25/02/2014

Francis

 "Não compreendo"

"Você não precisa compreender. Você só precisa assinar"

Essas duas frases foram ditas no mesmo quarto, nas mesmas horas, pelos últimos 3 meses. Eu sempre digo a primeira, e Francis diz a segunda. Eu odeio Francis. Ele é meu advogado. Queria que ele se fosse pra sempre. Mas desejos só ajudam quando você os deseja para uma estrela cadente.

Já que estou em um momento de lucidez, eu vou te dizer algo... Não assinarei. Ele não pode me forçar. Não quero seu dinheiro idiota.

Eu devo te dizer que sou um esquizofrênico - essa voz é a que vem do lado são de minha mente. Francis está tentando me ajudar a vender a casa. Ele não é meu advogado, ele é meu corretor imobiliário. Eu venho tentando vender minha casa, mas algo me impede, algo impede que eu seja coerente nas nossas reuniões.

Eu não tenho nada com a casa, mas é onde estão minha TV, meu XBOX, minha geladeira, meu sofá, minha cama, os pisos, os papéis de parede...

Estou tentando vender essa casa faz muito tempo, mas basta alguém mencionar esse assunto e eu fico incompreensível - falo, ajo e penso como uma criança. Essa doença arruinou minha vida - arruinou minhas chances no amor. É até engraçado, devo admitir - eu estava bem perto de beijar meu primeiro amor, quando minha personalidade ativada pelos sentimentos românticos ouviu uma das vozes em minha mente, e eu disse algo vulgar - depois disso, lembro de acordar com um dente a menos.

É impossível conseguir trabalhar, também. Em um momento, eu tinha completado um arquivo do Word pela primeira vez em uma semana - meu chefe era bastante compreensivo - e no momento seguinte, eu já tinha deletado tudo novamente. Atividades cotidianas, como por exemplo dirigir - sempre que eu dirijo, começo a buzinar como louco e acelero de vez, como um garotinho em um kart. Eu quebrei três TVs em poucos meses.

Elas não me tratavam bem.

Até escrever isso é difícil pra mim. Jag kan inte tanka klart.

Às vezes, minha esquizofrenia me faz escrever e falar em uma língua que não sei como eu sei
Eu decidi interromper tudo isso e me fazer sentir melhor - as pílulas e o psicólogo eram inúteis. Decidi que iria filmar a mim mesmo durante a próxima reunião. Dei a Francis a permissão de me ajudar a assinar. Liguei para ele e relatei meu plano - disse para que não mencionasse a casa até que eu desse permissão a ele.

Entrei.

"Bom dia, Sr. Patterson", ele diz naturalmente enquanto eu filmo.

"Bom dia", respondo. A criança não gosta de seu nome - até mesmo olhar pra ele lhe incomoda.

"Senhor, lhe dou permissão para me ajudar a assinar esse documento"




Acordei no meu sofá. A TV está ligada, e minha câmera está conectada a ela. O vídeo parece se repetir. Já está amanhecendo.

Eu sentei, esfregando meus olhos, e comecei a assistir para ver se consegui vender minha casa. Eu não estava pronto para o que eu vi na fita.

Estou sentado em um quarto branco, com minhas mãos em meu colo. Estou com a barba por fazer. Meus olhos, vermelhos. A câmera está em uma mesa à minha frente, filmando.

Levanto minha mão, como se estivesse com um telefone, e coloco-a perto de minha orelha.

"Francis, é o Jim - já sei o que fazer".

Eu troco de mãos. Minha voz soa como se eu fosse de Nova Jersei "Oh, ótimo, Jim. Finalmente".

Troco de mãos novamente "Eu vou me filmar dando permissão a você para me ajudar a assinar o documento. Não mencione seu nome - Timmy não gosta disso. Ah, não mencione a... a..."

Minha voz fica extremamente alta, soando quase como a voz de Elmo, da Vila Sésamo. "A casa, a casa, não me tire minha casa!!"

Levemente bato minhas mãos para imitar sons de passos, e faço um som de porta abrindo com minha voz.

"Bom dia, senhor Patterson."

"Bom dia. Senhor, lhe dou permissão para me ajudar a assinar esse documento".

E então com a voz aguda "Ta inte mitt hus!"

Minha cabeça bate de vez na mesa. Dois homens de uniforme branco entram e me carregam para fora. Uma mão pega a câmera, girando-a - e eu estou encarando Francis.

"Esse homem, Francis McKnight, vem dizendo a mesma coisa toda vez que nos encontramos. É como se ele sempre encenasse um encontro entre ele e seu advogado imaginário. Ele incorpora o personagem de Jimmy Patterson, um esquizofrênico tentando vender sua casa. Quando ele está pronto para assinar, uma criança chamada Timmy toma controle, e grita no que parece ser sueco. Ele desmaia, e nós temos que levá-lo para seu quarto".

O doutor suspira e olha para ao longe antes de continuar.

"Esse é o caso mais estranho de toda minha carreira - um esquizofrênico cujo alter ego também é esquizofrênico. Eu já tentei de tudo".

"Bom dia, senhor..."

"Henriksson", eu digo. "Meu nome é Henriksson".

"Está na hora do seu remédio, senhor"

"Muito bem". Engulo minhas pílulas e começo mais um dia no manicômio.

Hur din kropp smak?

23 comentários:

  1. Quando li o título, achei que se tratasse da Divina e.e

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  2. Ola sou novo no blog(nem tao novo assim'-') mas gostaria de saber se ainda fazem creepypastas dos fãs(eu tenho olhado creepys antigas),desde ja obrigado

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  3. "trim trim....alô seu policia tem um estranho rodeando minha casinha"....não sei por que essa creepy me lembrou essa frase heuheuheueheuheh

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  4. Respostas
    1. E pq um dos personagens do L4D 1 se chama Francis

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  5. Não sei o que comentar...

    Só me lembrei da moça do avast: "PAM PAM PAM uma ameaça foi detectada".

    Esse comment só serviu pra marcar meu território mesmo, agora vou responder uma cantada da Agnes como sempre...

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  6. Coloque isso no tradutor goxtosa: Ich möchte Projektionen mit dir, es ist schöner machen. ;]

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  7. Era pra tá: "Eu quero fazer saliência com vc, sua linda" mas não sei como é saliência em Alemão, ai botei essa palavra no google tradutor...

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  8. Parece que foi inspirada no ILHA DO MEDO, filme do Di Caprio, em que por causa de um trauma no passado ele cria um história que pensa ser real, Da hora! Muito bom o texto!

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  9. Me lembrou o jogo The Company of Myself. É curtinho, fácil de achar na internet. http://www.kongregate.com/games/2darray/the-company-of-myself

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