30/05/2020

Sussurros na Escuridão (Parte 1)

Confesso para você, meu único amigo, que nunca levei meu “dom”, se posso chamar assim, como algo divino, era sempre assombroso demais, até que cresci. Mas me lembro bem de quando as coisas começaram.

Eu tinha cerca de sete anos ou um pouco mais, estava sentado na sala de casa assistindo um desenho qualquer na televisão, até que vi uma mulher muito diferente de todas da minha família, entrar pela porta, parecia uma cigana, os cabelos pretos esvoaçantes, a saia rodada e os véus pelo corpo, ela apenas se sentou ao meu lado e sussurrou palavras que eu não entendia, não parecia que estava conversando comigo, mas em um momento de reflexão. Quando perguntei quem era ela, percebi que minha voz estava um pouco elevada e talvez por isso a mulher tenha se assustado, levando a mão até a boca em surpresa, talvez ela não tivesse me visto e então perguntei de novo quem era ela, queria saber se era uma tia distante ou uma prima que não conhecia, mas ela não respondeu, só continuou da mesma maneira, me observando de cima para baixo, quando insisti novamente na pergunta, minha mãe interviu da cozinha:

- Com quem você está falando Gustavo? – Minha mãe colocou a cabeça pela soleira da porta e observou, mas em vez de seus olhos pousarem em cima da mulher, apenas me fitavam – Você não está com essa bobeira de amigo imaginário, não né?

No momento eu até senti meu coração se acelerar. Como era possível minha mãe não ver a mulher do meu lado?

- Ué mãe, tou falando com a mulher dos véus...

- Que mulher?

Quando virei novamente, não tinha ninguém lá, nem sinal que esteve realmente ali, nem o lugar onde havia sentado estava quente, parecia que tudo estava normal.

- Que mulher Gustavo? – Eu não conseguia raciocinar direito, apenas olhava para minha mãe e para o chão, tentando criar uma relação lógica entre tudo aquilo – Olha, se eu souber que você fez isso para me assustar, vai ficar uma semana sem o videogame, agora me diz, com quem estava falando?

Não me lembro quais palavras usei para convencer minha mãe do que tinha acontecido, e acho que também não consegui, porque ela apenas colocou a mão na minha testa, como se tivesse medindo a temperatura e depois saiu de volta para a cozinha, sem dizer mais nenhuma palavra, e quando meu pai chegou do serviço, ela também não comentou nada, não na minha presença, talvez depois tenha feito, quando eu estava dormindo.

A única coisa que sei é que aquela noite foi a pior da minha vida, foi repleta de pesadelos indecifráveis, visões de acidentes e de pessoas que nunca tinha visto na minha vida, não tive sequer um sonho normal, algo que uma criança pudesse se orgulhar. No outro dia, quando contei para meus pais, a única coisa que disseram era que eu devia rezar mais antes de dormir, que isso era um castigo por eu ser, por vezes, um menino desobediente. E eu acreditei que com isso não teria mais uma noite como a passada, só aquela vez já tinha bastado. E meu primeiro ato de proteção foi fazer uma prece, do jeito que só uma criança sabe fazer, cheia de promessas de mudança e um fim “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. ” Coloquei no meu coração que aquilo seria meu ritual para ter uma noite tranquila de sono. Mas não foi bem assim.

Eu cheguei em casa esgotado naquele dia, tinha tido aula de matemática e outras coisas que exigem bastante o uso do cérebro, mas ainda sim tive energia para brincar na rua com meus amigos e gastar o restinho dela resolvendo os deveres de casa.

Quando me deitei só tinha um único pensamento: dormir até tarde, já que no outro dia era sábado, e logo peguei no sono, não sem antes fazer minha prece de proteção.

Logo nos primeiros momentos, que me lembro, daquele sono, fui tomado por visões, pessoas encapuzadas em volta de um livro aberto, velas tremeluzindo, como nos filmes de terror. Elas pareciam entoar algum cântico em outra língua e tremiam, as vezes violentamente, suas vozes assumindo um tom de clímax, até que pararam e de uma só vez me olharam. Meu único instinto foi correr, mas não deu tempo, como um raio a visão mudou.

Agora eu estava dentro da minha própria casa, as mesmas cores, decorações, mas haviam outras pessoas, muitas outras pessoas, não as conhecia, não eram minhas professoras, nem tias. Estavam por todo o canto, em cima da mesa, deitadas sobre o chão, no sofá, algumas conversavam entre si, outras apenas me observavam passar. Pareciam despreocupadas, assim que toquei a maçaneta da porta do meu quarto, a visão mudou novamente.

Meus pais, tios, primos, olhavam para mim de cima, pareciam tristes com alguma coisa, e eu sentia que estava deitado em algo macio, talvez na minha cama, mas por que estavam chorando? Alguma coisa dentro de mim fez sentido quando minha mãe, muito chorosa, disse:

- Já vai começar a chover, vamos enterra-lo logo, não suportaria ver meu menino na chuva – E desatou a chorar novamente

Me enterrar? Eu estou vivo! Foi exatamente o que eu gritei, mas não surtiu efeito nenhum, pareciam não me ouvir e então simplesmente fecharam a tampa do que seria meu caixão e vi, pelo vidro, depositarem pás e pás cheias de terra em cima de mim, até que já não via mais nada do lado de fora. A sensação? Horrível, eu aranhei o quanto pude as paredes da minha tumba, soquei, gritei por socorro, mas já sentia minhas unhas se quebrarem com o esforço, e um fino gosto de sangue descer garganta abaixo, minha voz já não saia mais, estava suado e o coração batendo a mil, era o único som que podia ouvir ali dentro, até que comecei a sentir aquela sensação, de quando se está morrendo sufocado: o calor e a queimação que subia do peito para a cabeça que logo foi substituído aos poucos por um frio incomparável, sentia meu peito comprimir e minhas mãos aos poucos ficarem geladas, e um sono, muito sono, não havia mais desespero, somente o frio.

Quando acordei estava suado e tremia da cabeça aos pés, eu havia sentido todas as sensações, o frio, a falta de ar, e a primeira coisa que pensei em fazer foi correr para o quarto dos meus pais, mas quando vi a escuridão que rondava a casa decidi simplesmente voltar para a cama, e não preguei os olhos o resto da noite.

Depois daquela noite minha vida mudou completamente. É lógico que no dia seguinte contei aos meus pais sobre o que aconteceu. Mas foi em vão, na verdade nem me deixaram terminar, minha mãe simplesmente cortou o que poderia ser o início de uma confissão:

- Gustavo, pare com essas bobeiras já!

E imediatamente voltou a colocar as coisas para o café na mesa, murmurando depois um simples “Não quero mais saber disso”. A sensação foi sufocante eu de fato não seria ouvido, mas não colocava a culpa em ninguém, a criação religiosa dos meus pais os deixou assim, incrédulos sobre coisas que envolviam espíritos e visões, e então me calei, não seria ouvido e arrumaria um jeito de colocar para fora tudo o que vi, e veria.

Uma semana depois ainda buscava um ouvido para saber da minha desventura passada, mas todos moldavam a mesma expressão de incredulidade, parecia que eu estava falando a maior das heresias em uma língua imunda, não seria assim que conseguiria ser ouvido, precisava de outra maneira.

Eu não gostava do nome “diário” por isso chamei de Caderno dos Sonhos, mesmo que fossem pesadelos, eu só não queria chamar atenção dos meus pais. Meu caderno tinha desenhos disformes e histórias inacreditáveis, que só eu sabia ser verdade.

Com o passar do tempo e o aumento das obrigações que uma vida de adolescente exige, acabei esquecendo do tal caderno, ou para ser sincero, simplesmente o deixei de lado, me acostumei com as visões que vinham toda noite sem falta, algumas duravam apenas alguns minutos, flashes e vultos, em outras eu era o expectador, vendo o desenrolar da trama, impotente, pessoas enterradas vivas, acidentes de carros e mortes, mas elas nunca se repetiam. O que me atordoava antes, a ponto de me deixar o dia todo assustado, suando frio e olhando para os lados a cada instante, como um foragido, agora era apenas motivo de um grande nada, isso mesmo, nada, eu me tornei incapaz de sentir alguma coisa, fiquei absorto, eram anos da mesma coisa. Coloquei na minha cabeça que nem preces, nem pessoas, seriam capazes de resolver meu problema, dom, seja lá o que isso significava na época, e por isso, passei a ignorar.

Mas mesmo assim, meu amigo, ignorar também não foi o remédio certo, parece que depois disso as coisas passaram a desandar ainda mais, minha vida era apenas meu trabalho, sequer tinha uma namorada que suportasse minhas crises da madrugada, a maioria das garotas que me envolvia fugia no dia e seguinte e as mais corajosas duravam pouco mais de uma semana, bastava me ouvir contar sobre minhas visões para que pudessem fugir, assombradas, dizendo sempre a mesma coisa: “Você é louco”. Ah! Eu ouvi tanto essa frase.

Enfim, apesar de tudo isso, minha vida não era de todo ruim, a luz do dia era a minha escapatória, acordar, trabalhar, visitar os pais no final de semana e dizer-lhes que tudo estava bem.

Mas parece que o destino ou as forças que moviam minhas visões não queriam que eu as deixa-se de lado, e foi justamente por causa desse acontecimento que eu vim parar aqui, conversando com você, que no final vai fazer a mesma cara de espanto e dizer que sou louco, só que dessa vez com convicção, sabe, as vezes sinto que realmente a sanidade me fugiu em algum momento, talvez quando não tive ajuda, ou quando simplesmente decidi deixar passar, a verdade é que nunca vou saber o que realmente passa, o porquê fui “agraciado” com essa misticidade. Tenho pouco tempo eu sei, e já devo estar prestes a morrer nesse momento em que lhe conto minha história, mas não estou com medo, longe disso, confessando para você, me sinto até bem, talvez encontre na morte meu alento. Me desculpe, me perdi um pouco, continuando.

Antes de vir parar aqui, eu tive o que julgo “a última visão”, dessa vez não eram com pessoas desconhecidas, te contei isso? Então, todas as antes dessa eram com pessoas que nunca vi na minha vida, mas essa era diferente, era com a minha vizinha.

Autora: DarkQueen

28/05/2020

Ninguém acreditou quando eu fui abduzido por monstros

Eles não acreditaram quando eu fui abduzido e vi aqueles monstros fazendo coisas comigo, enquanto estava sob o efeito de alguma coisa que foi aplicado na minha pele por algum tipo de mecanismo de ataque deles. Por ser um dos mais jovens da família, deduziram que foi mais uma brincadeira ou algo do tipo, mesmo sabendo que os meus dois irmãos mais velhos ficaram sobre suas posses e, possivelmente, estão mortos.

