29/07/2015

Viagens

Ah, o verão. O melhor período do ano, um período para relaxar e viajar. Afinal, o que é mais divertido do que viajar? Descobrir novas culturas, conhecer pessoas novas, acumular experiências. A única coisa melhor que viajar, é viajar com sua família. Quem discordaria?

Paul Travis discordaria...

Ele não foi sempre assim, ressentido com a perspectiva de sair de sua casa, desconfiado de todo tipo de autoridade. Alguns anos atrás, ele era um homem feliz, uma homem de família alegre. Ele aproveitava sua vida e nele havia uma grande paixão por viagens. Quanto mais longe, melhor. Foi no verão de 2003 que ele e sua família foram para Istambul, Turquia. Curtiram o sol e a cultura daquele país. Ao chegar no último dia de sua viagem, Paul convenceu sua esposa a irem visitar uma pequena vila perto de Istambul, onde estavam, uma vila nas montanhas. Ele, sua esposa e suas filhas pegaram o carro e passaram por estradas nas montanhas enquanto viam os outros carros passarem. Ocasionalmente observavam algumas pessoas vagando por aí em seus burros. Então, quando entraram na fascinante vila, começaram a perceber algo estranho.

As pessoas os encaravam enquanto passavam lentamente com seu carro. Era como se eles não fossem bem vindos ali, como se as pessoas não gostassem da presença deles. Como as mulheres vestiam niqabs, talvez a vestimenta de sua mulher e das gêmeas estivesse provocando os habitantes. Mas tudo começou a dar errado quando um garoto de não mais que 7 anos atravessou a rua. Quando Paul percebeu que o garoto estava lá, já era tarde demais. Mesmo com sua baixa velocidade, ele não pôde parar a tempo de evitar que o carro acertasse o menino. Paul sentiu uma batida no carro e parou imediatamente, com metade da criança embaixo do carro. Ele correu pra fora do carro e, com cuidado, retirou-o debaixo do carro, e só então percebeu que estava cercado de moradores locais. O homem se ajoelhou do lado do garoto, que respirava com dificuldade enquanto chamava sua mãe. Sua cabeça sangrava. Paul levantou e foi falar com um dos aldeões mais velhos.

-Senhor, foi um acidente, de verdade. Eu não vi o garoto. Temos de chamar uma ambulância.

O homem respondeu, calmamente:
-Tomaremos conta disso. Mas temos que ir até a delegacia, você sabe, não é?

-Sim, com certeza. Mas antes, vamos arranjar apoio médico pra essa criança.

-Tomaremos conta disso! Agora vamos até a polícia.

-Não podemos simplesmente ligar pra eles?

-Vai ser mais rápido irmos até lá do que ligar. Não é longe.

Ele continuou quando percebeu as intenções de Paul de voltar a seu carro:
-Senhor, não. Você não precisa de carro pra isso, a delegacia é apenas daqui a algumas quadras. Vamos rápido!

Estava claro que aquilo não estava aberto para negociações. Sem outra opção além de seguir o homem até o lugar, ele falou para sua esposa e filhas para ficarem no carro:
-Estarei de volta em um minuto, amor. Tenho de ir até a delegacia.

A mulher olhou em volta com uma expressão de medo em seu rosto e perguntou a seu marido:
-Paul, temos que ir com você?

Paul respondeu assim que viu o ancião irritado balançando a cabeça em negação:
-Não, Mary, só fique aqui com as meninas. Eu volto num instante.

Enquanto deixava sua família, Paul viu alguém fazendo uma ligação. Pelo menos alguém chamava a ambulância.

Ao chegar na delegacia após uma curta caminhada, Paul e o ancião entraram no lugar. Ao mesmo tempo que sua companhia conversava com o policial, ele olhou pela janela, mas foi chamado logo pela autoridade:
-Então, senhor, me contaram que você esteve envolvido num acidente. Posso, por favor, ver seu passaporte?

Paul lhe deu seu passaporte, que recebeu de volta após uma pequena olhada do policial.

-Vamos até a cena do crime, OK?

-Sim, claro. Mas, policial, foi mesmo um acidente, você tem que acreditar em mim. Eu não o vi chegando, e não conseguiria mais desviar dele.

-Tudo bem, senhor, não é que não acreditemos em você, é que tenho mesmo que ver a cena do crime antes que possamos concordar com isso.

-Certo. Vamos, então.

Conforme chegavam mais perto da cena do crime, os homens sentiram um cheiro estranho. Paul correu até seu carro e caiu de joelhos com o policial logo atrás dele.

O guarda olhou para ele e disse:
-Desculpe, senhor Travis, mas estávamos um pouco cansados de turistas que vem pra cá achando que podem correr em nossas ruas. Tínhamos que fazer alguma coisa.

Após uma breve pausa, o policial continuou a falar à medida que virava a cabeça para o carro de Paul:
-E, como você pode ter adivinhado, o garoto morreu!

Ainda chorando, Paul levantou sua cabeça e viu seu carro queimado com os cadáveres carbonizados de sua família dentro dele.

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