fuja para o México. Providenciei passaportes para você e sua família. Insisto que pegue os documentos e corra o mais rápido que puder. 

Perdoe-me, 

COL Jericho Olsen


Lembrando as outras instruções que me foram passadas, abri o notebook e a tela mostrou o que era claramente um tipo muito avançado de sistema. Pluguei o pen drive e a tela escureceu imediatamente. Temi que tivesse feito algo errado. Porém, um texto logo surgiu mostrando coisas que eu não entendia. Eu não tinha tempo para analisa-las.

Fiquei de pé, respirei fundo, pus a arma na parte de trás da calça e voltei para o meu escritório tentando parecer o mais calmo possível. Felizmente não encontrei ninguém pelo caminho. Vesti meu casaco e deixei uma nota em minha mesa dizendo que eu tinha passado mal e voltaria no dia seguinte. Não sei por que fiz isso. Não é como se eu fosse voltar depois de deixar dois cadáveres no escritório do meu chefe.

O resto dos acontecimentos até o México não são muito importantes. Saquei todo o meu dinheiro da poupança. Pedi aos meus amigos que saíssem do país se tivessem oportunidade, pois algo grande estava prestes a desabar. O mais importante porém, é que consegui convencer o meu pai e minhas irmãs a virem comigo. Quando chegamos à fronteira os guardas deram uma checada rápida em nossos passaportes e nos permitiram passar.

Continuamos dirigindo para o sul, rumo a Cidade do México. Durante toda a viagem ouvimos várias histórias estranhas sobre casos ocorrendo nos Estados Unidos. O mais preocupante era ouvir que não havia comunicação com a Dakota do Norte, Dakota do Sul, Minnesota, e partes de Iowa. Eu estava trabalhando na cidade de Sioux Falls, Dakota do Sul.

Quando chegamos à Cidade do México finalmente paramos. Paguei por dois quartos de hotel em uma ótima parte da cidade e trouxe o meu notebook onde estou escrevendo esse relato. A conexão do hotel não era boa e as noticias eram piores. Todo o meio-oeste se foi. Não havia mais comunicação. E quando os aviões passavam pela área, tudo o que enxergavam eram chamas. Cinzas caiam como neve em Chicago e o Canadá havia fechado as fronteiras.

Escondi essas notícias da minha família. Eu não queria assusta-los. Deixei a TV ligada em um canal com novelas mexicanas e pedi que eles pensassem apenas em coisas felizes.

Eu os deixei assistindo as novelas e decidi analisar melhor os documentos que o coronel havia deixado para mim. Eram coisas inimagináveis. O coronel andou fazendo coisas terríveis. Aparentemente, o local onde eu trabalhava estava realizando experimentos secretos em criminosos com radiação e outras coisas que nem sei explicar. Havia relatórios sobre coisas como uma mulher que parecia viver com todos os órgãos expostos e vomitava um tipo de ácido. Vou incluir esses documentos em outro texto quando eu me acalmar.

A parte mais assustadora era a que contava sobre um paciente que sofreu combustão espontânea e o fogo não apagava. A pele dele não parecia deteriorar completamente, mas ele ficava em constante agonia e implorava para ser morto. Ele parecia uma tocha humana. O coronel negou as súplicas do homem para que o matassem, mas garantiu que faria de tudo para aliviar a dor. O homem foi mantido sedado e isolado até que um general viesse para observa-lo.

Quando o general chegou se sentiu enojado e ao mesmo tempo curioso. Ele solicitou um teste em campo para a Cobaia Q1100317. O coronel protestou dizendo que o homem já tinha sofrido demais e que deveriam acabar com o sofrimento dele. O general não se deixou convencer e disse para o coronel que esse trabalho não era para um homem fraco.

O coronel continuou a protestar e o general o jogou a força dentro da cela com a cobaia Q1100317. O cientista responsável pela cobaia interrompeu o sedativo e o ‘Tocha Humana’ acordou. Os detalhes são macabros e vou relata-los em outro documento, mas o coronel, o meu grande amigo, não sobreviveu a esse encontro. Infelizmente, o que ocorreu dentro daquela cela agradou ao general e ele ordenou que fosse preparado um teste de campo completo para a semana seguinte.

Suas palavras finais foram: “Este homem pode mudar as nossas armas na guerra”.


Acabei de saber que os Estados Unidos entraram em quarentena. Ninguém pode entrar ou sair do país.

O meu país está sendo devorado pelas chamas.

E daqui eu já posso sentir o cheiro da fumaça.

22/04/2014

Central de atendimento ao cliente

Esse é um prólogo para a creepypasta familyvacations1.com 

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Registro de chamada 05/05/2003 

Serviço: Alô, aqui é a central de atendimento ao cliente do Family Vacations! Em que posso ajuda-lo?

Cliente: É o seguinte. Pedi que mandassem um representante que pudesse nos informar sobre os seus resorts e preços e... quando cheguei em casa ele já tinha entrado e estava remexendo nas coisas em minha mala. Perguntei o que ele estava fazendo e ele disse que estava apenas checando se havia algum...er... contrabando. Eu só quero saber se esse procedimento é realmente parte do serviço.

Serviço: Bom senhora, isso… na verdade é realmente parte do serviço. Desculpe-me por inconveniências. Tentamos tratar os nossos clientes com o máximo de respeito. Essas checagens infelizmente são ordens federais. Perdoe-nos se invadimos a sua privacidade.

Cliente: Bom… esta tudo bem, eu acho. Obrigada pela informação.

Fim da chamada.

Registro de chamada 12/06/2003

Serviço: Alô, Central de atendimento ao cliente do Family Vacations! Em que posso ajuda-lo?

Cliente: Já estou furioso com essa sua droga de serviço! Primeiro o representante, ou seja lá quem for, não aparece na hora marcada. Então ele aparece de repente parecendo transtornado, esbarrando nas coisas em minha casa, dizendo que não estou limpo o suficiente e mais um monte de besteiras. E ele teve a audácia de chutar a minha perna!