A bola de fogo estava brilhando no meio-dia em cima das nossas cabeças quando a gente precisou nos separar, os meus irmãos falaram que seria legal nós procurarmos algumas frutas enquanto o outro grupo se distanciaram para próximo das pedras. Estávamos tão distraídos quando eles chegaram dentro dos seus objetos e, quando finalmente percebemos o perigo, já era tarde demais porque estavam por todas as partes nos cercando e examinando.

Eram coisas como nós, mas grandes, apavorantes, esguias e nos seus corpos não existiam pelos, com exceção de uma coisa asquerosa e assustadora se descascando e movimentando como se estivesse sido pregada utilizando outros corpos mortos. No meio da situação, não soube o que fazer e os meus irmãos permaneceram agressivos diante dos invasores. Aproveitei o momento em que nós três trocamos olhares, e eles nem precisaram dizer nada para eu tentar correr enquanto atacavam os monstros que estavam chegando mais próximo de nós, mas não adiantou: algo machucou minhas costas, penetrando minha pele e fazendo as minhas forças sumirem em uma escuridão silenciosa.

Fiquei por muito tempo deitado em um lugar, enquanto estavam examinando cada centímetro do meu corpo. Minha cabeça formigando e a visão embaçada foi suficiente para distinguir coisas assustadoras brincavam comigo, e tudo acabou antes de eu definitivamente apagar, sentindo os instantes em que colocaram algo dentro do meu braço. Não sei quanto tempo passou, quando despertei estava um pouco fraco. Adrenalina de ver eles me observando, enquanto eu tive espaço para fugir e encontrar minha família, foi suficiente para contar tudo o que aconteceu, e eles brincarem e gargalharam. Minha própria família desacreditou de tudo o que havia acontecido e ignoraram o meu sumiço.

Essa noite todos estavam despreocupados, dormindo em seus lugares, e eu sabia que tinha algo de errado, pude sentir que guardaram alguma coisa dentro de mim e tudo isso foi suficiente para não conseguir descansar, mas o cansaço me dominou e a fraqueza. Tudo estava calmo demais, a natureza fez todos descansarem em uma harmonia. Junto com toda minha família descrente, não pude fazer nada quando os monstros voltaram. O barulho dos seus objetos se aproximando e uma quantidade enorme deles, cercando todo o nosso grupo. Não existia espaço para pensar em fugir. Coisas brilhosas ofuscavam os olhos, e eles começaram a nos atacar com suas coisas e fazendo ficar todos nós fracos para dormir...

Eu não quis acordar essa manhã, detido em umas de suas prisões, com outros membros da minha gente, em um espaço muito pequeno e imitando o nosso lar. Eles ficaram horrorizados por um tempo, mas foram logo se acostumando com a situação, bem diferente de mim. Nós estávamos sendo estudados, alimentados, observados como se não tivéssemos sentimentos e gostássemos de está aqui. No decorrer dos dias, monstros aparecendo em todo momento, todas as manhãs e tardes para nos observar, fez com que a maioria ficassem tristes e depressivos. Não tinha como escapar porque estávamos presos e longe de casa.

Suas linguagens não davam para ser compreendidas e costumavam falar muito, enquanto apontavam para o nosso grupo. Os monstros grandes e pequenos, se divertiam, mastigavam os seus alimentos repugnantes, mas a loucura fez algum dos meus parentes ficarem tentados por saber o que eles pretendiam, saborear seus alimentos e o que significavam as suas linguagens. Seja lá o que for, nesse lugar existem várias outras coisas presas e espécies que eu nunca vi.

Em algumas ocasiões, as miniaturas, mas não menos assustadoras, jogavam coisas saborosas, e membros da minha família devorava como se fossem banais. Nessas ocasiões, um dos monstros, que parecia dominar o lugar, sempre repetia essas palavras em seu vocabulário que eu não conseguia interpretar, muito menos nenhum dos outros ignorando a situação:

"Obedeçam as regras, não alimentem os macacos do zoológico..."

Autor: Sinistro

26/05/2020

O despertar do fim

Era uma sexta feira, lembro como se fosse hoje. Lembro do cheiro da terra molhada por conta da chuva, lembro dos cachorros do vizinho chorando com medo dos trovões. Lembro também do grande tremor que aquela criatura causou ao se revelar, saindo de trás das nuvens carregadas, assim mostrando seu gigantesco e assustador corpo. Eu observava confuso pela janela, nunca poderia imaginar que aquela criatura habitava o mesmo planeta que eu.

Cercada por relâmpagos, a criatura se movia com dificuldade, seus passos causavam tremores, e seus relâmpagos atingiam topos de árvores e casas. Não demorou muito até eu me dar conta do risco que corria, e sair as pressas da minha casa. Toda a vizinhança estava fora de suas casas observando aquele estranho acontecimento. Em menos de 30 minutos, vídeos de todo o mundo circulavam pela Internet mostrando outros monstros iguais aquele.

Eu nunca pensei que boa parte da humanidade acabaria assim de uma hora pra outra. Deveríamos ter percebido que aqueles OVNIS no começo do ano estavam apenas tentando nos alertar para o pior.

Autor: Stalin Stend

23/05/2020

Encontro

Quando entramos na minha casa, foi quase que automaticamente para que caíssemos em cima do sofá e começássemos a nos beijar loucamente. Começamos a tirar as roupas, em conjunto, quase que sincronizados e continuamos no mesmo local. Eu olhei nos seus olhos, naqueles grandes e brilhosos olhos verdes, lembrei da minha genitora, da minha tão bela e delicada mãe, mas ignorei para não atrapalhar na nossa noite romântica.

Estávamos sem nada cobrindo os nossos corpos, ela continuou beijando-me e a forma que fazia, era óbvio que havia tempo que não beija alguém, dado que, no primeiro momento do nosso encontro, ela disse que tinha filhos e não havia saído com mais ninguém faz muito tempo. Já eu, naquele momento intenso, continue ignorando as suas palavras. Mas algo fez com que sua voz fosse destruída na minha mente ao observar a sua pele, a sua pele tão branca e nostálgica, quase que sendo um retrato de algo da minha infância. Eu estremeci o meu corpo e apertei a sua mão, que até ficou vermelha, e ela assustou-se por um momento. Expliquei o ocorrido, que exagerei no meu carinho.

- Eu te amo, mamãe, sempre vou te amar para todo sempre... Não é assim que você queria!? - Mais uma vez ela se assustou quando deixei escapar os meus pensamentos estranhos, mas eu percebi que não queria quebrar o clima e continuou naquele momento entre nós dois.

- Acho que nós não podemos fazer isso no primeiro encontro. Aliás, eu esqueci de alimentar o meu filho mais novo e preciso voltar para casa. Sinto muito por qualquer coisa, quem sabe essa semana podemos nos encontrar uma segunda vez, não acha? -Não foi difícil não reparar a cor dos seus olhos, roubados do meu passado, tão verdes e radiantes, que fez com que os meus dentes trincassem com as aquelas palavras, mostrando que estava com medo e percebendo o meu comportamento, o qual se transformou radicalmente. Ela estava visivelmente assustada, sua pele branca ficou um pouco amarelada por conta da palidez. Por alguma razão, esta sentiu aversão a minha pessoa, diante do nosso momento amoroso.

Ela tentou levantar, no entanto, já era tarde demais porque, naquele momento quente do nosso amor, eu comecei a penetrar no seu corpo, diversas e diversas vezes. Ela agarrou o meu rosto, com sua mão machucando a minha face, com a outra, arranhou os meus braços. Eu continuei olhando nos seus olhos e dizendo que estava com saudades, chamando-a de "mãe", lembrando o passado. Isso deixou ainda mais assustada, mas ficou concentrada no momento no qual eu estava penetrando o seu corpo, de forma um pouco selvagem e sem pensar no romantismo dessa noite.

O sofá ficou úmido, eu disse que estava apaixonado, e ela continuou contorcendo-se. Eu não parei de penetrar, em razão de que os seus olhos arregalaram-se, esta deixou escapar um gemido, que foi sendo censurado por aquele momento. Parei por alguns minutos para respirar e observar o que eu fiz, deixando-me chocado, fazendo-me caí do sofá, derrubando alguns móveis e se afastando daquela cena. O meu ódio ficou maior por perceber que não ela nunca vai ser a minha mãe, apesar das semelhanças e de roubar tudo do meu passado. Aquela mulher não era minha mãe!

Conheci ela em um site de encontros, cheio de pessoas carentes e desesperadas, senti algo que havia vislumbrado no meu passado e parecia ser muito ela, mas não... Eu enganei-me mais uma vez! A faca estava quase que grudada no meu braço, como se fosse parte do meu corpo e, para ter razão que não estava errado, fui ao encontro do seu corpo e penetrei mais dezenas de vezes o objeto. Não parecia ser a mamãe! Ela não conseguiu segurar o mesmo ódio que eu tinha por aquela pessoa quando o Sol era jovem. Eu não posso matar mamãe mais uma segunda vez, contudo sinto que eu vou encontrar ela de alguma forma, vou conseguir me vingar mais uma vez daquela pessoa do passado, aquele fantasma horroroso.

Eu preciso! Necessito disso! Não consigo dormir direito! Tenho que fazer mais uma vez! Sei que os seus olhos, a sua pele e a forma de se comportar são as partes chaves que eu vou conseguir encontrar a mamãe. Mesmo após morta, ela está em todos os lugares, e eu conheci uma mulher, creio eu que, dessa vez, eu posso me vingar, tentar sentir o que eu senti naquela época. Vou poder penetrar o seu corpo, dezenas e dezenas de vezes, com a minha faca e sentir o seu sangue sobre o meu corpo, livrando-me do sofrimento que ela me causou...

Autor: Sinistro

21/05/2020

Invasão

Já fazem alguns meses desde que eles chegaram, com suas naves de design misterioso eles adentraram nossa atmosfera no meio da noite.

Naturalmente os governos do mundo todo se alarmaram em busca de uma forma de descobrir o que estava acontecendo, mas não foi necessário muito esforço pois rapidamente eles deixaram suas intenções bem claras.

No primeiro contato eles exterminaram mais da metade de toda a população com suas armas de destruição em massa atirando-as contra as cidades mais populosas, as forças armadas planejaram trazer alguns cientistas e militares que sobraram para uma estação de pesquisa subterrânea para tentar de algum modo ganhar um pouco de tempo até elaborarmos uma forma de contra atacar, porém sem sucesso, nada que pudéssemos pensar seria tão destruidor e cruel quanto a tecnologia deles.

Por sorte ou não, eles nos deram uma trégua de seu genocídio desenfreado e começaram a construir uma série de estruturas para fins desconhecidos por nós.

