24/10/2017

Acampamento Omega

Eu tinha cerca de doze anos quando meus pais me mandaram para aquele buraco de merda. Eles estavam muito determinados em me levar ao acampamento. Não apenas aquele acampamento, mas qualquer um. Eu levei aquilo como um código para "Nós-estaremos-no-trabalho-a-semana-toda-e-não-confiamos-em-você-sozinho". Meus pais me mostraram o folheto, na verdade até parecia divertido! O folheto apresentava slides, atividades, e qualquer coisa que uma criança de doze anos iria querer em um acampamento. Era bastante legítimo. As crianças pareciam estar se divertindo na imagem. 3Eu pensei sobre e acabei cedendo.

Me lembro como se fosse ontem. Acampamento Omega na encosta da montanha Virginia em alguma cidade pequena. Era como qualquer outro acampamento, beliches para dormir, fogueiras à noite e monitores amigáveis. Pensando melhor, talvez amigáveis demais. Na época, pensei que estavam sendo amigáveis  porque era seu trabalho. Eu nunca estive tão errado.

O Acampamento foi divertido no começo, embora as atividades fossem um pouco estranhas. Nós tínhamos que fazer esses bonecos que se pareciam conosco. O meu tinha palha para o cabelo e olhos de botão azul. Então tínhamos que fazer pulseiras com nossos nomes nelas. Tudo era personalizado como eu esperava do Acampamento. Tínhamos fogueiras e compartilhávamos nossos sentimentos até nos conhecermos muito bem. Havia cerca de 23 outros campistas e 15 monitores. Uma campista chamou minha atenção, seu nome era Jeanette. Ela era legal e não falava muito. Eu também era tímido, então nos conectamos facilmente por aproveitar o silêncio.

Foi o último dia do Acampamento de uma semana. Eu estava tão feliz em ir pra casa no dia seguinte, o Acampamento era divertido, mas eu sentia falta de casa. Nós sentamos ao redor da fogueira, todos, incluindo os monitores. Eu não tinha certeza se era o fogo mas eles pareciam diferentes. Pareciam familiares mas seus rostos estavam pálidos como fantasmas. Encolhi os ombros e ouvi a próxima atividade.

Gostaria de não ter ouvido.

Todos nós tínhamos nossos bonecos que se pareciam conosco. Eu segurei o meu em minhas mãos e tentei não olhar para ele, seus olhos de botão vazios me encaravam. "Isso representa o antigo você. Você antes do Acampamento", o Monitor principal disse a todos nós. Então eles nos fizeram jogar os bonecos na fogueira. Eu assisti enquanto o meu era envolvido pelas chamas, estalando enquanto o fogo consumia sua pele de lona. "Você é uma nova pessoa agora." A monitora chefe nos disse.

Após a queima dos bonecos, eles nos disseram que haveria um jantar e uma cerimônia de despedida. Dois dos monitores nos levaram de volta às cabines e nos disseram para embalar nossas coisas. Eles explicaram que a cerimônia de celebração era em um celeiro na margem da propriedade. O outro monitor saiu, então estava apenas um com a gente. O nome dele era Scott. Ele era sempre muito legal r tinha ótimas piadas. Esperou na fogueira enquanto todos reuníamos nossas coisas. Ele estava agindo estranho quando ao lado dele para esperar os outros. Estava encarando o fogo silenciosamente, com um olhar perturbado em seu rosto. "Eu amo vocês", murmurou quando nos reunimos. Eu não sabia com quem ele estava falando, então presumi que tinha ouvido errado. "Eu amo vocês, e faria qualquer coisa por vocês." Ele disse claramente então todos nós ouvimos.

Todos nos olhamos com expressões confusas, mas foi um gesto legal então dissemos que o amávamos também. Ele sorriu e levantou "Estamos prontos", ele afirmou e então nos guiou pela floresta até a margem do Acampamento. Estava escuro e o ar ficou mais denso. Eu estava entusiasmado para a cerimônia. Estava pronto para ir embora e ir pra casa onde tinha TV a cabo e internet. Já tive o suficiente ao ar livre.

De repente, saímos da floresta e o celeiro surgiu da escuridão. Todos os monitores do Acampamento estavam ao redor dele em um círculo com tochas na mão. Senti meu estômago se embrulhar. Sabia que algo não estava certo assim que nos levaram ao celeiro.

