18/11/2017

Vox e Rei Beau: O Lugar Quieto (PARTE 2)


Antes de tudo, existia o Lugar Quieto. Era muito escuro e muito quieto, e tudo lá vivia parado. O Lugar Quieto tinha um rei muito malvado que roubava respirações e odiava tudo que não estava em seu reino. Todos os seres no Lugar Quieto viviam com medo e tristes. Eles não podiam sair porque o rei os caçaria e devoraria se eles tentassem. Pior, o rei os forçava a entrar em nosso mundo e roubar coisas. Eles roubavam vozes ou memórias, coisas brilhantes e brinquedos, às vezes corações e até mesmo pessoas. Alguns dos súditos do rei gostavam disso, mas a maioria não.

Beau odiava o rei. Ele odiava se sentir triste. Ele odiava que todos tivessem medo, porque mesmo que ele próprio nunca tivesse medo de nada, isso significava que ninguém brincaria com ele ou faria nada além do que o rei quisesse. Ele decidiu que a única maneira de resolver isso seria se tornando rei.

"BV Stealing Breath", de aelur
(É nessa parte que eu começo a entender por que minha mãe queria falar com um médico sobre mim)

Beau decidiu que teria que enganar o rei. Ele roubou um pequeno garoto que era mau e sempre comia demais e nunca tinha boas maneiras. Beau se escondeu sob a cama do garoto e esperou até que ele dormisse para comer sua voz. Ele então se escondeu sob a pele do garoto e esperou até que o rei o deixasse entrar com todos os outros tesouros que os caçadores haviam encontrado.

Aparentemente Beau me mostrou como o garoto chorou e gritou, imitando sua voz perfeitamente (mesmo quando ele me contou essa história. Isso me fez chorar, e Beau precisou parar para que brincássemos de algo diferente. No entanto, ele realmente queria finalizar a história porque ele tinha orgulho dela, então mais tarde deixei que ele me contasse o resto).

Quando o rei se moveu para devorar o garoto que era agora Beau, Beau fez seu movimento. Ele se entranhou entre as mandíbulas do tirano e esticou o braço até alcançar sua garganta. Então Beau puxou todas as vozes que estavam escondidas lá dentro e as comeu sozinho. Depois de roubar esse poder, não foi difícil derrotar o rei. Ele disse que o velho rei começou a derreter e se retorcer. Ele ressecou em algumas partes e teria gritado, mas ele não tinha mais vozes sobrando. Beau o baniu para o canto mais profundo e escuro do Lugar Quieto, onde ele poderia não-gritar longe de todo mundo.

Então Beau virou rei. Mas Beau ainda não estava feliz.

Muito embora ele tivese todas as vozes do velho rei e todos tivessem que fazer o que ele mandasse agora que ele era rei, ele estava solitário. Ele se sentiu entediado. Tudo era sempre a mesma coisa no Lugar Quieto, e embora ele tivesse prometido às pessoas-sombra e todas as outras criaturas que nenhuma delas jamais teria que caçar por ele, ele estava se sentindo cada vez mais inquieto. Ele sentia todas as vozes dentro de si e se perguntou como novas vozes seriam. Então ele começou a passear por nosso mundo.

Primeiro ele só roubava pedaços de vozes de vez em quando, enquanto as pessoas dormiam. Ele se escondia sob as camas ou entrava pelas janelas se não houvesse luz da lua. As pessoas só acordavam com dores de garganta e sonhos ruins, então ninguém se machucava de verdade. Infelizmente, isso só o fez ficar mais faminto. Quanto mais tempo passava, mais infeliz ele se sentia com só um gostinho. Ele pensou em roubar vozes inteiras exatamente como o rei mau havia feito.

Foi assim que nós nos conhecemos. Uma noite eu acordei porque alguém havia dito meu nome. O quarto estava escuro e bem quieto porque ele trouxe o silêncio consigo. Ao lado de minha cama estava Beau. Ele era bem assustador, mas ele também parecia triste. Nessa época meu filme favorito era Peter Pan, e eu me lembrei de como Wendy conheceu Peter mais ou menos assim, então decidi ser o mais corajosa possível.

Eu perguntei, "Por que você está tão triste?"

"Porque eu quero comer a sua voz", ele respondeu.

Eu disse a ele que ele não podia fazer isso porque eu estava usando-a. Ele disse que saiba que eu estava. Ele me ouviu cantando para meus animais de pelúcia e ele gostou bastante. Eu disse que se ele não comesse minha voz, eu cantaria para ele também. Isso nunca havia ocorrido a ele, e decidiu pensar a respeito. Enquanto pensava, nós fizemos uma cabana com meus lençóis. Ele gostou tanto disso que decidiu deixar que eu mantivesse minha voz e me visitar para brincar.

Foi assim que nos tornamos amigos. Ele me trazia histórias de suas aventuras, e eu cantava para ele e nós brincávamos.

Então, acho que isso é um começo. Acho que posso falar sobre Beau e o Lugar Escuro. Essa história é menos "história emotiva de uma garotinha" e muito mais "eu contei para minha mãe porque eu não parava de ter pesadelos."

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