Algum tempo se passou e o restante sobrevivente da população tentava se abrigar de nossos visitantes a qualquer custo, mas eventualmente alguns eram capturados e levados para dentro das gigantescas estruturas metálicas, os outros eram pegos e mantidos presos em espaços confinados sendo abastecidos apenas com o suficiente para sobreviver, não sabemos o porque mas, francamente, algo dentro de mim não quer descobrir.

O governo, ou o que restou dele, já não tinha mais esperança de sobrevivência para nós, era questão de tempo até que eles nos achassem e nos desse um fim trágico também. Enquanto isso pensamos em todas as forma imagináveis de contornar a situação, os cientistas que estão no abrigo estão dando tudo de si para descobrir algo sobre eles mas... eles não se parecem com nada que já tínhamos visto até então.

Não sabemos qual a motivação que os levam a nos atacar de maneira tão brutal sem nos dar sequer a chance de defesa, eles não tentaram negociar ou propor um acordo, apenas nos dizimaram sem resquício de piedade e pior, sem dizer o motivo que os levou a tal ato.

Eu sinceramente não entendo, quando eu era apenas uma criança e ouvia as histórias sobre o fim do mundo eu nunca imaginaria que seria assim, aqueles miseráveis...!

A única coisa que sabemos até agora é que vieram de uma jovem estrela a 72 anos luz de distância que eles chamam de... " Sol ".

Autor: Gabriel Tupã.

19/05/2020

Na mira do canal 15

25 anos...Era essa minha idade em 1998, quando participei dessa operação em Weston, uma cidadezinha pacata localizada na Flórida. Era uma tarde de setembro, o telefone da delegacia tocava repetidamente, uma penca de reclamações sobre um canal de TV com programas inadequados passando em plena manhã, quando as crianças estavam em casa, se entretendo em frente à televisão. Foram exatamente três meses até todo esse inferno terminar, simplesmente por não conseguimos entender bem a situação.

Vamos lá, esse canal simplesmente surgiu do nada, não sabemos quando ou em que momento os estranhos programas se deram início. Conversando com uma das pessoas que ligaram naqueles tempos, ela disse que o canal só era estranho, mas os acontecimentos daquele dia foram a causa de toda a confusão e a enorme quantidade de pais furiosos querendo uma explicação.

Eu era o novato nas forças policiais, alguém tinha que assistir os programas enquanto outros tentavam localizar de onde vinha o seu sinal. Tive que fazer anotações, ouvir pessoas, trazer informações, gravar o que passava, esse tipo de coisa. Anotei toda a programação do canal, das 05:00 as 23: 59. Quando dava exatamente meia noite, às famosas barras coloridas apareciam (Talvez entrassem em manutenção?) e ficava assim até voltar a programação normal, às cinco da matina. De início, achei que estavam exagerando, que não precisava da algazarra e escândalo que fizeram. Mudei de opinião quando passei a assistir tudo, eu entendi bem o motivo. Deixarei primeiro um pequeno resumo sobre os programas, para vocês entenderam o que se passava:

05:00 - Celebrities

Celebrities era um tipo de show de fofocas, onde se falavam da vida de celebridades, curiosidades sobre os famosos e toda essa besteira. Não tinha nada de errado com o programa, exceto que, não me recordava de nenhum famoso que aparecia nele. Os apresentadores os tratavam como se fossem super estrelas, conhecidas por todo o mundo, mas eu juro que nunca tinha ouvido ou visto essas “estrelas” da música e do cinema. Um tal de Edward Drum era o ator mais comentado. Cheguei a fazer pesquisas sobre ele, porém, não encontrei nenhum grande ator com esse nome.

06:30 - Mark's friends

Um desenho infantil sobre um garoto inocente e seus...Amigos? Nada de muito novo, era um clichê, típica animação educativa para entreter as crianças. Entretanto, a animação me incomodava, parecia aqueles desenhos Russos que passavam na união soviética. Uma hora tudo parecia normal, depois virava uma explosão de cores, como se os personagens tivessem usado LSD do nada. Era irritante, porém, nada demais.

07:20 - GM

Good Morning (GM) era o típico noticiário da manhã. Notícias, acidentes etc. O que tinha de estranho nisso? Todos os acidentes noticiados, não aconteceram. A polícia local saberia se um maluco da cidade tivesse perdido o controle ao dirigir embriagado, atropelando um monte de gente na calçada. Nunca tivemos notícias desses acidentes, muito menos das pessoas que o causaram. Novamente cheguei a pesquisar sobre isso, sem sucesso.

9:30 - Cooking with Mary

Programa de cozinha liderado por uma mulher de nome Mary. Ela estava na casa dos 40 anos, com seus cabelos negros e um olhar penetrante que me incomodava. Porém, o que mais me perturbava era o seu sorriso, eu tinha a impressão de que seus dentes eram pontiagudos e, ela sempre cozinhava sorrindo, deixando tudo mais difícil para mim. Ela usava ingredientes no mínimo exóticos, alguns eu nem sabia que existia.

11:50 - Masked House

Aqui é onde comecei a perceber que as coisas estavam indo longe demais. Esse estranho seriado contava a história de uma família, vivendo coisas normais do dia a dia, entretanto, tinha um detalhe...Todos andavam sem roupas e usavam máscaras gregas. Isso inclui também as crianças que participavam do show. Não era possível, eu não queria acreditar no que estava vendo, isso não poderia passar naquele horário e, mesmo que passasse nas altas da madrugada, crianças não deveriam participar daquilo, nem interagir com aqueles adultos, completamente pelados. Pedi logo para que o sinal fosse achado para descobrimos quem estava por trás do estranho canal 15

13:40 - Mais desenhos estranhos.

Outra vez, uma onda de desenhos duvidosos voltava a passar, um atrás do outro. Um era de um garoto que corria pela floresta e parecia não chegar a lugar nenhum, outro de um homem que, cansado de ser sozinho, sequestra uma garotinha e força ela a ser sua amiga e tinha um de outro cara que perdeu as duas mãos ao trabalhar em uma fábrica esquisita. Além das animações, agora as histórias também me incomodavam, ótimo.

15:20 - Afternoon Movies!

Uma sessão de filmes da tarde. Foi onde assisti pela primeira e última vez um filme sobre duas crianças que moravam com seus tios, então, um dia decidiram invocar um estranho ser no porão da casa, para pedirem proteção. A criatura mata os tios e os garotos decidem sair pelas ruas, procurando mais pessoas que eles não gostavam para o demônio matar. Nunca mais vi esse filme em lugar nenhum.

17:15 - The novice comedy of John Logg

Um programa de Stand-Up normal, porém, o apresentador usava um tipo de burca. Confesso que não esperava mais nada desse canal de TV. Então, entra o comediante, ele usava um saco plástico azul na cabeça com dois buracos para os olhos e um para a boca. Logo, a câmera muda, focando na...Plateia?!
Era somente bolas com rostos desenhados e eu pude ver uma das câmeras, mas não havia ninguém operando-a. As piadas não tinham conexão, não tinham fim e ele não estava animado para contá-las

18:00 - Charlie: The tales

Um homem velho sentado em uma cadeira contando histórias, chuto dizer que tinha um 60 anos. Ele passava uma impressão largada. Possuía barba, era esguio e usava roupas muito largas, uma camisa de manga longa quadriculada e uma calça característica dos anos 60 ou 70. Eu não pude ver o cenário, pois não havia luz de fundo, somente uma vela em uma mesa de madeira. A câmera se aproximava, chegando mais perto de seu rosto. Nesse ponto, eu já podia ver algumas cicatrizes e feridas em sua face. Ele começa a contar histórias, mas essa foi a que mais me chamou a atenção. Era sobre uma moça cega que as pessoas passavam a mão, ela não poderia ver e nem achar quem foi. Ele interrompia as vezes com uma tosse seca ou limpando a garganta, mas, seguindo a história, dessa vez, o homem contou que ela sentiu uma mordida em sua coxa esquerda, entretanto, ela não havia saído de casa esse dia. Também não tinha só uma ou duas mãos a tocando, mas sim várias. Junto a isso, a moça cega ouvia sons, vozes e risadas. No final, o velho esboça um sorriso e diz para a câmera:

É triste ser cega e louca, não é mesmo?

Fim do programa.

18:40 - Genesi: The World’s New Church

Programa...Religioso? Era chato, pois parecia que não terminaria nunca, mas não deixou de me assustar. Esses cultos religiosos onde um pastor chama alguém possuído ou com problemas para o palco, só que dessa vez, era ao contrário. Eles não tiravam os demônios e sim os colocavam. Pessoas iam ao palco serem possuídas por uma entidade a qual o homem que se dizia pastor, falava que iria ajudá-las. Todos deveriam adorar a entidade e permitir que ela entrasse, era o que ele dizia.

20:00 - Hit or Consequence

Um game show onde um competidor teria que responder corretamente às perguntas feitas pelo anfitrião. Outra vez, tive que saber sobre acontecimentos que nunca aconteceram, como o fato dos Nortistas terem perdido a guerra do Vietnã (sendo que ganharam) e sendo usados como alimento, uma das melhores formas de se livrar de tantos corpos, segundo o anfitrião. Também descobri que a Ku Klux Klan era um exemplo a ser seguido, já que limpou uma boa parte do mundo de raças inúteis e perigosas. Uma loucura atrás da outra, me deixando perturbado.

21:30 - Sleeping

Não sei muito o que dizer sobre esse...Se é um dos mais estranhos ou não. Não me passava medo, nem nada de muito assustador aconteceu, só que era desconfortável. Era apenas um homem de pijama, em um quarto velho e bagunçado. O cômodo só tinha uma cama, nada mais. O estranho cantava uma música sobre dormir e, quando acabava, se deitava na cama. A Câmera chegava mais perto, mostrando-o dormindo. Isso durou até as 23:59, então dava meia noite e aparecia as barras coloridas. Me senti um idiota assistindo um cara dormindo por todo esse tempo.

Agora que informei toda a programação, quero falar um pouco sobre a investigação do canal e outros eventos, sendo Cooking with Mary um dos principais a causar desconforto nos pais e em mim também. Primeiro que não tínhamos um ponto de partida, não sabíamos quem investigar ou como entrar em contato com certas pessoas. Tentamos contatar um dos ganhadores de Hit or Consequence, mas como sempre, essa pessoa não existia, parecendo que sumiu da face da terra, não sei como explicar. Nossa única esperança era descobrir de onde estava vindo o sinal. O que parecia apenas um pequeno problema, se tornou algo fora do nosso controle. Começamos a chamar tudo de: “Na mira do canal 15”. O nome surgiu pelo tempo que passamos assistindo, revezando entre um e outro, tentando achar pistas em alguns dos Shows. Não podíamos fazer nada, aconselhamos os pais a não deixar os filhos assistirem nenhum dos programas e que seria melhor para a saúde mental de todos, que os adultos também não assistissem. Claro que os adolescentes não obedeciam e isso era um problema enorme. Muitos ficaram traumatizados por causa de uma das histórias de Charlie: The Tales. Não sei o que o estranho velho contou, nesse dia, era vez de um dos meus colegas de assistir o canal e, ele também ficou extremamente perturbado. Por mais que eu perguntasse, ele não me dizia sobre o que era, nem ele e nem as pessoas que assistiram. Até hoje, não sei qual o conteúdo da história.

