09/03/2015

São as pequenas coisas

Assim que nossos vizinhos novos se mudaram, alguma coisa na nossa calma e suburbana vizinhança parecia fora do lugar. Mas não me entenda errado, não começou a sair sangue das minhas paredes nem nada disso – porém as coisas simplesmente mudaram.

No primeiro dia da mudança dos Smiths, minha mãe fez questão de tentar fazer os vizinhos estranhos se sentirem parte da nossa pequena vizinhança, e ela – que estava quase sempre fora de casa por causa do trabalho – gostava de conhecer todos os vizinhos novos quando tinha oportunidade, fazendo questão de arrastar a filha estranha de 17 anos junto com ela. Isso, eu.

Os Smiths pareciam tensos o tempo todo, os dois tinham olheiras visíveis e depois de receber eu e minha mãe com um cansado sorriso, eles disseram seus respectivos nomes e o nome do bebê – que agora não consigo lembrar qual é.

É óbvio que quando você tem uma pequena criatura que grita e chora o dia todo em casa, seu nível de stress aumenta, mas eles dois pareciam que haviam acabado de sair de várias guerras seguidas.

Durante o tempo que fiquei lá, várias coisas chamaram a minha atenção – o curativo em volta da mão do marido e a mulher, que simplesmente parecia apegada demais ao bebê – mas depois de entregar alguns biscoitos não muito bem-feitos, e de alguns minutos de conversa, eu e minha mãe estávamos voltando para nossa casa.

“Bom,” Minha mãe disse, “Eles parecem um casal legal.”

“Só espero que a gente não consiga escutar aquele bebê chorando tarde a noite,” Eu murmurei e recebi um beliscão, enquanto a minha mãe resmungava sobre como eu precisava ser mais amigável.

É fácil falar, afinal, ela quase nunca estava em casa e não teria que aturar nenhuma família nova que resolvesse se mudar para a nossa vizinhança.

Algumas semanas se passaram até que as coisas estranhas começaram a acontecer. Entre a escola, e a minha mãe indo pegar o próximo vôo, eu não tive muito tempo para perceber detalhes de nada. No começo, eram apenas pequenas coisas: lixo sendo derrubado, correspondência desaparecendo, chaves sendo colocadas em outros lugares, e até a minha escova de dentes que sempre ficava no armário começou a aparecer em cima de coisas que eu nunca imaginaria. Mas nada disso me fez pensar que havia algo maligno na minha casa...

Uma coisa que me fez começar a suspeitar, aconteceu quando eu estava sozinha em casa (o que era normal), e eu havia acabado de chegar da escola. Entrei na cozinha e fui até a pia, que, para o meu desgosto, ficava na parede da maior janela, que dava de cara com a casa dos Smiths. Estando em casa ou não, as cortinas deles sempre ficavam fechadas, mas, enquanto eu lavava as minhas mãos eu vi o que parecia ser alguém abrindo uma das cortinas e olhando pra mim – me senti estranha, mas rapidamente acenei e me afastei da pia.

Quer dizer... Os dois carros deles estavam na garagem, talvez um deles estivessem olhando para o quintal, procurando algo...

Eu não percebi que os olhos por trás da janela continuaram a me observar até eu sair da cozinha.

Enquanto eu estava na mesa, fazendo meu dever de matemática e comendo a comida chinesa que havia pedido, ouvi um barulho que quase me fez literalmente pular da cadeira – veio da garagem – e logo depois, meu cachorro começou a latir e rosnar feito um idiota.

“Kimbo!” Eu gritei, abrindo a porta da garagem soltando um olhar acusador ao meu cachorro e tentando entender o motivo de ele estar latindo, mas Kimbo ficou parado inocentemente no meio da casinha, encarando uma pilha de galhos. Acendi as luzes e notei que parecia que alguém havia mexido nos galhos – como se tentasse tirar o de baixo e derrubasse todos os de cima, no chão – eu suspirei preguiçosamente enquanto observava e não senti a mínima vontade de empilhá-los novamente. Quando toquei no primeiro e maior galho, vi algo se mexendo e andando por baixo dos outros, entrando mais ainda na garagem.

