21/08/2018

Padrão - Capítulo 3

Eu levantei meio grogue às exatas 5:05 da manhã. Virei para minha cômoda e coloquei meus óculos, soltando uma fraca tosse e me levantando da cama bagunçada.

Não conseguia me lembrar do que houve na noite anterior, nem como cheguei ali.

Fitei a foto no porta retrato ao lado da minha cama. Uma fotografia minha abraçado com minha ex-esposa. Eu deveria tirar aquilo dali.

Ela me deixou faz alguns meses (ou dias, não me lembro bem). O fato é que eu era extremamente apaixonado por ela, quase obcecado, mas em sua mente, meu amor era o equivalente a um fósforo usado. Depois de mais de 1 ano e meio casados, ela simplesmente foi embora, alegando que "seu amor havia acabado" e "queria viver sua vida em paz". Quando minha ex-mulher terminou de ajeitar suas malas em uma tarde de sábado, eu a agarrei. Segurei seu braço com tanta força, as lágrimas grossas e quentes escorrendo pelas minhas bochechas, caindo sobre meus lábios agora secos e rachados.

Meu olhar se dirigiu à ela, como se estivesse penetrando até sua alma. Mas estava irreversível. Ela soltou seu braço com força e em seguida mergulhou em sua nova vida de solteira.

Minha amada Grace, me deixou friamente, sem remorso algum. Me cobriu com um véu gélido de angústia e solidão. Mas eu não podia fazer nada. Queria, mas não podia obrigá-la a ficar.

Caminhei a passos lentos e bambos até a cozinha, preparando meu chá e tomando um gole do líquido quente em seguida. Ele desceu pela minha garganta e senti o gosto amargo. Era café. Eu não tinha checado o interior da xícara antes de despejar meu chá nela.

Rapidamente cuspi na pia e tive ânsia de vômito. Café com chá, a pior combinação possível.

Enchi as mãos com água corrente e gargarejei, cuspindo na pia em seguida.

Aquela foi uma experiência no mínimo estranha, porque eu não tomo café. Não há maquinas, filtros ou sacos de pó em nenhum lugar do meu pequeno e velho apartamento.

Nervosamente vasculhei todos os armários da cozinha a procura de algum saco de café (em minha mente, eu desejava não encontrá-lo).

Nada havia sido achado, até que eu abri o último armário. A parte inutilizada da minha cozinha, eu não morao sozinho e não tenho muitos amigos, então não há muitas coisas a se guardar.

A portinha de madeira abriu com um incômodo rangido, revelando um tapete de poeira e teias de aranha. Bem no fundo, era possível ver um pequeno saco vermelho de café preto. Meu coração começou a pular no meu peito, como se quisesse correr e subir pela minha garganta. Minhas mãos escorregaram no puxador e eu comecei a suar frio, mesmo sendo uma manhã gélida de inverno.

Trêmulo, tirei o pequeno saco de lá. Mas antes que eu pudesse jogá-lo no lixo, o som do telefone ecoou por todo o meu apartamento.

- Alô?

- Oi, Adam! Sou eu, delegado Joseph. Ontem a noite aconteceu outro assassinato, e eu suspeito que o culpado seja o serial killer que estamos procurando. Venha para a delegacia agora mesmo.

-Ah, ok. - Disse, quase deixando o telefone escorregar por minhas mãos suadas.

Eu ignorei por instantes o fato do café e dei preferência ao caso policial. Corri até meu quarto, vesti um suéter e uma calça jeans e em seguida dirigi meu Palio pela pequena cidade fria. O céu começava a soltar seus primeiros raios de sol por brechas no pálido. Uma típica manhã de inverno.

- Que roupa é essa que você está usando, garoto? - O delegado proferiu em tom de deboche assim que entrei em sua sala. - Quem custurou esse suéter pra você, sua tia?

- Er... eu comprei em um bazar de garagem. - Respondi soltando um sorriso envergonhado.

- Eu estou brincando com você, Adam. - Joseph falou, soltando uma gargalhada alta. - Vamos nos concentrar no que temos aqui. Devemos visitar a cena do crime.

Eu assenti e em seguida nos dirigimos a um carro policial. O local ficava a alguns minutos dali. Logo que chegamos, fomos recebidos por uma quantidade grande de jornalistas, fotógrafos e policias, que tentavam sem sucesso afastá-los da cena.

O delegado finalmente se pôs disposto a responder questionamentos de repórteres, uma tentativa de acalmar a pequena multidão que se formava ao nosso redor.

Eu dei as costas para ele e comecei a averiguar a situação. Como era recente, a vítima estava apenas caída sobre o chão de concreto úmido. Ela se encontrava ao lado de uma floresta densa, se árvores altas, escuras e amedrontadoras.

Era uma estradinha deserta, então raramente carros passavam por ali, o que descartava a possibilidade de pelo menos uma testemunha ocular.

Desta vez, um homem fora morto por traumatismo craniano. Sua cabeça se chocou contra uma árvore dura e robusta, repetidas vezes. Nós sabíamos que ele havia sido vítima de assassinato, pois em sua testa estava grotescamente escrito o número "5".

Seu nome, Peter Albert, coincidentemente nascido no dia 05/05/1995. Tinha acabado de começar a faculdade de direito. Nós sabíamos disso pois sua mãe estava entre a pequena multidão, chorando e perguntando ao céu o porquê de seu filho ter sido arrancado de seu peito.

Minha única convicção no momento era de que o assassino era no mínimo esperto, pois a parte de trás da coxa de Peter estava em carne viva, indicando que ele havia sido arrastado de uma longa distância, até chegar no ponto em que foi morto.

Sua boca estava aberta de forma dolorosa. Era impossível um ser humano conseguir fazer aquilo, abrir a boca e torcer os lábios da forma como estava.

A parte da frente de sua cabeça estava completamente dilacerada, atrás também.

Este com certeza foi o caso mais singular e sangrento dentre todos os outros, o que era um motivo para entrar na minha lista de anormalidades que um ser humano pode causar.

Agora eu já tinha 5 números: 18, 3, 7, 5.

Pelas minhas deduções, pude chegar também ao número 1 depois do prato no caso da mulher degolada e a espiga de milho de outro caso mais antigo, o que me deixava então com 5 números.

Mas o fato era: o que eles significavam?

Autora: Sofia NAQ

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