25/09/2018

TAMAN SHUD - Capítulo 2


Na madrugada seguinte resolveu voltar ao cemitério. Levou consigo o lampião, uma plataforma de madeira e cordas. Chegando na beira do buraco, colocou o lampião sobre a base de madeira e amarrou como um pêndulo para ir abaixando a luz pelo buraco até poder enxergar o fundo. Percebeu que o buraco tinha em torno de dez metros de profundidade, e quando a base de madeira tocou algo ele parou para observar o que mais temia. Ian estava morto, deitado com os

olhos arregalados e segurando o saco, imóvel sobre uma pilha gigantesca de ossos e crânios. Não havia mais nada a ser feito por ele. Erick içou o lampião novamente, enrolou as cordas, botou a base de madeira de baixo do braço e fez o mesmo caminho de saída do dia anterior.

Porque sentia o que estava sentindo? Não se importava com Ian, nunca tinha se importado, mas uma coisa não deixava sua mente descansar, Ian gritando “Eu morro”. Toda vez que fechava os olhos vinha o grito de desespero. Começou a sofrer com pesadelos onde ele era quem caia no buraco e os corpos dos cadáveres estavam em decomposição, infestados de peste e vermes. Imaginava ter que morrer entre corpos apodrecidos e acordava num susto. Isso estava deixando-o insano aos poucos. Acordava com arranhões profundos nos braços e barriga, às vezes com hematomas roxos nas costelas e pernas. Nunca conseguia descansar verdadeiramente, acordava durante as madrugadas com sussurros e batidas, mas quando abria os olhos não via nada e nem ninguém. Erick parou de comer e não sentia mais nada. Não conseguia pensar em roubos, em assaltos e nem riquezas. Só conseguia pensar em fugir daquele buraco infernal chamado Edimburgo o quanto antes.

Poucas semanas se passaram até que Erick decidiu partir da cidade a pé mesmo, como um andarilho amaldiçoado. Sentia uma presença seguindo-o dia e noite, como um peso extra em suas costas que deixava sua visão menos nítida e o ar rançoso, não conseguia mais respirar fundo e raciocinar logicamente, porém, prosseguiu seu caminho, pegou caronas, se infiltrou em vagões de carga, roubou cavalos e os abandonou, chegou a um porto após atravessar todo o Reino Unido e se ofereceu para trabalhar em um barco cargueiro. Partiu para o Mar Mediterrâneo. Muitos anos se passaram e as ocupações de Erick o faziam aos poucos deixar o episódio macabro de sua vida para trás e aquela presença que o perseguia foi perdendo força. Viveu alguns meses no Oriente Médio e viajou para o Kwait e Índia. Após 7 anos de viagem, partindo da Escócia, Erick havia parado finalmente em uma cidade chamada Medan, na Sumatra, um pedaço paradisíaco da Indonésia. Erick pensava ter finalmente encontrado seu lugar entre as canoas, rios e casas sobre as águas e pesca artesanal. Mas estava muito enganado.

Autor: Alison Silveira Morais

3 comentários:

  1. Como q ele morreu em 1 dia por ter quebrado a perna?

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    1. Não em um dia, mas a infecção pode ter acelerado as coisas.

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    2. hemorragia tbm talvez, o frio

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