Eu soltei um gritinho patético enquanto pulava devido ao susto que tomei, quase tropeçando e caindo em outros galhos que estavam atrás de mim. Nós estávamos acostumadas com alguns ratos na garagem, mas nada se comparava ao tamanho daquilo. Seria possível que um rato ou até mesmo um gambá estivesse tentando se proteger do frio dentro da nossa garagem?

Não querendo me meter com nenhum tipo de animal, coloquei Kimbo para dentro de casa, mas deixei uma parte da garagem aberta, na esperança de que seja lá o que tenha entrado, fosse sair novamente.

Depois que terminei o resto de jantar, fui para a cama e não consegui esquecer o que havia visto na garagem. Eu não podia descartar o fato de que o que estava na pilha de galhos fosse outra coisa... É aquele tipo de pensamento te dizendo que tem algo errado, quando você não tem certeza de alguma coisa, e ele simplesmente não te deixa em paz.

Eu me mexi e acordei a noite toda – com o som do aquecedor ligando ou de Kimbo roncando – mas toda vez que eu estava quase dormindo, eu tinha a impressão de que havia algo perto da minha cama, bem próximo de mim, mas nunca próximo suficiente para eu ter certeza de que não era imaginação.

Depois de passar um dia cansativo na escola, eu nem tive tempo de pensar sobre os acontecimentos da noite anterior – até que eu cheguei em casa.

A primeira coisa que senti foi o cheiro de comida podre na cozinha, a lixeira estava derrubada e o lixo espalhado, isso não estava certo.  Olhei pela janela e vi Kimbo estirado na grama, brincando com seu osso e enquanto eu arrastava o saco de lixo para fora da cozinha, percebi que havia rasgões e arranhões, que me lembravam cortes de facas.

Fazendo o meu melhor para não derramar, levei até a garagem e coloquei em outro saco, mas enquanto eu fazia um nó, vi algo pelo canto dos meus olhos praticamente escorregar ao meu lado. Parecia uma aranha, se estivesse usando sapatos de salto alto.

Que porra era aquela?

Peguei um atiçador de fogo e comecei a ir em direção da cadeira que a coisa se aproximou, de jeito nenhum eu ia me arriscar perder aula e ter que tomar injeção por causa de um rato qualquer que decidiu fazer da minha garagem a casa dele. Cutuquei a cadeira, respirando fundo, e pronta para correr a qualquer momento.

Depois de um tempo comecei a arrastar a cadeira para o lado, até que ela virou e caiu, fazendo um barulho insuportável e alto.

O que estava sentado embaixo da cadeira, amuado e encurralado, parecia um gato sem pêlo a primeira vista, mas depois de vários segundos encarando, percebi que não era bem aquilo.  

Aquela, coisa... Tinha olhos pretos e intensos que pareciam não ter fim, não tinha pescoço para determinar onde começava o peito, e o rabo balançava calmamente – não tinha pelo lá também, e a ponta era enrolada e suja – ele era relativamente pequeno e por algum motivo o imaginei em um velocípede. Mas essa não era a pior parte, não. A parte que mais me assustou foi quando aquela coisa rosnou pra mim, com seus pontudos dentes amarelados.

Eu tive a impressão de que ele tinha dentes demais na boca – como um tubarão, que tem dentes de sobra – suas pernas estavam dobradas e seu abdômen estava a menos de um palmo do chão, no começo, achei que ele estava apenas mostrando os dentes pra mim, mas depois, percebi que estava sorrindo...

Sorrindo! Sua pele estava esticada enquanto ele me mostrava um sorriso com todos os dentes.

Foi naquele momento que eu soube.

Eu soube que não era apenas uma aberração da natureza, soube que não havia saído das florestas e procurava abrigo em garagens. Essa coisa sabia o que estava fazendo e sabia que eu estava com medo, ele pensava e entendia, e eu nunca havia visto nenhum animal – com medo ou com raiva – que tivesse aquele olhar maligno no rosto.

Eu não pude evitar o grito que escapou da minha garganta, andando para trás com um atiçador de fogo nas mãos, tentando me aproximar da porta, mas a criatura não pretendia me deixar ir.

