24/05/2018

Seahollow

Eu nasci e passei minha infância em Seahollow, Texas. Você pode pesquisar essa cidade no Google; não vai encontrar nada. Era uma cidade muito bonita, praticamente no meio da Floresta Nacional de Angelina. Ao contrário do que muitos pensam sobre o Texas, Seahollow era uma cidade muito pacífica. Praticamente ninguém morria naquele lugar; e quando alguém morria, a cidade inteira sabia em menos de 24 horas. Em Seahollow havia apenas uma escola: A Albury Secondary School. Eu passei praticamente minha infância e metade da minha adolescência brincando e namorando naquela escola. Ás vezes, quando eu fecho os olhos, ainda posso ouvir o sino tocando e a correria nos corredores. Você deve estar se perguntando por que caralhos Seahollow não existe mais.

Foram eles.

Se você encontrar por aí alguém que conseguiu fugir de Seahollow, nunca use o pronome eles na frente dela, por favor. Se você perguntar quem são “eles”, provavelmente ela vai pedir para que você nunca mais pergunte isso a ela, ou, se ela for como eu, ela irá te contar toda a história do que ocorreu em Seahollow. A pequena e pacata Seahollow.

Era tarde de uma Quarta-Feira. Eu lembro como se fosse ontem. Eu estava terminando de fazer um trabalho de filosofia (Quem se importa com Nietzsche, Aristóteles ou Pitágoras?), minha mãe estava fazendo um sanduíche para meu irmão caçula, e meu pai estava trabalhando na pequena fábrica que havia na cidade. Foi quando toda a cidade ouviu.

Vinha do bosque. Uma criança vinha correndo, com a perna sangrando. Eu não lembro quem era, acho que era o pequeno Michael Willis. Como nos filmes, todos saíram de suas casas para ver o que tinha acontecido. A Sra.Willis saiu de casa e foi ao encontro do filho. Eu me lembro de Mike falando algo como “Ele me mordeu!”, bem alto. Todos ouviram. A mãe dele perguntou quem tinha o mordido e ele apenas respondeu “Ele”, apontando para algo na floresta. Quando a Sra.Willis olhou para a floresta, ela rapidamente pegou Mike e levou para o carro rapidamente, e saiu, provavelmente para o hospital. Pelo menos, foi o que eu pensei antes de olhar para a floresta e ver o que tinha mordido Mike.

Tinha a aparência de um lobo muito grande, ou um urso muito pequeno. Ele vinha cambaleando, com sangue no focinho, e posição de ataque. Todos correram para dentro de casa. Lembro-me de minha mãe me puxando para dentro de casa, quase me jogando no sofá da sala. Pela janela, pude ver que haviam mais daquelas criaturas vindo em direção à rua, saindo das sombras. Agora não cambaleavam mais; vinham determinadas a devorar tudo o que vissem pela frente.

Meu irmão soltou um grito abafado; acho que foi isso que nos denunciou. Duas das criaturas correram em direção a casa. Eu fechei a janela com força; bem na hora em que uma delas se jogava, tentando entrar. Eu tranquei as janelas, minha mãe e meu irmão trancaram todas as portas, ao mesmo tempo em que as criaturas se jogavam contra a porta da frente, tentando a qualquer custo devorar-nos.

Lembro-me de minha mãe correndo, levando meu irmão para o quarto, e eu me jogando debaixo da cama. Conseguimos nos esconder no quarto bem na hora em que uma delas conseguiu arrombar a porta lateral. Aquele grunhido de cachorro raivoso, que te faz arrepiar até a alma. Eu pude ouvir outra criatura entrar na casa. Os dois estavam farejando, isso eu pude perceber. Um deles chegou a frente à porta do quarto e parou. Começou a fungar com força, como se conseguisse cheirar nosso medo. Acho que tem a ver com nossos feromônios, ou coisa do tipo. De qualquer maneira, ele conseguia nos sentir dentro do quarto.

Ele ficou lá, parado, arranhando a porta por longos dois minutos, e depois saiu. Eu conseguia ouvir os passos. Depois de mais ou menos meia hora, os barulhos cessaram. Nós ainda esperamos quase uma hora, para só então sair do quarto.