Era uma estrutura antiga e em péssimas condições. Tenho certeza de que de aquilo não cumpria o código dos padrões de construção e também tinha certeza de que não deveríamos estar lá. Os monitores entraram e formaram um círculo ao nosso redor, fechando a porta atrás deles.

A monitora chefe saiu do círculo e ficou diante de nós: "Jeanette Lewinski, por favor dê um passo a frente para sua partida." Todos ficamos desconfortáveis mas Jeanette seguiu adiante. Fiquei feliz por ela; talvez ela conseguisse uma fita ou algo legal para levar para casa.

Os monitores saíram do círculo ao redor do celeiro e foram para o círculo ao nosso redor, todos segurando suas tochas. Eu podia sentir meu coração batendo mais rápido conforme eles se aproximavam.

E esfaquearam Jeanette no pescoço.

Ela não gritou e de repente foi um pandemônio súbito quando os monitores jogaram sua  tochas nas paredes do celeiro. Eu não percebi que todos os monitores tinham longas facas serrilhadas com eles. Tentei correr, mas o celeiro estava começando a ruir. As crianças corriam e gritavam antes de seres esfaqueadas pelos monitores.

"Nós temos que sair daqui!" Gritei antes de ir direto para Scott.

"Carl, você não quer ficar para a cerimônia?" Ele me perguntou, seus olhos estavam completamente pretos e tinha um sorriso sádico em seu rosto.

Eu o soquei no estômago e corri, fugi por uma abertura no celeiro. Nunca tinha corrido tão rápido na minha vida. Olhei para trás, brevemente. Gostaria de nunca ter olhado para trás. Podia ver figuras escuras, apenas a silhueta pela luz do fogo, sendo esfaqueados pelos monitores.

Ouvi um canto ecoado, no início não consegui entender, mas ficou mais alto:

"Nós sabemos o que é melhor para você, nós o amamos."

E se repetia. A bisão do último suspiro de Jeanette enquanto sua boa enchia de sangue passava pela minha mente, corri.

Corri para a floresta, meu coração batendo como um tambor. Eu não sabia onde estava indo. Estava apenas correndo na direção de onde tínhamos vindo. O canto me seguiu. "Nós sabemos o que é melhor para você, nós o amamos." Se repetia como um disco arranhado.

O brilho do inferno iluminou a propriedade vagamente, então pude sair pelo outro lado, onde as cabines ficavam. Eu olhei para trás novamente; Pude ver uma movimentação atrás de mim, e o canto ficando mais alto. Como eles me encontraram? Como eles me seguiram?

"Nós sabemos o que é melhor para você, nós o amamos."

Corri mais rápido, mas senti uma mão puxar minha camisa. Eu caí e a pessoa caiu junto comigo. Olhei para trás e vi o monitor, ele estava segurando meu tornozelo com uma mão e uma faca com a outra. Seu olhos eram um buraco negro e vazio e sua pele era branca como um papel. Gritei e chutei a faca de sua mão com meu outro pé. Isso afrouxou seu aperto um pouco e me deu tempo te ficar de pé e correr para a saída,

O letreiro que dizia "Acampamento Omega" ficou assustadoramente acima da entrada. Corri diretamente através dele. Os passos atrás de mim pararam. Olhei para trás de mim novamente, e lá estavam eles. Parecendo presos dentro da área do acampamento estavam todos os monitores. Paarados como pedra. Como se soubessem que não podiam atravessar o portão.

Começou a chover e foi quando eles colocaram os capuzes. Eu não percebi os capuzes e as vestes antes. Mesmo na luz fraca, eu poderia dezer que eles estavam vermelhos de sangue.

"Nós sabemos o que é melhor para você, nós o amamos."

Começaram a cantar em coro novamente. Me afastei lentamente, os olhos arregalados de terror enquanto tiravam os punhais novamente. Eu pensei que eles iriam jogá-los em mim. Parte de mim queria correr e gritar, mas a outra parte estava paralisada, olhando a cena com curiosidade.

Em uníssono, eles levantaram suas facas manchadas de sangue e se esfaquearam no pescoço. Sangue brotava de todos os lugares. Eu podia ver se misturando com a chuva enquanto escorria pelo pescoço e caíam.