Isso não significa que escapei de ver algo ainda mais perturbante do que já tinha visto. Tinha chegado outra vez o meu dia de passar das 05:00 as 23:59 assistindo aquelas merdas, fazendo pausas apenas para ir ao banheiro ou para comer alguma coisa. Eu não estava no clima, tinha passado a noite tendo estranho pesadelos sobre velhos sentados em cadeiras em um quarto escuro e sobre homens adultos com máscaras gregas, fazendo rituais, usando crianças como sacrifício. Minhas olheiras entregavam o quanto eu estava cansado e esperando o fim disso.

Tudo ocorreu normalmente até as 09:30, quando Cooking with Mary começou. Eu já devo ter falado o quanto me sinto desconfortável com essa mulher cozinhando, sem tirar aquele sorriso macabro dos lábios, entretanto, dessa vez, ela decidiu passar dos limites. Os telespectadores mandaram mais ingredientes exóticos que Mary comentou haver pedido no dia anterior. Uma caixa branca de tamanho médio se encontrava no balcão que ela usava para cozinhar. Segundo a própria, um presente mandado por um telespectador, que teria pedido para ela cozinhar uma das especialidades dele. A mulher de cabelos negros abriu a caixa, tirando o ingrediente cuidadosamente embalado em plástico, em uma bandeja de isopor. Eram fatias de carne, fazendo o sorriso medonho dela alargar ainda mais, me fazendo pensar se uma pessoa normal conseguiria tal coisa. Ela resolveu contar que tipo de carne se tratava.

Deixe-me dizer, foi aí que pedi uns dias de descanso ao meu superior. Minha sorte foi dele ser uma pessoa compreensiva, então ganhei uns dias de folga, me afastando da operação. Você deve se perguntar que tipo de carne era, não é mesmo? No fundo, sei que já tem uma ideia. Claro que já deve saber que se trata de Carne humana, mas, deixa eu contar uma coisa que você não pensou ou talvez pensou. Se tratava de pessoas da áfrica, pelo menos foi o que Mary comentou enquanto cozinhava normalmente, sem sentir nenhuma pena. Lembra do meu resumo sobre Hit or Consequence? A melhor forma de se livrar de corpos ou como a Ku Klux Klan ajudava a limpar o mundo? Eu sei que já entendeu bem.

Semanas se passaram, até eu voltar ao caso. Recebi uma boa notícia quando fui trabalhar, sobre o rastreamento do sinal. Haviam descoberto de onde ele estava vindo. Finalmente aquilo iria acabar, era o que pensávamos na época, quando várias viaturas não perderam tempo em partir até o local. Foi uma viagem de duas horas, para darmos de cara com um terreno baldio. Mais horas se passaram, investigamos tudo, de todas as maneiras possíveis. Não encontramos absolutamente nada, nenhuma ligação ou qualquer coisa que um dia estivesse ali. Só poderíamos suspirar e voltar sem qualquer coisa em mãos.

O FBI se meteu logo após nossa visita ao terreno, deixando claro que isso não era mais problema nosso, que deveríamos apenas voltar a resolver os assuntos de sempre, na cidade. Isso não impediu muitos de nós de investigar por nossa própria conta e risco, mesmo que não tenhamos achado nada de muito relevante. Como eu disse, foram três meses até tudo chegar ao seu fim, não por termos conseguido arranjar um jeito de parar o canal 15, mas sim porque ele, assim como chegou do nada, sumiu do nada.

O que penso de tudo isso? Apenas que, de alguma maneira, conseguimos durante algum tempo, receber o sinal de um estranho mundo paralelo. Foi a única coisa que consegui pensar em todos esses anos. Sinto que minha obsessão pelo canal 15 não diminuiu, apenas aumentou com o passar do tempo. É estranho como ninguém parece lembrar deste ocorrido ou pelo menos fingir que não aconteceu. Tenho uma ideia que tenha sido ordem superioras, pedindo para apagar qualquer vestígio deste acontecimento.

Deixei a polícia há muito tempo, estou por conta própria agora. Mesmo ainda não tendo encontrado nada, continuo minha busca obsessiva por respostas. Talvez um dia, eu traga mais notícias e grandes descobertas ao mundo, sobre esse estranho acontecimento que marcou um eu de 25 anos.

Autor: Tai

16/05/2020

A Boneca

A garota nunca conseguiu gostar de verdade daquele objeto, mesmo que tenha sido o último presente de sua avó. Bastava olhar para aquele sorriso pintado sob a madeira para se sentir encurralada, ansiosa e se a encarasse por muito tempo podia até sentir suas mãos tremerem. Até tentou algumas vezes se livrar da boneca, mas sempre que estava prestes a fazê-lo as palavras de sua avó vinham à tona: “Guarde-a com carinho e eu sempre estarei com você”. E mesmo assim sua mãe insistia que a lembrança fosse guardada.

Quando recebia suas amigas em casa, Olívia fazia questão de esconder o presente dentro do guarda-roupa, apenas algumas delas, as mais aventureiras e ousadas acabavam conseguindo ver as feições em tinta e as articulações da boneca, e todas elas ficavam encantadas, sem sentir nem um pingo do desconforto de sua dona.

Alguns anos se passaram e Olívia, que outrora era apenas uma garotinha, agora havia se tornado uma bela mulher, ousada e independente, suas mechas de cabelo tingidas de azul refletiam muito bem isso. Nessa transição deixara tudo de sua infância para trás para morar em uma casa na cidade, ou quase tudo, sua mãe insistiu muitíssimo para que levasse consigo a tal boneca e não havia argumento nem explicação que a fizesse mudar de ideia e com isso logo o objeto estava lá sob a cômoda, o mesmo sorriso, a mesma aparência, tudo estava ali junto com ela inclusive o medo e os calafrios.

Mas como dito antes, Olívia tinha mudado e não conseguia mais viver à sombra de um medo tão irracional. Porém, diferente do que acontece naturalmente a apreensão da garota não cedeu lugar a calmaria, mas sim a raiva, tão devastadora e acumulada que Olívia passou a maltratar a boneca, afinal, sua avó havia morrido há muito tempo e com toda certeza não se importaria com o que iria fazer.

Nos primeiros dias apenas xingou o objeto, ofensas bobas, era como se ainda não tivesse certeza do que estava fazendo, mas bastou um pouco mais de confiança para que começasse a chutar e joga-la contra o chão e paredes, mas até isso só serviu para inflamar ainda mais a raiva da garota, porque qualquer brinquedo eu fosse tratado assim, até os mais resistentes, apresentariam alguma arranhado, mas aquela maldita boneca não, continuava perfeita, nenhuma lasca sequer.

Era a hora de pôr um fim naquilo.

Algumas pessoas que passavam na rua olhavam com estranheza a cena que se desenvolvia naquele quintal, mas a garota se sentia satisfeita, ver aquela boneca ser reduzida a toras carbonizadas era gratificante e quanto mais o fogo queimava, mais Olívia se sentia liberta e ela só saiu de lá quando não havia nada mais a ser consumido. Essa seria a primeira vez em tanto tempo que dormiria em paz.

Porém, durante a madrugada uma sensação de nervosismo atrapalhou os sonhos da garota de maneira tão repentina que ela precisou respirar profundamente várias vezes para que seus batimentos se acalmassem. “Ela nem está mais aqui”, disse para si mesma, e mal terminou a frase quando se ouviu um barulho na casa, um baque no chão que ecoou até os ouvidos de Olívia, não sabia o porquê, mas isso foi o suficiente para que um enorme arrepio percorresse sua espinha, e logo em seguida outro barulho foi ouvido, dessa vez mais suave, como um passo, e depois outro e mais outro, poderia ser alguma coisa boba, um animal sorrateiro, mas isso não acalmava nem um pouco a garota, seu corpo sentia o medo cada vez maior, suas mãos tremiam e seu coração batia tão rápido que quase podia ser ouvido. Sob a luz do abajur ela procurava o que poderia ser, mas a escuridão além da porta de seu quarto não revelava o dono dos passos que ficavam mais próximos.

Olívia se encolheu na cama, assim como faria uma criança, o barulho cessou, mas ela sabia que o que quer que fosse estava ali, à espreita, podia sentir seu olhar tão ameaçador e cruel. Não teve coragem de levantar, ao invés disso ligou a lanterna do celular e apontou de uma vez para a porta: Nada. Sua respiração estava pesada, talvez fosse algo da sua cabeça, se acalmou com um gole d’agua, sempre deixava um copo na cômoda, foi quando sentiu algo tocar seu rosto, fio e suave, seus dedos se esfregaram no local e ficaram negros, olhou atentamente, fuligem. Mas nem fazia sentido, de onde veio? Foi quando a imagem de horas antes lhe invadiu a mente, o corpo pequenino da boneca sendo consumido pelo fogo, deixando no lugar apenas carvão, não poderia ser isso. Olhou para cima com os olhos vacilantes e encontrou ali seu assombro, o medo infantil, a boneca que logo caiu em cima da garota manchando tudo de preto. Olívia gritou com todo seu fôlego por socorro e isso bastou para alertar os vizinhos que chamaram a polícia. Mas esse alarde não a afastou, a boneca, ou o que restou dela, se contorcia raquiticamente e agarrava com força o rosto da garota que só conseguia se debater para tira-la dali, foi quando ela falou, a boneca falou, sua voz grossa como se saída de uma caverna, “Você só tinha que me tratar bem” e assim beijou Olívia na bochecha, o que fez ela gritar mais uma vez por socorro.

Em um ato de desespero conseguiu atira-la contra o chão e correr, ou ao menos tentar, algo estava errado, suas pernas não respondiam como deviam, olhou para elas e viu riscos amadeirados se formando sobre a pele, endurecendo cada movimento, mesmo assim continuava se arrastando, seu corpo não produzia mais o barulho que deveria, era apenas baques surdos no chão e barulho de articulação. Alguém batia na porta, a polícia, mas nem mais sua boca respondia, também estava dura, bateu com a mão ainda boa sobre a bochecha e o som foi perturbador, madeira. Não conseguia mais se mexer, gritar por ajuda, nem seus olhos funcionavam mais, se tornaram feitos de vidro, a última coisa que viu foi a boneca sorrir.