Ele começou a se arrastar mais rápido, o que parecia ser fácil, com aquelas pernas enormes, mas eu o chutei com toda a força que consegui acumular e o vi voar para o outro lado da garagem. Sem olhar novamente, bati a porta da garagem atrás de mim e tranquei um momento depois, parando e ouvindo o som do outro lado, parecia que um esquilo estava caminhando no local, mas depois de um tempo, percebi que ele estava se jogando contra a porta, e apesar de não ter quase nenhum efeito, cada vez que ele se jogava meu coração batia mais rápido.

Eu não sei por quanto tempo fiquei contra a porta, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto, e quando eu finalmente consegui parar de chorar, fui achar meu celular na sala.

Naquele momento eu não me importava em assustar minha mãe com meu histerismo, tentei explicar pra ela entre soluços e lágrimas, e quando terminei, ela disse que era a minha imaginação e que a minha mente estava tentando me enganar, um minuto depois, disse que seu vôo havia acabado de pousar e que ela levaria uma hora no máximo pra chegar em casa.

Quando ela finalmente chegou, eu já estava trancada no meu quarto com Kimbo, sentada no canto, abraçando meus joelhos. Ela hesitou ao perceber a quão assustada eu estava, sem falar que eu estava tão branca quanto um lençol.

Eu fui até a garagem com ela novamente – eu estava tão perto de sair correndo e ir para a casa de algum amigo – mas não falei isso pra ela, afinal, mesmo se eu quisesse não poderia deixá-la sozinha na casa com aquela coisa.

Ela começou a cutucar os galhos jogados e a pilha de atiçadores de fogo, e até levantou a cadeira que eu havia derrubado...

Não havia nada lá.

Não havia nem sequer uma pista da existência daquele ser na garagem, ele certamente não era um amiguinho da floresta, mas... Será que estava lá pra me matar?

Naquele momento minha mãe estava irritada e cansada, e me mandou dormir. Claro, dormir é a solução de tudo... Apenas durma e quando você acordar tudo vai estar bem, não é?

“Você não pode deixar essas pequenas coisas te afetarem, são sempre as pequenas coisas...” Ela disse, notando a quão estressada eu estava, e tentando me convencer de que era culpa das provas finais e da escola.

Eu não dormi nada naquela noite, não ia dar a chance de aquela coisa entrar no meu quarto e me atacar enquanto eu o fazia.

Mas na manhã seguinte minha mãe continuou falando que era tudo na minha mente, e eu sinceramente acreditei nela, era a saída mais fácil, e eu queria apenas ir para a escola a evitar qualquer conflito. Depois de me convencer disso, eu me foquei muito mais nos estudos e não tinha tempo para pensar naquilo, o que me ajudou bastante, pois eu precisava estudar e a minha mente não tinha espaço para outra coisa a não ser os assuntos... Isso funcionou até que a escola parou de funcionar e fui forçada a ficar em casa por causa do inverno rigoroso. Minha mãe me prometeu que estaria de volta no natal, e por mais que eu quisesse pedir pra ela ficar, eu apenas a deixei ir, não valia à pena discutir sobre isso, era o trabalho dela.

Eu estaria mentindo se dissesse que não fiquei com medo, mas os primeiros dias de recesso passaram rápido. Eu tinha Kimbo do meu lado 24 horas por dia, assim como o atiçador de fogo, que não foi necessário, porque sério... Nada estranho aconteceu, era como se tudo tivesse voltado ao normal.

Eu finalmente senti como se pudesse relaxar, e no natal, eu decidi passar a tarde toda assistindo filmes ruins e comendo pipoca. Antes que eu percebesse o sol estava se pondo, eu fiquei perto da lareira com Kimbo do meu lado e minha mãe estaria em casa logo.

Então eu ouvi, e aquele barulho fez todo o pânico e medo simplesmente voltar pra mim. Aquele som da coisa se arrastando, e apenas ficava mais alto e mais perto a cada segundo.

Mas não estava vindo da garagem.

Estava vindo do corredor ao meu lado, próximo ao final do sofá.

Eu sabia que a luz da TV e da lareira eram suficientes para iluminar o corredor, e por um momento eu pedi á Deus que não fosse.

