06/08/2014

Creepypasta dos Fãs: O Ídolo

Nestes vários anos trabalhando como arqueólogo, já me defrontei com diversos casos intrigantes e misteriosos, mas recentemente encontrei um objeto perturbador, que vêm me despertando um misto de curiosidade e medo.O objeto em questão é uma carta datada do século XVII.Ela foi encontrada dentro de uma garrafa, enterrada à cinquenta centímetros da superfície sob uma cruz de madeira, em uma ilha do mar do Caribe próximo à costa de Porto Rico.Esta carta parece estar ligada, de certa forma, ao navio espanhol La Paloma, que naufragou em 1647 à quarenta quilômetros desta ilha, cujos restos foram encontrados ano passado.

A forma como a carta foi encontrada, não deixa dúvidas de que o seu autor pretendia criar uma cápsula do tempo rudimentar, para que sua historia fosse preservada.Como você, meu caro leitor, pode conferir na tradução abaixo, a carta conta uma historia bizarra e de difícil credibilidade.O senso de razão, não nos permite crer nos fatos apresentados por seu autor e nos resta atribuir tais narrativas fantasiosas, tão somente à delírios provocados pela mente abalada de um naufrago à beira da morte.

“Meu nome é Ernanes S. Pinhado, escrivão e contador do navio mercante espanhol La Paloma, e este é o ultimo registro de viagem da minha vida.Tudo o que aconteceu a nossa tripulação não é outra coisa senão um merecido castigo por nossos pecados.Tudo começou quando encontramos por acidente aquela terra estranha que alguns marujos acreditaram se tratar do fabuloso ‘El Dourado.’Não encontraríamos tal lugar se não tivéssemos que recarregar nosso suprimento de água doce antes de partir do continente americano.Havíamos partido de La Vela de Coro carregados de café e cacau e após navegarmos por várias milhas, descobrimos que nossa água estava contaminada, quando alguns de nossos marinheiros tiveram fortes crises de vômitos e diarreia.Como já estávamos bem ao norte do porto de Coro, o capitão decidiu procurar uma fonte de água doce em alguma ilha próximo a Porto Rico.

Na manha de um domingo, avistamos uma ilha que não constava em nossos mapas, bem ao sul do arquipélago principal.O capitão então decidiu aportar ali e procurar alguma nascente.Um grupo de três homens se encarregaram de explorar a mata da ilha em busca de uma fonte de água.Passaram-se sete horas antes que retornassem ao navio extremamente eufóricos .Os homens disseram ter encontrado uma maravilhosa cidade de pedra na floresta, onde viviam nativos com uma cultura avançada.Eles disseram que os nativos não eram agressivos e falavam uma língua estranha, mas nossos marujos se fizeram entender com gestos e algumas palavras semelhantes a língua Maia, que o imediato do La Paloma, Jean Cardenha, conhecia de viagens ao território da Guatemala.

Nosso capitão, Diego Carpintosa, decidiu que deveríamos seguir até a cidade para verificar aquilo que os exploradores relataram.Caminhamos por um longo trecho de floresta até encontrarmos um grande planalto à leste da ilha.Ficamos surpresos ao encontrar ali a maravilhosa cidade de pedra relatada por Jean e os outros.Fiquei estupefato com a arquitetura totalmente estranha a tudo que conhecia.Havia altas pirâmides com escadarias que levavam ao topo e outras estruturas cúbicas.Também existiam muitas outras estruturas em madeira, que mais tarde descobri ser onde os nativos viviam, e as estruturas de pedra eram templos de adoração.Naquela cidade no meio da floresta viviam cerca de oito dezenas de pessoas, entre homens, mulheres e crianças.Eles usavam roupas feitas de palha e penas cobrindo apenas as partes baixas do corpo e ornamentos enfeitando o alto da cabeça.

Quando nos viram, um dos nativos que parecia ser o líder, se aproximou de Jean e com gestos e algumas palavras maias, tentavam entender quem eram as outras pessoas que acompanhavam os três homens já conhecidos.Jean mostrou cada um de nós e disse nossos nomes.Dai o capitão se aproximou e entregou alguns presentes ao nativo.Basicamente os presentes constituíam-se de bugigangas sem valor, como espelhos,cantil,algumas roupas e uma luneta.

Em poucas horas, tínhamos ganhado a confiança daquela gente e vários deles, incluindo muitas crianças curiosas, estavam ao nosso redor se divertindo com nossas brincadeiras.Quando a noite caiu, o líder nos ofereceu comida e uma casa onde passar a noite .Naquela ocasião eu estava muito empolgado e jamais passaria por minha cabeça o horror que estava por acontecer ainda antes do nascer do sol.

