21/11/2015

Fitas sobre minha amnésia

Meus pais sempre me contaram histórias sobre a minha infância que, por algum motivo, eu nunca me lembrava. Histórias sobre como eu costumava ter um amigo imaginário chamado Bill, que supostamente vivia dentro das paredes com a sua cobra de estimação chamada Axel. De onde diabos eu inventava essas coisas eu não fazia ideia, mas aparentemente eu passava muito tempo com Bill e Axel, pois meus pais sempre falam sobre isso quando vou visita-los.

Decidi que sairia em uma pequena viagem na semana do natal de 2009. Trabalhando em Manhattan na área de negócios, conquistando muito dinheiro e subindo para a classe média alta nos últimos anos, decidi fazer uma pausa de tudo isso e passar um tempo na casa onde cresci na Pennsylvania. Lá pelo dia vinte e dois de dezembro, cheguei à casa dos meus pais onde eles imediatamente me levaram para o meu antigo quarto.

No momento em que entrei no quarto um arrepio percorreu o meu corpo, não que fosse por um sentimento estranho, sobrenatural, ou desagradável, mas um arrepio pela simples nostalgia, o que era estranho considerando que eu não me lembrava do meu quarto. Eu mal lembrava de qualquer coisa dos meus anos de infância. Apenas me lembro da minha adolescência, na época em que fui mandado para viver com a minha tia por causa do meu transtorno bipolar, o que meus pais não aguentavam mais, porém, agora que já tenho tudo sob controle, não há mais com o que se preocupar.

Tia Janice estava chegando para jantar na casa dos meus pais, então eu iria revê-la depois de quase quatro anos. Não vou mentir, eu me senti um pouco emocional, pensando sobre como mal vi meus velhos e adoráveis parentes desde que consegui o emprego em Manhattan, mas a minha vida pessoal estava indo bem, apesar da minha ‘não tão interessante’ vida amorosa. No momento eu estava me encontrando com uma garota chamada Amanda, mas já não nos víamos há algumas semanas devido a sua viagem para o funeral de um tio na Califórnia.

O jantar era um assado, feito especialmente pela minha mãe. Outra pequena coisa que de alguma forma me lembro da minha infância: a minha mãe cozinhando e dando o verdadeiro significado para o ditado “Assim como a mamãe costumava fazer”. Desejei que Amanda pudesse cozinhar assim. No jantar, a Tia Janice me contou algumas histórias hilárias sobre a minha infância e outros eventos na casa, muitos de momentos festivos e outras reuniões familiares. Infelizmente, não pude me lembrar de nada desses eventos, mas eram divertidos de se ouvir.

Depois doo jantar, Tia Janice teve que ir embora, então eu a beijei na bochecha e ela se foi. Ela ainda preservava a sua boa aparência, apesar de já estar em seus 70 anos. Eu sorri ao observa-la partindo, pois me lembrei dos meus agradáveis momentos da adolescência enquanto morava na casa dela em Pittsburgh. Agora ela morava perto dos meus pais, desde que o marido dela, meu tio George, morreu há alguns anos.

Lá pelas 23:00, meus pais foram dormir e me falaram que eu poderia ficar acordado ate quando quisesse, desde que não fizesse muito barulho. Decidi ficar no meu antigo quarto e assistir um pouco de televisão até ficar cansado, então eu fiz isso, passando pelos canais até não encontrar praticamente nada de interessante. Acabei desligando a Tv e ficando apenas a observar o meu velho quarto.

Abri o meu armário e encontrei os típicos objetos que se encontraria no armário de um garoto: bonecos, Legos, quadrinhos. O que chamou a minha atenção foi uma caixa marrom no fundo do armário, obscurecida por uma pilha de roupas infantis. Afastei algumas roupas peguei a caixa enferrujada, abrindo-a para encontrar seis fitas cassete, todas marcadas com números feitos de crayon na letra de uma criança pequena.

No fundo da caixa encontrei um pedaço de papel dobrado, retirado de um caderno. Peguei o papel e o desdobrei para encontrar, escrito também com crayon, “As Aventuras de Bill e Axel”. Reconheci o nome do meu amigo imaginário e a sua cobra de estimação. Achei aquilo muito interessante e poderia até me ajudar a lembrar de algumas coisas da minha infância. Com sorte, havia um VCR no meu quarto.

