22/01/2019

Kaphyotos

Pretendo terminar essa carta antes que o veneno faça efeito no meu corpo. Custou a mim, tempo e dinheiro considerável, para que enfim eu finalmente conseguisse uma substância que me matasse sem dor, mas sem que eu precise causar náuseas para as enfermeiras que me acharem no meu quarto.

Na rua que nasci e passei minha infância, nos subúrbios de uma cidadezinha do Arkansas, havia um velho senhor que dizia ter lutado na primeira grande guerra, e dizia que nela perdeu tudo o que já amou; Sua mulher, seu futuro filho, e metade de sua perna. Por isso ele dizia odiar todos os alemães e seus "falsos deuses". Quando questionado sobre quem seriam os falsos deuses, ele dizia que eram os frutos do acasalamento entre morte e loucura, seus nomes já eram suficientes para levar o mais corajoso dos homens à insanidade.

Poucos anos mais tarde o velho morreu em sua cama, e alguns anos a mais fui forçado a abandonar meu lar e me sujeitar ao serviço militar. Não estávamos em tempos de guerra ou crise, porém após a derrota fascista, todos os salários subiram, e uma carreira no exército era simplesmente a mais fácil. Ou ao menos aparentava ser.

Nos primeiros meses, após uma discussão com um superior, que se certificou de infernizar a minha vida depois disso, eu fui me tornar limpa-convés no barco de uma companhia que, em troca de ter disponibilizado barcos durante a guerra, recebeu soldados como funcionários. Durante os primeiros dias, tudo ocorreu relativamente bem, senão fosse pelos enjoos e náuseas constantes de meia tripulação que nem sequer havia visto o mar, onde eu estava incluído.

Diferente do meu serviço em terra, no barco virei amigo do capitão. Ambos havíamos sidos desprezados pelo general que me colocou naquele barco, e eramos os únicos dois em todo o barco torciam para a mesma seleção futebolista, logo, nos tornamos bom companheiros. Até que após uma forte tempestade, que havia nos tirado algumas poucas milhas para longe da rota que seguíamos, avistamos um velho pesqueiro alemão, que parecia estar abandonado a pelo menos uma década.

O capitão de nossa embarcação, deduziu que pela localização do barco, assim como aparentava não ter ninguém a bordo, se tratava de um barco-espião, e que a tripulação já devia ter sido capturada ou morta a um bom tempo. Ele então pediu que metade dos guardas do barco fossem até o pesqueiro, posição que, coincidentemente, eu havia sido promovido alguns dias antes. Então eu e mais dois homens fomos até o barco alemão, armados com velhos fuzis militares.

Ao chegarmos na embarcação, a primeira coisa que notamos foi o forte cheiro de sangue e enxofre que parecia vir da sala de máquinas. Fora isso, o barco estava limpo de forma surreal. Se não fosse por termos reconhecido que era um modelo antigo, seria impossível dizer que o barco tinha mais que 10 anos, cada peça de metal brilhava como se tivesse sido feita da prata mais polida do mundo.

Tiramos na moeda para selecionar quem iria descer para descobrir a causa do mal cheiro. Obviamente, com o azar que tive durante minha vida toda, eu fui o escolhido pelo destino; Destravei a arma, e desci até a parte debaixo da embarcação, atento a cada som que eu escutasse. Naquele momento notei outra coisa, era impossível escutar o barulho de fora, ou sentir o balanço do mar; De certa forma, era como se eu estivesse parado no tempo. Ao finalmente chegar na sala de máquinas, tive uma visão que não posso descrever em palavras. Era como se todos os membros da população tivessem sido quebrados, retorcidos e esmagados, e enfim empilhados em um cubo de carne, sangue e ossos quase que perfeito.

No centro da sala, onde deveria estar um motor, havia somente uma placa de pedra coberta de algas e inscrições em letras que jamais tinha visto antes. Ao tentar ler os símbolos, uma sensação de náuseas e vertigem tomou conta de mim, como se meu cérebro estivesse sendo sugado por um canudo em minha testa. Alguns segundos depois retomei os sentidos, e tentei analisar a sala. Na parede, pintado com o que parecia ser sangue e fezes, estava uma palavra em letras normais, escrito de uma forma que as últimas letras pareciam ter sido feitas por alguém ou se contorcendo, ou em loucura.

