07/12/2015

A Companhia

Nós todos sabemos o que é um porão assustador. Nós todos sabemos o tipo de sentimento que nos alcança quando desligamos as luzes antes de correr pela escada, rezando para que nada agarre nosso tornozelo até que nós alcancemos o último degrau.

Quando criança é normal ter medo de lugares escuros da sua casa, aquele lugar mais “gelado” e escondido onde ficam guardadas as decorações de natal durante todo o ano. Acho que “horripilante” não descreve... Palavras como “perturbador” e “bizarro” são mais adequadas.

No entanto, para mim, havia um local mais assustador do que todos os outros: nosso mais novo banheiro – se localizando no porão – que a meu ver guardava apenas pedaços de parede arrancados, um odor de sujeira que parecia se agarrar a qualquer pessoa que entrasse lá e aranhas do tamanho de ratos em cada canto, e às vezes, se enfiando nas suas meias.

Eu tinha que descer uma escada que rangia demais, coberta com um carpete que não seria visto em toda extensão, já que a maioria dela não era alcançada pela luz, até chegar ao banheiro. Lá, eu tomaria banho todas às manhãs; , eu me protegeria com a porta fechada, o único resquício do banheiro antigo que ainda estava lá.

Naturalmente, a porta seria a última parte a ser substituída... A parte do banheiro que não era como as outras, e teria que ser substituída – meus pais disseram que “seria apenas por um dia” – o que significava uma noite, uma manhã e um banho onde eu não teria a porta para me proteger. Ela seria retirada e eu teria que esperar até que uma nova porta chegasse.

Eu não perderia esse dia... Só de pensar nele me faz querer dormir mais cedo, ou talvez nem dormir.

Eu abri o chuveiro, permitindo que o primeiro jato de água gelada saísse e alguns segundos depois, apenas água quente e relaxante saia dali. O chuveiro é igual todos os outros – era o que eu dizia para mim mesmo – entrando no Box e o fechando em seguida.

Observei os objetos que agora descansam do outro lado do vidro, completamente distorcidos, e sem a porta do banheiro no devido lugar, consigo quase que nitidamente ver a lavanderia. Eu me movo, ainda observando as coisas pelo vidro e tudo que pareço enxergar são criaturas pequenas contorcendo-se umas com as outras, sabendo que aquela era a hora de atacar.

Existe um tipo específico de sentimento que parece tomar todo o corpo de uma determinada pessoa assim que uma presença distinta é notada; você tenta não chamar atenção, como ficar congelado em uma determinada posição, mas o “gelo” parece querer quebrar, então você tenta não se mover, tenta não respirar.

Eu estava assim naquele momento.

Eu entro de forma determinada embaixo do chuveiro, me arrepio enquanto meu corpo se mantém quente na água e estremeço quando percebo o quão gelado meus dedos do pé estavam.

Derramo um pouco de Shampoo em uma das mãos e o aplico no meu cabelo, rapidamente me enfiando embaixo do chuveiro novamente e abrindo meus olhos o mais rápido possível, só para ter certeza de que as coisas do outro lado do vidro ainda são as mesmas... Mas fechar os olhos é inevitável, e eu repito a ação, ainda lavando meu cabelo furiosamente para poder abri-los novamente.

Com apenas quatro sentidos trabalhando, eu começo a entrar em pânico, e é nesse momento que a água – que até aquele momento estava deliciosamente quente – fica gelada. Afasto-me rapidamente da mesma, e minha boca se abre automaticamente enquanto eu solto um pequeno suspiro. Viro-me de novo, colocando uma das mãos embaixo d’água e esperando que ela voltasse à temperatura normal.

Ainda estou esperando, e ainda está gelada.

Eu até teria desligado o chuveiro e ligado novamente, ou esperaria mais um pouco para ser recompensado com um jato de água quente.

Isso teria acontecido se já não houvesse uma mão no puxador.

Abri meus olhos imediatamente enquanto parecia que cada músculo do meu corpo tentava atravessar minha pele, logo depois veio o ardor e tão de repente quanto ele, raios de luz pareciam alcançar meus olhos e meu rosto. Eu precisava abrir os olhos, mas não conseguia.

Existe um tipo específico de sentimento que te atinge quando você percebe que está em perigo, mas não pode usar seus sentidos.

Parece com o sentimento que te acompanha quando você acorda no meio da noite depois de ouvir um barulho e não consegue achar o interruptor da lâmpada no escuro; você se arrasta pra fora da cama e caminha nas pontas dos dedos em total escuridão, acender a luz é seu único pensamento, mas por algum motivo o interruptor parece te enganar... Sua mão procura freneticamente nas paredes, seu coração bate tão forte que parece te ensurdecer enquanto você caminha pelo lugar em círculos.

Atualmente, esse sou eu.

Isso tudo é demais pra minha mente, estou tremendo enquanto me encolho no chão do banheiro, aquela sensação... Como se aranhas caminhassem em toda extensão do meu corpo enquanto eu espero que alguém toque minha pele molhada. Meus olhos ainda queimam e eu tento pegar um pouco de água gelada que ainda saia do chuveiro, jogando-as em meus olhos, tentando abri-los ao mesmo tempo. Pisco algumas vezes com meu rosto virado para baixo e tento capturar toda coragem possível para fixar meus olhos no puxador, e enquanto a água gelada ainda me atingia percebi que a mão não estava mais ali.

Era como se a vida houvesse retornado ao meu corpo.

Eu estava quase convencido de que havia imaginado tudo, eu teria levantado e terminado meu banho no – agora – jato de água quente que saia dali e com todos os meus sentidos funcionando.

Isso teria acontecido se um vento frio não houvesse entrado no Box e alcançado minha pele, fazendo com que um frio imenso percorresse toda minha espinha e meus braços.


Eu teria me convencido de que havia imaginado tudo se aquela coisa tivesse se lembrado de fechar a porta do Box. 




21 comentários:

  1. Essas crepys tao ficando cada vez mais cliches, acho que é pq tem tanta crepy que ja acabou as ideias.

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  2. É um medo de morrer que parece não ter fim, pelo amor dos meus filhinhos, é tudo tão sem sentido.

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  3. É um medo de morrer que parece não ter fim, pelo amor dos meus filhinhos, é tudo tão sem sentido.

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  4. Meio chatinha, parece que duendes invadiram o banheiro 6/10

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  5. Oq me deu medo mesmo foi as aranhas do tamanho de ratos....votreee

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    1. Idem! E eu já não entro em banheiros com aranas "aceitaveis", que dirá do tamanho de ratos!

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  6. Vocês poderiam fazer um sistema de notas para que possamos atribuir às creepypastas, e adicionar uma página com as creepys em ordem decrscente de nota. O que vocês acham disso?

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  7. Tomar banho é um dos momentos mais tensos do dia. Você fica totalmente exposto!
    Fugir de um demônio já não é legal, agora fugir de um demônio estando NU e molhado, é pior ainda! u.u

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  8. Nossa, nota 10/10. Deu até um medozinho q não batia faz tempo..

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  9. Cliché, mas até que o autor desenvolveu legal. Só precisava ter tido uma ideia melhor mesmo, porque isso já tem a vera.

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