Aquela coisa estava vindo na minha direção e não tinha medo do escuro, mas da última vez que eu o vi, ele se mexia rápida e agressivamente – e dessa vez estava diferente, como se estivesse rápido e mantendo a calma ao mesmo tempo –  a coisa se mexia como se fosse controlada por alguém, suas pernas enormes e esquisitas se esgueirando no corredor, até chegar na sala, e não parou de sorrir, nem por um segundo, nem mesmo quando eu gritei o mais alto que pude, me jogando do sofá e tentando alcançar meu atiçador de fogo.

Antes que minhas mãos pudessem alcançar o atiçador, eu senti como se estivessem enfiando mil agulhas pontudas na minha pele, penetrando cada vez mais meus músculos. Eu choraminguei e olhei pra trás, percebendo que aquela coisa tinha fincado seus dentes na minha perna, e foi mais rápido do que eu pensei que seria... Senti-me paralisada, ainda tentando pegar o atiçador, mas sem sucesso. 

Eu não ouvi os rosnados da criatura enquanto Kimbo atacava o monstro, fincando seus dentes na carne despelada dele, que fez um barulho horrível, como um porco e um gato choramingando ao mesmo tempo enquanto meu cachorro continuava mordendo-o com toda a força. Mas eu não esperava que ele fosse desistir tão facilmente, e eu estava certa, pois um momento depois, sua unha pontuda atingiu Kimbo na lateral, fazendo com que o cachorro se afastasse e choramingasse, enquanto a criatura ia em direção ao porão.

Levantei o mais rápido que pude e peguei o atiçador, e palavras não descrevem a dor que sentia na minha perna naquele momento, eu nunca imaginei uma dor como essa, e sempre achei que a adrenalina servisse de morfina ou algo do tipo. Não era só isso, a mordida foi profunda e o sangue já estava atravessando o tecido da minha calça, mas eu não podia ficar me lamentando naquele momento.

Aquele monstro esperou até que eu abaixasse a guarda, ele assistiu e aguardou silenciosamente antes de me atacar. Mas ele não ia vencer, eu não ia deixar ele me machucar novamente, ou a minha mãe, ou Kimbo. Eu tinha que matá-lo.

Tentando não chorar enquanto caminhava me aproximei da dispensa e peguei o spray limpador de forno, e enquanto eu fiquei perto da escada soltei um suspiro pesado. Ele tinha que estar no porão, era o único lugar que tinha uma saída pra ele – eu acendi a luz e comecei a descer as escadas devagar, observando os degraus, caso ele estivesse abaixo de mim.

Que piada, uma adolescente descendo as escadas com um atiçador de fogo e um spray limpador de forno nas mãos, se eu não estivesse quase me mijando de medo eu provavelmente estaria rindo.

Quando finalmente alcancei o chão, olhei para todos os cantos do lugar. Sofás encostados na parede, a TV, e uma mesa de bilhar do outro lado, mas a coisa não estava lá. Eu virei para trás e observei o canto próximo ao sofá, ainda tremendo, e me lembrei que minha mãe chegaria logo e provavelmente iria me matar por causa do sangue no tapete.

Foi então que percebi que essa coisa não estava apenas brincando de esconde-esconde.

Queria me matar, me destruir e me deixar louca. Por isso me fez pensar que eu estava a salvo, tudo isso apenas fez ficar mais divertido pra ele – por isso ele fez questão de esperar eu abaixar a guarda.

Ouvi um barulho próximo á máquina de lavar, e, ÓBVIO! O único lugar que eu não havia checado! Eu havia acabado de me virar quando o vi voando na minha direção, gritando, e eu pude ver a raiva brilhando em seus olhos, tentando se vingar das marcas de dentes que ainda estavam nas costas dele.

Em um momento de reflexo rodei rapidamente e atingi a coisa com o atiçador na cintura, fazendo voar até a parede mais próxima, eu não podia ficar muito tempo lá ou ele conseguiria o que queria. 