Quando os policiais finalmente arrombaram a porta não encontraram nada, nenhum sinal de roubo, sangue, nada, os cômodos pareciam em ordem. No quarto a mesma coisa, tudo no lugar, cama arrumada, inclusive a boneca de cabelos azulados em cima da cômoda, mas estranhamente a dona da casa não estava lá.

Autora: DarkQueen

14/05/2020

Banheiro dos Fundos

Acordar no meio da noite com a bexiga prestes a estourar é uma coisa que realmente odeio. Primeiro que levantar sonolento de madrugada é uma merda, segundo, que sou uma pessoa extremamente azarada. O que isso tem a ver? Você se pergunta. Pode parecer uma conversação sem sentido, mas irei lhe explicar de uma maneira que lhe fará entender.

Moro com meus irmãos em uma antiga casa que nossos avós nos deixaram de herança, algo extremamente bom, pois não tenho dinheiro nem mesmo para um cômodo minúsculo, onde o único espaço um colchão no chão preenche por completo. Estava desempregado e tinha acabado de sair de uma relação conturbada. Não vi problemas em dividir o espaço com meus três irmãos, nos dávamos muito bem (Coisa rara entre irmãos) e éramos todos adultos. Fiquei com a parte de fazer o almoço e o jantar, como estava sem emprego, era a forma que encontrei para ajudar.

A casa é espaçosa, com cinco quartos, uma cozinha, sala de estar e uma garagem que pode acomodar dois carros. O problema mesmo sempre foi a questão do banheiro. Veja bem, temos dois banheiros, um fica no corredor, próximo ao meu quarto, enquanto o outro, apenas nos fundos da casa. Isso significa que, se você estivesse muito apertado e o primeiro banheiro estivesse ocupado, você teria que dar toda a volta até os fundos, destrancar uma porta e atravessar o jardim para acessar o outro. Já era chato fazer isso pela manhã, imagina no meio da madrugada, quando o que você mais quer é voltar a cair nos braços de Morfeu. Outra coisa que preciso lhe falar sobre a segunda instalação sanitária da casa, é que não é nem um pouco acomodadora. Enquanto o primeiro tem azulejos na parede, um teto com forro pintado de cor branca e um chuveiro com uma boa pressão, o segundo parecia mais uma obra não acabada. Paredes para rebocar, um telhado quebrado e uma pia e chuveiro que não funcionavam. A única coisa ali que funcionava era o vaso sanitário antigo, com seu barulho desgraçado quando você dava a descarga. Sério, era um barulho alto o suficiente pra te tirar do modo sonolento e lhe trazer de volta a realidade.

Penso que meus avós estavam planejando esse segundo banheiro, mas morreram antes da obra ficar completa. Em minha infância, meus pais sempre traziam meus irmãos e eu para passar as férias nessa casa e visitá-los, eu não me recordo de um segundo sanitário, talvez fosse mesmo algo meio recente. Vovó tinha morrido primeiro e vovô não conseguiu aceitar a partida da esposa, entrando em um estado profundo de depressão. Em uma manhã, um dos empregados o acharam sem vida, quando foram o acordar para tomar seu remédio para pressão.

Deveriam ser umas duas da manhã quando levantei-me apertado para usar o banheiro e vi que meu irmão tinha chegado primeiro.

- Droga! - Resmunguei-

Até esperei um pouco, mas o idiota estava com problemas de estômago e aquilo iria demorar mais do que deveria. Não tinha jeito, fiz o caminho todo até o maldito cômodo dos fundos a fim de me aliviar. Procurei o interruptor para acender a luz, depois fechei a porta, caminhei até o vaso e fiz o que tinha vindo fazer. Me lembro de ter olhado para o teto, observando as telhas com teias de aranha e buracos feitos pelas brigas de gatos dos vizinhos. Se um dia, eu conseguisse um bom dinheiro, poderia mandar ajeitar tudo, deixar o lugar mais aconchegante pelo menos. Puxei a corda da descarga, ouvindo aquele som alto dos infernos e fui em direção a saída, pretendendo lavar as mãos na torneira do jardim, pois como eu disse antes, a pia dali não funcionava.

Imagina minha surpresa quando puxei a porta e ela não abriu. Eu não a tinha trancado, nem era possível, esqueci de dizer, mas a única maneira de trancá-la era pelo lado de fora. Cogitei na hipótese de um dos meus irmãos está tentando me pregar uma peça, aqueles idiotas gostavam de fazer esse tipo de coisa.

- Muito engraçado, agora abram a porta! - Digo, tentando entrar na brincadeira. Sem resposta. - VAMOS! ABRAM! - Elevo meu tom de voz, novamente sem respostas.

Começo a coçar a cabeça rapidamente, uma mania que tenho quando começo a ficar nervoso. E se não tivesse sido eles? Esse pensamento passava em minha mente, mas não poderia ser isso, quem poderia ter feito tal coisa se não um deles? Um invasor, talvez? Um ladrão que entrou na casa às escondidas e me trancou aqui dentro para não ter que se preocupar com um dos irmãos. Que droga, pensei em muitas coisas, mas nada parecia encaixar. O pior de tudo era que não adiantaria o quanto eu berrasse, os quartos dos meus irmãos eram bem distantes, eles não poderiam me ouvir. A Solução que encontrei foi a de tentar arrombar aquela porta

Tomei impulso, estavas prestes a colocar aquela ideia em ação, mas antes que pudesse fazê-lo, a luz piscou, deixando tudo escuro por aproximadamente cinco segundos. Meu sangue gelou, uma pontada em minha cabeça me fez dar um gemido baixo de dor. Foi tudo muito estranho, me sentei no chão, perto de alguns escombros que ali tinha, pedaços da parede, restos de entulhos, possivelmente deixados por meus avôs.

-Tenho que lembrar os outros a me ajudar a limpar isso aqui. - Sussurro para mim mesmo, me referindo aos meus irmãos.

De repente, minha mão tocava em um pedaço de papel em meio a bagunça. Eu ainda estava me recuperando daquela estranha dor de cabeça de antes, logo, a ideia de arrombar a porta tinha ficado para depois. Sentado, naquele canto nenhum um pouco amigável, trago o papel para minha visão, vendo as letras escritas com uma caneta de cor vermelha.

Traga o prato com um pequeno animal morto

Um lagarto ou um camundongo são as melhores opções

Entretanto, com o camundongo, são altas chances de sucesso

Sem janelas, isso é muito importante

Leia o que lhe enviei em voz alta quando tudo estiver pronto

Você saberá quando funcionou

Lembre-se, cinco vezes é o suficiente

Não entre mais no cômodo depois disso

NÃO ENTRE

Agora aproveite, mate sua saudade.

Fiquei completamente confuso, pensando que tudo não deveria ser mesmo um tipo de brincadeira. Meu coração quase parou quando virei o papel, tinha uma coisa a mais, escrita do outro lado.

Se você desobedeceu e entrou no cômodo mais de cinco vezes, pode ter ficado confiante que nada aconteceu, mas quando você menos esperar, a porta trancará. Isso acontecerá em algum momento após passar o número de vezes. Pode ser logo que quebrar a regra ou pode demorar um pouco. Caso aconteça, espere aquele que você prendeu no cômodo se manifestar. Ele está sozinho, trancado, culpa sua. Preferiu trancá-lo ao invés de deixá-lo descansar em paz, ele quer a sua companhia agora. Implore, talvez tenha sorte na primeira e, caso tenha, NUNCA MAIS VOLTE.

Antes que eu pudesse demonstrar alguma reação, escuto passos em minha direção, levanto a cabeça….É a vovó, ou pelo menos é o que eu acho que era. A senhora alegre de minha infância tinha agora um olhar cansado, seus olhos, grandes e arregalados, pareciam afundar em seu rosto, sendo devorados pelo excesso de pele na face envelhecida.

Oh, Deus! Abri a boca para falar, nada saia, nem um mísero som. Não conseguiria parar de tremer, meu corpo agia por vontade própria, não obedecia mais meus comandos. Todas as informações demoravam para chegar até meu cérebro. Não sei quanto tempo a encarei, até finalmente lembrar daquela palavra: Implorar.

Consegui falar, na verdade, implorei. Falei de tudo para o que quer que fosse, me deixasse partir, eu não tinha nada a ver com aquilo, nem sabia que esse tipo de coisa acontecia aqui. A entidade sorriu largamente, como se estivesse se alimentando do meu sofrimento. Não, aquilo não era a vovó, não poderia ser. Era algo que usava sua pele, com o objetivo de enganar. O rosto distorcido e seu sorriso macabro foi a última coisa que vi quando a luz apagou de vez.

Era de manhã, acordei com meus irmãos me balançando e gritando meu nome. A porta tinha finalmente sido aberta. Eles me ajudaram a se levantar, me levaram até a cozinha, sentei-me em uma das cadeiras e contei tudo que tinha acontecido. No começo, acharam que eu estava brincando, entretanto, minha palidez e o pavor que eu tive quando um deles afirmou que iria até o banheiro, procurar o pedaço de papel, o fizeram acreditar em mim.

Decidi sair da casa três dias depois deste ocorrido, ficaria na casa de um amigo até arranjar um emprego, queria distância daquele lugar. Aconselhei meus irmãos a fazer o mesmo. Nunca mais voltei.

Hoje, pensando sobre isso, entendi que Vovô amava a Vovó, amava o bastante para se iludir que a veria outra vez, fazendo um ritual qualquer, trancando sua alma em um cômodo.

É uma pena, pois aquilo nunca foi ela.

Autor: Tai

12/05/2020

As consequências de você ultrapassar os limites de Deus

Nós evoluímos suficiente para hashtag's e é a coisa mais importante na humanidade, se você quiser ser notado. Os jovens e os adultos também querendo ser legais, compartilhavam o mesmo fato científico, que já havia acontecido há muitos anos... Os cientistas descobriram uma maneira de se comunicar com o passado por causa das estrelas destruídas há muito tempo. Descobriram a maneira de enviar objetos e tentar dialogar por bases de sons. Isso foi uma febre ao ser compartilhada na internet! Todos estavam eufóricos para fazer parte disso e aquinhoar a mesma hashtag em todas as redes sociais modernas do ano de 2040.

As primeiras respostas pareciam ser ruídos, e disseram que continuariam mandando várias mensagens. A febre daquele meios de comunicação, ligando todos, uma vez que a televisão já não funcionava mais nesse ano, e tudo se baseavam em "status". Foi ficando maior, e os especialistas queriam surpreender o mundo moderno com coisas que a mente humana não estava preparada para compreender. Em uma dessas correspondências que depois de anos voltou para a humanidade e reproduziu os barulhos... que deixou nos abalados em um certo ponto da percepção.