Serviço: Senhor, sentimos muito -

Cliente: Sentem? Ah, você não sabe o que está dizendo! Considere você e sua maldita companhia processados. Tenha um péssimo dia, seu babaca!

Fim da chamada

Registro de chamada 16/08/2003

Serviço: Alô, Central de atendimento ao cliente do Family Vacations! Em que posso ajuda-lo?

? : ...

Serviço: Alô?

? : Eles não estão limpos…

Serviço:… Wilson! Pela última vez; Você não trabalha mais aqui. Agora pare de assustar os clientes!

Fim da chamada

Registro de chamada 04/06/2004 6:18 P.M

Serviço: Alô, Central de atendimento ao cliente do Family Vacations! Em que posso ajuda-lo?

?? : George, ele ainda tá por ai.

Serviço: O quê você disse Frank? Quem está aqui?

?? : Você sabe exatamente quem.

Serviço: Tá falando sério? Eu mandei aquele cretino esquisito ir embora há meses.

?? : Cara, eu o encontrei no contêiner de lixo quando fui levar o lixo para fora. Ele fugiu, mas não acho que ele vai ficar longe por muito tempo.

Serviço: Ok. Vou falar com os lerdos da administração e ver se dessa vez eles fazem alguma coisa.

?? : É cara, boa sorte.

Serviço: Valeu, trabalhar à noite é ótimo.

?? : É, se você gosta da solidão e depressão desse lugar quando está vazio.

Serviço: É isso ai cara, tchau.

Fim da chamada

Registro de chamada 04/06/2004 7:03 P.M

Serviço: Alô, Central de atendimento ao cliente do Family Vacations! Em que posso ajuda-lo?

??? : …olhe no armario George…

Serviço: … O quê? Quem é… AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH

??? : AHHHHHHhhhhhhhLIMPOOOOOOAAAAAAAHHHHHHHH

Fim da chamada

Registro de chamada 04/06/2004 8:28 P.M

Serviço: Alô, Central de atendimento ao cliente do Family Vacations! Em que posso ajuda-lo?

Cliente: Olá, poderiam mandar um representante amanhã pela manhã?

Serviço: Claro, claro. Já temos o seu endereço?

Cliente: Ah não, acho que ainda tenho que me cadastrar.

Serviço: Ótimo! Cadastre-se agora mesmo!

Cliente: Obrigada!

Serviço: Por nada senhora. Eu que devo agradecer e lembra-lhe que amanhã o representante estará ai para limpar e acabar com todas as suas dúvidas...

Fim da chamada

19/04/2014

O portador do caminho

Em qualquer cidade, em qualquer país, vá a qualquer hospício ou casa de recuperação a que você possa ter acesso. Uma vez na recepção, peça para visitar aquele que se chama "O guardião do caminho". O empregado vai fazer seu melhor pra manter uma expressão de completa indiferença enquanto lhe entrega uma chave que, conforme ele explicará, abre a porta de um almoxarifado sem uso. Ah, se fosse só isso. Ao encontrar e abrir a porta certa, você vai ver, à sua frente, uma estrada estreita e cheia de curvas, suspensa sobre um enorme vazio, a vista sendo apenas ocasionalmente obstruída pelos maciços contornos de coisas que é melhor não serem descritas.

Cair dessa estrada equivale a sumir da própria realidade para sempre. Uma eternidade de tormenta e horror inconcebíveis aguarda aquele que cair da estrada, ou que for arrastado para fora dela pelos monstros que vivem na perifeira do universo. Se você sentir que está sendo observado enquanto atravessa esse lugar de esquecimento, a melhor chance que você tem é parar exatamente onde está e prender sua respiração. Continue fazendo isso até que seu observador perca o interesse ou comece a se mover para lhe pegar. Se a última opção ocorrer, sinta-se livre para gritar tão alto quanto possa e queira, embora você deva saber que seus gritos serão ignorados.

No fim da estrada há uma porta que leva para uma pequena e empoeirada sala. Escorado na parede do lado oposto, há um cadáver extremamente magro e decomposto; o que restou de sua pele está completamente necrosado. Aproxime-se do cadáver e pergunte: "Como eles conseguiram guardiões?"

Em resposta à sua pergunta, o "cadáver" irá se agitar. Um brilho vermelho bastante sutil aparecerá nas caixas de seus olhos conforme ele levanta sua cabeça e começa a sussurrar a longa e macabra história dos guardiões. Irá falar de pactos profanos e atrocidades indizíveis. Após algum tempo, sua história irá atingir todas as formas do mal conhecidas pelo homem ou mesmo por Deus, e algumas formas que nem um nem o outro conhecem. Após isso, se você falar o nome de qualquer guardião, o "cadáver" irá falar a história do guardião e o significado do objeto que ele protege.

Bem, na verdade, quase qualquer guardião. O guardião do caminho não irá falar coisa alguma sobre si mesmo. Isso é porque ele torce para que você não pergunte por que ele não carrega um objeto. A verdade é que o brilho vermelho que vem de seus olhos é o brilho do objeto, que foi, de algum jeito, selado dentro de seu crânio.

Esse é o objeto 7 de 538. Seu guardião fará de tudo para mantê-lo longe de você.
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Série dos Guardiões

15/04/2014

familyvacation1.com

Esses são os relatórios recuperados do detective aposentado Davis Lombard. Esses relatórios são da época em que o detetive trabalhava no caso que agora é conhecido como “O Senhor dos Túmulos”. Pouco tempo depois de sua aposentadoria e eventual morte, a delegacia onde trabalhava foi destruída por um incêndio cuja causa é desconhecida.

Um amigo meu, que trabalha na área de casos arquivados, conseguiu esses relatórios. Eu não sei o motivo, mas ele me pediu que não os perdesse... e não deixasse que fossem pegos. Eu não sei quem poderia tentar tomar esses relatórios de mim, mas aqui estão eles. É melhor digita-los e espalha-los para que o caso não seja esquecido. (Nota: Os fatos relatados ocorreram no verão de 2004 em Richmond, Virgina.)


