07/08/2018

Padrão - Capítulo 1

- Hey, você! Quem é você? Quantos anos tem? - A voz que ecoou na escuridão interrompeu abruptamente meu sono. Eu abri os olhos e me virei, com o coração quase saltando pela boca e uma sensação de algo quente borbulhando em meu estômago.

- A-Adam... 8 anos... - Me virei rapidamente e respondi gaguejando, mas não achei o autor da pergunta. Eu estava no espaço, vagando pela infinidade de escuridão, estrelas e constelações, que piscavam como flashes de uma câmera, vários pontinhos brilhantes que, a cada vez que cintilavam e se apagavam repentinamente, me lembravam do meu aniversário, com várias câmeras ao meu redor.

- Você sabe onde está, não sabe? - Novamente a voz me perguntou. Era extremamente parecida com a minha, porém um pouco mais grave. Eu olhei em volta impulsivamente, mesmo sabendo que não a encontraria.

- É... Não - Respondi com medo do que viria a seguir. Definitivamente não sabia onde estava.

- Ah, droga... Não mesmo?... - A voz dirigiu outra pergunta à mim, e a cada vez que eu abria a boca para responder, meu coração pulsava mais e mais, acelerando como um carro de corrida. Eu podia sentir que não estava sozinho.

- Não, não mesmo. Onde estou? - Perguntei em um tom tão baixo que torci para seja lá quem fosse, pudesse me ouvir e entender o que eu disse.

- Ponto de Entrada - A voz respondeu e eu senti meu coração acelerar mais rápido ainda, passando da fase dos carros de corrida e chegando em um ponto onde eu não podia mais fazer qualquer analogia, como se fosse saltar para fora. Algumas gotas de suor frio escorreram pela minha testa e finalmente meu coração desacelerou depois de alguns longos segundos com os olhos fechados, respirando fundo. A escuridão se tornou uma luz branca repentina em meus olhos, ofuscando a minha visão com seu brilho cegante. Tapei o rosto com a mão direita e percebi que estava deitado em algo macio. A minha cama.

- Isso não é normal - Ouvi a voz da minha mãe no corredor. Meus olhos se esforçaram para se acostumarem com a luz depois de alguns longos e intermináveis segundos. Levei os dedos aos lençóis e os tirei de cima de mim. Em seguida, apoiei as mãos no colchão e me sentei na cama lentamente, passando por aqueles longos momentos de visão turva e tontura.

- Definitivamente não é normal. Precisamos arranjar algum jeito de resolver isso. O garoto é estranho, você sabe disso - Ouvi a voz de meu pai. Algo estava errado, muito errado.

***

Em plena segunda-feira de uma manhã fria de inverno, eu me encontrava sentado em uma poltrona azul na parte principal da delegacia, vagando em memórias desorganizadas e fora de contexto, tentando encaixá-las em algum tipo de padrão. Depois de dormir menos de 8 horas à noite, eu apenas queria poder voltar para os meus travesseiros. Mas não podia.

"O garoto é estranho, você sabe disso" - Mesmo tendo 26 anos, eu ainda me lembro nitidamente dessas palavras, mas não consigo encaixá-las em algum contexto. A cada vez que me lembro delas, sinto minha cabeça sendo martelada por memórias e pensamentos fora de contexto, vagando deliberadamente pela minha mente. Quando tento entendê-los, ficam cada vez mais turvos e menos nítidos, me fazendo finalmente desistir. Talvez eu seja só um doido, ou são apenas cenas de algum filme ou série.

Meus devaneios foram interrompidos por uma grossa pilha de papéis jogada no meu colo enquanto eu bebericava meu chá em um copo descartável.

- Aqui está, você precisa ler tudo - O delegado Joseph me orientou, me encarando com seu olhar frio. Nesse dia em específico, ele fizera a barba e trocou sua camisa xadrez por uma polo, envolta em um grosso casaco de lã bege.

"Verdadeiramente inusual" - Pensei enquanto olhava em seu rosto. Não era sempre que o delegado me chamava para resolver alguma coisa. Joseph sempre diz que "não confia em detetives particulares jovens e fúteis".

Eu folheei aquela ficha extensa, dessa vez segurando nervosamente meu copo de papel. O delegado me encarava com uma expressão séria, como se analisasse cada marca do meu rosto.

- Isso é bizarro demais. Você sabe que coisas como essa nunca acontecem aqui - O delegado disse, se dirigindo a mim. Depois de terminar de falar, virou o rosto na direção do teto, soltou um longo suspiro e coçou os olhos.