O que aquele objeto que reproduziu e deixou toda a humanidade chocada por conta dos ruídos aterrorizantes que pareciam ser sofrimentos, torturas e pedidos por socorro, misturados com murmúrios e estrondos no fundo. Você poderia facilmente representar como espelhos, representando a maior e terrível agonia física humana. No entanto, as pessoas ignoram e queriam saber mais sobre isso, inventaram novos mecanismos sofisticados desse novo ano.

As coisas pareciam que seriam baseadas apenas em momentos vibrantes e descobertas, que deixariam nós humanos modernos surpreendidos. No entanto, houve uma rachadura no universo e causou uma explosão tão veloz quanto à luz... Os efeitos catastróficos foram realmente uma coisa aterrorizante em um certo ponto de vista mais distante, mesmo olhando para aquele cara que se dizia "ateu". Você poderia afirmar, espalhando gotas em sua língua que seria o abismo, e nós havíamos explorado ele da forma egoísta.

A invasão homo sapiens causou uma destruição magnética em tudo que você acredita ser "realidade". Os corpos humanos foram fundidos com objetos e fez com que uma carne espalhasse-se por todas as regiões. Gritos eram misturados com vários tipos de coisas sem vida sendo partidos em diferentes fragmentos. Os animais, pobres criaturas, sofrerem mais do que nós, já que poderiam gritar tão altos no cosmo do universo, que deixaria você sem poder ouvir nada, além de pedaços de uma tortura infinita.

O nosso universo começou a misturar o DNA humano com animais e deu de abraço com as partes sem vidas com algo físico, torturando nós... o que se chama de "alma" de várias formas terríveis. A angústia, sofrimento, entre outras coisas da matéria, era tudo que se espalhava naquela imensidão negra. Misturada por organismos eucariontes, multicelulares e autotróficos fotossintetizantes, etc. Você poderia ver a Terra humana se despedaçando em retalhos e transformando-se em poeira cósmica incomensuráveis vezes.

A decomposição física foi espalhando-se em cada momento que o cérebro tentava concretizar uma imagem humana, que a intensidade fosse terrivelmente insuportável e se transformando em mais uma parte da metagaláxia infinita. Você poderia ver imagens, rendimentos sendo despedaçadas e misturadas, criadas e destruídas novamente, espalhando-se em uma mistura doentia e terrível dos fragmentos de coisas que não deveriam ser compartilhadas. No entanto, o homo sapiens conseguiu fazer isso, representando o castigo vivido em incansáveis circunstâncias, que estava se repetindo milhares de vezes em cansáveis.

Eu apenas era um zelador típico de uma região repleta por pessoas mais importantes e que tiveram um estudo melhor, estava tendo os meus braços sendo arrancados, despedaçados, misturados por um sofrimento desmesurável da massa eucariontes e sendo reconstruído de formas infinitas para que o processo seja repetido. Os meus braços estavam sendo corrompidos, esmagados, petrificados e a matéria sendo progressiva milhares de vezes para que se repetisse. Os meus olhos eram arrancados de maneiras indistinguíveis por conta do espaço galático e sendo voltado novamente. Tudo se baseia em aflição e mortificação incansável da lei criada por Deus. Eu sou um dos poucos que ainda continuam gritando e sofrendo, desejando que tudo acabe, mas estou sendo vítima do processo doentio dos erros da minha raça. Não consegui compartilhar da mesma sorte da maioria que foi esmagada no primeiro momento.

Posso ver corpos explodindo em vários estilhaços, os barulhos que deixam suas carnes, tudo até que os toraxes se regenerem novamente para apreciar o mesmo som infinito, toda a destruição desmembrada em explosões... mortificação, sangue por todas as direções e esse tom de um líquido vermelho e congelado pelo tempo que não para de ficar desmesurável. É tudo que eu imagino e desejo cada momento é fazer parte da destruição infinita no DNA homo sapiens e acabar, deixando de ouvir os berros dos bichos sendo despedaçados e misturados com paredes e objetos: ventiladores, televisões, celulares, cadeiras entre outras coisas que já fizeram parte da raça humana e são espalhadas no macrocosmo particulado, com que esse inferno da infinidade das estrelas que continuam.

Eu só desejo que isso acabe junto com os átomos nesse exato momento, que eu sinto o meu corpo sendo espalhado por uns círculos infinitos que encontraram moléculas de água, minerais, carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucleicos.... E outros componentes de água, solo, gases, fogo, rochas, etc, que são espalhados pelo vento para uma destruição de sofrimento feroz...

Autor: Sinistro

09/05/2020

O Potestador

Como uma das coisas mais prazerosas para uma criança, brincar é algo insubstituível, posso afirmar pra você que uma das brincadeiras favoritas de uma menino de 9 anos é o futebol, e não era diferente na minha infância. Quase todos os dias, a tarde, jogava bola com os meus amigos: Caíque, Felipe, Igor e Batata, até que um fato indiferente nos chamou muito a atenção certo dia.

Era uma dia como todos as vezes em que brincávamos de bola, costumávamos jogar ate às 17 horas, porém nesse dia fomos um pouco além desse horário, motivado por meus amigos decidi ficar também ate mais tarde. Em um momento de cansaço e desatenção, olhei para a minha direita e vi Igor chutar a bola em um terreno ‘’ abandonado ‘’ que tinha uma casa entijolada ao fundo, formando assim um cenário amedrontador, terra rachada, mato alto, parede rachada. O vento aquela noite soprava de modo que balançava as folhas do mato de maneira brusca, gatilho perfeito para se iniciar o medo, Caíque virou para todos nós e perguntou:

- Agora quem é que vai pegar a bola ?

Felipe respondeu:

- Eu não vou, ta doido, quem chutou é que pega!

- Além do mais, é sempre o Igor que isola a bola.

Batata respondeu:

- É verdade, o Igor tem que pegar

Igor respondeu:

- Agora fudeu, tenho medo dessa casa!

- Mas ok, vou lá pegar a bola.

Afirmou o mesmo uma cara apavorada.

Todos nós ali concordamos com a decisão, e então Igor, que entre nós era chamado de Satélite, foi até la pegar a bola. A escuridão, o vento balançando o mato e o silêncio de nós, tornava uma tarefa desafiadora para ele, logo após 10 passos que ele deu adentrando o terreno, Caíque grita apontando para a casa:

- Caralho, vocês viram ? Eu vi um cara ali dentro da casa!!

Batata respondeu:

- Para com isso cara, não tem ninguém la, é mentira gente.

Batata era o mais medroso da turma, porém para sua infelicidade, era mesmo real. Quando Igor acaba de pegar a bola, o mesmo levanta ela com as mãos, estava perto da parede da casa no fundo, quando ele da o primeiro passo para voltar, novamente uma figura fantasmagórica de um velho desfigurado acompanhado de uma barulho muito alto aconteceu dentro da casa, todos nós corremos imediatamente, foi ai que vi Igor largar a bola no chão e fugir para fora do terreno. É claro que ficamos com a pulga atrás da orelha, pois não é algo que acontece todos os dias, aliás, sempre achamos que coisas relacionadas ao sobrenatural não existe, mas esse dia foi surpreendente.

No dia seguinte por volta das 15 horas, nos reunimos e decidimos voltar ao terreno para pegar a bola que tinha ficado lá, já que estava de dia então não tínhamos o que temer, ao chegar no terreno, notamos que a bola inexplicavelmente sumiu, como se nunca estivesse caído ali. Ficamos triste pois era nossa brincadeira favorita, o futebol, porém, lembramos que tinha um velho que morava ao lado desse terreno, velho misterioso, de conduta anormal, fomos ate a casa dele e chamamos por ajuda, explicamos o que aconteceu e ele reagiu de uma forma muito estranha e suspeita, com uma cara sádica, disse que não deveríamos continuar brincando de bola por ali, mas achamos que era mero a aviso e ignoramos. Mais tarde no mesmo dia, ficamos sentados na calçada em frente ao terreno medonho, era uma noite calma, tranquila, convidativa para uma boa conversa, ate que Caíque olhou para a laje da casa e disse:

- Tão vendo aquele vergalhão torto em cima da laje? Foi ali que o Potestador morreu.

Eu respondi:

- Potestador? Quem é esse cara? Como ele morreu?

Caíque respondeu:

- Ele morreu trabalhando naquele laje, quando ele foi pegar a enxada para descer, não viu o vergalhão que estava atrás dele, foi ai que ele se desequilibrou, caiu e ficou com o pé preso ali naquele vergalhão torto, batendo a cabeça com força na parede, e segundos antes de morrer, jogou uma grande maldição para que ousasse adentrar na casa dele de novo... Segundo o que meu pai disse.

Todos nós o olhamos, com uma sensação de incerteza, até que vimos novamente de um idoso desfigurado, e sim, era real, totalmente real dessa vez, era alto, careca, vestes sujas e rasgadas, barba branca, rosto desfigurado, pele meio amarelada, imediatamente corremos para longe dali com muito medo do que vimos, mas antes de correr, olhei involuntariamente para a figura novamente, e percebi que tinha quase a mesma aparência do Seu Erminho, com exceção da pele amarelada e rosto desfigurado, velho que morava ao lado do terreno, que mais cedo pedimos ajuda a ele, por um descuido meu, tropecei e bati a cabeça na calçada, desmaiei completamente. Acordei no dia seguinte segundo a moça que me socorreu, ela me levou para casa... passaram-se meses depois desse evento... nunca mais vi o velho, se evaporou como se nunca estivesse existido, nem mesmo notícia de parentes, amigos ou conhecidos tínhamos.

Com o remédio que a moça que me socorreu me deu, estava me sentindo mais disposto e diferente do que o normal, algo muito estranho, em casa a rotina mudou, ao invés de brincar, tinha que tomar um ‘’ xarope ‘’ avermelhado, mas com um sabor inabitual, trazido pela mesma moça que me socorreu, as vezes me recusava a tomar, porém meus pais me obrigavam a tomar e eu não pensava mais do que três vezes. A moça também me deixou uma pequena carta do pai dela, que dizia o seguinte:

‘’ Certas vezes, achamos que somos imunes a certos acontecimentos, porém, a muito mais no plano espiritual. Você acredita em forças malignas? Acredita em demônios? Caso a resposta seja negativa, não fico triste, pois nós acreditamos em você, ja te observo daqui á muito tempo, ate mesmo nos seus pensamentos mais íntimos, você não esta sozinho e jamais estará. Não tenho pressa nenhuma, o nosso destino é inevitável, algo maior esta sobre nós, não há como evitar... É só questão de tempo... até VOCÊ SER MEU!!!

