24/05/2018

Minha Arte

Certa vez, enquanto caminhava para casa, passei em frente à uma loja de roupas. A vitrine era composta por manequins dourados que usavam blusas, calças-jeans, jaquetas, bolsas e até mesmo colares. Eram todos femininos. Os manequins eram variados. Alguns baixos, outros altos. Uns gordos, outros magros. Alguns faltavam os braços ou mesmo a cabeça. Mas não foi nada disso que me fez parar em frente ao vidro e observa-los.

As pessoas que passavam por ali não me estranhavam. “Provavelmente procurando um presente para a namorada, amiga ou esposa”, pensariam. Eu também não estava cismado com a diferença entre tamanhos e roupas dos manequins. O que eu estava pensando naquele dia era justamente a sua cor. Dourado.

Sabe, por alguma razão, tive uma ideia; daquelas que surgem sem mais nem menos, e imaginei o seguinte: qual a probabilidade de algum desses manequins ser feito de ouro?

Você provavelmente deve estar me achando um louco. Mas, naquele dia, as pessoas que me viam não me estranhavam; simplesmente pensavam que eu era apenas mais um homem, com os sapatos surrados e um cabelo mal penteado, parado em frente à vitrine de uma loja de roupas femininas. Mas não podemos perder o foco. Pare um pouco para pensar. E se, algum daqueles manequins, fosse realmente de ouro?

Vou lhe responder o que eu acho, caso fosse.

Seria como se o dono da loja estivesse escondendo um tesouro em plena vista. Talvez como alguma forma de zombaria, talvez não. Mas o que importa é que esse tesouro, por estar em uma forma diferente (a forma de um manequim vestido com roupas femininas) e por estar no meio de tantos outros manequins parecidos, era praticamente impossível que as pessoas reconhecessem o verdadeiro valor dele.

Uma outra coisa. E se apenas você e o dono do manequim soubessem daquilo? Um segredo íntimo entre ambos. Não precisariam nem se conhecer ou sequer trocar uma palavra a respeito. A certeza dele poderia ser a sua dúvida, mas haveria uma sensação

interna em você que apreciaria aquilo. Algo como: “Eles não sabem, mas eu sei. Não se preocupe, o seu segredo está guardado comigo”.

E quanto as pessoas comuns? E se todos que passassem por ali, na frente daquela vitrine todos os dias, não desconfiassem de uma coisa dessas? Elas estariam perdendo algo? Sim, sem sombra de dúvidas, mas isso era parte do jogo.

Eu sou um artista. Um artista plástico, para ser mais exato. Bem-sucedido, por incrível que pareça. A maioria das minhas obras são quadros, mas ultimamente tenho me focado mais em esculturas com significados abstratos. Eu exponho minha arte em galerias ao redor de todo o país. Estive em muitas cidades e, em cada cidade, eu não deixo de adicionar uma “peça” à minha coleção, mesmo que elas não queiram fazer parte. Parece ainda mais loucura, não? Acho que sou meio workaholic, pois trabalho compulsivamente, mas simplesmente não consigo desperdiçar uma oportunidade quando a vejo.

Enfim, eu lhe contei o episódio do manequim porque ele é a verdadeira razão do meu sucesso. Não é que o meu trabalho não fosse bom antes; é que simplesmente eu não o estava fazendo da maneira correta. Hoje o faço com amor. Com orgulho. Com prazer. Tenho uma paixão enorme por todas as minhas obras. Mas, em especial, eu amo mais aquela que lhe falei. Aquela que é, para mim, como um manequim de ouro em meio a tantos outros manequins dourados.

Então, por favor, quando minha arte for exposta em sua cidade, venha vê-la. Sei que existem muitos artistas apresentando as suas obras, e sei que existem muitas galerias, mas não posso lhe dizer qual deles eu sou ou qual delas tem a minha arte. Como eu disse, tiraria toda a graça da coisa. Apenas lhe peço o seguinte: quando for na minha galeria, e encontrar o meu “manequim de ouro”, não diga nada. Apenas sorria e aprecie. E eu saberei que você entendeu. E este será um segredo maravilho, compartilhado somente entre nós.

Autor: Drin, L. P.

20 comentários:

  1. Respostas
    1. tb estou desconfiando que ele pinta seus quadros com pessoas

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  2. Incrível, realmente de se pensar. Nesse analogia uma obra de arte que se parece com algo humano, seja só uma parte como peles ou ossos não são simplesmente parecidos com de humanos.

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  3. What? Estranha essa,Mais se eu entendi (o que eu duvido muito 😂😂) o "artista" matou o dono da loja e pintou ele de dourado pra expor como uma obra de arte.

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  4. chega a ser engraçado os comentários acima, todos sem entender, ou tentando fantasiar algo pra parecer assustador, como pessoas mortas, ossos e afins, quando na verdade é basicamente um conto interessante sobre uma epifania que um artista plástico teve, não uma história de terror. Óbviamente a interpretação é livre, mas não acho que toda história ou conto tem de ter um significado macabro e oculto por trás; A creepy do ovo é uma das melhores desse site, e não é de terror, nem ossos ou canibalismo.

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    1. Que explica que tudo é um, e um é o todo. Uma alma é
      O universo todo.

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  6. Isso rola quando o cara pita um cigarro do Caipiroto...toma no cu hein =p

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  7. Tinha q ser coisa de artista plástico abstratista

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  8. Não consegui compreender tudo, mas achei muito interessante.

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  9. Ele diz que tem se focado mais em esculturas... Eu acho que ele transforma um humano em escultura, cobre de gesso, empalha, não sei, e coloca no meio de suas esculturas comuns... Esse é o seu manequim de ouro. Sei lá.

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  10. Eu acho que ele fez uma escultura dourada com ele mesmo, então ele ta dentro da estatua dourada, e consegue ve a pessoa indo admirar a arte dele, por isso ele disse que vai saber que a pessoa entendeu

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