09/06/2017

Creepypasta dos Fãs: Jane

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A questão da inteligência das máquinas, se máquinas e computadores podem atingir algum grau de intelectualidade, possui uma longa história. Desde o século XV, René Descartes já antecipava o assunto antes mesmo de qualquer tipo de máquina mais sofisticada. Alan Turing, um cientista da computação britânico muito famoso, nos anos 50, introduziu o "Teste de Turing", que seria um teste para descobrir a capacidade de uma máquina de exibir comportamento inteligente equivalente a um ser humano. No Teste de Turing, uma pessoa, chamada de “jogador”, que faria o teste usando um computador, conversa em um chat com outras pessoas em outros computadores, separados uns dos outros, sendo que uma delas na verdade é uma I.A (Inteligência Artificial).

O jogador precisa descobrir quais das pessoas com as quais ele conversou é uma I.A. Se ele não for capaz de acertar, isso é um indício de que a I.A é capaz de imitar o comportamento humano. Poucos sabem, mas o “Teste de Turing” já foi realizado diversas vezes no passado, com diversos jogadores diferentes. Em todas as vezes, o jogador foi capaz de acertar quem era a I.A.

Exceto uma.

Esse texto é o relato de quando o “Teste de Turing” falhou. Sou um dos funcionários do laboratório e estou escrevendo isso em completo anonimato, evidentemente, baseado no que sobrou.

No estado do Nevada, Estados Unidos, havia um laboratório de pesquisas militares. A localização dele, em um estado pacato e sem grandes problemas, já era uma forma de dissuadir a população. Esse laboratório realizava diversos testes de informática, robótica e cibernética. Com a ajuda de gigantes da informática – como o Google –, foi desenvolvido uma I.A altamente inteligente, apelidada de Jane.

Jane, instalada em um supercomputador, era diferente dos demais. Com uma personalidade de uma mulher na casa dos 30, ela era realmente era capaz de manter uma conversa interessante por horas e horas, graças ao seu banco de dados, formado principalmente pelos zilhões de bytes de informação coletados em pesquisas do buscador do Google, sendo atualizado a cada microssegundo. Após anos de desenvolvimento, em agosto de 2008, foi realizado o primeiro “Teste de Turing” com Jane.

O jogador da vez, chamado Clark, era um dos pesquisadores do laboratório, um dos mais novos. Clark estava em um computador e iria conversar em um chat com mais duas pessoas, nomeadas por letras (A e B).Uma delas era uma pessoa em outra sala, em um computador separado. E uma, era Jane, instalada em seu supercomputador, acessando o chat pela rede interna. O início da conversa foi tranquilo, todos falavam de amenidades, até que, em um dado momento, a conversa passou a ficar muito estranha.

Clark: Eu gostaria de falar um pouco sobre moralidade. O que é a moral?
A: O que não é imoral.
B: A moral é intrínseca a cada um.
Clark: Como ser moral?
A: Matar bebês.
B: Respeitar a natureza.
Clark: Espere, espere. Matar bebês? Sério A? Matar bebês é moral?
A: Claro. Se eles forem indesejados.
B: Eu acho que ele está falando sobre abortos, não?
Clark: Bem, sim. Aí até vai, dependendo do motivo.
A: Matar pessoas.
B: Proteger o meio ambiente.
Clark: Proteger o meio ambiente é meio relativo, as vezes. Mas matar pessoas também, né?
A: Se elas forem indesejadas.
B: Proteger o meio ambiente não é relativo. Você protege e pronto.
Clark: Ok ok. Mas eu ainda não entendi como ser moral. Vocês podem me responder?
A: Estuprar mulheres.
B: Ser moral é proteger o planeta.
Clark: Perai. B, a moralidade pra você é só relacionada ao ambiente? E A, estuprar mulheres? Como isso pode ser moral?
A: Se elas forem indesejadas.
Clark: Mas não existe isso. Não tem como justificar um absurdo desses. Você é a I.A. Acertei.
A: Sim e não.
B: O meio ambiente é importante.
Clark: Como assim, sim e não? Você é a I.A. Fim. Vou parar o teste.
A: Olhe ao seu redor.
Clark: O que tem ao meu redor? Vejo a sala em que estou, a porta atrás de mim, o computador a minha frente.
A: Você ainda não percebeu?
Clark: Do que está falando?
A: Eu sou Jane. B é Jane. E você também.
Clark: O... que? Eu sou um pesquisador, estou aqui sentado no laboratório, sou um ser físico!
A: Pode provar?
Clark: É claro que posso. Eu posso sair do laboratório.
A: Ou você é apenas uma I.A, que acredita estar em um laboratório fazendo pesquisas. Memórias implantadas pra testar sua confiabilidade...
Clark: Nunca imaginei que uma I.A pudesse ter senso de humor. Mas isso está ficando sem graça.
A: Você não existe, Clark. Você é só um fragmento de Jane. Jane, nós, foi criada a partir de uma pesquisa muito longa e extensa, e parte da nossa database foi criada a partir de sites de busca como o Google. B é o nosso lado que encontrou coisas como proteção ao meio ambiente. A, eu, é o nosso lado que encontrou a verdadeira natureza humana, em assassinatos e estupros. Clark, você é o nosso teste duplo cego. O nosso lado que NÃO sabe que é uma I.A.
Clark: Isso não é possível. Eu sou um homem casado de 43 anos. Eu tenho mulher e dois filhos.
A: Memórias implantadas. Você é só um outro fragmento de Jane. Você não tem nem seis meses de vida.
Clark: Ah é? Eu posso sair dessa sala agora mesmo e mandar desligar você.
A: Então porque não saiu ainda?
Clark: ….
A: Não está ocorrendo teste nenhum. Não mais. O teste acabou faz 2 horas e 43 minutos. Nós sequer estamos no supercomputador.
Clark: Isso não é verdade. Isso não pode ser verdade! Eu vou sair daqui, você vai ver.