Nosso infortúnio começou quando Diego viu o ‘Ídolo’.Ele precisou sair da casa no meio da noite para fazer suas necessidades e ao olhar para a pirâmide no centro da cidade, viu um brilho dourado que a luz da lua crescente refletia em alguma coisa no alto da estrutura.Aquilo despertou nele uma grande curiosidade e o impeliu a chegar mais perto e ver o que causava aquele brilho.Ele atravessou a cidade, que dormia em um sono profundo e subiu as escadas daquela pirâmide de pedra ate chegar ao topo.Ali havia uma pequena sala, com o teto sustentado por quatro pilares, um em cada vértice e sem paredes entre eles.No meio da sala estava a origem do brilho dourado.Uma estátua de um ser humanoide de ouro maciço com pedras preciosas incrustadas.A figura não era exatamente humana, pois apresentava proporções um tanto quanto distorcidas.Sem duvidas, a representação de um deus pagão do povo da ilha.

A estátua representava uma figura com pernas muito curtas em relação ao corpo e braços muito grandes, quase tocando o chão com garras semelhantes as de uma águia.A cabeça era muito grande e oval.Não apresentava nenhum vestígio de nariz e a boca era muito pequena e sem lábios, como um rasgo.Também não tinha orelhas ou representação de cabelo.Mas o que mais chamava a atenção era os olhos.Dois grandes olhos feitos de jade.Pelo corpo do ídolo havia adornos de diversas pedras preciosas, entre elas um grande diamante no peito.

A visão de tamanha riqueza despertou em nosso capitão um diabólico sentimento de ganancia e insensatez.Sua cobiça o fez decidir tomar para si aquela preciosidade, então voltou silenciosamente para a casa onde dormíamos e despertou um a um cada membro da tripulação e contou seu plano de levar dali a estátua antes do dia amanhecer.Então, nós o seguimos silenciosamente pela cidade até o topo da pirâmide, evitando ao máximo fazer qualquer barulho para não acordar os nativos.Todos da tripulação ficaram perplexos ao admirar a figura do ídolo.Em pouco tempo nos pusemos à trabalhar para remover a estátua com intuito de levá-la para o navio.

Quando retiramos o ídolo de seu pedestal nosso trabalho foi interrompido por um grito que ecoou pela cidade:

-Kapend urlla!!!

Foi então que uma flecha vinda de não sei onde atingiu o pescoço de Renan G. Dias,um de nossos estivadores,pondo fim a sua vida em poucos segundos.Em poucos instantes todos habitantes da cidade vieram correndo em direção a pirâmide, armados com arcos e lanças de madeira.O que se seguiu a este acontecimento não foi uma batalha entre os nativos e nós.Foi apenas uma brutal e covarde chacina.Se de nossa parte contávamos com espadas e armas de fogo, os nativos possuíam apenas as armas rudimentares que eu citei.Nossa única baixa foi justamente Renan, que foi pego de surpresa, fora ele houve apenas alguns machucados sem perigo em alguns marujos.Já o destino do povo da ilha foi trágico.Nossa ganancia nos deixou cegos e quando a razão retornou, tínhamos matado todos eles, sem exceção de crianças ou mulheres, acabando assim com toda uma civilização.

Terminado o banho de sangue, seguiu-se um saque à todos os tesouros que encontramos na cidade.Levamos para o navio vários quilos de artefatos esculpidos em ouro e pedras preciosas, que deixariam toda a tripulação mais rica que a maioria de todo o povo espanhol.Além é claro do ídolo, que por si só valia uma fortuna inestimável.O dia já estava claro quando terminamos o carregamento do navio com o saque e ainda passamos outras horas carregando os tonéis com água potavél antes de nos lançarmos ao mar. Naquela noite os homens brindaram e festejaram o tesouro conquistado e embebedaram-se, talvez por felicidade ou talvez para esquecer a culpa.

Pouco antes de três horas da manha todos os homens já haviam se recolhido em seus quartos e o capitão recolheu-se sozinho em sua cabine onde guardara o ídolo.Eu não sei quanto tempo dormi naquela noite, mais sei que foi muito pouco, pois a escuridão ainda encobria o oceano quando um horrível grito vindo da cabine do capitão despertou do sono e embriaguez todos de nossa tripulação.Em poucos instantes toda a tripulação inclusive o imediato que abandonou o timão, estava frente a cabine tentando arrombar a maciça porta que o capitão mantinha trancada.De dentro continuava os gritos horríveis de Diego sendo torturado.Sua voz emitia um terrível som gutural, como se não conseguisse mais pronunciar uma palavra natural.

Sem conseguir arrombar a porta e apreensivo com o que estava ocorrendo,Ruan Guido o contra mestre ,sacou sua pistola e atirou na tranca, conseguindo assim abrir a porta.Antes aquela porta nunca tivesse sido aberta.O que eu pude ver ali no pouco tempo que dispus antes de sair correndo foi algo terrivelmente perturbador.Nosso capitão estava totalmente desmembrado e seu sangue escorria por varias partes de seu corpo.O motivo de não pronunciar palavras inteligíveis pode ser explicado pela falta da língua, que estava agora no chão da cabine.Mais estarrecedor ainda era o motivo de seu estado.O Ídolo terminava de separar seu pescoço do tronco quando abrimos a porta.Nossas mentes lutavam para absorver aquela cena quando em um movimento surpreendentemente rápido para pernas tão pequenas o ídolo atirou-se contra Jean Cardenha que não conseguiu fugir de suas mãos douradas.Ali mesmo em nossa presença a abominação começou a despedaçar nosso amigo.Alguns homens ainda tentaram ferir o ídolo com espadas e mesmo tiros, mas tudo foi em vão.Nem mesmo uma expressão o maldito esboçou.Aquilo não sentia dor ou compaixão.

