25/01/2020

Ataúde



Era uma noite nublada, o vento respirava vagarosamente, impelindo a última brisa fresca de verão. Os poucos feixes de luar que timidamente atravessavam as nuvens, iluminavam relvas, alamedas e moradas desertas, produzindo outrora – naquele “inocente” cenário – uma morbidez surreal.

Enquanto isso, na pequena ermida fora da cidade. Estava um homem de aparência humilde e sedutoramente penoso. Acorrentado, preso pelos pulsos, tornozelos, pescoço e ombros em uma cadeira de ferro maciço cravada no centro do salão. Toda a pequena população daquela cidade, inclusive o sacerdote, estava sentada em bancos de frente a ele, observando, aguardando... até que começou a falar e estremeceram.

E dizia o seguinte: “ Vós que me convidaram e tão sem delonga me aprisionaram. Seres imundos e desleais, me culpam pelos seus próprios atos. Pois eu afirmo, não padece a mim culpa de nenhuma natureza, não são meus os erros de suas condutas, não são meus os pecados e por deles os resultados de seus julgamentos. Abram os olhos e vejam, sou o juiz, unicamente, dentre todas as nações e entre todos os povos, antes do início e até depois da finitude de todas as coisas, tenho autoridade para tal. ”

O silêncio pairava, nenhum barulho além do chacoalhar das árvores afora fazia presente. E soerguendo a voz continuou:

“Pois escutem, todos vocês, homens, mulheres e crianças, velhos e os que estão para nascer. Em meu nome condeno-lhes e com meu sangue assino, vós e seus descendentes não merecem perdão. Sou pai de todas as dores e delas deriva o meu poder, sou irmão de todas as doenças e com elas me sento a mesa, sou filho de toda maldade e precursor de toda aflição. ”

Olhou para todas as almas presentes e gargalhou, fazendo tremer o chão e as pilastras que sustentava.

“ E vós direi quem sou, e no término a condenação será originada. Porquanto sei o que pretendem fazer comigo; e assim façam, enforque-me distante da cidade, queimem meu corpo e enterrem as cinzas para que minha iniquidade não atinja suas casas e suas plantações. Mas saibam que em nada adiantará, pois são mortais e em mim tal regra não se assume. Jaz incontáveis invernos que não me apetece sentir ou desejar, a fome não me conquista e tanto no dia quanto a noite meus olhos permanecem abertos, a dor que por lamúria escapa das vozes dos que sofrem, a dor que apedreja os desesperados e calaste os pobres, impulsionam minhas pernas imóveis e com braços aberto recolho todas as almas que padecem, que caiem em agonia, e findam sua própria lembrança. Pois sou um ataúde. ”

Dizendo isso, as correntes liquefizeram, levantou-se e singelamente caminhou, tocando com suas mãos gélidas o alto da cabeça de todos os presentes, eles não mais se moviam, porém sentiam – sentiam a dor e o confisco de suas almas; o que estava por vir o que viera antes, o esvair de toda esperança, e pediam chorosamente em pensamento clemencia – mas para elas não teriam absolvição, a condenação jazia entregue. Seus corpos começaram a queimar feridas e vestes aglutinando-se, faces derretidas. O sangue borbulhava e os olhos saltavam das orbitas até que segundos depois eles e suas carcaças viraram cinzas.

Após se retirou e seguiu para a montanha mais alta. Observando, via que a própria ermida e a cidade embaixo queimavam, em totalidade nada restava, desmoronando em nuvens de poeira.

“Oh! Cidade de pecado, tens agora tua salvação, não há mais pecadores nem maldade, é livre, está limpa pelo mesmo fogo que a criaste um dia. As cinzas serão o adubo e serás preenchida de plantas e animais, e nascerá inocente perante ao mundo”

“Tudo que há começo tem um fim, do pó vieste e para o pó retornara. Pois sou um ataúde e todas as coisas me pertencem e delas faço parte. ”

Depois disso desapareceu, não deixando vestígios outrora que alguma alma humana pisara naquele local. E quanto o sol nasceu naquela manhã brilhava como em nenhum outro lugar, as aves cantavam e as plantas floresciam fortes e suntuosas – o adubo creio, fizera bem!

Autor: Antonie.Saguz

14 comentários:

  1. Ela é boa, porém simples. A linguagem deu um certo clima de antiguidade. Recomendo o autor a treinar histórias mais elaboradas utilizando linguagem simples e depois partir para uma linguagem como essa. No geral, tá boa.

    Essa eh só minha humilde opinião

    ResponderExcluir
  2. Sua humilde opinião q ninguém pediu. Especialista....kkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Hur dur sua opinião quem ninguém pediu sjeje,ce cê fazer o que? Comentar 8/10 na próxima?

      Excluir
    2. Legal. Só queria ajudar mas blz

      Excluir
    3. Sou só um cara aleatório que gosta do blog e da coragem pessoal de cada um aq pra fazê-lo crescer

      Excluir
    4. WTF mano? Os autores que enviam suas creepypastas querem a opinião do público pra saber se estão indo bem, é pra isso que existe uma seção de comentário... Eu hein @.@

      Excluir
  3. A forma da escrita é só questão de estilo. Agrada a bastante gente, inclusive a mim. Tem qualidade e tem potencial. Não tenta mudar o estilo pra agradar ninguém, continua praticando teu estilo e vai!

    ResponderExcluir
  4. Eu curti, também gosto desse estilo de escrita

    ResponderExcluir
  5. agradeço os comentários.
    Gratificante! Tal qual, um escritor não sobrevive sem resposta.
    A.S

    ResponderExcluir
  6. Não acho que o autor da creepy deva mudar seu estilo de escrita, está ótimo dessa forma,fora que foge do convencional.
    História simples, temática um tanto clichê, mas muito bem escrita e desenvolvida. Realmente interessante. Gostei :3

    ResponderExcluir