Comecei a subir as escadas correndo, mas quase imediatamente caí e bati minha cara no chão quando minha perna falhou, podia ouvir o barulho dele se arrastando cada vez mais rápido enquanto eu derrubava o atiçador e tentava achar o spray de limpar forno, minhas mãos tremiam violentamente e eu quase derrubei tudo entre os degraus. Quando ele finalmente alcançou meus pés, eu virei e o atingi, fazendo de tudo para que não sobrasse nem sequer uma parte daqueles olhos malditos sem spray.

Se ele não estava com raiva antes, agora ficaria.

Eu aproveitei a oportunidade e comecei a subir as escadas novamente, ignorando a dor enquanto eu alcançava o final, me sentia tonta e cansada, mais provavelmente por causa da minha perna que ainda sangrava, encostei-me à parede e procurei outra arma, mas esse monstro não estava disposto a me dar nem sequer um segundo de descanso, se jogando no topo da escada, não tentando se apoiar em nenhum dos móveis, mas sim se apoiar em mim.

Quando eu finalmente achei as facas, tentei o atingir o mais rápido que pude, mas isso apenas deu a ele a oportunidade de alcançar outra parte do meu corpo e enfiar seus dentes novamente, só naquele momento senti o cheiro de ovo podre que emanava da sua boca.  Eu o empurrei enquanto ele continuava a me morder, e quanto mais eu balançava meu braço, mais ele me mordia. Eu não consigo me lembrar se chorei ou choraminguei, mas aquele foi provavelmente o grito mais alto que eu dei em toda a minha vida. Eu precisava parar, antes que eu perdesse algum pedaço do meu braço.

Arrastei-me na cozinha, sentindo a dor cada vez mais forte e tentando ignorá-la. Esse enviado do inferno não iria vencer, eu não iria morrer por causa de um bicho despelado, ridículo e fedorento.

Bati minha mão no balcão e ouvi alguns copos caírem no chão, e quando ele abriu a boca para me morder novamente, eu o atingi com tudo que pude na cabeça com um pedaço de vidro, e, soltando um grito de raiva e dor, o empurrei de cara nos vidros quebrados do chão, esmagando a cara horrorosa dele.  Ele mexia as pernas, e o rabo, tentava se levantar e me morder novamente, mas eu continuei pressionando e o atingindo na cabeça, até que a criatura diabólica ficou parada em minhas mãos.

A cabeça dele não estava mais conectada ao corpo e mesmo assim precisava ter certeza de que não se levantaria nunca mais, então, o atingi novamente com outro pedaço de vidro. Meu braço parecia doer ainda mais a cada momento que passava, e eu não sei quanto tempo fiquei no chão, mas minha mãe chegou e me achou lá, sem entender absolutamente nada do que havia acontecido, porque Kimbo estava deitado choramingando e porque eu estava no chão da cozinha coberta de sangue.

Ela me levou ao hospital e levou Kimbo ao veterinário, e a polícia veio falar comigo, achando meu sangue no sofá e no porão, mas mesmo depois de eu contar o que aconteceu, eles simplesmente não pareciam acreditar em mim.

Depois disso, minha mãe decidiu se mudar e a nossa cidade não ficava mais perto da floresta, os Smiths vieram se despedir e os dois pareciam menos cansados.  Mas quando Laura – acredito que esse seja o nome dela – viu os curativos em volta do meu braço e perna, ela parecia assustada. Ela me perguntou se eu estava bem e a minha mãe resolveu contar a versão dela da história – aquela que ela ignorava tudo que eu falei e apenas diz que foi um animal que me atacou – Laura parecia completamente histérica, ela praticamente correu até a casa dela e o marido ficou nos pedindo desculpa, e um momento depois, foi atrás da mulher.

Nós nos mudamos sem falar novamente com eles.

Anos depois quando fui para a faculdade e estava morando no dormitório, eu decidi parar de estudar por um momento e apenas passar um tempo online. Eu tentei deixar o que havia acontecido no passado, mas as cicatrizes sempre me lembrariam e sempre estariam lá, literalmente. Eu ainda lembrava dos Smiths, e decidi pesquisar sobre eles – mais precisamente, a mulher, já que era a única que eu consegui gravar o nome –

Mesmo com um nome tão comum, ainda consegui achar algo sobre eles.