- Realmente... Bizarro... É uma cidade pequena, coisas assim não acontecem todo dia. Resolverei isso de alguma maneira - Eu disse soltando um sorriso forçando e apertando a folha de papel entre meus dedos. É provável que ele não tenha entendido uma palavra sequer do que eu disse, pois me olhou com indiferença.

- Você foi contratado para resolver isso. Faça-o logo, por favor.

Antes de sair pela delegacia lotada, apertou meu ombro com firmeza e me entregou algumas outras fichas.

"Caso n° 1: Uma mulher de 22 anos foi encontrada morta, mergulhada em uma banheira de grãos de café. Ao lado da mesma, alguns grãos formavam o número "18". A morte foi por estrangulamento, nenhuma digital ou pista foi encontrada."

Ao lado dessa descrição simples, uma foto de uma mulher de cabelos longos e castanhos. Seus olhos bem abertos e sem brilho fitavam o teto, suas mãos caídas sobre as bordas de uma banheira de mármore branco. Sua pele agora sem vida estava coberta de grãos de café.

Eu realmente detesto café (um trauma de infância, não é necessário compartilhá-lo), então meus dedos correram rapidamente por essa página. Só queria me livrar dela o quanto antes.

Eu me levantei da poltrona envelhecida na qual eu estava sentado, me dirigindo cambaleante até o meu carro, não conseguindo tirar o olhar das páginas e páginas dos casos mais bizarros que já aconteceram na minha cidade.

Me afundei no banco do meu carro cinza antigo, parando na última palavra do assassinato mais simples da ficha. A vítima havia sido esfaqueada diversas vezes. Pra ser mais exato, 7 vezes em vários lugares na região da barriga.

Passei pela porta do meu escritório - um pequeno apartamento no centro da cidade onde eu atendo meus raros clientes - e sentei na mesa do centro da sala. Por um segundo quase não notei uma xícara vazia sobre ela, mas no momento ignorei o fato de não tê-la deixado lá.

Eu deixei os papéis caídos sobre a mesa de madeira e a lavei rapidamente, voltando para minhas teorias mirabolantes.

Pelo que lia, as coisas estavam divididas como uma montanha-russa. Os casos iam do mais complexo até o mais simples, como um simples envenenamento ou uma única espiga de milho não mastigada presa entre as mãos de uma vítima. Os eventos não eram de fato brutais ou sanguinários, era como se o assassino seguisse um padrão ou algo assim, um significado obscuro.

Esta visão quase foi retirada quando abri uma página aleatória no meio das outras várias. Um homem teve seu intestino grosso brutalmente arrancado de sua barriga aberta. Estranhamente não foi encontrada uma única gota de sangue, ele foi totalmente seco de tudo, menos da parede. Nela, era possível ler o número "3" escrito grotescamente com o líquido rubro.

Eu levantei rapidamente e andei a passos largos até um pequeno armário ao lado do sofá, abri e tirei uma pequena caderneta. A despejei sobre a mesa e escrevi os dois números encontrados até agora: "3 e 18". Neste momento minhas suspeitas foram comprovadas e eu tive certeza absoluta que havia algum tipo de padrão por trás.

Havia um segredo, agora eu estava empenhado em descobri-lo o mais rápido possível.

Autora: Sofia NAQ

9 comentários:

  1. Essa xícara é de quem??? Mistério bom

    Quando sai a próxima?

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  2. Cadê a parte 2? Isso ñ se faz kkkkk. Texto muito bom

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  3. O ruim dessas creepys que são várias partes , é que no começo vai tudo bem , aí depois de um tempo e pela demora de ser postada vai acabando todo o prazer na história. Sei que todos tem uma vida fora do site , mas não deixem as creepys pela metade não, isso me mata. Falando em creepy pela metade , alguém sabe me informar se terminou a da banheira de pregos, nunca encontrei da parte 4 em diante ou o final dela. E sobre a creepy , começou legal , amei

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    1. Eu tbm queria saber se a série runners acabou
      Estava amando ela

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    2. Eu queroa os 1% kkk nunca soube do fim

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    3. E a série ballet que o senhor Andrey saiu e n terminou

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  4. Chuto que o assassino é o detetive particular - dupla personalidade, por isso que a outra versão deixou a caneca por cima e ele sofre de dores de cabeça (por causa de fragmentos de memória que ele mesmo não lembra de ter vivido).

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