16/08/2014

O livro em branco



O cheiro de naftalina e mofo enchem sua boca e narinas enquanto você mantém o livro aberto. O livro geme e lamenta. As páginas são amarelas com velhas manchas de café e xantos corroídos. A capa é lisa, com a exceção de algumas ondulações e riscos. O livro não tem título, e nem autor. Sem editores, e nem ilustradores. Sem críticas, sem fãs. Sem começo, e sem fim. Ninguém sabe que ele existe.


Você o folheia, páginas antigas, grudadas e apodrecidas. Nada, apenas símbolos ilegíveis pintados em alguns lugares da página. Asteríscos, estrelas, triângulos, olhos, números. Binários, Pig Latin, Zalgos. Os caracteres estão manchados, quase ilegíveis. Você consegue ler pequenas letras no final de cada página.

“Mas por quê?”

E se repete:

Os binários são traduzidos,

“Mas por quê?”

O Pig Latin é traduzido,

“Mas por quê?”

Até o zalgo é traduzido,

“Mas por quê?”

Nenhum lápis pode marcar as páginas do livro. Nenhuma caneta, giz de cera, tinta. Eles são insignificantes diante de seu frágil conteúdo.

Nenhuma mão humana pode tocar suas páginas sem que sinta dor. Nenhum animal, nenhum monstro, nenhum Deus. Eles são insignificantes diante dos feitiços escondidos dentro de cada símbolo.

Você folheia as páginas até o final, suas mãos queimam, lágrimas escorrem, pingando nas páginas. As lágrimas evaporam instantaneamente. Somem.. Desaparecem. Seu estômago se revira, suas unhas começam a cair. Seus dentes ganham estranhos tons de amarelo, depois cinza, então escurecem. Eles caem sobre sua língua roxa. Suas pálpebras tremem, e lentamente começam a cair no chão. Sangue substitui suas lágrimas. Você ouve seus ossos estalando e rachando, quebrando, partindo.

A pele ao redor de sua garganta aperta. Você encara o livro, as páginas zombam de você. Os caracteres saem das páginas, símbolos voam pelo ar. Fugindo quando seus dedos sangrentos tentam toca-los. Eles grudam em seu peito, onde permanecerão. Seu cabelo começa a cair, até não sobrar nada. Sua pele ganha um tom amarelado... o mesmo amarelo das páginas. Você aperta as páginas do livro, fazendo suas mãos queimarem mais.

Suas mãos se unem ao livro, transformando-se em páginas. Você perde suas roupas. Opa! Lá se vai seu almoço. Por toda a mesa, exceto no livro. Seja o que for que estiver acontecendo com você, esta tentando tirar todo o seu líquido; você tenta vomitar até não sobrar mais nada. Você começa a urinar até esvaziar sua bexiga. Seu nariz começa a escorrer, pingando sobre seu lábio superior. Suas narinas ressecam. Agora você começa a babar por todo o lugar. Baba até sua boca secar. Secar ate não sobrar mais nada para cuspir. Você luta para se afastar do livro, mas ele esta grudado em suas mãos. Você se bate contra a maçaneta, tentando abrir a porta. Você esta suando demais, suando até não poder mais suar. Você senta na frente da porta soluçando.

Você não pode parar o que começou. Você tenta chorar, mas suas lágrimas também já se foram. A única coisa que sobra é o seu sangue. O sangue escorre pelas suas bochechas, descendo pelo seu queixo. Escorrem de pequenos orifícios da sua pele onde suas unhas costumavam estar, espirram de cada glândula sudorípara, das palmas de suas mãos, de suas partes íntimas. Depois de dez minutos, você cai no chão. Sem saliva, sem vômito, sem suor, sem sangue, sem urina, sem vida.

Agora fica tudo fácil; o livro lentamente possui seu corpo em suas páginas até que você se vai completamente. Você se tornou mais uma maldita página do livro sem começo e sem fim. Em seu último sopro de vida, você consegue mandar uma pequena mensagem em sua página:

“Mas por quê?”

Os policiais chegam dias depois e entram no local. Eles reportam que não acharam nada, apenas um livro posto perfeitamente em cima de uma mesa sem nenhuma pista. Um policial atrás do outro desaparece misteriosamente depois de ler o livro. O livro é simplesmente passado para um ou outro, dia após dia, semana após semana, ano após ano.

O livro nunca vive ou more...

Seu número de páginas apenas continua aumentando...

17 comentários:

  1. Alg te enchendo o saco? Mamde ele ler um livro!

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  2. Isso se refere a um período da história onde a igreja católica queria que as pessoas fossem ignorantes, privadas do saber. Então, em cada livro, colocavam um tipo de veneno nas páginas, que ficava grudado nos dedos. E como as folhas das páginas eram espessas, você tinha de molhar o dedos na língua para poder passá-las. Assim entrava em contato com o veneno e morria.

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    1. Não, eles realmente faziam isso. Era no "Período Obscuro'' ou ''Período das Trevas'' se eu não me engano.

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    2. Conhecido como "período feudal" eu acho-_-

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    3. Acontece num filme sim. Lembrei agora. Chama o "O nome da Rosa."

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    4. Idade média também conhecida como idade das trevas

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  3. Eu colocaria o livro em cima de uma pedra da floreta e deixaria o hypno ler para o bicho-papão, enquanto eu ia com o jeff e sua namorada lolita assistir "ÓPERA POHA".

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  4. Quero mandar esse livro de presente pra alguém :3 nada de especial

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  5. Da para comprar esse livro no ebay? ^_~

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  6. Quando eu li a parte do cabelo caindo minha cabeça começou a coçar o.O

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  7. isso me lembrou a guitarra de 5 cordas

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  8. Duncan, oq faz por aqui?
    Pensei q tu tava preso

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