Laura e James Smith tinham duas filhas gêmeas, e viviam a pelo menos 5 horas da minha vizinhança.  A notícia explicava que a Sra. Smith acordou no meio da noite quando ouviu as duas filhas chorando, e por ser um horário anormal, ela decidiu checar. Quando ela chegou ao quarto, ela ficou horrorizada ao encontrar alguém, ou alguma coisa, atacando uma das gêmeas.

O artigo não entrou em muitos detalhes, mas estava dizendo que Laura bateu na coisa com um abajur, mas mesmo assim, era tarde demais. Ela estava morta. A notícia também explica que os policiais foram chamados a cena do crime, mas não havia sinal de arrombamento e o caso foi fechado.

Se eu estou seguindo os fatos corretamente, os Smiths se mudaram para nossa vizinhança três meses depois do acontecido.

Senti um frio na espinha, era como se a última peça que estava faltando simplesmente se encaixasse.

Me vi entrando na cozinha anos antes e vendo alguém do outro lado, olhando pra mim da janela dos Smiths... Era o monstro. Seguiu os Smiths até a nova casa deles e provavelmente ia finalizar o que havia começado, até que me viu.

Ele achou uma coisa mais legal pra passar o tempo, e essa coisa era eu.

O que quer que tenha sido aquilo, um demônio do inferno – ou o diabo – queria me matar naquela noite, se eu não tivesse matado ele, ainda estaria atrás de mim, e julgando o quão longe chegou, ás vezes me pego acreditando que ele ia conseguir.


Apenas se lembre: ás vezes, algumas coisas estranhas começam a acontecer e pode ser apenas coincidência. Mas se não é, se continua ficando pior e você sente tua mente te avisando mesmo quando aparentemente não tem nada demais, saiba que são sempre essas coisas pequenas que te esperam no final.

18 comentários:

  1. Gostei, fugiu dos estilos clichês de creepy, e com algumas cenas tão detalhadas, parecendo que alguem reescreveu oque viu em um curta.

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  2. Interessante. Como o Naemegashi disse, essa creepy foge de estereótipos. Sinceramente, achei uma boa creepy. Ela é detalhada, com todas as cenas explícitas e atordoantes sendo ditas de forma que a creepy realmente traga medo e desespero. A história poderia ser melhor, é claro, mas creio que isso já tenha sido um grande avanço na forma como as creepys devem ser escritas. Parabéns!

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  3. eu fiquei imaginado as cena na minha cabeça muito bom essa creepy parabens mesmo

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  4. Gostei. Valeu pela "moral" final, mas eu parei de usar maconha, agora não vejo mais bichos atrás de mim, mas continua sendo uma ótima creepy.

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  5. Resumindo : Todos os cachorros de creepypastas tem nomes estranhos

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  6. curti a creepy! e discordando do(a) Pantera o nome "Kimbo" não é estranho, na verdade é bem fofinho até!! : P

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  7. Essa creepy é boa um cochorro do inferno tentando te matar assusta

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  8. Animais, moral... This is a fábula? :v

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  9. Gostei do novo layout do site! Não sei se faz tempo, pq faz um tempo que não venho aqui! E a creepy é boa também, foi traduzida de algum lugar?

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  10. melhor creepy que li atualmente, vei me fez arrepiar e pensar que esse -enviado do inferno pra me matar- fosse vir atras de mim tbm, krl. quando eu ver aqueles gatos que n tem pelos, eu saio correndo como se n ouvesse amanha :v

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  11. É, na verdade a creepy tentou fugir do cliché, mas esqueceu de ser bem escrita: é chata, as cenas de 'ação' são um porre, e o ser humano que a escreveu não conhece o uso de travessões. Mas foi bem legal essa logicazinha que tentou dar no final.

    Infelizmente, não foi suficiente para torná-la uma BOA creepy...

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  12. Gostei da creepy no que toca ao enredo da história. Eu consegui me sentir no cenário e até visualizei a criatura kkkk
    Mas algumas coisas ficaram por contar, como quando ela mata a entidade e logo após a mãe dela chega em casa e encontra ela toda ensanguentada... mas e a criatura? Morreu e sumiu? Conseguiu fugir sem cabeça? Kk
    Abraços!

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