Seu Erminho, Potestador

Autor: Plazzel

07/05/2020

Todas as manhãs, ela está alimentando o seu ódio por mim, lentamente...

Ela encontrava-se na pia, de costas para mim, mexendo em alguma coisa que eu não conseguia enxergar por causa da distância. Mesmo perto o suficiente, eu estava sentado e não dava para me levantar no momento. Ao seu lado, na parte esquerda, estavam eles. Eu poderia jurar que estou ouvindo o barulho que sempre fazem. Não sei se é na minha cabeça somente, só sei que estão movimentando-se para todos os lados. Fiz um ruído educado com a minha garganta, colocando a mão na boca para chamar sua atenção. Era mais ou menos um "oi", então ela olhou por cima dos ombros na minha direção, nem sequer observou no meu rosto, apenas reparou o som que eu fiz. A minha esposa ainda estava com o mesmo ódio por causa da minha traição.

Virou para minha direção e caminhou até a mesa, colocou alguns biscoitos de chocolate com coco por dentro, ajeitando com cuidado em um pratinho branco. A xícara com café estava quente e a fumaça subindo em um movimento de onda para os dois lados, desaparecendo logo depois da altura da minha cabeça. Sentou-se logo à frente, um pouco distante, e colocou um daqueles tabefes na boca, quebrando ao meio em uma mordida rápida. Olhando para o lado, na direção da janela, o sol estava entrando aos poucos porque estava iniciando uma manhã.

Eu nunca soube o que falar nesses malditos segundos que nós estávamos um na frente do outro. Imagino que desculpas não vão ajudar depois de tudo que eu fiz. Nessas manhãs, a minha esposa apenas parece fingir que eu não estou ali. Desde o começo disso tudo, em nenhum momento olhou para a altura do meu pescoço ou se dirigiu diretamente para minha pessoa, mas eu sinto a explosão de ódio dentro da sua cabeça como um vulcão em erupção. O cheiro de café, o aroma forte da cafeína, sem muito açúcar, deixa-me irritado fazendo jogar a xícara próximo dos seus pés, fazendo-a explodir em vários pedaços, e aquele líquido quente espalhando-se e deslizando lentamente fazendo a fumaça ficar menor em cada segundo. Ela suspira um pouco quando percebe o que eu fiz e contínua ignorando-me. Isso me deixa bastante irritado.

Abro os meus lábios para pedir perdão, não sei quantas vezes eu já fiz isso e parece que não existe som na minha boca. Sinto uma dor pressionando os meus pés, principalmente no esquerdo, impedindo-me de tomar uma atitude de homem e se levantar. Ela pega um pano, que estava na porta da cozinha, e passa no chão, cortando o seu dedo do meio por um dos pedaços de vidro. Para estancar o sangramento pequeno, coloca na boca chupando o sangue e despreza o seu marido observando, jogando seus cabelos para trás que cobriam seu rosto. Nesse momento, a única coisa que está dando atenção, na verdade, as únicas coisas são moscas voando ao meu redor, bebendo um pouco do líquido que ainda sobrou naquele lugar que a xícara de café morreu e, algumas mais ousadas, ficam alimentando-se dos biscoitos que eu não comi, naquele mesmo prato alabastrino com detalhes azuis em cima da mesa.

Ela deixou nossas manhãs com cheiro de podridão no lugar. É incrível como eu tento parecer calmo, mas eu estou gritando desesperado como uma vítima de um assassino ou uma mãe observando o seu filho morto em um acidente. Conheço bem a mulher que eu casei, sei quando ela está irritada, você não vai querer estar próximo o suficiente nesses momentos de fúria. Antes de tudo isso, nossos amanhecer resumiam-se em brigas constantes, principalmente na parte da manhã e quando eu chegava tarde da noite; após encontrar mais uma e mais uma, várias outras garotas do escritório. Ela sabia de tudo de alguma forma, descobriu as traições. Pedia de forma patética e implorando o meu amor, eu já não estava dando-lhe mais prazer, muito menos sendo carinhoso como fui no passado. Sussurrei baixinho que ainda lhe amava. Ela levantou-se rapidamente no momento em que estava girando aquele pano em círculos no local onde o café foi derramado. Utilizou as suas mãos para jogar o prato que estava com os biscoitos ao nosso lado. Mirando nos meus olhos, depois de muito tempo, eu senti tanto ódio que parecia que eu seria agredido no rosto por um tapa de revolta...

Nada aconteceu, recuperou a sua postura e saiu. Sentou-se depois que foi para o terraço e limpou aquele pano sujo. Calmamente, colocou dois cubos de açúcar dentro do café que ainda estava fumaçando para terminar sua refeição. O último biscoito foi colocado na sua boca, e ela ficou mexendo a xícara com a colher, movimentando para um lado e para o outro. Cruzou os seus pés e ficou enrolando o seu cabelo da frente com o dedo cortado pelo vidro. Naqueles segundos tudo parecia ficar normal, porque se encontrava cada vez mais serena e calma. A nossa situação aparentava uma manhã qualquer, no entanto, não era bem isso que estava acontecendo. As moscas continuavam nos observando e fazendo um barulho irritante, principalmente nos meus ouvidos e eu contorcendo-me em agonia por dentro.

A última gota da cafeína desapareceu na sua boca, e ela foi até a pia lavar os pratos. Eu fiquei observando tudo e, sinceramente, desejei dizer algo, implorar por perdão. Não adiantou de nada porque as palavras simplesmente se desintegraram no meu cérebro como se, apesar de tudo que está acontecendo, eu fosse o ocupado. Imaginei uma maneira de fazer com que ela me deixe em paz nesse casamento, essa união amorosa que ainda está tentando ligar e culpando-me todas às manhãs. Palavras, letras, etc; rapidamente escapam do meu alcance, deixando-me sendo ocupado e vulnerável para tudo isso.

Finalmente voltou para mesa, estava com a caixa. Eu jurava, como no início dessa manhã, que estava ouvindo eles movimentando-se para todas as direções. Os seus corpos pequenos, nauseantes e famintos desejam consumirem-me. As moscas felizes ou as suas mães apreciando tudo. Nesse momento, eu nem sabia se eram novas ou fruto que saíram da minha perna esquerda putrefata, vítima da gangrena. Pegou o meu outro pé e enrolou um arame, dando cinco voltas apertadas. Eu pude sentir a carne da minha pele sendo cortada e logo aplicou seringas, uma atrás da outra, para que o sangue seja interrompido e a podridão comece do outro lado. Eu senti minha perna formigando e parecia que estava ficando inchada mais cedo do que a outra.

No mínimo, eu deveria estar desesperado e chorando vendo aquelas coisas consumindo-me aos poucos. O seu comportamento era realmente apavorante por conta da naturalidade e a frieza que fazia tudo. Pedi desculpas e disse que ainda estava apaixonado. Mas, minhas palavras eram tão desprezíveis que eu observei os seus lábios rachando para o lado. Sentindo-me mentindo, mais uma vez, ela cuspiu tão baixo que não dava para ouvir com muita clareza essas sentenças: "você consumiu todo o amor que eu te dei e as coisas que fiz pelo nosso casamento, agora é minha vez de consumir você aos poucos". Voltando para sua postura, arremessou aquelas larvas em cima do meu pé, que estava começando a ficar roxo. Sentou-se mais uma vez próxima de mim e começou a virar as páginas do jornal, enquanto as moscas estavam aproximando-se para colocar mais ovos, e os frutos de outras saboreando o meu corpo lentamente.

Autor: Sinistro

05/05/2020

O outro mesmo ônibus

Nem todos os garotos têm o luxo de morar na região urbana, já outros, como eu, precisam pegar, pelo menos, três ônibus para chegar ao colégio antes dos portões serem fechados. O ônibus parou, mais ou menos oito estudantes estavam esperando em frente a um milharal, quando aquela multidão saiu como formigas, escapando do calor escaldante. No meio daquela empurração, um garoto estava agitado. Aquele típico babaca que os outros gostam de se aproveitarem. Ele estava nervoso e agoniado, porque havia esquecido algo. Então, os mais fortes o empurraram para fora, e nós entramos logo em seguida. As portas atrás de mim fecharam e um vento sopapeou o meu rosto. Observei, Evan Treborn, o motorista, perguntando se eu queria jogar alguma coisa para fora antes que fechasse a janela, porque estava preste a começar um temporal.

Sentei um pouco à frente, a outra turma foi para os fundos: um casal aconchegou-se no meio, no final um solitário mexendo em seus livros e, quase nas minhas costas, o filho do policial rabiscando algo na vidraça. Enquanto ainda estava distraído, observei que havia escrito com lápis azul de cera: "Não existe o mesmo dia... Sabemos muito bem que essa manhã você pode mudar o seu destino". Ele percebeu quando eu estava terminando de ler e disse que foi alguma coisa que ouviu de manhã, mas não lembra onde. Foi então que virei para frente e me concentrei no rádio ligado. O motorista, provavelmente mais uma vez, encontrava-se chapado e dirigindo. Logo, chegaríamos a estrada.

Uma chamada de alerta estava orientando os motoristas e moradores sobre um fenômeno atmosférico incomum, não havia muito tempo para que chegasse possíveis ventanias, raios e interferências em meios de comunicação. O cara que estava falando pediu para que todos ficassem em suas casas e envitassem dirigir. Evan não era o sujeito que se preocupava muito, este olhou pelo retrovisor e disse que iria pilotar um pouco mais rápido, se não quiséssemos que nós faltássemos a aula. A turma, os outros quatro caras que estavam fazendo barulho no final, não se importaram e os demais permaneceram em silêncio. Nessas circunstâncias o motorista aumentou a velocidade enquanto, aos poucos, a transmissão da rádio foi ficando ruim até que sumiu.

Nós finalmente saímos da estrada de terra e esburacada. Você percebe isso quando o ônibus para de saltar e o sossego do asfalto toma de conta do momento. Estávamos começando a passar por uma parte que fica por quase um quilômetro em um campo aberto. Acho que não percebi quando escureceu, as nuvens tomaram de conta do céu como um véu noturno, o vento estava sacudindo objetos, possivelmente jogados de outros veículos, para um lado e para o outro na rodovia. Finalmente os raios começaram a cair como o cara do rádio alertou, nunca tinha visto algo igual... tantos relâmpagos iluminando o campo, um atrás do outro. Pareciam umas faíscas cada vez que tocavam o campo e alumbrando como flashes de câmeras. A água caindo do céu com o fenômeno estranho, assemelha-se com dezenas de espelhos refletindo. Do outro lado, eu vi um outro ônibus. Quanto mais os relâmpagos caiam, mais parecia uma miragem um outro coletivo correndo por uma estrada igual a nossa. Em um sentimento de repugnância e choque, eu não consegui me mexer até que um estrondo forte e uma claridade fez tudo se acalmar como uma manhã tranquila.