A nossa casa estava um caos. Parecia que um furacão tinha passado por ali. Pratos jogados no chão, toda a comida da geladeira e do armário estava espalhada pelo chão, parcialmente digerida. Um cheiro de urina e fezes tomava conta do lugar inteiro. Segurei-me para não vomitar. Acho que minha mãe e meus irmãos fizeram o mesmo. Com cautela, fomos á garagem pegar nosso carro para dar o fora dali, e pegar meu pai na fábrica.

Quando ligamos o carro, uma criatura saiu da casa do vizinho e disparou na nossa direção. Minha mãe acelerou tão rápido que eu achei que fôssemos bater em algum poste de luz. Por sorte, não batemos. As criaturas estavam em todas as casas. Eu pude ouvir os gritos abafados na casa dos Farell, a uma quadra da nossa rua. Minha mãe estava tão concentrada na direção que não reparou na cidade ao seu redor. Estava tudo destruído; havia criaturas daquelas por toda a cidade.

Quando chegamos à fábrica, havia uma multidão correndo, carros virados e corpos espalhados pela rua. Minha mãe parou em frente á fábrica e gritou por meu pai. Obviamente, ninguém conseguia ouvir nada, então minha mãe buzinou bem alto. Nada acontecia. Quando meu pai apareceu, no meio da multidão que fugia loucamente da fábrica, minha mãe acelerou o carro e foi ao encontro dele. Meu pai entrou rapidamente no carro e começou a fazer perguntas. Você viu uma delas? Estão por toda a cidade? As perguntas eram tão retóricas que minha mãe ficou irritada.

“POR QUE NÃO ME DEIXA DIRIGIR EM PAZ?”, ela explodiu, enquanto disparava em direção á rodovia que nos tiraria de lá.

“Ok, Melanie, se concentra. Não vou perguntar mais.”

“Ótimo.”

Quando finalmente saímos da cidade, todos soltaram um suspiro de alívio. Mas durou pouco. No meio da rodovia, havia tanques do exército e soldados de prontidão. Minha mãe parou o carro e começou a discutir com o sargento responsável.

“Como assim não podemos sair? E aquele papo do ‘direito de ir e vir’?”

“Senhora, temos ordens de não deixar ninguém passar. Se a senhora quiser, nós podemos deixar todos vocês sob nossa proteção.”

“Ora, mais isso é um ABSURDO! Eu tenho o direito de fugir daquelas coisas!”

O sargento olhou para minha mãe com um misto de surpresa e medo.

“Coisas? São mais de uma?”

“Claro. Por que acha que todos estão fugindo desesperados?”. Minha mãe apontou para a rodovia atrás de nós. Vários carros vinham, em alta velocidade. O sargento ficou nervoso. Falou algo no seu Walkie-Talkie e olhou de volta para nós. Ele analisou todos nós, e respondeu algo no comunicador. Algo que eu entendi como “Eles têm duas crianças”. Depois ele fez uma cara de tristeza e assentiu com a cabeça.

Ele se aproximou de minha mãe e sussurrou algo. Minha mãe fez cara de assustada.

“Podem passar!”, ele falou. Minha mãe, sem hesitar, acelerou o carro e nós passamos pela barricada. Quando estávamos a uns cinquenta metros dela, ouvimos os tiros. Primeiro foram alguns, depois, os tiros triplicaram, e alguns segundos depois, ouvimos sons de metralhadora automática. “PUTA MERDA”, meu pai gritou. Minha mãe só dirigia, sem esboçar reação, mas eu juro por Deus que vi uma lágrima escorrendo pela bochecha dela.

Nós dirigimos por horas, até que chegamos em Houston. Paramos num daqueles hotéis de beira de estrada, na entrada da cidade. Meus pais fizeram o check-in, enquanto eu e meu irmão, em choque, ficamos sentados nos sofás da recepção. Já era noite, e estávamos com fome. Enquanto eu ia em direção a meus pais pedir para que fôssemos a um restaurante depois, e pude ver o que eles estavam conversando.