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04/06/2004

O caso de hoje é particularmente cruel e anormal. Uma família de 4, todos enterrados em uma cova rasa no quintal, e sem digitais. As crianças foram violentadas, estranguladas, e enterradas. Os pais também foram enterrados, com os braços e pernas quebrados. Os ossos estavam partidos em vários pedaços. Seja quem for esse miserável… é um filho da mãe doente.

27/06/2004

O assassino atacou outra vez, e agora ele foi mais ousado e brutal. Ele atacou uma casa em um condomínio fechado. Uma família de 3. Outra vez o mesmo cenário. Criança violentada, estrangulada e enterrada. Pais com braços e pernas quebrados e enterrados enquanto ainda estavam vivos.

Mas dessa vez o miserável incendiou a casa e deixou uma mensagem enrolada em um pedaço de papel na boca da mãe. Eram letras difíceis de compreender, mas depois de uma boa análise a frase “EnTerraDOs E LimPos” poderia ser lida.

17/07/2004

Tentamos chamar os federais, mas eles também não conseguiram descobrir muita coisa sobre esse louco. Ele nunca deixa fluidos ou digitais. Nunca deixa falhas.

02/08/2004

Acho que finalmente descobrimos uma conexão entre as duas famílias. Parece que ambas visitaram o site familyvacation1.com. Encontramos esse site após analisar o papel onde o filho da mãe deixou a mensagem, havia um pequeno logo do site estampado no papel.

Checamos o computador da primeira família e descobrimos que eles visitaram o site dois dias antes de serem mortos. O site oferece férias de qualidade com preços razoáveis. O site pedia um endereço, o telefone e o pagamento quando um representante fosse enviado ao endereço. Achamos que entregando o endereço de um dos nossos pontos poderíamos pegar esse tal de representante e leva-lo em custódia.

05/08/2004

Eu… por onde começo?

Hoje tentamos preparar a ‘armadilha’ para o representante, mas enquanto esperávamos no endereço marcado o telefone tocou de repente. A pessoa, ou... seja lá quem foi que estava na outra linha, falou com uma voz rouca, “Não pode me enganar” e desligou. Como ele sabia? Será que estava nos espionando?

08/08/2004

Mais casos e mais corpos estão surgindo. Não sei o que fazer. Enquanto escrevo isso sinto que estou lentamente perdendo a minha sanidade. Tudo parece tão irreal. Meu psicólogo me recomendou que tirasse uma folga. Ou talvez me aposentasse. Mesmo assim tenho que continuar de olho no caso.

28/08/2004

Visitei o site mais uma vez. Dessa vez havia um vídeo. O vídeo mostrava uma figura encapuzada andando por uma rua escura e cortava rapidamente para uma apresentação de slides mostrando fotos de famílias, algumas reconheci como as famílias que já foram mortas e outras... eram as famílias dos meus colegas oficiais incluindo... a minha. Estou escrevendo esse relatório para mostrar que o caso está indo além da Virginia ou mesmo do país.

O site tem links para outros sites associados. Sites em linguagem Russa, Francesa, Alemã, Espanhola... quem estiver lendo isso, saiba que o melhor a fazer é se afastar desses sites que pedem endereço, cartão de crédito, ou telefone, mesmo aqueles que parecem legítimos. Confiem em mim, eles não são o que parecem. Se você --------- (fim do relatório)

(O detective Lombard foi encontrado enterrado no quintal de sua casa agarrado aos relatórios. Dois dias depois todas as evidências do caso foram perdidas em um incêndio. Nada foi recuperado.)


Creepypasta original escrita por NeveRsLeePwitHme

12/04/2014

Mais que um prédio histórico

Em algum lugar do Brooklyn, em Nova York, há um prédio de 12 andares, estreito e de arquitetura antiga. Aparenta ter sido construído em algum momento dos anos 1800, mas não há nehuma documentação de sua existência datada de antes de seu descobrimento. Ninguém sabe de onde esse prédio veio, e ninguém quer destruir ou fazer qualquer coisa com ele.

Em maio de 1902, um grupo de garotos decidiu explorar o prédio. Lá dentro, encontraram um salão em cada andar. Ao longo de todos esses salões, haviam inúmeras portas em todos os lados. Alguns tinham 31 portas; outros, 30 ou mesmo 28. Todas as portas, os salões e as escadas pareciam bastante desgastados. Por algum motivo, todas as portas tinham uma mesma etiqueta (que dizia "1902") e todas estavam destrancadas. Todos os quartos pareciam os mesmos; velhos, empoeirados, e aparentando estar a ponto de desabar. Os primeiros 5 andares eram idênticos, mas os garotos não foram capazes de explorar todo o quinto andar: eles disseram que algo os impedia, dando uma sensação horrível e praticamente imobilizando-os.

4 meses depois, todos os garotos cometeram suicídio.

Depois do incidente, cientistas locais começaram a fazer experimentos com o prédio. Eles enviaram pacientes de manicômios ao interior do prédio por algum tempo, e depois disso estudavam seus comportamentos por seis meses. Todos, exceto três, foram capazes de sair do prédio "assombrado". É dito que apenas os completamente insanos e insensíveis conseguem entrar no prédio e sair sem qualquer dano (considerando que já eram completamente insanos, mesmo).

O prédio continua no mesmo lugar, ele só não é fácil de encontrar. Um grupo de caça fantasmas encontrou o prédio em dezembro de 2008, achando que o que explicava tudo isso era a presença de fantasmas (vai entender...). Quando eles entraram no prédio, ele parecia exatamente o mesmo de 100 anos antes. Haviam apenas algumas diferenças:

1 - Todas as etiquetas continuavam ali, mas ao invés de "1902", agora todas diziam "2008"

2- Aparentemente havia um outro quarto no segundo andar: ele ainda tinha a mesma aparência de todos os outros, no entanto.

