11/02/2015

O sonho do sótão

De novo! Aquele ruído de arranhão que eu ouço vindo do closet toda noite. Eu sento na cama com meu cabelo balançando um pouco por causa do ventilador. O som do closet me aflige toda noite, principalmente porque dentro dele tem um pequeno alçapão que dá para o sótão. Eu continuo ouvindo, tentando ficar quieto e então decifrar que som é esse. É terrivelmente difícil porque tudo o que eu consigo ouvir é meu coração batendo.

Finalmente deito minha cabeça no travesseiro e é quando acontece. A mesma coisa que acontece toda noite. Eu tremo assim que ouço o alçapão começando a abrir dentro do closet. Não consigo me mexer, apenas sento tremendo enquanto a porta do closet abre rangendo e num piscar de olhos ali está, em pé no canto do meu quarto com aquele vestido preto rasgado que faz meu estômago embrulhar. O que me deixa doido é que ao olhar em direção ao rosto dessa coisa tudo o que eu consigo ver é uma sombra projetada pela escuridão do meu quarto. A única coisa que consigo distinguir é o cabelo castanho escuro. Seu vestido está rasgado na parte de baixo e suas pernas são pálidas e arranhadas. Os pés estão descalços e por último seus braços... o braço direito tem uma pequena marca de sangue em torno dele, quase como uma pequena mão de criança impressa ali e ambas as mãos revelam longas garras que eu só consigo imaginar perfurando minha pele. Aquela coisa dá um passo na minha direção e a luz de fora revela um pedaço de seu rosto pálido e marcado. Eu grito e nada acontece. Tento me mover e é como se alguma coisa me segurasse. Então eu acordo. Gritando e gritando, ensopado de suor. A mamãe vem correndo toda noite vestindo sua camisola preta e senta comigo, tentando me acalmar. Eu me balanço, meio acordado, meio no pesadelo, ainda vendo aquela coisa no canto do meu quarto.

Isso acontece toda noite por um mês, nada novo. Até uma noite em que o sonho muda levemente.


Eu trago a arma que temos para proteção para o quarto. Tremo e tento manter a arma firme enquanto espero aquela criatura sair do closet. Não consigo mais lidar com isso toda noite, está me matando! Ouço um estrondo e encaro a arma. Dessa vez a criatura abre a porta do meu quarto e anda silenciosamente. Assim que vê a arma, ela grita por um instante, meu coração dá um salto e imediatamente puxo o gatilho jogando sangue para todo lado. O disparo ecoa em meus ouvidos. Eu saio da cama apenas para cair no chão, começo a suar e tremer, torcendo para que a criatura não levante. 

É nesse ponto que eu costumo acordar, mas dessa vez não. 

Eu olho para o cadáver da criatura, a luz passa através da janela e eu consigo enxergar suas pernas, dessa vez não estão pálidas. O sol começa a nascer e a luz da janela vai até seu corpo. Agora eu vejo que não há garras nessa coisa. Ouço meu irmão subir as escadas correndo e abrir a porta do meu quarto com um chute. Quando vê o cadáver ele cai de joelhos. Eu ainda não consigo ver o rosto da criatura. “Meu Deus! Meu Deus, mãe!!! Acorda mãe!”. Meu coração para quando ouço meu irmão. Coloco a cabeça entre os joelhos e fico me balançando, chorando. 

“O que você fez, Tommy?! Tommy! TOMMY!!!”

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