Meu pai perguntou a minha mãe o que o soldado disse para ela. Minha mãe, tensa, disse:

“Ele falou que recebeu ordens para matar qualquer um que aparecesse naquela rodovia. Mas ele viu que tínhamos crianças, e nos deixou passar. Ele me pediu para que nunca contasse para ninguém.”

Mais tarde, nós encontramos um outro sobrevivente de Seahollow: o Sr. Hungton. Ele estava no café da manhã, e contou para minha mãe que as criaturas tinham chegado em Craigsfeel, uma cidadezinha vizinha a Seahollow, que também desapareceu. Pode pesquisar Craigsfeel no Google; não vai achar nada. O exército simplesmente matou todo mundo e destruiu a cidade.

Anos mais tarde descobri que aquele trecho da rodovia foi desviado. Fizeram um novo trecho, contornando as ruínas, praticamente passando pelo meio da Floresta Nacional de Angelina. Eu não os culpo. Fizeram um bom trabalho abafando a história e cobrindo as evidências. Mais o que eu não entendo ainda é de onde vieram aquelas criaturas. Eu venho pesquisando, coletando informações, e nenhum caso semelhante ao de Seahollow foi registrado nos últimos sete anos. Pelo menos não até uns três dias atrás.

Provavelmente você não vai achar nada no Google, mas eu estava navegando por alguns fóruns pela internet, quando eu vi o relato de um cara com o nome de usuário seaholl122Dc5. Ele contava a história de Seahollow, e também disse que a cidade de Bellismont, Luisiana, estava sendo atacada. Eu pesquisei no Google Earth, e achei-a. Uma pequena cidade perto da fronteira com o Texas. Eu estava com muito sono, então eu resolvi dormir e verificar a história de manhã.

Porém, quando eu acordei, tinha sumido. Tudo tinha sido apagado da internet. Todas as matérias de blogs, todos os posts em fóruns, tudo. Eu pesquisei o post de Seaholl122Dc5, mas dizia que o post foi apagado. O próprio perfil da pessoa que postou não existia. Pesquisei no Google Earth, e, para minha surpresa, não deu resultados. Eu até naveguei até o local onde a cidade ficava, e não tinha nada. Em vez da cidade, tinha apenas floresta.

Por favor, se você sabe algo sobre Bellismont ou Seahollow/Craigsfeel, por favor, compartilhe. O mundo precisa saber o que aconteceu aqui.

Autor: Miguel Silveira

14 comentários:

  1. Tenso ;-;









    Onde estará a Senhora dos Absurdos?

    ResponderExcluir
  2. wow

    Também sinto falta dos comentarios da Senhora dos Absurdos. São dos uns dos melhores.

    ResponderExcluir
  3. Tente repetir menos "pesquise no google", isso tira um pouco a graça do texto e faz parecer que está forçando a veracidade da história, as vezes deixar na imaginação das pessoas ou deixar que pesquisem por conta própria sem achar nenhum resultado, pode tornar ainda mais emocionante. Mas o texto e seu conteúdo são muito bons.

    ResponderExcluir
  4. Respostas
    1. My Friend, isso é o Brasil temos 1.40 e a ak-47. Se uma dessas coisas aparecer eu meto a espingarda

      Excluir
    2. Venho do Brasil do futuro dizer que só podemos portar armas de fogo leve,lança-granadas e lança-mísseis por exemplo.

      Excluir
  5. Nossa!É eu leio isso logo depois de ler uma notícia de "Alerta Zumbie" nos Estados Unidos😂😂😂.pesquisem no Google pra vcs verem.

    ResponderExcluir
  6. pequena e pacata cidade de miracema do Norte kkk. Seu texto é muito bom!

    ResponderExcluir
  7. Ow, vai ver é as criaturas que fugiram da fábrica de amoeba do post "Achei isso em um forum" kakskkaksksk

    ResponderExcluir
  8. Tirando os erros de "mas" e "mais", a história é bem interessante

    ResponderExcluir