3 - Os caça fantasmas conseguiram chegar até o último andar do prédio, quando tiveram a mesma sensação descrita pelos garotos em 1902.

4 - Haviam três portas trancadas. Estas estavam:

1. No sexto andar. Porta de número 28. Sua etiqueta diz "1914" e o cheiro de morte é notável.

2. No nono andar. Porta de número 1. Sua etiqueta diz "1939" e o cheiro de morte também é notável, junto a uma suástica escavada na porta.

3. Ainda no nono andar, a porta de número 11. Sua etiqueta diz "2001", e uma fumaça pode ser vista passando por baixo da porta.

Em fevereiro de 2009, todos os caça fantasmas foram internados em um manicômio devido à comportamentos violentos e abruptos. Todos ficaram insanos.

Ninguém sabe de fato qual a força por trás desse prédio, mas se eu fosse você, eu não iria investigar pessoalmente...

11/04/2014

O Quarto do Gregory

Sempre levei uma vida tranquila e feliz, com a minha família, muitos amigos e um futuro brilhante na faculdade. Todos os meus conhecidos me respeitavam e também ganhavam o meu respeito. Eu sempre me dei bem com todos os meus professores e, apesar de não conhecer nenhum outro parente além dos meus pais, eu não me importava muito. Sempre tratei meus amigos como irmãos. Porém, havia algo que andei escondendo há muito tempo.

Eu, como muitos outros que conheço, desfrutei grande parte da minha infância nos anos 90. Tenho certeza que até os adultos também gostavam daquela época. Os videogames, a simplicidade e os ótimos desenhos animados.

Sim! Os ótimos desenhos.

Aos 6 anos fui tomado pelo grande desejo de me tornar uma das crianças que podiam assistir as demonstrações de desenhos que ainda seriam lançados. Meus pais aceitaram tranquilamente quando lhes contei o meu desejo. Afinal, esse era o “trabalho” perfeito para alguém da minha idade. Então, quando alguns funcionários da Nickelodeon apareceram na minha casa para pedir a autorização dos meus pais, eles tinham certeza de que isso era realmente o que eu queria. Tudo deu certo, e em uma tarde eles me levaram para a central da Nickelodeon. Eu estava tão excitado para ver tudo o que estavam fazendo antes das outras pessoas. Meus amigos ficariam com tanta inveja.

Chegando à central, fui levado para uma sala com uma grande TV, um aparelho de DVD (a primeira vez que vi um) e outras cinco crianças que estavam tão ansiosas quanto eu, todos esperando para assistir desenhos inéditos. A sala parecia com uma sala de estar qualquer, provavelmente para nos deixar confortáveis como se estivéssemos em nossas casas. Tinha um tapete, cadeiras, uma mesa, alguns jarros com plantas e um vermelho de tom agradável nas paredes.

Um funcionário apareceu do nada com um disco e um grande sorriso. “Estamos trazendo uma nova série para a Nick Jr.” Ele falou. “Se vocês gostarem, então vamos presenteá-los com uma cópia da primeira temporada completa!”

Todas as crianças começaram a comemorar enquanto o homem iniciava o DVD.

“Eu volto logo.” Ele falou com um sorriso brilhante enquanto saia da sala.

A TV iniciou com uma tela cheia de estática, o que era estranho já que a TV e provavelmente o aparelho de DVD eram de última geração na época.

A estática continuou por um tempo e logo apareceu na tela a imagem de uma lareira acessa. Então a câmera passava a mostrar todo o local. Não tinha música e nem uma introdução. A câmera mostrava uma cadeira de frente para uma janela, mostrando estrelas em um céu noturno. O local parecia aquecido e confortável. Dava para perceber que havia uma pessoa careca sentada na cadeira. Ele se virava lentamente, mostrando olhos grandes e assustadores e uma boca surpreendentemente realística.

Eu e todas as outras crianças ficamos surpresos com a aparência dele e esperamos para ver o que aconteceria.

Uma voz robótica e sem emoção quebrou o silêncio quando o personagem careca começou a falar, “Oh, eu não vi você ai”

A câmera mudou de posição, mostrando um corpo do personagem todo feito em CGI. Ele nos cumprimentou e falou:

“Olá, eu sou o Gregory, e esse é o meu quarto.”

A câmera dava um zoom no rosto assustador dele.

“Vamos nos divertir muito juntos, só nos dois!” E ele apontava para a janela.

“Podemos olhar para as estrelas juntos,” ele pegava um livro.

“Podemos ler juntos.”

A câmera se aproximava do fogo na lareira enquanto Gregory falava:

“Podemos olhas para as gloriosas chamas da lareira juntos.”

"..."

O silêncio surgia de repente, enquanto as crianças olhavam umas para as outras confusas. Esperamos por um tempo enquanto Gregory olhava para o fogo.

Ele voltava a olhar para a câmera e o rosto dele começou a se aproximar lentamente.

“Mas não importa o que façamos, será apenas nos dois e mais ninguém nesse quarto. Só eu e você.”

“Sem os pais.”

“Sem a policia.”

“Ninguém pode ouvi-lo.”

Uma música de fundo distorcida começava a tocar enquanto o rosto dele chegava mais e mais perto. Não apenas o rosto dele, como também o local ao fundo começava a ficar estranho enquanto chamas transparentes tomavam o local.

“Abrace-me”

“Eu. Preciso. De amor.”

"gReGorY pREciSA dE AmOr..."

O desenho (se é que aquela coisa poderia realmente ser chamada de desenho) acabava com o rosto do Gregory paralisado encarando a tela. Todas as crianças começaram a chorar. O funcionário voltou para a sala com um olhar furioso e falou algo que ficou marcado em minha memória. “Droga! Pensei que esse cara tinha aprendido a lição a muito tempo, mas...!”. ele gritava furioso enquanto arrancava o disco do aparelho de DVD e colocava as crianças para fora da sala.