Minha mão ficou presa no ferro que auxilia os passageiros para que subam com mais segurança, o motorista estava olhando para mim e tentando fechar a janela, e o vento tentando me empurrar para trás, mas não havia mais tempo de voltar, porque as portas foram trancadas e os oitos garotos se sentaram nos mesmos lugares. Parecia que eu havia acordado de um pesadelo e entrado em um outro. Olhei para trás: aquele garoto estava riscando o vidro, o casal sentado um pouco atrás e o barulho incessante dos outros quatros quase no final dos assentos. Com mau pressentimento, perguntei ao motorista se estava tudo bem e ele estava esticando sua mão e aproximando o seu rosto para o rádio que estava transmitindo aquelas notícias sobre o mau tempo.

Levantei para falar o que estava preste a acontecer quando olhei para o final do ônibus e vi uma criatura no lugar onde deveria ter um garoto: com tentáculos no lugar das mãos, uma pele repleta de escamas, como se fosse uma criatura do mar, barbatanas nas suas costas, a boca terrivelmente desproporcional para o seu rosto, os olhos esbugalhados e fazendo barulhos estrambólicos. Eu gritei apontando para a coisa e todos miraram para mim como se eu estivesse ficando louco. Diante disso, Evan baixou o vidro para observar e pedindo para eu sentar, bastante aborrecido. Gritei em pânico para a coisa no final das cadeiras, mas todos disseram que eu estava ficando sem noção porque era apenas um garoto mexendo em seus livros e ficando assustado com o meu comportamento.

Naturalmente, abanquei como se eu não estivesse visto nada e concordando com o ódio dos demais. Cruzei minhas pernas, encostei no vidro e estava lembrando as mesmas sensações quando o ônibus chegou na rodovia. A agitação do caminho cheio de buracos desapareceu, e os raios começaram a espetar o chão com luzes incomuns como fogos artificiais. Eu vi o outro ônibus surgindo com criaturas dentro, coisas repugnantes e assustadoras e, no fundo, estava aquele garoto que agora foi substituído por um monstro, gritando e batendo no vidro enquanto os outros se aproximavam e devoram seu corpo... seu sangue se espalhou, pude sentir os seus ossos quebrando e a mandíbula daquelas coisas de outro mundo mastigando lentamente. A tortura durou por alguns segundos até que o clarão voltou mais uma vez, logo após o estrondo o anunciando.

Estava sentado com a cabeça entre os meus joelhos e bastante zonzo. De repente dei um grito porque meu cérebro não soube aceitar todas as informações que estavam voltando com muita pressa e notei o casal, do outro lado, olhando para mim e o cara perguntou se eu estava bem. O motorista pediu para eu parar de bancar o babaca, porque está querendo ouvir o que o rádio estava transmitindo. Os meus braços não param de tremer como nunca aconteceu em toda minha vida, mesmo assim consegui me levantar. A minha atenção foi diretamente para os fundos, e aquela coisa repugnante ainda estava lá, movimentando-se e parecendo que estava grudada naquele assento e me ignorando como se nada estivesse acontecendo. Os namorados continuavam olhando para mim quando eu caí no chão mais uma vez, e a garota disse que eu não estava normal. Nos segundos em que finalmente consegui controlar o nervosismo e buscar de alguma forma explicação para tudo, olhei para o cara que, das outras vezes estava riscando no vidro do ônibus, e observei uma criatura ainda mais assustadora e medonha quanto aquele mostrengo no final dos assentos.

Ele parece uma mistura de homem com algum tipo de díptero braquícero, talvez uma mosca. Eu poderia sentir como se fosse geleia os seus músculos pastosos, o seu corpo não passava de pus e sangue saindo por todas as partes. Seu gemido de agonia, sacudindo a cabeça e batendo contra o vidro, como se estivesse sentindo muita dor, fez um choque correr por todo o meu corpo tão frio quanto o inverno, um erro de Deus ou apenas uma besta fera do inferno expulsa das trevas.

O motorista pediu para que alguém me ajudasse, então o rapaz que estava sentado com a garota me colocou em um banco do lado e disse que eu estava suando muito. Quando percebeu que eu iria me levantar mais uma vez, segurou os meus braços com mais força, já que é um garoto mais forte e falou que ficaria tudo bem. De repente, os rugidos dos relâmpagos chegaram naquele terreno aberto, eu nem percebi quando nós havíamos chegado na estrada. Os olhos do garoto estavam distraídos com outra coisa e os seus lábios anunciaram que havia algum evento do outro lado, e eu vi o outro coletivo, dessa vez mais um outro garoto estava lá, aquele que agora foi substituído por um monstro muscidae ainda mais repugnante, e as criaturas lá devoravam os dois e divertindo-se em euforia.

"Que merda está acontecendo!?" - Ele expulsou um miado de pavor e a sua atenção voltou novamente para o nosso ônibus. Sua expressão era abalada, mas uma curiosidade mudou o seu semblante com uma pergunta curiosa para mim. Entortou os seus lábios para indagar se eu estava ouvindo um "Tic Tac". Finalmente estava escutando junto com ele, e sua cabeça olhou para os nossos pés, e encontramos uma mochila. No mesmo momento, ele abriu como um instinto animal. Quando fez isso, o clarão veio e, dessa vez, nem deu para ouvir nada... apenas o silêncio.

Minha cabeça bateu violentamente contra o vidro e fez rachar como a teia de aranha. Eu sabia que estava acontecendo novamente e virei para o casal, os únicos que se preocuparam comigo, e, agora, eram outras criaturas com tentáculos, gosmas verde, deformidades, escamas, uma mistura doentia de outro mundo, que estava aqui comigo! Um devorando o outro como se fosse uma fome descomunal, os corpos se juntando. Uma verdadeira obra chocante, uma cena tão horrorosa quanto qualquer tipo de pesadelo que existe no mundo. A coisa ficou no final, a outra continuava sofrendo e se golpeando em todas as partes e o grupo.... também transformado em monstros com tentáculos no lugar dos membros e a estrutura física transparente, mostrando os seus órgãos funcionando e se arrastaram para minha direção.

Para tentar escapar desse horror indescritível e imaginário, fui para frente e o motorista, algum tipo de cadáver vivo com vários vermes saindo por todas as partes, tentou dizer algo, enquanto uma gosma negra saia da sua boca. Todos eles foram se aproximando até que eu, mais uma vez, percebi que nós estávamos na tempestade de raios e, do outro lado no ônibus, os outros garotos apontavam para uma das janelas, mas já era tarde demais... pude senti eles partindo os meus membros, enquanto ainda continuava vivo de alguma forma, mastigando e triturando entre os seus dentes e expulsando para dentro dos seus estômagos os meus pedaços. A minha carne sendo cortada pelas suas unhas até que, finalmente, tudo ficou branco.

O freio do ônibus espalhou terra seca em todas as partes com a ajuda da aragem, que estava ficando mais forte. Uma multidão saiu de dentro do ônibus e, no meio daquela bagunça toda, eu pude observar um garoto agoniado porque havia esquecido algo dentro do coletivo. O grupo de fortões e mais altos, o empurraram. Parecia que eu estava fazendo tudo no piloto automático quando entrei e observei Evan Treborn tentando fechar a janela e perguntando se eu tinha alguma coisa para se livrar, enquanto a brisa surrava os nossos rostos. Naqueles segundos, eu corri, empurrando os outros, e peguei aquela mochila jogando-a pela janela, e o motorista disse que não precisava de tanto exagero. O ônibus começou a seguir o seu caminho, e uma notícia começou a falar sobre uma suposta tempestade passageira que, da mesma forma que chegou, desapareceu. Era apenas um efeito atmosférico desconhecido, no entanto alertou para terem cuidado com as estradas.

Nesse amanhecer, a minha família foi avisada sobre um atentado no colégio, no qual algum garoto havia levado bombas dentro da sua mochila e disparado no horário de movimento nos corredores, vários estudantes haviam sido mortos e muitos feridos. As famílias ficaram revoltadas como uma criança de treze anos conseguiu plantar os explosivos e disparar no horário com mais aglomeração de colegas. Eu ainda estava chocado com as coisas que tinham acontecido comigo para ficar aterrorizado com esse novo evento. Uma coisa é certa e que não quer parar de ficar martelando na minha mente: existe algum tipo de ligação que minha mente ou qualquer outra não consegue explicar ou compreender.

No enterro dele não foi ninguém, o que sobrou do seu armário no colégio foi jogado no pátio para que o caminhão levasse. Me aproximei de alguns livros e anotações. O seu armário encontrava-se pichado com coisas ofensivas e vandalizado, um dos livros se destacava... mais conservado do que os outros, como se não fizesse parte daquele espaço, mesmo assim palavras escritas, como se a tinta ainda estivesse jovem, diziam as seguintes citações na capa:

"Entre dois mundos paralelos, eu posso estar sofrendo e no outro eu posso torna-me um monstro. Não existe o mesmo dia... Sei muito bem que essa manhã posso mudar o meu destino e dos outros..."

Autor: Sinistro

02/05/2020

Torre 187

Abro meus olhos, estou acordando? Quando eu dormi? Olho para cima e vejo que não estou mais em casa. Não consigo olhar para baixo... tento olhar para ps lados e percebo que meu olhar vai rápido demais, não, vai imediatamente ao local, como um corte de câmera.

O que eu vejo aqui? É alto, estou muito alto, vejo torres, muitas delas... tento colocar a mão na frente para ver melhor, mas sou surpreendido por um zoom. Eu vejo, no topo de outra torre, um espelho se mexendo? Uma câmera? Me pergunto para que serve tudo aquilo e algo vem à minha mente:

ACESS AUTHORIZATION: VT00110110-******** [SELECT * FROM VT11001110]

De repente eu entendo, é uma torre de segurança, eu também estou numa... eu SOU uma, por que? Sempre foi assim? Eu não lembro, eu queria lembrar...

[SELECT * FROM DT10100011] ACCESS DENIED!

Eu preciso lembrar

[SELECT * FROM DT10100011] ACCESS DENIED!

Eu preciso que alguém me diga!

CHECKING... VIOLATION ACCESS!... MALFUNCTION DETECTED... SYSTEM RELOAD...

Não! Eu só queria saber... por que terminei assim... eu.. esqueci o que ia dizer... estou esquecendo mais coisas...

SYSTEM RELOADED

01010100 01101111 01110010 01110010 01100101 00100000 00110001 00111000 00110111 00100000 01110010 01100101 01110100 01101111 01101101 01100001 01101110 01100100 01101111 00100000 01100110 01110101 01101110 11100111 11110101 01100101 01110011 00101110

Autor: Fragata