"Kaphyotos"

Uma dor agoniante tomou conta de mim quando li. Ao me virar para a saída, vi um ser asqueroso, tinha o corpo de um lagarto, porém humanoide, e no lugar da cabeça, havia apenas uma massa negra, feita de olhos, tentáculos e bocas. O cheiro da criatura me atingiu em segundos, era uma mistura de enxofre e carniça tão forte, que me fez perder a consciência em poucos segundos. A última coisa que vi foi os tentáculos da criatura se moverem em minha direção.

Acordei, segundo o capitão, três dias depois na enfermaria do meu barco. Meus companheiros, segundo ele, impacientes com minha demora, foram para a sala de máquinas e me encontraram inconsciente em uma poça de fezes e sangue. Após verem o bolo de corpos, me tiraram de lá, e logo depois, afundaram a velha embarcação com algumas bananas de dinamite, como fora ordenado pelo exército americano.

Quando questionei sobre a placa e as inscrições na parede, eles afirmaram não ter visto nada. Acreditei de princípio, até que um dos que me resgataram tirou a própria vida colocando a cabeça em um moedor de carne. As memórias da palavra e da criatura que vi naquele dia continuaram me causar pesadelos durante toda minha vida. Sinto que aquela criatura pretende em algum momento vir me buscar, e confesso ter medo do que ela poderia fazer para mim.

Por isso eu peço que entendam minha decisão de tirar minha própria vida. Poucos segundos atrás escutei sons do lado de fora, e um forte cheiro de sangue e enxofre tomou o quarto por completo.

Sei que ele está aqui.

E nada vai o impedir.

Autor: M. Medeiros

16 comentários:

  1. No começo tava legal, ai começou a enrolar demais e o final ficou até sem sentido. Eu não senti emoção nenhuma lendo, coisa que sinto em quase todas as creppys que vejo e nessa não senti nada. É uma boa creppy, mas poderia melhorar. Digo isso pois não sou de dar avaliações nas estórias (ou histórias) desse site e infelizmente tive que dar a minha nessa. Eu agradeceria a você Gabriel se lesse esse comentário (ou qualquer outro adm). Levem isso como uma crítica construtiva, pois as creppys daqui são realmente boas, porém de uns tempos pra cá elas têm ficado sem graça e sem sentido nenhum.

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  2. Diferente de muitos críticos literários profissionais que habitam os comentários, eu gostei. Tragam mais do tipo a chanerca

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  3. Não foi das melhores creepypastas que já li, mas eu gostei. Parece que o povo não se contenta com algo que possui uma pegada mais clássica. Além de acharem que história complexas e de revirar a mente caem do céu, porque só pode ser isso para reclarem tanto de creepypastas que não são tão ruins quanto dizem.

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  4. Típico fã de Lovecraft, assim como eu. Bela referência a Dagon no fim. ( A janela! A janela!)
    Curti, mandou bem.

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  5. Legalzinha.. batida mas não é ruim tb. 7/10 😘

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  6. sem expectativa alguma li e gostei muito parabéns

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  7. Como eu adoro Lovecraft, gostei demais dessa creepy. Espero outras no mesmo estilo!

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  8. Lovecraft é muuto chato.

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  9. Muiyo boa, deu para imaginar cada detalhe da história.

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  10. Parabéns pelo trampo e tals ... sempre leio todos que posso ... porém deveriam selecionar melhor oque postam pra gente ler ;)

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  11. É louco como cada um teve uma opinião sobre essa história. Primeiramente, eu amei. Parabéns ao autor, você tem um dom rapaz (ou moça). A história foi muito bem desenvolvida, os detalhes são perfeitamente realistas e as palavras usadas JESUS! É sério, foi a melhor que li até o momento. Concordo que é uma tradição uma história desse tipo de "Personagem encontra algo tão ruim que se mata", mas você a contou de uma maneira que tornou sua história única. Parabéns.

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