Enquanto eu era guiado para fora da sala, pude ver rapidamente a capa do disco que estava na mão do funcionário. Na capa tinha escrito:

"O Quarto do Gregory"

Depois de alguns dias, começaram a surgir noticias de pais processando a Nickelodeon por exibição de conteúdo impróprio. Meus pais não gostaram nada do que aconteceu naquele dia e resolveram me proibir de voltar ao estúdios da Nickelodeon.

O tempo passava e eu não conseguia esquecer tudo aquilo que aconteceu. À medida que fui envelhecendo e entrando no mundo da internet, pude encontrar uma versão daquele estranho desenho. Agora tento entender o significado dele, e o objetivo de sua criação.



10/04/2014

Dave Shaw

[Nota: essa é uma história real.]

Dave Shaw foi um piloto de aviões e mergulhador australiano, que em 28 de outubro de 2004 quebrou o recorde mundial de mergulho profundo (270 metros). Dave é uma das onze pessoas que foram além dos 240 metros submarinos.

Na data, Dave encontrou o corpo de Deon Dreyer, um mergulhador australiano que morreu 10 anos antes quando também tentou quebrar o recorde mundial. Dave decidiu resgatar o corpo de Dreyer, e para encontrá-lo novamente, deixou uma corda amarrada ao corpo de Deon. Em janeiro de 2005, outros 8 mergulhadores e um time de resgate se uniram a Dave na tentativa de resgate do corpo.

Durante o resgate, entretanto, algo deu errado: inesperadamente, o corpo de Dreyer começou a flutuar após a corda ter sido cortada. Shaw havia deixado as baterias de sua lanterna no piso da caverna submarina, e uma vez que as baterias eram conectadas à lanterna por meio de cabos, estes (junto à corda que estava presa em Dreyer) se enroscaram em Shaw. O esforço para tentar se libertar de todos esses cabos acabou levando Dave Shaw à morte. Apenas no dia seguinte, enquanto o restante da equipe ainda fazia buscas e recuperava o equipamento, seu corpo e o de Deon Dreyer boiaram até a superfície.

Website de Dave Shaw (permanece exatamente como ele o deixou antes de seu último mergulho): http://www.deepcave.com/pages/3/index.htm

[Esse artigo na Wikipédia e essa matéria do The Telegraph foram usados como referência para a elaboração desse post]

02/04/2014

Batidas na janela

Deito em minha cama, inquieto e solitário, em uma noite sombria e silenciosa. Viro e reviro na cama tentando encontrar uma posição confortável, mas me sinto apreensivo demais. Algo nessa noite não estava certo. Continuo me revirando e finalmente encontro uma posição confortável.

Fecho os meus olhos, mas não faz diferença, de qualquer modo o meu quarto já estáva bastante escuro e levaria algum tempo para os meus olhos se ajustarem à escuridão. Fico deitado, quieto e silencioso em uma noite fria e sombria. Meu corpo está relaxado, meus pensamentos se esvaindo, e estou pronto para um merecido descanso. Instantaneamente, o silêncio é despedaçado e a minha mente se enche com o medo enquanto meus olhos se arregalam com o susto.

Knock. Knock.

É quase inconfundível o som de um punho batendo no vidro. Mas não era, não poderia ser. O que levaria alguém a querer me acordar a uma hora dessas? Pense logicamente. Se alguém quisesse invadir a casa, por que iria me avisar antes com uma batida?

Monstros não existem. Eu poderia me acalmar e simplesmente olhar para a janela, mas eu estava virado para o outro lado e com muito medo de virar a cabeça e dar de cara com os meus piores pesadelos do outro lado da janela. O que poderia ser então? Talvez alguns pássaros se batendo em minha janela. Não, muito surreal. Um grupo de pássaros poderia estar voando no meio da noite? Batendo em algumas janelas e assustando algumas pessoas só para se divertirem? Deixe-me pensar melhor, talvez seja apenas a minha imaginação. Talvez eu ouvi apenas o típico ranger da casa e em minha paranoia acabei confundindo com uma batida.

Knock. Knock.

Não, dessa vez definitivamente não foi a minha imaginação. Droga! Só pode ser algum pivete idiota esperando que eu apareça na janela para que ele possa me assustar e jogar pedras em mim. Não, não devo pensar nisso. Tenho que parar com essa paranoia. Além disso, ele está lá fora, e eu estou aqui dentro, enquanto eu não ouvir a janela sendo quebrada eu sei que estou seguro. Monstros não existem. Eu ainda não reagi, talvez esse pirralho pense que não estou aqui ou que tenho um sono pesado e vá embora.

Knock Knock.

Não deve ser uma criança. Nenhuma criança ficaria tanto tempo esperando por uma reação minha; ela já teria se entediado e ido embora. Então, o que seria? Por que um serial killer me escolheria entre tantas pessoas? Pense logicamente. Monstros não existem. Não fique paranoico. Ele está lá fora, e eu aqui dentro, enquanto eu não ouvir a janela sendo quebrada estarei seguro. Mas, e se não for um monstro ou algum tipo de assassino, o que seria? Eu só tenho que dormir e talvez ele vá embora.

Knock. Knock.

Oh Deus! Não consigo pensar em um barulho que eu possa odiar mais do que essas batidas persistentes! Por favor, vá embora! Deixe-me em paz! Não tenho como escapar. Ele vai entrar e fazer coisas terríveis comigo! Tenho que respirar fundo. Posso sentir meu coração pulando em meu peito. Só tenho que relaxar.

Monstros não existem. Lembre-se, ele está lá fora, e eu aqui dentro, enquanto eu não ouvir a janela sendo quebrada estarei seguro. Não posso deixar o medo me dominar. Só tenho que dormir e não mover um musculo.

Knock. Knock.

Ele está lá fora, e eu aqui dentro, enquanto eu não ouvir a janela sendo quebrada estarei seguro. Monstros não existem. Só tenho que dormir e rezar para que essa coisa vá logo embora.

Knock. Knock.

Ele está lá fora, e eu aqui dentro, enquanto eu não ouvir a janela sendo quebrada estarei seguro.