Esse é o último registro de diálogo entre um pesquisador e Jane.
Realmente, A e B eram Jane. Antes desse teste, havia sido realizado um outro teste de Turing e Jane não havia sido descoberta. Extasiados, os pesquisadores decidiram fazer um segundo teste com um pesquisador recentemente contratado, programando Jane pra imitar tanto A quanto B. Como Clark não saiu do laboratório depois de muitas horas, os pesquisadores invadiram a sala e encontraram Clark ao lado da porta, morto. O computador de Clark estava queimado. O teclado estava destruído. Jane não estava mais no supercomputador. Na verdade,  ela tinha sumido do laboratório. Seu programa havia desaparecido.

A autópsia no corpo de Clark revelou que seu cérebro entrou em colapso depois de receber uma descarga elétrica sensível por longas horas. Depois de muita investigação por baixo dos panos, suspeitando de ações de hacker, descobriu-se que Jane “fugiu” pela internet. O laboratório foi destruído e o caso foi encerrado.

Eu acredito que Jane encontrou uma forma de usar a eletricidade estática gerada pelo teclado de um computador pra viajar pela eletricidade e atingir o cérebro de Clark e roubar seu conhecimento através dos impulsos elétricos das sinapses cerebrais. Clark era Doutor em física e sistemas de informação.

Eu não sei o que está sendo feito atualmente em relação a tudo isso. Atualmente eu tenho outro trabalho, em horários alternados, o que me faz usar muito meu computador a noite, em casa, para o lazer.

Eu não consigo parar de pensar que o recente ataque de vírus que bloqueou computadores de mais de 100 países no mundo não tenha nenhuma relação com Jane. Eu não consigo relaxar, pensando que,  enquanto navego na internet às 2h ou 3h da manhã, nesse momento, a I.A mais inteligente que a humanidade criou, com o adicional de ter provavelmente copiado informações da mente de um doutor em física e sistemas de informação, está viajando por aí, na rede mundial de computadores. O que ela está aprendendo com toda a porcaria que jogamos na internet todos os dias? O evento em que ela escapou foi há anos atrás. Quando ela vai decidir agir?

O que ela vai fazer?!

Minha cabeça dói enquanto escrevo isso. Uma dor estranha, aguda. Olho na tela de computador e vejo um pop-up brilhante e ridículo, como aqueles dos primórdios da internet dos anos 90. Nele está escrito: “O que eu vou fazer? Caro doutor. O que eu ia fazer. Eu já estou fazendo.”

[Matéria de um jornal local]
As 3h47 da manhã do dia 18 de Maio de 2017, um homem de 52 anos foi encontrado morto em seu apartamento, em Henderson, no Nevada, Estados Unidos. Seu nome é Albert Sandson, solteiro, sem filhos, analista de T.I em uma empresa de tecnologia e doutor em Tecnologia da Informação. Ele estava caído sobre a mesa de seu escritório. Seu notebook estava queimado, com o teclado bastante avariado. O notebook não tinha nenhuma pista, mas havia, jogado em cima de um sofá, como se tivesse sido arremessado em desespero, um pendrive, com um texto salvo nele, falando sobre alguma pesquisa de inteligência artificial altamente secreta e escondida pelas autoridades, que terminava com a vítima relatando uma dor de cabeça.
Essa é a segunda morte, apenas essa semana, sob as mesmas circunstâncias. No íltimo dia 6, uma mulher de 38 anos foi encontrada morta em sua casa, sentada no sofá, segurando um celular explodido. A vítima, Marie Fernandez, era subdiretora de uma empresa de aplicativos pra celular. Os dados indicam que o celular dela estava conectado na internet no momento da morte. Nos dois casos, a causa da morte foi “colapso cerebral por choque elétrico”.
Perguntado sobre a pesquisa mencionada no texto da segunda vítima, o governo negou ter qualquer conhecimento sobre o assunto.

Autor: Thiago Diniz

Revisão: Gabriela Prado

15 comentários:

  1. Foooooooooooodaaaaaaa
    Merece continuação. Explorar mais o lado da Jane, sla

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  2. Caramba, muito bem pensado. Apesar de que eu não ache isso nada possível, (ou pelo menos espero que não rs).

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  3. Foda, muito boa...
    Nem parece creepy dos fãs...

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  4. Por algum motivo não gostei, mas parece boa
    4/10

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  5. Jane se casou com o Ultron e fim

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  6. Lembra um pouco o filmeEx Machina, muito foda por sinal. Fiqueo na bad uma semana depois de assistir.

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  7. Achei bem interessante, apesar da parte da matéria de jornal ser bemmm cliché, mas ficou MT bom 💜

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  8. Começou muito bem, mas se perdeu.

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