Tudo o que podia fazer era gritar e correr pela trilha para a pequena cidade. Parecia que eu tinha corrido semanas até encontrar a cidade e a delegacia. Alívio tomou conta de mim quando entrei pela porta de madeira. Devo estar parecendo um trapo. Meu cabelo estava emaranhado com uma mistura de suor e chuva. Provavelmente tinha sangue nas mãos. Olhei para eles.

Eles estavam limpos. A chuva deve ter lavado o sangue. Andei pela recepção tão calmamente quanto pude, a secretária olhando para mim. Tinha uma expressão chocada no rosto como se eu tivesse levantado dos mortos. Presumi que era por causa da minha aparência desgrenhada.

Expliquei tudo para ela. O Acampamento, os monitores, o que fizeram, tudo. Ela ficou chocada e me deu um copo d'água. "Você quer chamar seus pais, Carl?" Ela me perguntou.

"Sim, por favor." Ela me deu seu telefone e eu liguei para eles. Fiquei surpreso que eles conseguiam me entender já que eu estava engasgando em minhas próprias lágrimas e catarro que corriam pelo meu rosto e se acumulavam na minha boca. Eles vieram o mais rápido que puderam para me buscar. Uma hora depois eles chegaram à delegacia. Fiquei tão aliviado que eles me encontraram que assim que entrei no carro eu fechei meus olhos. Me sentia seguro.

Devo ter adormecido pois quando abri os olhos nós estávamos em um lugar que não me era familiar. Pisquei algumas vezes; nós tinhamos estacionado em frente a um prédio de tijolos com um ar tenebroso. Foi então que percebi algo. A mulher da delegacia, como ela sabia meu nome? Eu nunca disse a ela.

"Onde estamos?" Perguntei, apreensivo. Meus pais olhavam para mim com expressões tristes.

"Filho, estamos em uma instituição mental. Estamos preocupados com você." Meu pai declarou, sem rodeios. Aquilo me chocou.

"Vocês não acreditam em mim?", perguntei.

"Carl, você esteve desaparecido por uma semana. Você apareceu em uma delegacia de polícia nesta pequena cidade, falando algo sobre algum acampamento com monitores assassinos." Minha mãe disse. Permaneci em silêncio, tentando processar tudo.

"Carl, sabemos o que é melhor para você, nós o amamos." Eles disseram, em uníssono.



FONTE


Esse conto foi traduzido exclusivamente para o site Creepypasta Brasil. Se você vê-lo em outro site do gênero e sem créditos ou fonte, nos avise! Obrigado! Se gostou, comente, só assim saberemos se você está gostando dos contos e/ou séries que estamos postando. A qualidade do nosso blog depende muito da sua opinião!

18 comentários:

  1. Muito boa, achei que era uma coisa e no final me surpreendeu , 10/10

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  2. Não entendi o final.. oq tem de estranho a mulher da delegacia saber o nome dele? E os pais do Carl, faziam parte daquele culto?

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    1. Eu acho que ele deve ter algum problema mental, logo ele inventou tudo aquilo, a mulher da delegacia sabia o nome dele por ele estar desaparecido, eu creio que seja isso.

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    2. Eu acho que ele deve ter algum problema mental, logo ele inventou tudo aquilo, a mulher da delegacia sabia o nome dele por ele estar desaparecido, eu creio que seja isso.

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  3. Muito boa, eu entendi que o que o Carl ouvia era os pais dele falando e a suposta secretária ja sabia do desaparecimento dele

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  4. O próprio narrador não é confiável, não se tem uma definição correta do que aconteceu na história, o autor deixa o compreendimento na criatividade do leitor

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  5. achei o desenrolar meio pocotó, mas o final compensou pakas

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  6. Curti cara... Mt bom! Deixa para o leitor a decisão do que entender. Pode ser loucura, pode ter sido um culto bem organizado. Mt bem desenvolvido!!

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  7. Gente amei 100/10
    Duas explicaçoes possoveis
    Ou ele tem problemas
    Ou ele nao escapou do culto <3

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  8. mt boa, gosto da ideia de não saber se ele que era loucão das ideias ou se todo mundo fazia parte do culto.

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  9. Galera é meio óbvio que os pais faziam parte do culto e queriam se livrar ou sacrificar o filho, ele não é maluco não

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