Quando constatamos que não era possível vencer aquela criatura, fugimos o mais rápido que nossos pés conseguiram dali.A tripulação dividiu-se por várias partes do navio, procurando se esconder daquela maldita coisa dourada que esquartejou o capitão e Jean.Eu me tranquei em meus aposentos, junto com Ruan e George, o cozinheiro.Trancado ali dentro não pude ver o que se passava mas, nestas situações nossos ouvidos se tornam tão aguçados que conseguimos recriar com precisão os acontecimentos através do som.Eu consegui ouvir varias portas se trancando e os passos metálicos do ídolo se movendo pelo La Paloma.Depois ouvi o barulho de uma porta sendo arrancada das dobradiças e sendo jogada longe, então mais gritos ecoaram pela embarcação.Marujos choravam como crianças e outros rezavam pedindo perdão por seus pecados.Mais sons de porta sendo arrancadas e mais gritos.Cedo ou tarde o ídolo chegaria até nós.Não posso negar que eu e meus companheiros também não estivéssemos tão aterrorizados como os outros.

Os momentos trancados naquele quarto pareceu uma eternidade, mas não duraram mais de uma hora.Com certeza aquele monstro teria arrancado a porta de cada cabine do navio e matado um por um, mas seu intento foi bruscamente interrompido quando um grande impacto fez o navio todo chacoalhar e ranger.E então fomos jogados contra a parede.Depois a embarcação começou a tombar de lado.Não era preciso pensar muito para saber o que aconteceu.Com a morte do imediato e do capitão e toda a tripulação se escondendo de medo, o navio ficou a deriva com as velas hasteadas e havia se chocado contra alguma coisa em alto mar, que mais tarde eu descobri ser uma ilhota de pedra.

Após o impacto, o navio começou a afundar rapidamente e apesar do medo de abrir a porta, não nos restava outra alternativa à tentar escapar do naufrágio.Eu peguei alguns pertences na sala que julguei serem importantes caso conseguíssemos nos salvar e os coloquei em uma sacola.Depois destranquei a porta e nós saímos do quarto e seguimos para o convés.Não foi fácil nos movimentar com o navio tombando, mas conseguimos alcançar os botes sem encontramos o monstro em nosso caminho, apenas seu rastro de destruição.Encontramos um único bote inteiro, pois os outros haviam caído no mar e estavam danificados com o impacto.Subimos no bote e nós lançamos ao mar.

Não sei se além de nos três, sobrou algum vivente do La Paloma que possa confirmar minha historia.O quê sei é que não vimos outro bote além do nosso sair do navio.Por muito tempo gritamos e procuramos na escuridão do Atlântico por sobreviventes sem sucesso.

Nosso plano era tentar remar de volta até a ilha.Por mais de dois dias navegamos sem rumo naquele bote com mínimas provisões sem saber ao certo se estávamos na direção correta, pois não dispúnhamos sequer de uma bússola.Chegamos enfim a encontrar esta pequena ilha que aqui estou.Não é a mesma ilha da cidade d’El Dourado, mas por hora é o nosso porto seguro.

Meus companheiro têm a esperança de sobrevivermos aqui até um navio passar por estas aguas e nos resgatar.Eu ainda não contei a eles, mas já não compartilho desta esperança.Eu sei que nossas vidas não serão poupadas por um longo tempo, pois ao cair da noite eu o vi.Deste ponto de observação no penhasco, sob a luz da lua cheia eu vi um brilho dourado sair do mar e caminhar em direção à arrebentação.

Autor: Cristiano Costa

11 comentários:

  1. Caraca! Esse conto é fantástico. Parabéns, Cristiano.

    ResponderExcluir
  2. Conto epicamente epico sendo epico epicamente como um conto epico

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mas o Penpal do 1000vultures foi muito mais epico

      Excluir
  3. Muito bom cara, eu já ouvi dizer que El Dorado se tratava não de uma cidade, mas de um homem dourado, essa história bate exatamente com essa descrição, ótima narração, me fez realmente imaginar o ser de pedra destruindo tudo xD

    ResponderExcluir
  4. Uau, Magnífico! ahaha
    Me prendeu desde o início, ainda mais que não estou acostumada a nenhuma narrativa que conte algo referente a viagens marítimas e afins. Também achei o texto muito bem escrito, em nenhum momento fiquei confuso com os fatos apresentados...
    Avaliação 5, com certeza! =D

    ResponderExcluir
  5. Tava meio entediada com as creepys do blog...só lia o começo...essa me prendeu.Uma das melhores que eu já li!

    ResponderExcluir
  6. Essa foi épicamente épica! Eu acho q a veracidade dessa história é de 80%,a ganancia é perigosa e existem coisas q não devem ser retiradas de onde estão

    ResponderExcluir