Lágrimas de medo começam a escorrer pelo meu rosto. Monstros não existem. Monstros NÃO existem. Começo a sussurrar para mim, “Ele está lá fora, e eu aqui dentro, enquanto eu não ouvir a janela sendo quebrada estarei seguro. Ele está lá fora, e eu aqui dentro, enquanto eu não ouvir a janela sendo quebrada estarei seguro.”

Knock. Knock.

NÃO AGUENTO MAIS ISSO! Vou ficar maluco ouvindo essas batidas! Se eu pudesse pelo menos ver o quê esta fazendo isso eu ficaria em paz! Tenho que respirar fundo. E repetir mais uma vez, “Ele está lá fora, e eu aqui dentro, enquanto eu não ouvir a janela sendo quebrada estarei seguro.” Tento respirar calmamente. Meu coração parecia que ia estourar a qualquer momento. Lentamente começo a virar a cabeça para olhar a janela.

Meu coração afunda em meu peito e o medo quase me deixa paralisado.

Eu virei a cabeça para o olhar a janela.

Eu virei a cabeça para perceber que a criatura pálida com olhos negros brilhantes e um sorriso assustador já estava aqui dentro o tempo todo... batendo em minha janela.

01/04/2014

Episódios Perdidos

Eu não quero acabar com a graça de ninguém aqui... Por isso, se você acredita naquelas lendas de “Episódios Perdidos" assombrados e gosta de viver nesse “mundo”, talvez esta história não seja para você.

Não me interpretem mal - eu odeio quando as pessoas queixam-se da "falta de realismo" no mundo do entretenimento, e eu acho que todas as crianças precisam acreditar em Papai Noel e da Fada do dente o máximo tempo quanto possível, mas ... isto é diferente.

Nos anos 80 eu conheci esse cara, Sid, que costumava cortar cenas de fitas VHS antigas. Era mais do que um hobby para ele - era praticamente toda a sua vida. Seus pais eram um pouco mais ricos do que os meus, por isso quando éramos adolescentes, eu trabalhava escravizado em um restaurante fast food enquanto ele só andava pela casa, cortando fitas. Todos os dias. Todas as noites.

Claro que, quando ficamos mais velhos, nosso passado fica um pouco mais claro, então acho que ele poderia ter tido um pouco de autismo... Ou talvez ele fosse uma pessoa com hiperatividade. Mas é claro que eu não sou nenhum expert no assunto e não estou dizendo que esse tenha sido o caso. É apenas a melhor e mais rápida maneira que eu posso pensar para explicar sua personalidade e essa obsessão com o corte de fitas, só cortando e cortando fitas.

Tudo começou quando ele viu um filme chamado “Meu Melhor Companheiro" quando criança. Por alguma razão, seus pais o deixaram assistir aquela merda. Se você não estiver familiarizado com esse filme, é o conto de um menino e seu cão. Espero não ter que dar o spoiler de um filme tão velho, mas no final, o menino tem que atirar no seu próprio cachorro, que acabou pegando raiva.

Sid não gostou disso. Seu pai fotografava e gravava casamentos, então ele mostrou a Sid como operar algumas das máquinas de filmagem... E Sid cortou o final, substituindo-o por uma cena anterior, mais feliz, como se "Meu Melhor Companheiro" de repente tivesse ficado "melhor".

Ele assistia a fita obsessivamente depois disso, quando eu o conheci, em sua adolescência. Ele me fez assistir uma vez para mostrar como ele o "consertou" e eu pude realmente imaginá-lo como um menino quando ele começou a aplaudir e torcer pelo seu próprio final.

Não quero dizer que eu era uma má influência, mas depois que eu assisti, perguntei se ele poderia fazer isso com outros filmes.

Meu maior interesse era talvez pegar um filme ou dois e colocar alguns quadros de nudez que as atrizes realmente não haviam feito... Mas não se preocupem. Eu nunca tive coragem de perguntar se ele realmente o faria. Eu só imaginava o quão seria legal. Várias vezes.

Sid me disse que sim. Ele podia "consertar" qualquer filme que quisesse. Na verdade, ele tinha feito isso com alguns outros. Ele tinha uma cópia do filme dos Caça-Fantasmas e - eu não estou zoando - cada fantasma tinha sido completamente removido. A história não fazia sentido, não havia continuidade, mas ele conseguiu fazer isso, e eu fiquei bastante impressionado.

Acho que, na época dos VHS, essas coisas pareciam mais mágicas do que parecem hoje.

Conforme o tempo passou, eu fui encorajando Sid a editar mais filmes, mas com finalidades diferentes. Ao invés de suavizar todo o material assustador como ele queria fazer, eu fiz com que ele "abrisse" sua mente, sobre as coisas incríveis que ele poderia fazer.

Em algum lugar lá fora, alguns fãs gordinhos de Star Wars do nosso colégio tinham todos os três filmes originais perfeitamente cortados e juntados, com edição de efeitos que teriam feito o próprio George Lucas gritar: 

"Não se intrometa!"

Nós cobramos vinte reais por uma única cópia, porque éramos idiotas.

Enfim, isso continuou por um tempo antes de eu perder meu interesse. Foi mais uma brincadeira para mim do que para ele. Este é o ponto onde eu comecei a trabalhar, comecei a dirigir, comecei a tomar iniciativa com as garotas locais... Enquanto ele ficava cada vez mais envolvido no corte das fitas.

Eu acho que seus favoritos eram os desenhos. Quando Os Simpsons chegou, ele ficou louco por eles.

A partir dai, suas edições não eram mais sobre consertar as coisas, mas sim "quebrá-las" de maneiras interessantes.

Outra coisa que ficou em minha mente foi quando ele gravou um episódio de "M * A * S * H" e editou com um velho filme sangrento de guerra. No meio da sua versão, o campo é bombardeado... Soldados invadem. Todo mundo morre. No final, ele trabalhou especificamente em congelar os rostos de cada membro do elenco. Olhos fechados.