Vasculhando a caixa, peguei uma fita intitulada “#1”, e a pus no VCR. O VCR cuspiu a fita algumas vezes, mas na terceira ou quarta vez a fita finalmente entrou e começou a transmitir. Havia apenas estática por uns trinta segundos até que finalmente apareceu: um eu muito jovem no meio do mesmo quarto onde eu estava agora. O quarto estava exatamente igual. Eu estava sentado no meio do quarto, com minha cabeça apoiada em minhas mãos, encarando a parede e murmurando coisas incompreensíveis.

Pensei que eu estivesse brincando de esconde-esconde ou algo assim, então não havia estranhado de primeira. Depois de uns dois minutos comecei a me preocupar, já que a minha versão mais jovem havia começado a murmurar mais alto, porém, de maneira ainda incompreensível, quase como num idioma desconhecido. O som foi cortado completamente, a imagem começou a tremer, as cores começaram a distorcer, e eu pude ouvir um fraco sussurro vindo do vídeo.

Aumentei um pouco o volume para poder distinguir melhor o sussurro, mas de repente um chiado de fazer os ouvidos tremerem saiu do vídeo e uma forte estática tomou conta da tela. Com um salto, corri para o VCR e ejetei a fita, mas é claro que o VCR havia mastigado a fita, destruindo ela completamente. Vasculhei a caixa mais uma vez para pegar uma segunda fita, e a encontrei convenientemente bem no topo da pilha de fitas, com um “#2” escrito com crayon vermelho.

Essa fita começou como a primeira. Quando finalmente surgiu a imagem, não havia som. Parecia uma continuação da primeira, mas agora o jovem eu encarava a câmera, e a minha cabeça não estava mais apoiada em minhas mãos. Meus olhos possuíam profundos círculos negros ao seu redor, e eu parecia extremamente exausto e assustado. Os sussurros surgiram outra vez, porém mais alto e claro que antes. Pude ouvir, para meu horror, um nome ser dito no meio dos sussurros: “Patrick”. Meu nome.

A fita foi rapidamente ejetada do VCR, sozinha, largando por trás um bolo de fitas magnéticas emboladas. Não vou negar que naquele momento eu já estava quase molhando as calças. Eu já sentia que aquela casa possuía algo de anormal. Que aquelas paredes literalmente pudessem falar, e que eu havia bloqueado as minhas lembranças da infância por alguma razão. Isso também teria sido a causa da minha desordem bipolar na adolescência?

Peguei a caixa de fitas e corri para o meu carro, sem nem mesmo me despedir dos meus pais, que estavam dormindo, e dirigi para longe daquele lugar. Eu estava cansado, mas eu tinha que sair daquela casa. Dirigi para a casa da Tia Janice e contei tudo para ela, mostrando a caixa de fitas. Seu rosto sorridente logo se tornou pálido, parecendo quase assustado, e nervoso. Ela me pediu que sentasse e relaxasse. Ela se sentou ao meu lado, segurando a minha mão, e me contou a verdade por trás de tudo: as fitas eram de um teste psiquiátrico para as minhas atitudes devido a uma possessão demoníaca que ocorreu em minha infância. Um exorcismo foi efetuado, e quase resultou em minha morte, e quando o demônio deixou o meu corpo, acabei sofrendo amnesia, e foi por este motivo que fui mandado para morar com a Tia Janice.

Acabei retornando para Manhattan, e no outono seguinte me casei com a Amanda. Não convidei e nem contei para nenhum membro da minha família sobre o casamento, e não vejo meus pais ou a Tia Janice desde aquela noite de 2 de dezembro de 2009. Ainda tenho algumas fitas comigo, mas continuo muito assustado para assisti-las. Tudo o que sei é que o demônio continua espreitando pelas paredes daquela casa.

11 comentários:

  1. Parece até mais um conto verdadeiro, algo que realmente aconteceu, talvez de uma forma um pouco mais retorcida e diferente, sei lá.
    Ou alguém só inventou isso mesmo.

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  2. A questao é : o filho deles tava possuido, fizeram um exorcismo, o demônio ficou nas paredes da casa, e eles continuaram vivendo tranquilamente na casa por mais 20 anos? ALGUEM CHAMA O CONSELHO TUTELAR

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  3. A série NES godzilla replay vai continuar ainda?

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Gente, adorei essa creepy, parece bem do real, amei, parabéns a quem escreveu

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  6. Parabéns pela tradução aí, muito boa a creepy!

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  7. Parabéns pela tradução aí, muito boa a creepy!

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  8. pq o cara parou de falar com os pais porra? se fosse eu comprava uma casa e colocava eles la, até parece q vou deixar meus pais morando com aquilo

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  9. eu curti manda mais assim

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