10/03/2015

S.T.A.L.K.E.R. Horror of Chernobyl

Sei que pode parecer uma pergunta estranha, mas, existe algum jogo que você possa dizer sinceramente que mudou a sua vida? Se você me perguntasse, a resposta seria “Sim, existe.” Era o verão de 2007, não tenho muita certeza. Meu melhor amigo estava viajando, e eu estava bastante entediado.

Enquanto lia algumas revistas sobre games, encontrei uma matéria sobre um jogo chamado S.T.A.L.K.E.R.: Oblivion Lost. De acordo com a matéria, o jogo prometia gráficos realistas, IA sofisticada, intensos combates contra oponentes humanos e mutantes, e múltiplos finais – isso me atraiu imediatamente.

Pesquisei pela internet e descobri que o título do game havia sido alterado para S.T.A.L.K.E.R.: Shadow of Chernobyl e já estava à venda. Sem perder tempo, baixei a versão pirata. Fiquei maravilhado com a atmosfera do jogo – nunca tinha me sentido tão imerso em um jogo. Gráficos e gameplay eram ótimos, porém, era a atmosfera que me prendia ao jogo.

O jogo é um FPS em mundo aberto, desenvolvido por um estúdio Ucraniano chamado GSC Game World. S.T.A.L.K.E.R. se passa na área ao redor da Usina Nuclear de Chernobyl.

Após uma fictícia segunda explosão na usina, a área ao redor – chamada The Zone – tornou-se repleta de mutantes perigosos e anomalias mortais que desafiavam as leis da física, e artefatos preciosos e misteriosos, que atraiam a atenção de caçadores de tesouros, chamados stalkers.

Fiquei tão impressionado com o jogo, que acabei comprando uma cópia original, mesmo utilizando versões piratas antes. Após o lançamento das continuações do jogo, Clear Sky e Call of Pripyat, corri para compra-los imediatamente. Logo, fiquei tão viciado no jogo, que comecei a aprender Russo, o idioma que utilizavam nos jogos, e agora já falo quase fluentemente. Cara, eu até participei de um tour por Chernobyl (e, se quer saber, estou perfeitamente saudável). Então, eu seria uma pessoa bem diferente se nunca tivesse jogado S.T.A.L.K.E.R.

Alguns meses atrás, eu estava vasculhando o fórum russo de mods para Shadow of Chernobyl. Encontrei um tópico chamado “Horror of Chernobyl”. O tópico tinha sido criado a pouco tempo e ninguém tinha respondido ainda. O tópico continha apenas um link para um arquivo torrente – sem descrição, sem screenshots.

“Mod misterioso?”, pensei, “Vamos ver quais os seus segredos!”

Baixei e instalei.

O jogo iniciou normalmente – introdução com um caminhão cheio de corpos, um raio atingindo o caminhão, um stalker carregando o único sobrevivente – o protagonista chamado Marked One – para o bunker do negociante e uma mensagem dizendo “Kill the Strelok” no PDA do protagonista. As primeiras missões pareciam inalteradas. Comecei a imaginar quais as mudanças que o mod trazia, já que não havia nenhum arquivo de informações. Gradualmente, comecei a notar algumas diferenças. As noites estavam mais escuras, e os mutantes surgiam com mais frequência, então, sair do acampamento à noite era uma experiência bem intensa.

Novas missões secundárias também foram adicionadas, a maioria girando em torno de lugares como X-Labs, Yantar Factory ou Bloodsuckers Village. Em uma das missões, por exemplo, o player deveria pegar um flash drive em um depósito no Wild Territory.

Porém, no local havia vários corpos. Ao encontrar o flash drive em uma mochila escondida, os corpos voltavam à vida como zumbis e atacavam o player. Fiquei bastante impressionado com a ideia do criador do mod – era mesmo assustador. Mas havia algo mais, bastante perturbador.

Eu já estava com várias horas de jogo, e fazendo o caminho por uma área aberta. Acho que era o Dark Valley, não tenho muita certeza. De qualquer forma, de repente vi uma coisa no canto do meu campo de visão. Era uma figura fantasmagórica, em pé no topo de uma pequena colina. Virei para a direção onde tinha visto a misteriosa figura, mas não havia nada. Segui para a colina e cuidadosamente analisei a área com o binóculos, sem resultados. Pensei que estivesse vendo coisas, então ignorei.

Algumas horas depois, a situação se repetiu – uma estranha forma no canto da tela, que desapareceu após um segundo. Decidi verificar o fórum onde tinha encontrado o mod, para saber se outros jogadores tiveram experiências similares. O link com o mod tinha sido excluído por um dos moderadores, e substituído por uma mensagem “Luke, leia as regras” com um link para o tópico “Como e onde postar mods”. Sem a ajuda de outros usuários do fórum, decidi resolver o mistério sozinho.

Continuei a jogar, pensando que haveria um explicação em algum lugar. Comecei a explorar todos os cantos do jogo e cumprir todas as missões, mas nada encontrei. Decidi continuar com a história principal. A missão era encontrar um personagem chamado Doctor em Agroprom Underground. Cheguei ao local e tudo parecia normal – uma explosão enquanto subia a escada e o monólogo de Doctor, explicando que Marked One na verdade era Strelok - o homem que o player procurava durante o jogo.

De repente, quando o discurso de Doctor acabou, Marked One/Strelok puxou uma granada, e removeu o pino, permanecendo parado com a granada na mão. Antes que a granada explodisse, a tela escureceu e o jogo travou.