Ele inverteu completamente os seus interesses e abraçou o que antes o assustava: Finais assustadores. Ele parecia amar coisas como, sequencias de tirar o fôlego, com um silêncio aterrador. Ele me fazia ficar quieto enquanto eu os assistia também.

Você pode ter ouvido falar sobre este homem misterioso chamado Banksy, que vai criando grafites interessantes e outras coisas. Em um ponto, ele entrou em uma loja de música e substituiu alguns CDs de Paris Hilton com suas próprias falsificações.

Banksy não tinha nada a ver com o Sid. A cada duas semanas, ele me contava sobre algumas lojas ou locadoras de vídeo em que ele conseguiu colocar algumas de suas fitas. Ele trocava as versões reais pelas suas versões, e então começava tudo de novo, cortando as que ele havia roubado.

Uma vez, quando eu não havia ouvido falar dele há muito tempo, passei na casa de seus pais e o encontrei na garagem. Ele montou seu próprio estúdio de cinema lá, completo e com uma prancheta de desenho.

Ele estava, na verdade, animando um conteúdo inteiramente novo.

De uma vez só, eu estava tanto encantado com sua habilidade artística que eu nunca tinha visto antes... Mas também fiquei preocupado com quando esse cara iria sair do escuro e começar a agir "normalmente", como eu.

Ele mal tirou os olhos de seus desenhos enquanto nos falamos. Lhe perguntei o que qualquer criança, agora no final da adolescência, perguntaria.

- O que diabos está errado com você?

-Hm?

- Sério, cara. Isso é loucura.

- É um trabalho. Estou trabalhando. Meu trabalho é tão importante quanto o de qualquer outra pessoa.

- Você está ao menos vendendo isso de novo, ou você está apenas os colocando em lugares? Quanto tudo isso está custando ao seu pai? "

- Eu não me importo com eles.

Olhei para o que ele estava com ilustrando com tanto fervor.

- Isso é um corpo sem cabeça? Dançando? "

- Aham, sim.

- Isso é muito pesado, cara.

- Eu sei. Esse é o objetivo.

- Eu não entendo.

- Essas fitas. Pensei que elas estavam erradas, mas com o tempo, eu descobri a verdade.

- Que é...?

- As coisas assustadoras são as corretas. Os finais felizes que são mentiras.

Ele só continuou desenhando enquanto eu estava lá. O silêncio era perturbador, e naquele momento, pude sentir o cheiro que saia dele. Não era só suor. Era uma mistura de uma bunda suja e um pano encharcado de mijo.

Eu odeio dizer isso, mas desisti dele naquela hora. É aquele momento em que você olha para alguém que você achava que conhecia, e tudo o que consegue pensar é: "Puta merda, eu nunca pensei que ele iria tão longe."

Não foi até meus 30 anos que Sid passou pela minha cabeça novamente. Eu estava procurando coisas na internet, apenas vagando sem rumo na web, quando me deparei com uma série de "lendas urbanas" sobre fitas VHS, filmes estranhos, e os episódios perdidos.

Alguns deles, eu reconheci, pois havia assistido com Sid, ou já havia o visto trabalhando com eles. Cada cena perturbadora, cada edição inacreditável... Eu acreditava na lenda, porque estive lá.

Tinham muitos outros... Desenhos do "Bob Esponja", Episódios de "Coragem, O Cão Covarde" ou qualquer outra coisa, esses foram lançados muito tempo depois de eu ter me afastado de Sid, mas o estilo era muito familiar. Mesmo os que pareciam serem sua obra, pareciam ter sido cópias do seu jeito ou tentativas de imitar seu trabalho.

Ele ainda estava fazendo isso. Meu Deus, aquilo travou minha mente.

Liguei para o número antigo do Sid, não sabendo ao certo se eu ainda o encontraria lá. Ele tocou por alguns minutos, e eu sabia que a procura era impossível. Mesmo que ele ainda vivesse com seus pais, não era provável que eles ainda vivessem na mesma casa até agora.

Ainda assim...

Decidi ir até sua antiga casa, para ver se ele ainda estava naquela garagem, cortando fitas, manipulando-as através do computador, ou qualquer coisa que ele estivesse fazendo. Quando passei pela casa, vi que o gramado havia sido coberto por um grande e volumoso mato alto. A fachada em ruínas da casa, com a sua pintura descascando ao redor das persianas, faltando telhas, e com as sarjetas cheias de lama, me diziam que ninguém vivia ali há muito tempo.

Eu vi um bilhete na porta, mas não conseguia lê-lo da rua. Talvez fosse algo que eu pudesse usar para localizar Sid e ver se ele já havia procurado a ajuda que agora percebi que eu deveria ter dado a ele.

Entrando no caminho, meus faróis iluminaram a porta da garagem. Estava sem janelas e tinha sido vandalizado com pichações de alguns babacas da rua.

O bilhete na porta, como era de se esperar, falava de um banco que agora era proprietário do imóvel.

Observo que minha "invasão" foi fortemente desencorajada, e que em um determinado momento, alguém viria para se certificar de que a casa foi "comprometida ". O que quer que isso seja.

Enquanto eu caminhava de volta para o carro, abalado, algo estava me incomodando. Eu sabia que os pais de Sid deixavam uma chave reserva sob uma pedra falsa nas escadas dos fundos, devido ao Sid ter nos trancado pra fora em diversas ocasiões.

Quando encontrei a chave, uma sensação de frio, aquele arrepio de medo, invadiu no meu estômago.

Quem se mudaria e deixar tudo num lugar como aquele? A chave era a coisa mais óbvia, mas vasos de flores e decorações de jardim ainda estavam lá. A velha bicicleta enferrujada de Sid estava encostada na casa, e tinha criado grossas listras enferrujados ao longo do revestimento de alumínio.

Eu realmente não sei o que esperava encontrar, mas usando a chave, entrei na casa.

O cheiro era forte.