Fiquei confuso com o que tinha acontecido, mas ao mesmo tempo, tive a impressão que estava no caminho certo. Decidi tentar outra vez – acreditei que o jogo tinha travado pois havia encontrado algum erro. Lidar com bugs e travamentos, principalmente após aplicar um mod, fazia parte de S.T.A.L.K.E.R. Quando cliquei em “Load game”, percebi um novo save no topo da lista. Não tinha nome e no lugar do nome do mapa, mostrava apenas “...”. Decidi carregar esse novo save. A tela de carregamento não mostrava uma imagem do mapa – no lugar, mostrava apenas um X.

Quando o mapa carregou, o personagem estava em pé em um corredor escuro. Parecia igual aos laboratórios subterrâneos do jogo. Eu estava sem armas, munição e outros equipamentos. Como não havia nenhum outro caminho, avancei pelo corredor. De repente, a uns vinte metros à frente, uma figura cruzou o corredor, atravessando a parede. Era o fantasma que eu tinha visto antes. Corri para o local onde o fantasma havia entrado e encontrei uma porta que levava para um quarto pequeno e bem iluminado. Ali, estavam vários documentos, descrevendo coisas muito estranhas.

“Me sinto doente. Disseram que era apenas um incêndio, mas eu não acredito. Deve ser algo mais. Vi meus colegas caírem, mortos. Pelo menos eles não teriam que passar por isso – febre alta, vômitos com sangue e diarreia. Disseram que eu me sentiria melhor, mas sei que morrerei logo.” 

“Lena estava tão feliz pois seria mãe em breve. Mas o que aconteceu com o bebê? Metade do rosto da criança estava coberto com uma coisa que parecia um tumor.” 

“Papai disse que uma coisa muito ruim aconteceu e teríamos que partir. Ele não disse quando voltaríamos. Vi outras crianças deixando a cidade. Espero voltar logo.” 


“Gone are the homes the gardens and the playgrounds. Gone are the souls who made their livings here.” 


Essa última eu conhecia – era parte de uma música sobre o desastre de Chernobyl chamada “Ghost Town”. Saí do quarto e acabei parando de repente em um grande local subterrâneo. Silhuetas fantasmagóricas de pessoas de várias idades e sexos andavam e falavam entre si sem produzir qualquer som. Parecia uma cidade tranquila, embora habitada por sombras.

De repente, um alarme soou. A maioria dos fantasmas começaram a correr, outros começaram a atacar inimigos invisíveis. Um dos vultos caiu no chão imóvel. Outro tentou correr, mas tropeçou e se ajoelhou, segurando o estomago – parecia que estava vomitando. Finalmente, o local ficou vazio – todos os fantasmas haviam ou fugido ou estavam caídos no chão. A tela escureceu e um texto surgiu:


“Obrigado por jogar, stalker. Sem o sofrimento dessas pessoas, esses jogos nunca existiriam.” 

As vítimas do desastre de Chernobyl 


Essa foi a última vez que joguei S.T.A.L.K.E.R. Não que eu tenha medo de ‘jogos amaldiçoados’ – não acredito nessas coisas paranormais e acredito que o ocorrido comigo foi apenas o trabalho de algum modder louco. Pensei várias vezes em voltar a jogar, mas ainda tenho um sentimento estranho...

É como se eu estivesse dançando sobre o caixão de alguém.


21 comentários:


  1. "É como se eu estivesse dançando sobre o caixão de alguém."
    Ótima creepy. Agora não sei se é ou não real.

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  2. Gostei da parte que os fantasmas atacavam inimigos invisíveis e quando um deles tropeçou; hohoho vacilão. auhsss

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  3. Vai saber, Violet. Pelo menos o jogo realmente existe e parece que o tal mod tbm.

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  4. Só eu fiquei morrendo de vontade de jogar esse jogo?

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  5. Já joguei S.T.A.L.K.E.R é do caralho esse jogo!

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  6. Eu tenho esse jogo ahuehauheahuheuae

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  7. Pela descrição do jogo normal já apaixonei.
    Vo baixar q

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  8. Pela descrição do jogo normal já apaixonei.
    Vo baixar q

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  9. Nada a ver essa creepypasta é apenas um mod por q fica com medo

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  10. Eu adoguei :v n é pq eh um mod q não dá medo, o caso é q ela é foda e pronto.

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  11. Quando vão posta a continuaçao do "a experiência "

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Muito boa a creppy, não fiquei com medo obvio, mas é algo que da para refletir
    Realmente sem o sofrimento que o desastre de Chernobyl causou esse jogo não existiria

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  14. Eu sei da história de Chernobyl....
    Chernobyl é uma cidade em que ocorreu uma explosão nuclear. Dizem que pessoas sofreram mutações por causa da explosão ,fizeram até o filme assistam é bem legal ,eu não sei se a história é real dizem que o governo mantem a área restrita.

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  15. Essa ultima frase chega a ter um sentido filosofico.

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  16. Muitas acabaram morrendo de câncer, essa foi a maior consequência, os demais detalhes como estes da ficção apenas são detalhes bobos relativos a grandeza do desastre em si.

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  17. Cara, eu só tenho a agradecer quem traduziu esse texto. Se não fosse essa creepypasta eu não teria conhecido um dos melhores jogos que já joguei! Muito obrigado mesmo!

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  18. Esse mod existe, joguei na época, sou fã da serie, uma dica assistam ao filme Stalker do cineasta russo Andrei Tarkovski, é de 1979, um clássico, conta a história de um Stalker, foi nele que se basearam para fazer o jogo.

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