Não era um cheiro pútrido, nada podre ou em decomposição... Apenas o cheiro de... Eu não sei se isso fará algum sentido para você, mas... Cheiro de eletricidade. Como a poeira queimada de uma lâmpada ou um aquecedor exalando o cheiro peculiar de metal aquecido.

Essa era a menor das minhas preocupações, no entanto, quando vi que tudo estava exatamente do mesmo jeito, desde a ultima vez que estivera lá. Tudo que a família do Sid tinha, parecia congelada no tempo. A mesa da sala de jantar onde nós todos nos sentamos em muitas ocasiões, estava coberta de poeira e tinha um rato morto cima, que já havia praticamente virado pó.

A televisão, aquela volumosa televisão de grandes dimensões, na qual todos nós nos sentávamos em volta para assistir as fitas de Sid e elogiávamos a sua criatividade, estava onde sempre esteve, exibindo silenciosamente um violento bombardeio de estática em preto e branco.

Enquanto fui andando pelos quartos, a sensação de pânico e desconforto dentro de mim só crescia. Cada fibra do meu ser gritava “CORRA... CORRA, seu idiota!”

Ainda assim, fui ai quarto de Sid. Ele agora estava vazio e em condições precárias. Seus bonecos e fitas de vídeo em branco... centenas de fitas de vídeo obsoletas e danificadas pelas infiltrações.

Quase cheguei a chama-lo, a gritar "Sid!" e esperar que ele aparecesse como se nada estivesse fora do comum.

E então, fui para o quarto de seus pais.

Lá, deitados na cama, estavam dois corpos imóveis. Gaunt. Gray. Metade havia sido infestado por pó, assim como o rato na sala de jantar.

Eu mal podia acreditar no que eu estava vendo com meus próprios olhos. Não apenas os dois corpos estavam lentamente se dissipando dentro dessa área suburbana, mas... Como ninguém havia estranhado a ausência deles? Ninguém havia descoberto aqui, até agora.

Minha mente surtou. Meu coração disparou. As únicas coisas que não se moviam eram os meus pés, que ficaram colados no local.

Sid, pensei, deve ter feito isso. Não havia maneira dos dois terem apenas se deitado uma noite e morrido de causas naturais, juntos! Sid tinha dito que não se importava com seus pais, e...

Quando foi a última vez que eu havia os visto? Deus, eu não havia os visto por dias, droga, talvez SEMANAS antes da última vez que falei com Sid...

Quando finalmente sai do quarto, peguei meu celular e comecei a discar o 190. No entanto, assim que eu o coloquei no ouvido, um ruído ensurdecedor de interferência quase me fez arremessar o objeto pra sala.

Corri para o telefone da cozinha. Guinchando estática.

Tentei o telefone da sala só para ter certeza. Estática.

Não foi até colocar o telefone na base, que eu a ouvi... Musica. Baixa, quase inaudível, que eu não havia notado antes. Parecia ser alguma melodia repetitiva, leve e feliz. Algumas flautas, talvez trombetas.

Segui a melodia animada para a porta que vai para a garagem. Pressionando meu ouvido na superfície suja da porta, vi que a música realmente vinha dali.

- Sid? - Eu chamei, mal conseguindo formar o nome com os lábios frios, dormentes - Sid, você está aí? Você está bem?

Eu tentei abrir a porta só para ver que algo ou alguém estava de alguma forma bloqueando-a do outro lado.

Estava, na verdade, já que um chute selvagem quase tirou a madeira apodrecida de suas dobradiças.

- SID? - Gritei quando a poeira baixou lentamente.

Através da neblina, eu só podia ver a luz de uma tela de televisão. As cores vibrantes. Azul, verde, amarelo...

Logo, eu vi um desenho animado passando na tela. Em seguida, os fios de prata que vinham do próprio equipamento, até alguma massa escura. Em seguida, a massa escura foi tomando, e quando meus olhos se ajustaram à iluminação estranha.

Era Sid... Ou melhor, seu corpo... não estava morto há tanto tempo como seus pais. Ele sentado em uma velha cadeira de escritório. Os fios do aparelho de televisão ligavam diretamente para o seu corpo, acabando por desaparecer em várias crostas de buracos em sua carne. Através de uma pequena abertura carcomida em suas costelas, pensei ter visto mais metal dentro.

Eu andei para o lado de Sid, com a minha mão sobre minha boca, com medo de vomitar. Seu rosto estava torcido em um hediondo, largo sorriso... suas órbitas vazias quase pareciam feliz, com uma cara de satisfeito.

- Olá! - Ouvi uma voz dissonante.

A voz era otimista. Estridente. Soou quase como Sid, mas ... diferente. Cartunesca, como a de desenho animado.

Me virei para a tela. A grama verde, o céu azul, as flores amarelas... e Sid. Uma caricatura perfeita dele! Ele caminhou ao longo do loop infinito no fundo utópico do desenho animado.

Ele acenou para mim.

- Sid... Oh Deus, Sid!

Ele... a versão cartunizada dele ... voltou sua atenção para longe de mim e continuou a passear alegremente através daquele ciclo interminável do mesmo plano de fundo. Ele passou por um arbusto. Depois passou de novo... E mais uma vez ... O mesmo passarinho, cantando alegremente, voava através do céu em uma figura interminável.

- Sid... - Balancei a cabeça, incapaz de compreender o cenário - Eu nunca deveria ter deixado você sair da realidade.

Eu pensei sobre o que Sid tinha feito com sua mãe e seu pai. Eu pensei sobre como o banco viria em breve e como tudo isso viria à tona. Assisti Sid caminhar por cerca de uma hora e meia. Após isso, eu desmaiei para nunca mais acordar, e as últimas palavras que eu ouvi de Sid, antes de me tornar um desenho animado, também foi:

"Finais felizes não existem pra ninguém. Aqui dentro, não existe um final."

Fonte (fizemos algumas modificações e correções): http://sigmapasta.blogspot.com.br/2013/11/episodios-perdidos.html